Ásia/Oceania

Um listão com reforços interessantes dos “outros times” do Campeonato Saudita

Com o fechamento do mercado no Campeonato Saudita, apresentamos contratações de destaque além do "quarteto de ferro"

Durante as intensas últimas semanas, ficou mais fácil de se familiarizar com os principais clubes sauditas. Em especial, com os quatro grandes que despejaram quase um bilhão de euros no mercado de transferências e, com apoio do fundo soberano do governo saudita, contrataram uma leva de novas estrelas. Cristiano Ronaldo já era o grande astro do Al-Nassr, acompanhado agora por Sadio Mané. O Al-Hilal quebrou a banca para garantir Neymar e uma coleção de jogadores mais jovens que a média dos concorrentes. O Al-Ittihad campeão com Romarinho agora tem Karim Benzema como sua referência máxima. Já o Al-Ahli recém-promovido chama atenção especialmente por Riyad Mahrez e Roberto Firmino no ataque. Mas não que os outros 14 participantes do Campeonato Saudita tenham ficado parados.

Obviamente, o grosso do dinheiro está no quarteto de ferro bancado pelo governo. Dos €956,8 milhões gastos na atual janela, €835,1 milhões se repartem entre os quatro principais times – sendo €353,1 milhões só do Al-Hilal. Obviamente, os 13% do mercado que representam os outros 14 times não possuem tantos medalhões de fama internacional. Mas não se nega que, de uma maneira geral, o Campeonato Saudita melhorou como um todo. Esses clubes de segundo escalão podem não ter gastado tanto em transferências, mas puderam oferecer salários mais atrativos e um cenário também mais interessante. Muitos deles surfaram na onda para garantir seus novos protagonistas. Afinal, embora o fundo soberano não banque diretamente o resto dos participantes, a maioria desses clubes têm ligações diretas com autoridades sauditas e membros da realeza.

Entre as forças históricas da Arábia Saudita, Al-Ettifaq e Al-Shabab gastaram os valores mais expressivos. Os pouco mais de €30 milhões investidos por cada um deles não representam mais do que uma fração do salário de Cristiano Ronaldo, mas garantiram figuras de relevo na Europa como Jordan Henderson e Habib Diallo. Outros times como Al-Taawoun e Damac também fizeram bons mercados, mas recorrendo mais à criatividade para pinçar seus novos talentos do que se pautando nos astros de fama na Europa. Há mais qualidade à disposição de todos. O Brasil segue como a maior fonte de atletas, com 28 futebolistas na Pro League – o segundo país com mais jogadores estrangeiros é o Marrocos, com apenas 11. Além disso, chama atenção como a África é importante a essas equipes secundárias. Ao todo, serão 56 africanos, muitos deles de seleções.

Na última semana, o Campeonato Saudita fechou seu mercado de transferências. Assim, aproveitamos para apresentar 40 reforços dos times que não receberam os investimentos suntuosos do fundo soberano e mesmo assim ganharam jogadores de relevo.

Para relembrar, os reforços estrangeiros do quarteto de ferro nesta janela são os seguintes:

Al-Ahli: Roberto Firmino, Roger Ibañez, Riyad Mahrez, Allan Saint-Maximin, Franck Kessié, Édouard Mendy, Gabri Veiga, Merih Demiral

Al-Hilal: Malcom, Neymar, Bono, Rúben Neves, Kalidou Koulibaly, Sergej Milinkovic-Savic, Aleksandar Mitrovic

Al-Ittihad: Fabinho, Karim Benzema, N'Golo Kanté, Luiz Felipe, Jota

Al-Nassr: Alex Telles, Marcelo Brozovic, Seko Fofana, Otávio, Sadio Mané, Aymeric Laporte

(Divulgação)

Juanmi (Al-Riyadh)

Juanmi é um dos principais nomes do Campeonato Saudita fora das quatro potências. O ponta de 30 anos possui uma carreira respeitável por La Liga, com bons momentos com Málaga e Real Sociedad. Já nas últimas quatro temporadas, ele vestiu a camisa do Betis. Teve um desempenho excelente em 2021/22, entre as referências da equipe que conquistou a Copa do Rei. Entretanto, as lesões atrapalharam a temporada passada e ele resolveu sair da Andaluzia. Jogador bastante rodado nas seleções de base da Espanha, Juanmi chegou a disputar uma partida com a seleção principal em 2015, sob as ordens de Vicente del Bosque. Também teve uma passagem pelo Southampton, mas sem dar muito certo na Inglaterra.

