Ásia/Oceania

Malcom aproveita a melhor fase da carreira para capitalizar no Al-Hilal

Malcom vem de uma temporada monstruosa com o Zenit e, mesmo com mercado na Europa, vai ganhar um salário bem maior na Arábia Saudita

Malcom fez a melhor temporada de sua carreira em 2022/23. O atacante arrebentou no Campeonato Russo e liderou o pentacampeonato do Zenit. O embargo aos russos nas competições continentais, entretanto, diminuiu a visibilidade dos feitos do brasileiro. Só não o impediu de buscar um contrato mais lucrativo, rumo à Arábia Saudita. Em negócio alinhado nos últimos dias, Malcom assinou com o Al-Hilal. O atacante custou €60 milhões (R$315 milhões) aos alviazuis, um valor acima mesmo de seu preço quando saiu do Barcelona. O Zenit não teve muito como recusar, nem o brasileiro, com um salário igualmente acima do mercado.

A transferência de Malcom para a Arábia Saudita reitera seu planejamento de carreira, em busca de campeonatos menos competitivos, mas mais rentáveis ao seu bolso. O atacante passou pelo Bordeaux e depois teve sua grande chance no Barcelona, após desfazer um negócio quase certo com a Roma. Porém, sem emplacar no Camp Nou, o brasileiro abraçou a oportunidade de ser protagonista do Zenit. Liderou o clube na sequência de títulos nacionais e teve suas aparições na Champions League. Porém, não se incomodou com o embargo aos clubes russos e permaneceu nos celestes, com uma renovação contratual neste período mais recente.

Por bola, Malcom não teria problemas para se encaixar novamente nas principais ligas europeias. Tal volta até parecia natural, diante do tamanho de seu destaque pelo Zenit no último Campeonato Russo. Foram 23 gols e nove assistências em 29 partidas, marcas ainda mais expressivas para um ponta. Contudo, o Al-Hilal ofereceu outros tipos de vantagem que o jovem de 26 anos não teve como recusar. Com os holofotes voltados ao Campeonato Saudita, pode ter outro tipo de destaque. Não é difícil de imaginá-lo inclusive como o grande talento individual do Al-Hilal, o clube mais popular do país, mesmo com a companhia de figuras como Sergej Milinkovic-Savic e Rúben Neves.

Zenit readequou as perspectivas de Malcom

Malcom possui uma trajetória excelente no futebol internacional, mesmo que por vezes ofuscado pelas escolhas. O atacante revelado pelo Corinthians se colocou como um xodó do Bordeaux em suas primeiras temporadas na Europa. O que jogou na Ligue 1 2017/18, com 12 gols e uma coleção de pinturas, foi uma enormidade. Não à toa, entrou no radar de vários clubes mais graúdos do continente. Arsenal e Tottenham chegaram a sondá-lo, enquanto a Roma até oficializou o negócio em suas redes sociais. Contudo, faltava a assinatura do contrato com os italianos e o Barcelona atravessou o caminho para levá-lo, por €41 milhões, em 2018/19.

A transferência de Malcom para o Barcelona se provou um salto maior que as pernas. O atacante não conseguiu se firmar como titular e anotou quatro gols em 24 partidas, com destaque pontual em algumas apresentações – como no empate diante do Real Madrid pela semifinal da Copa do Rei. O problema é que ele nunca teve sequência com o técnico Ernesto Valverde. Assim, sua venda para o Zenit pareceu bem-vinda. O clube russo pagava €40 milhões em 2019/20 para contar com um jogador chancelado pelo Barça, enquanto os catalães recuperavam o investimento inicial. Malcom teria mais tempo de jogo, embora a mudança para a Rússia não fosse o melhor diante das perspectivas que teve em outros momentos na Europa.

Malcom está na história do Campeonato Russo

No fim das contas, Malcom construiu sua trajetória no Zenit como um dos grandes brasileiros da história do Campeonato Russo. Superou inclusive os ataques racistas que sofreu da própria torcida logo em sua chegada. Foram 109 partidas pelo clube, com 42 gols e 24 assistências. Dentro de uma colônia cheia de compatriotas em São Petersburgo, o atacante esteve entre os mais brilhantes em quatro títulos consecutivos da liga nacional. Seu bom momento também rendeu reconhecimento na Champions League e na Liga Europa. Por aquilo que vinha jogando, talvez fosse questão de tempo para Malcom voltar às grandes ligas europeias.

