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Mesmo com mercado na Europa, Rúben Neves assina com o Al-Hilal no auge da forma

Rúben Neves chegou a ser procurado pelo Barcelona recentemente, mas preferiu o salário pago pelo Al-Hilal - num negócio que ainda pode oferecer atalhos de volta à Premier League

A fortuna despejada pelo governo da Arábia Saudita em seus principais clubes promove uma série de transferências astronômicas no país. Por enquanto, há mais negociações do que confirmações envolvendo os times sauditas, mas está claro como a liga local ficará bem mais recheada de estrelas. Nesta sexta-feira, o Al-Hilal oficializou a contratação de Rúben Neves. O português era um dos melhores meio-campistas das Premier League e um símbolo das boas campanhas do Wolverhampton na primeira divisão. Aos 26 anos, tem ainda muito tempo para desempenhar em alto nível e poderia almejar um clube de melhores perspectivas na Europa – o Barcelona chegou a procurá-lo, mas sem condições de competir com o dinheiro árabe. Neves muda-se para Riad, atraído pelo salário bem mais vantajoso pago pelos alviazuis.

O Wolverhampton ganha um bom dinheiro com a venda de Rúben Neves. O Al-Hilal pagará €55 milhões pela transferência, o que garante um lucro alto para os Lobos seis anos depois de desembolsarem €17 milhões pelo jovem formado no Porto. É uma excelente margem, especialmente para um jogador que só tinha mais um ano de contrato. Quem também está feliz com as comissões é Jorge Mendes, empresário de Neves, que já tinha levado clientes como Cristiano Ronaldo e Nuno Espírito Santo ao futebol saudita. De qualquer maneira, uma fortuna vai parar no bolso do meio-campista. A estimativa é de que seu salário pelo menos triplique em Riad, com ganhos anuais na casa de €14 milhões – livres de impostos. O volante assina por três anos.

O Al-Hilal é o clube mais dominante do Campeonato Saudita nos últimos anos e também o mais bem-sucedido na Champions Asiática. O elenco atual dos alviazuis conta com Gustavo Cuéllar, Michael, Moussa Marega, André Carrillo, Luciano Vietto e Odion Ighalo entre os estrangeiros – embora os dois últimos estejam de saída. Rúben Neves, neste momento, sobra como estrela da companhia e deve ganhar outros parceiros famosos em breve. Clube mais popular do país, o Al-Hilal era quem tentava levar Lionel Messi até semanas atrás. Seria uma tentativa de rivalizar com Cristiano Ronaldo no Al-Nassr e Karim Benzema no Al-Ittihad, onde também chegou N'Golo Kanté.

Rúben Neves disputou três temporadas com a equipe principal do Porto. Somou 59 partidas pelo Campeonato Português, mas perdeu espaço em seu último ano no clube e dava a impressão de ser subaproveitado. O Wolverhampton se tornou destino do volante em 2017/18. Apesar das ótimas expectativas que existiam ao redor de seu futebol, pesava bastante a influência de Jorge Mendes, que passou a mandar nos bastidores dos Lobos. Assim, o jovem de 20 anos descia um degrau rumo à segunda divisão do Campeonato Inglês. Apesar disso, o novato conseguiu se provar no novo ambiente.

O Wolverhampton conquistou o acesso de imediato, a partir da chegada de Rúben Neves. O meio-campista se tornou um dos melhores jogadores da Championship, entre sua capacidade de organização a partir de lançamentos cirúrgicos e as patadas de fora da área. Já o acesso à Premier League marcou também a confirmação do volante em alto nível. Permaneceu como peça central sob as ordens de Nuno Espírito Santo e mesmo com as trocas de treinador. Foi uma certeza no Estádio Molineux, em campanhas que renderam inclusive a classificação para a Liga Europa. Ao todo, disputou 253 partidas pelo clube, com 30 gols e 13 assistências.

“Nenhum outro jogador causou tamanho impacto em campo com as cores do Wolverhampton durante os últimos seis anos, jogando mais de 250 vezes num período notável na história do clube. Trocando o Porto, time da Champions League, pelas luzes da Championship em Black County, a contratação histórica de Neves foi o primeiro indício do que estava por vir naquela temporada vitoriosa na segunda divisão e da formação da base dos Wolves que é conhecida em todo o mundo hoje em dia”, exaltou o clube, em sua despedida.

A projeção de Rúben Neves foi tamanha que ele também se firmou na seleção de Portugal. Sua estreia aconteceu em 2016, nos tempos em que ainda estava no Porto, mas não disputou a Eurocopa. Já a ausência na Copa do Mundo de 2018 foi bem mais reclamada, pelo impacto que tinha no Wolverhampton. A partir de então, o volante virou nome imperativo nas convocações e presente nas principais competições. Era reserva no título da Liga das Nações em 2019, assim como na Euro 2020 – quando de novo sua presença na equipe titular era pedida. Já no Mundial de 2022, atuou nos cinco jogos dos Tugas, titular em quatro deles. Inicia um novo ciclo com moral.

A questão para Rúben Neves será exatamente o desenvolvimento de sua carreira. Dentre os reforços estelares do Campeonato Saudita, é o primeiro que chega no auge da forma e abaixo dos 30 anos. O Al-Hilal não garantirá o melhor nível competitivo ao meio-campista, que poderia almejar um clube de Champions, pelos serviços prestados no Wolverhampton. Porém, a fortuna que ganhará na Arábia Saudita não se ofereceria em qualquer outra realidade e o volante faz a sua escolha. Precisa ter consciência também que pode abrir mão de suas melhores temporadas, aos 26 anos.

O que não está descartada, todavia, é uma volta em breve para a Europa. Há rumores de que Rúben Neves poderia se tornar reforço do Newcastle. A transferência ao Al-Hilal seria uma manobra dos sauditas, donos dos Magpies, para driblar o Fair Play Financeiro e emprestar o meio-campista ao elenco classificado para a Champions League. Uma artimanha que, apesar dos pesares, não é ilegal e oferece a enésima brecha nos mecanismos de controle da Uefa. Se isso acontecer, ao menos, permitiria que o português continuasse presente no futebol de primeira categoria. É o que sua qualidade indica por mais tempo.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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