Martín Campaña (Al-Riyadh)

Martín Campaña possui um currículo extenso, aos 34 anos. O goleiro despontou no Cerro Largo e depois se firmou como titular do Defensor. Foram quatro temporadas com os violetas, titular na equipe que fez sucesso na Libertadores de 2014. Já a partir de 2016, o uruguaio se transferiu para o Independiente e também faria história em Avellaneda, especialmente no grupo que conquistou a Copa Sul-Americana em 2017. Campaña deixou a Argentina em 2020 e defendia o Al-Batin, no Campeonato Saudita. Com o rebaixamento de seu time, ele assinou com o Al-Riyadh. O veterano disputou três edições da Copa América como reserva do Uruguai e também estava presente no elenco do Mundial de 2018.

Knowledge Musona (Al-Riyadh)

Knowledge Musona é um desses heróis do futebol africano que o público local está acostumado a ver nas grandes competições. O meia disputou três edições da Copa Africana de Nações e chegou a capitanear Zimbábue nas duas últimas campanhas. É inclusive o terceiro maior artilheiro da história da equipe nacional. Por clubes, Musona rodou por times como Kaizer Chiefs, Hoffenheim e Augsburg. Seu melhor momento aconteceu pelo Oostende, na Bélgica, mas não deu certo quando tentou a sorte no Anderlecht. Chegou ao Campeonato Saudita em 2021 e antes defendia o Al-Tai, com 14 gols e 17 assistências em 53 partidas pela equipe na liga.

Andre Gray (Al-Riyadh)

Andre Gray possui uma história de muitos gols nas divisões de acesso do Campeonato Inglês. O centroavante tinha números excepcionais com o Luton Town na quinta divisão, que o levaram para o Brentford. Também auxiliou as Abelhas na briga pelo acesso e rumou ao Burnley, com o qual de fato subiu. Era um nome importante na equipe de Sean Dyche e depois aceitou uma proposta do Watford. Desde então, sua carreira perdeu fôlego, passando depois pelo QPR. Na última temporada, o medalhão de 32 anos disputou o Campeonato Grego com o Aris Salônica e agora se muda um pouco mais ao oriente. O veterano defende a seleção da Jamaica.

(Divulgação)

Habib Diallo (Al-Shabab)

Habib Diallo é o reforço mais caro do Campeonato Saudita fora dos quatro clubes bancados pelo fundo soberano. O centroavante de 28 anos custou €18 milhões, atravessando o auge da carreira. Revelado pelo Metz, Diallo estourou em 2018/19, quando liderou a campanha do acesso na Ligue 1. Ainda ficou mais um ano no clube, até se transferir ao Strasbourg em 2020. Permaneceu três temporadas na Alsácia, com destaque para o rendimento em 2022/23, quando guardou 20 gols na Ligue 1. Foi o que chamou a atenção do Al-Shabab. O atacante também é opção da seleção de Senegal, reserva no título da Copa Africana de Nações em 2022, mas ausente na última Copa do Mundo.

Yannick Carrasco (Al-Shabab)

Yannick Carrasco vai tentar o segundo Eldorado de sua carreira, aos 30 anos. O meia ganhou destaque primeiro no Monaco, antes de se tornar um nome importante no Atlético de Madrid a partir de 2015. Marcou até gol em final de Champions, mas aceitou uma proposta do Dalian Professional e permaneceu por dois anos na China. A passagem pelo futebol asiático não atrapalhou seu nível e o rendimento na volta ao Atlético de Madrid foi melhor, em especial por sua influência no título de La Liga em 2020/21. Entretanto, também abraçou a oferta do Al-Shabab neste novo momento da Arábia Saudita. O que a transferência talvez custe é sua sequência na seleção da Bélgica, presente nas duas últimas Copas e também nas duas últimas Eurocopas. Vai ser companheiro de outro ídolo de La Liga, Éver Banega, nome mais antigo entre os estrangeiros do Al-Shabab – veio do Sevilla ainda em 2020, após protagonizar a conquista da Liga Europa.

Romain Saïss (Al-Shabab)

Romain Saïss é um zagueiro que poderia muito bem figurar nas equipes mais ricas da Arábia Saudita. O marroquino de 33 anos chega como um dos mais experientes jogadores da liga. Saïss rodou bastante por clubes menores do Campeonato Francês, até ganhar destaque na Ligue 1 pelo Angers. Seria contratado pelo Wolverhampton ainda na Championship e auxiliou na consolidação do clube na Premier League. Foram seis temporadas no Molineux e mais de 200 partidas, até se transferir para o Besiktas na temporada passada. Não correspondeu tanto no Campeonato Turco, mas ainda assim vem em alta pelo papel essencial na campanha de Marrocos até as semifinais da Copa do Mundo. Está em fim de carreira, mas ainda oferece bastante.