Entretanto, a invasão russa na Ucrânia marca uma cisão nessa história. Diferentemente de outros estrangeiros, com passe livre da Fifa para buscar outros clubes por causa da guerra, Malcom, preferiu continuar no Zenit. O clube recompensou o atacante e outros brasileiros do elenco por isso, com uma renovação de contrato que ampliou seus salários. Os celestes não teriam mais a visibilidade das competições continentais, por causa do banimento dos clubes russos. Então, Malcom se fartou no próprio Campeonato Russo. O nível que ofereceu ao time na temporada passada foi impressionante. Fez a melhor temporada da carreira. Teve gol de bicicleta, pintura em cobrança de falta e quatro gols no mesmo jogo.

Malcom é o segundo brasileiro com mais gols na história do Zenit, abaixo de Hulk, e terceiro no total de aparições, abaixo também de Douglas Santos. Contam-se nos dedos os brasileiros que tiveram um destaque tão grande quanto o seu no Campeonato Russo, como Vágner Love ou Daniel Carvalho. A última temporada credenciou o atacante de uma maneira rara em São Petersburgo. E também garantiu as justificativas para que aproveitasse sua valorização em outro país. O Zenit certamente não teve problemas em vendê-lo, por um valor que não conseguiria de qualquer outro mercado.

Al-Hilal oferece um projeto distinto na Arábia Saudita

Malcom não teve muitos entraves morais ao continuar no Zenit, apesar da guerra na Rússia. Também não encontra problemas para fazer sua decisão rumo à Arábia Saudita, especialmente pelo salário que vai ganhar. E, no cenário atual, o Al-Hilal parece um destino melhor em termos esportivos do que se continuasse em São Petersburgo. O clube de Riad costuma ser bastante competitivo nos torneios continentais, especialmente por suas campanhas recentes na Champions Asiática. Além do mais, o interesse pelo Campeonato Saudita aumentará sua visibilidade, sobretudo num momento em que o Campeonato Russo era negligenciado pelo contexto político e não tinha perspectivas de reconquistar seu espaço nos torneios da Uefa.

O Al-Hilal oferece um projeto interessante em relação aos quatro grandes da Arábia Saudita, que recebem o investimento direto do governo local. Os alviazuis preferiram concentrar seus reforços em jogadores renomados, mas não tão veteranos. Os novos contratados são caras que poderiam render por anos em alto nível na Europa. Sergej Milinkovic-Savic é o melhor exemplo disso, ao deixar a Lazio quando teria espaço no meio-campo de qualquer clube das grandes ligas. O mesmo vale para Rúben Neves, que interessava ao Barcelona. Kalidou Koulibaly pode não ter emplacado no Chelsea, mas seu retrospecto no Napoli é excelente. Malcom se soma a esse tipo de planejamento.

Outro trunfo do Al-Hilal é contar com um elenco muito forte entre os próprios jogadores sauditas. É a base da seleção local, que vem de uma digna campanha na Copa do Mundo. Já Malcom terá a chance de trabalhar com Jorge Jesus, um treinador capaz de facilitar sua adaptação e de aproveitar seu potencial ofensivo. São muitos fatores que favorecem a transferência, até mesmo pensando em holofotes para reivindicar seu espaço na seleção brasileira. Se Malcom repetir no Al-Hilal o que fez na última temporada com o Zenit, os clamores tendem a se tornar um pouco maiores. Mesmo que, por talento, o atacante coubesse em torneios bem mais competitivos.

Os estrangeiros do Al-Hilal no momento

  • Kalidou Koulibaly, zagueiro, Senegal
  • Jang Hyun-soo, zagueiro, Coreia do Sul
  • Rúben Neves, volante, Portugal
  • Sergej Milinkovic-Savic, meio-campista, Sérvia
  • Malcom, ponta, Brasil
  • Moussa Marega, centroavante, Mali
  • Michael, ponta, Brasil
  • André Carrillo, ponta, Peru
Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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