Gustavo Cuéllar (Al-Shabab)

A chegada dos medalhões internacionais provocou uma debandada dos demais estrangeiros que atuavam nos quatro clubes bancados pelo fundo soberano saudita. Alguns deles ainda permaneceram no país, mas vendidos a outras equipes. É o caso de Cuéllar. O volante colombiano era uma peça central do Al-Hilal nas últimas temporadas, presente em três títulos do Campeonato Saudita e dois da Champions Asiática. Entretanto, as prioridades dos alviazuis se tornaram outras e o meio-campista precisou se realocar no Al-Shabab, da mesma cidade. Recheia um pouco mais o currículo que também inclui Deportivo Cali, Junior de Barranquilla e Flamengo, além da seleção colombiana, pela qual disputou duas edições de Copa América.

(Divulgação)

Musa Barrow (Al-Taawoun)

Musa Barrow é um dos melhores jovens que desembarcam no Campeonato Saudita. O gambiano possui uma experiência valiosa na Itália, ao surgir na Atalanta e depois se transformar num dos melhores jogadores do Bologna durante as últimas temporadas. Seus números caíram um pouco no último ano, mas ainda parecia com potencial para empreitadas maiores na Serie A. Entretanto, aos 24 anos, o habilidoso ponta vira um trunfo tremendo nas mãos de Péricles Chamusca no Al-Taawoun. O destaque de Barrow costuma ser maior por seu protagonismo na seleção de Gâmbia, com grandes atuações na Copa Africana de Nações e vaga garantida também na próxima edição. Dá para dizer que o Al-Taawoun pagou barato, ao trazê-lo por €8 milhões.

Andrei Girotto (Al-Taawoun)

Andrei Girotto é mais um nome consolidado na Europa que vai se provar no Campeonato Saudita. O zagueiro tinha certa reputação no Brasil ao defender América Mineiro, Palmeiras e Chapecoense. Mesmo assim, atingiu um status maior desde que se transferiu ao Nantes, em 2017/18. Transformou-se num dos pilares dos Canários e superou as 200 aparições com a camisa auriverde, presente inclusive na conquista da Copa da França em 2021/22. Aos 31 anos, dificilmente Girotto daria um salto maior dentro do futebol europeu. Assim, o Al-Taawoun oferece melhores perspectivas financeiras para o beque na reta final de sua carreira. Chega logo como uma liderança no elenco mais brasileiro do Sauditão. Foi comprado por €4 milhões.

Mateus (Al-Taawoun)

O Al-Taawoun possui o maior número de brasileiros do Campeonato Saudita, mas por observar bem os destaques do país no mercado asiático. Um grande exemplo disso é o ponta Mateus. O jogador de 19 anos chegou a passar por Cruzeiro e Bahia, mas sua carreira profissional praticamente inteira se concentra no Japão. Disputou a segundona com o Omiya Ardija e foi campeão como coadjuvante do Yokohama F. Marinos, mas seu auge aconteceu pelo Nagoya Grampus. Acumulou 48 gols em 173 partidas pelo clube, que convenceram o Al-Taawoun a buscá-lo por €2,8 milhões. E o começo é positivo, com dois gols e quatro assistências em cinco rodadas da Pro League. Outro brasileiro com um caminho parecido que foi contratado nesta janela é o centroavante João Pedro, que mudou-se para Portugal no início da carreira e nas últimas quatro temporadas anotou 60 gols no Campeonato Emiratense, com maior destaque no Al-Wahda.

Assan Ceesay (Damac)

Assan Ceesay é outra estrela da seleção de Gâmbia que pinta no Campeonato Saudita. O atacante passou grande parte de sua carreira na Suíça. Defendeu clubes tradicionais como o Lugano e o Chiasso, até viver seu auge com a camisa do Zurique. Foram 20 gols e 10 assistências na temporada 2021/22, que rendeu o título da Super League para os alvicelestes. O sucesso de Ceesay o levou para a Serie A, mas o artilheiro não desabrochou como se esperava no Lecce. Anotou seis gols em 34 aparições no último Campeonato Italiano. Desta maneira, o dinheiro de sua venda se tornou bem-vindo, com €2,8 milhões pagos pelo Damac. O atacante também deve figurar na próxima Copa Africana de Nações.

(Icon Sport)

Nicolae Stanciu (Damac)

Outro reforço bastante rodado do Damac é o meia Nicolae Stanciu. O romeno despontou em seu país com a camisa do Steaua Bucareste, entre os destaques em meados da década passada. Conseguiu uma transferência para o Anderlecht, mas viveu seu melhor no Campeonato Tcheco, com passagens de sucesso pelo Sparta Praga e também pelo Slavia Praga. Entre um rival e outro, o camisa 10 teve uma estadia curta no Campeonato Saudita em 2018/19, pelo Al-Ahli. Já nos últimos dois anos, Stanciu liderou o Wuhan Three Towns a um emblemático título no Campeonato Chinês. Seu currículo inclui títulos por quatro ligas nacionais diferentes. Aos 30 anos, o armador é uma das referências da seleção da Romênia e usa a braçadeira de capitão.

Georges-Kevin N'Koudou (Damac)

Georges-Kevin N'Koudou possui uma carreira mais rodada do que seus 28 anos costumam sugerir. O ponta surgiu no Nantes e brilhou no Olympique de Marseille, a ponto de ser levado pelo Tottenham em 2016/17. Entretanto, sua passagem apagada pelo norte de Londres não o auxiliou, cedido por Burnley e Monaco no mesmo período. Sua recuperação aconteceu a partir de 2019/20, vendido ao Besiktas. Teve certo destaque no clube, a ponto de conquistar uma dobradinha nacional. Membro das seleções de base da França, virou opção para Camarões mais recentemente e esteve na última Copa do Mundo.

Tarek Hamed (Damac)

Tarek Hamed também fez o caminho entre um dos quatro grandes da Arábia Saudita para outro clube menor, mesmo tendo participado do último título com o Al-Ittihad. O egípcio começou no Smouha e deslanchou com o Zamalek, se aproximando das 300 aparições com os Cavaleiros Brancos. A transferência para Jeddah aconteceu em 2022/23 e o meio-campista se estabeleceu entre os titulares de Nuno Espírito Santo na conquista da Pro League pelo Al-Ittihad. Entretanto, acabou preterido com as contratações de N'Golo Kanté e Fabinho. Aos 34 anos, emprestará sua experiência ao Damac. Disputou 56 partidas pela seleção do Egito, titular na Copa do Mundo de 2018 e presente em duas edições da Copa Africana.

Djaniny (Al-Fateh)

Mais um jogador com extensa história no futebol africano que se mudou para o Campeonato Saudita é o centroavante Djaniny. O cabo-verdiano rodou por clubes menores de Portugal, antes de passar quatro anos no Santos Laguna. Foi três vezes campeão mexicano e até artilheiro do campeonato. Sua primeira passagem pelo Campeonato Saudita ocorreu de 2018 a 2020, com a camisa do Al-Ahli, pelo qual teve excelentes números. Foi tão bem que atraiu a atenção do Trabzonspor e chegou para ser campeão turco em 2021/22. Todavia, acabaria vendido ao emiratense Sharjah e agora faz o caminho de volta à Arábia Saudita. Deve disputar a Copa Africana de Nações com Cabo Verde, após duas edições presente com os Tubarões Azuis.

(Icon Sport)

Lucas Zelarayán (Al-Fateh)

Lucas Zelarayán é um caso típico de jogador muito mais valorizado pelo futebol de seleções. Sua história em clubes é respeitável, mas nada tão extraordinária. Formado pelo Belgrano, passou muitos anos no Tigres e depois virou ídolo do Columbus Crew. O meia possui títulos na Liga MX e também na Major League Soccer. Todavia, seu renome internacional aumentou quando o argentino descendente de armênios aceitou ser convocado pela seleção de seus familiares. Ganhou destaque inclusive nas Eliminatórias da Euro. Aos 31 anos, o camisa 10 aceitou a proposta do Al-Fateh, comprado por €2,75 milhões, e já anotou seu primeiro gol no Campeonato Saudita.

Jason Denayer (Al-Fateh)

Durante algum tempo, Jason Denayer chegou a ser visto como um potencial titular na zaga da Bélgica. O defensor atuou por grandes clubes, lançado pelo Manchester City, mas sem ter espaço. Rodou depois por Celtic, Galatasaray e Sunderland, antes de virar titular do Lyon por quatro temporadas. Entretanto, sua mudança para o Oriente Médio aconteceu ainda em 2022, contratado pelo Shabab Al-Ahli para disputar o Campeonato Emiratense. Agora, vira alternativa do Al-Fateh. Presente em duas edições de Eurocopa, o beque de 28 anos não é mais convocado pela seleção belga desde 2022. Ao que parece, qualquer esperança de se tornar um sucessor da geração dourada já passou.

Vina (Al-Hazem)

Aos 32 anos, Vina é o reforço mais conhecido do Al-Hazem entre o público brasileiro. O meia possui um currículo recheadíssimo entre clubes da Série A, com destaque principalmente à idolatria nos tempos de Ceará. Após o rebaixamento do Vozão, o veterano tentou a sorte no Grêmio e não deu certo. Ainda assim, tinha portas abertas no Campeonato Saudita e chegou logo como referência no ataque. Foram dois gols em cinco rodadas, incluindo a pintura por cobertura sobre Édouard Mendy na estreia contra o Al-Ahli. Outro brasileiro levado nesta janela pelo Al-Hazem é o zagueiro Bruno Viana, que passou pelo Flamengo e estava no Coritiba. Em janeiro havia chegado o zagueiro Paulo Ricardo, que fazia seu nome no Campeonato Finlandês.

Faïz Selemani (Al-Hazem)

O Al-Hazem adotou uma estratégia interessante de buscar destaques de seleções em ascensão na África. Um exemplo disso é o ponta Faïz Selemani. O jogador nascido na França rodou por vários clubes das divisões de acesso do país, até viver seu auge na Bélgica. Teria grande destaque na Union St. Gilloise na segunda divisão e depois defendeu o Kortrijk. Foram 103 partidas pelo clube, com 32 gols e 20 assistências. Descendente de comorenses, Selemani fez parte da seleção que colocou o país pela primeira vez no mapa da Copa Africana de Nações. Tal destaque não passou despercebido pelo Al-Hazem.  Outro que faz um caminho parecido é o centroavante Muhammed Badamosi, de Gâmbia, que chegou a ser herói nesta Data Fifa durante a classificação de seu país para a CAN 2024 e veio do Cukaricki, da Sérvia.

(Divulgação)

Jordan Henderson (Al-Ettifaq)

Jordan Henderson não é o mais caro dos reforços que vieram para os demais clubes do Campeonato Saudita, comprado por €14 milhões, mas sem dúvidas é o mais impactante. O meio-campista surgiu no Sunderland, mas tem a história de uma vida no Liverpool, com 492 partidas disputadas. A posição de herdeiro de Steven Gerrard como capitão já seria notável, mas Henderson ainda se tornou uma liderança fundamental nas conquistas da Champions League e da Premier League. Aos 33 anos, uma mudança de ares se tornaria compreensível, mas sua decisão não caiu bem quando tinha uma postura pública de apoiar causas sociais e a ida para a Arábia Saudita diz o contrário para muita gente. O reencontro com o agora técnico Gerrard no Al-Ettifaq, logicamente, pesou. E não foi a saída da Inglaterra que custou seu espaço na seleção, inclusive como titular nesta Data Fifa contra a Ucrânia.

Demarai Gray (Al-Ettifaq)

Gerrard também influenciou outra mudança direto da Inglaterra rumo ao Al-Ettifaq. Demarai Gray atuava do outro lado da rivalidade em Liverpool, pelo Everton, mas não parecia muito disposto a seguir na draga em que os Toffees se afundam. O ponta surgiu no Birmingham e teve os principais momentos de sua carreira com o Leicester. Também passou pelo Bayer Leverkusen, sem muito sucesso, antes de assinar com o Everton. O jogador da seleção jamaicana custou €9,3 milhões ao Al-Ettifaq, um valor até baixo considerando seus 27 anos. É um dos mais jovens da leva de reforços do clube e aquele que parece poder render mais dentro do médio prazo.

Georginio Wijnaldum (Al-Ettifaq)

A pequena colônia de Liverpool no Al-Ettifaq, por caminhos tortos, também ganhou a presença de Georginio Wijnaldum. Faz mais tempo que o meio-campista deixou Anfield, mas sua imagem continua bastante atrelada aos Reds. O holandês de 32 anos teve um ótimo início de carreira por Feyenoord e PSV, que o projetou para a seleção da Holanda. Também gastou a bola quando chegou ao Newcastle, até iniciar sua marcante passagem pelo Liverpool. Foi um ponto de equilíbrio ao time e um nome fundamental em conquistas memoráveis. Todavia, sua decisão de não renovar com o clube se provou como um tiro no pé. Não deu certo no Paris Saint-Germain e sofreu com as lesões na Roma. Aos 32 anos, a mudança para a Arábia Saudita corresponde a esse declínio. Foi comprado por €8 milhões.

Moussa Dembélé (Al-Ettifaq)

Moussa Dembélé é outro reforço mais jovem do Al-Ettifaq, aos 27 anos, e veio sem custos do Lyon. O centroavante surgiu bem com o Fulham na Championship e também conquistou certa idolatria no Celtic. Suas duas primeiras temporadas no Lyon foram excelentes, mas ele caiu de nível e acabou emprestado ao Atlético de Madrid, onde não aproveitou a oportunidade. Voltou bem ao Lyon em 2021/22, com 21 gols pelo Francesão, mas a montanha-russa continuou na temporada passada. O recomeço na Arábia Saudita é excelente, com três gols nas quatro primeiras rodadas da Pro League. Nome famoso nas seleções de base da França, Dembélé nunca atuou pela equipe principal.

(Divulgação)

Grzegorz Krychowiak (Abha)

Durante algumas temporadas, não era loucura colocar Grzegorz Krychowiak entre os melhores volantes do mundo. O polonês passou a fazer seu nome no Stade de Reims e teve temporadas excelentes com o Sevilla. Conquistou títulos da Liga Europa e chegou em alta na Euro 2016. Entretanto, não deu certo no PSG e virou andarilho da bola desde então. Sua lista de clubes inclui West Brom, Lokomotiv Moscou, Krasnodar e AEK Atenas, com direito a título na Copa da Rússia. Segue como um nome de relevo na seleção, mas na temporada passada já estava no Campeonato Saudita, pelo Al-Shabab. Virou um novo carregador de piano no Abha.

Karl Toko Ekambi (Abha)

Karl Toko Ekambi é um nome respeitável na Ligue 1 que se transfere para o Campeonato Saudita. O atacante ganhou seu destaque inicial por Paris FC e Sochaux, mas só disputou a primeira divisão com o Angers. Não deu muito certo em sua passagem pelo Villarreal, mas virou um jogador importante do Lyon em temporadas recentes. Porém, entrou em litígio com o clube e saiu na metade da temporada passada, sem brilhar também no Rennes. Diante da falta de espaço, preferiu ampliar a conta bancária no Abha. O ponta é um nome essencial na seleção de Camarões, com destaque para suas atuações na última Copa Africana de Nações e nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

Ciprian Tatarusanu (Abha)

Ciprian Tatarusanu nunca foi um goleiro muito confiável, vide o alívio da torcida do Milan com sua saída. O romeno quebrou um galho na temporada passada, quando Mike Maignan se lesionou, mas não que transmitisse muita firmeza. Apesar disso, sua fama rendeu a mudança para o Campeonato Saudita. O veterano de 37 anos apareceu com mais destaque no Steaua Bucareste, virando depois titular da Fiorentina e do Nantes, além de servir como reserva do Lyon. Já pela seleção, com 74 partidas disputadas, teve sua última aparição em 2020. Curiosamente, o Abha já tinha um goleiro estrangeiro e priorizou a compra de Tatarusanu. Pior para o camaronês Devis Epassy, que chegou a disputar a última Copa do Mundo, fechando o gol contra o Brasil, e sequer foi inscrito no Sauditão.

Jawad El-Yamiq (Al-Wehda)

A Copa do Mundo deu um impulso na fama de Jawad El-Yamiq. Diante das muitas lesões de Marrocos, o zagueiro contribuiu na sensacional campanha até as semifinais do Mundial de 2022. E o cartaz continua no Oriente Médio, agora com sua transferência para o Al-Wehda. O beque de 31 anos fez a ponte do Raja Casablanca rumo à Europa, primeiro no Genoa. Defendeu também o Perugia, mas se deu melhor na Espanha. Depois de vestir a camisa do Zaragoza, ficou três temporadas no Valladolid. Auxiliou o acesso em 2021/22, mas não evitou a queda em 2022/23. O Al-Wehda aproveitou uma excelente oportunidade para levá-lo. São 29 jogos pela seleção.

(Divulgação)

Odion Ighalo (Al-Wehda)

Odion Ighalo é mais um com boa experiência no Campeonato Saudita. O Al-Wehda será o terceiro clube do nigeriano no país. O centroavante é mais lembrado pelo sucesso inicial no Granada e também por boa passagem pelo Watford que subiu à Premier League. Depois ganhou seu dinheiro no Campeonato Chinês, por Changchun Yatai e Shanghai Shenhua, antes de uma peculiar estadia no Manchester United. Desde então, virou um dos reis da Pro League. Ighalo fazia frequentes gols no Al-Shabab, até virar artilheiro do Al-Hilal. Chegou a ser herói do título em 2021/22, com uma tremenda reviravolta dos alviazuis. Contudo, não estava nos planos megalomaníacos recentes. Seus números no torneio são ótimos, com 53 gols em 74 partidas, um deles já anotado pelo Al-Wehda. Apesar da história na seleção nigeriana, não é convocado desde 2022.

Craig Goodwin (Al-Wehda)

O Al-Wehda foi um dos times que melhor aproveitou o poder de compra do Campeonato Saudita para levar jogadores em alta, mas não necessariamente tão renomados. Um exemplo disso é Craig Goodwin. O ponta de 31 anos possui uma carreira modesta, quase sempre em atividade na Austrália. Passou de início pelo Melbourne City e pelo Newcastle Jets, antes de estourar pelo Adelaide United. Teve uma curta experiência no Sparta Roterdã, antes de voltar ao Adelaide United. Entre 2019 e 2021, também jogou no Campeonato Saudita. Foi bem na primeira estadia no Al-Wehda e depois defendeu o Abha. Isso antes de voltar a reinar em seu momento mais recente na A-League, como sempre no Adelaide United. O medalhão de 31 anos é convocado pela seleção australiana desde 2013, mas só teve o merecido destaque mais recentemente. Fez um gol e deu duas assistências na Copa do Mundo, como importante escape dos Socceroos pela esquerda.

Vito van Crooij (Al-Wehda)

Outro jogador que o Al-Wehda leva sem muito nome, mas com entrega recente, é Vito van Crooij. O meia holandês de 27 anos nunca tinha saído de seu país. Primeiro auxiliou o VVV a alcançar a elite nacional. Também teve bons momentos pelo PEC Zwolle, antes de voltar ao VVV. Já nas duas últimas temporadas, foi um dos melhores jogadores do Sparta Roterdã. Seu rendimento era bem alto, com 13 gols e 12 assistências na Eredivisie 2022/23, impulsionando o time na briga por Conference League. Não conseguiu a vaga nas competições continentais, mas descolou um vantajoso contrato que dificilmente encontraria na Europa, mesmo se fosse para uma liga maior.

Mohamed Sherif (Al-Khaleej)

Mohamed Sherif já era um dos principais jogadores em atividade no “Mundo Árabe”, mas pelo Campeonato Egípcio. O atacante passou por Wadi Degla e Enppi, antes de se firmar como um dos principais ídolos recentes do Al-Ahly. Foram 58 gols em 151 partidas pelo clube, decisivo em três títulos do Campeonato Egípcio e em dois da Champions Africana – ganhando fama internacional graças ao torneio. Também virou nome recorrente na seleção local durante os anos recentes, reserva no vice da CAN 2022. Esta é sua primeira experiência fora de seu país natal e já anotou o primeiro gol pelo Al-Khaleej.

(Icon Sport)

Jung Woo-young (Al-Khaleej)

Mais uma boa observação do Al-Khaalej no mercado árabe é o meio-campista Jung Woo-young. O sul-coreano curiosamente foi revelado no Campeonato Japonês, com as camisas de Kyoto Purple Sanga e Vissel Kobe, principalmente. Passou também pelo Campeonato Chinês, pelo Chongqing Liangjiang. Já seu auge aconteceu nas cinco temporadas em que defendeu o Al-Sadd. Virou multicampeão no Campeonato Catariano e um dos homens de confiança de Xavi durante sua estadia como treinador. Dono de bom porte físico e qualidade técnica, esteve entre os titulares da seleção da Coreia do Sul na última Copa do Mundo. Aos 33 anos, encherá um pouco mais os cofres.

Lisandro López (Al-Khaleej)

O Lisandro López zagueiro não teve uma carreira tão brilhante quanto o atacante homônimo, mas ainda assim protagonizou bons momentos em alto nível. Começou no Chacarita Juniors, mas sua fama nacional surgiu a partir da transferência ao Arsenal de Sarandí, com boas campanhas internacionais. Não deu muito certo na Europa, mas vestiu camisas pesadas no Benfica e na Internazionale, além de defender também Getafe e Genoa. Tinha voltado à Argentina para atuar pelo Boca Juniors e, mais recentemente, era jogador do Tijuana no Campeonato Mexicano. Aos 34 anos, aproveita uma excelente oportunidade no aspecto financeiro.

Fashion Sakala (Al-Fayha)

Aos 26 anos, Fashion Sakala teve experiências das mais distintas na carreira. O atacante nascido na Zâmbia ganhou as primeiras chances no time B do Spartak Moscou. Sua verdadeira confirmação aconteceu no Campeonato Belga, onde teve bons números pelo Oostende. Já nas duas últimas temporadas, conseguiu certo destaque pelo Rangers. Além do Campeonato Escocês, foi finalista da Liga Europa e disputou a fase de grupos da Champions League. Mas não que os Teddy Bears fizessem questão de segurá-lo. Convocado para a seleção desde 2017, deve disputar a próxima Copa Africana.

Ghislain Konan (Al-Fayha)

Ghislain Konan foi realocado do Al-Nassr para o Al-Fayha. O lateral esquerdo teve suas primeiras chances como profissional no Vitória de Guimarães e fez grandes temporadas com o Stade de Reims. Foi o que atraiu o interesse do Al-Nassr, que levou o marfinense ao final de seu contrato, na temporada passada. O defensor era titular absoluto dos auriazuis e continuou nessas condições no início da atual campanha, mas a compra de Alex Telles tornava sua presença redundante. Assim, acabou emprestado para o Al-Fayha. É atualmente titular na seleção da Costa do Marfim e está cotado para disputar a Copa Africana de Nações.

(Divulgação)

Abdelhamid Sabiri (Al-Fayha)

De certa maneira, a transferência de Abdelhamid Sabiri para o Al-Fayha é decepcionante. O marroquino tinha chão para mais. O meia de 26 anos teve uma ascensão tardia em sua carreira, com o principal passo como profissional no Nuremberg. Também passou pelo Huddersfield sem ser lembrado e voltou à Bundesliga através do Paderborn. Conseguiu se sair melhor na Itália, primeiro com o Ascoli na Serie B e depois na Sampdoria na Serie A. Não evitou o rebaixamento do time, mas deu mostrar de talento, a ponto de virar uma das principais adições de Marrocos às vésperas da última Copa do Mundo. Os holofotes do Mundial também pavimentaram seu caminho à Arábia Saudita.

Florin Tanase (Al-Okhdood)

Florin Tanase se consagrou como um dos principais nomes do Campeonato Romeno desde a última década. O meia é cria do Viitorul Constanta e estourou nas mãos de Gheorghe Hagi. Depois disso, o atacante se transferiu para o Steaua Bucareste e se colocou entre os principais ídolos do clube. Não teve grandes conquistas, mas por duas vezes foi artilheiro da SuperLiga e se acostumou a disputar as copas europeias. Tanase não chegou a se firmar na seleção e nem atraiu o interesse das grandes ligas da Europa. Assim, optou por ganhar dinheiro no Oriente Médio. Atuou pelo Al-Jazira na temporada passada e, desta vez, trocou os Emirados Árabes pela Arábia Saudita. O Al-Okhdood ainda contratou o espanhol Álex Collado, meia criado pela base do Barcelona que disputou a última temporada no Elche.

Virgil Misidjan (Al-Tai)

O Al-Tai fez contratações modestas mesmo para o nível dos demais concorrentes do Campeonato Saudita. Os reforços possuem carreiras alternativas, a exemplo de Virgil Misidjan, o mais tarimbado dos novatos. O holandês de 30 anos surgiu no Willem II, mas teve as principais conquistas da carreira na Bulgária, com a camisa do Ludogorets. Anotou 49 gols em 206 partidas pelo clube, de 2013 a 2019 em Razgrad. Depois disso defendeu o Nuremberg e o PEC Zwolle, até brilhar nas temporadas mais recentes com a camisa do Twente. Apesar das boas perspectivas na Eredivisie, preferiu ganhar dinheiro com a oferta do Al-Tai. Entre seus companheiros estarão o chileno Enzo Roco (Elche), o ganês Bernard Mensah (Kayserispor) e o alemão Robert Bauer (St. Truiden).

Mamadou Loum (Al-Raed)

O Al-Raed é outro clube do Campeonato Saudita que não fez movimentos muito arrojados no mercado. A grande novidade é o volante Mamadou Loum. O senegalês despontou no Braga e chegou a ser levado pelo Porto, mas sem ganhar sequência no Estádio do Dragão. Suas principais temporadas vieram só depois disso, titular do Alavés em La Liga e do Reading na Championship. A seleção contribuiu mais para seu renome, como reserva no título da Copa Africana de Nações de 2022 e também presente na Copa do Mundo de 2022. O camaronês Oumar González e o norueguês Mathias Normann são outros dois jogadores de seleção que também chegaram.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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