Brasileirão Série A

O Atlético-MG acordou tarde demais para o título, mas o fim de ano serviu para muito mais coisa

O sonho do título para o Atlético acabou, mas a reta final da temporada deixa muito mais a celebrar do que a lamentar, mesmo saindo sem a taça

A disputa pelo título do Campeonato Brasileiro terminou neste domingo (3). Não de forma oficial, já que matematicamente ainda há chance de alguém tirar a taça das mãos do Palmeiras. Mas, futebolisticamente, é praticamente impossível. O Atlético-MG é um dos times que tem essa chance matemática, mas que foi punido por acordar tarde demais para entrar na disputa. Apesar disso, o Galo tem muito mais a comemorar do que lamentar na sua reta final.

Para ser campeão, o Atlético precisaria vencer o Bahia e o Palmeiras perder para o Cruzeiro, com o plus de ainda precisar tirar uma diferença de oito gols de saldo. Ou seja, uma missão quase impossível, principalmente porque o Cruzeiro, que é o adversário do Alviverde, já se livrou do rebaixamento e, sem dúvida, não fará nenhum esforço para ajudar seu maior rival nessa briga.

Depois de tanta festa nas últimas rodadas e o grito de “Eu Acredito” retomado pela torcida, que atingiu até Felipão, que passou a confiar nesse mantra, pode ser um pouco decepcionante para o Atlético chegar na rodada final do Brasileirão sem a real chance de título. Mas, como o próprio treinador falou, o clube foi punido por ter tido uma sequência terrível de oito jogos sem vencer na competição.

Nós lá atrás não fizemos por merecer, quem sabe não vamos receber o castigo agora. Mas estamos orgulhosos da equipe, dos jogadores, do ambiente e que conseguimos dar a volta por cima — disse Felipão.

Essa sequência péssima do Atlético aconteceu na chegada de Felipão, que passou seus nove primeiros jogos sem saber o que é vitória. O Galo triunfou no 10° jogo com o treinador, contra o São Paulo e, desde então, fez uma campanha de recuperação inimaginável. Por conta desse período de reabilitação, principalmente nos quatro últimos jogos, o elenco, Scolari e o torcedor atleticano tem mais coisas a comemorar do que a lamentar, mesmo saindo sem a taça.

Um Atlético que, finalmente, empolgou

A campanha de recuperação do Atlético é realmente incrível. Depois de oito jogos sem vencer no Brasileirão e despencar para o 13° lugar, o Galo conseguiu vencer incríveis 14 dos últimos 19 jogos, empatando outros dois e perdendo apenas três. Nesse percurso, mesmo com poucas derrotas, o time de Felipão não demonstrava muita coisa a ponto de empolgar o torcedor. Principalmente tendo algumas derrotas inexplicáveis no caminho, como a pro então lanterna Coritiba e a do primeiro clássico da história da Arena MRV, no pior momento do Cruzeiro do campeonato.

O time atleticana jogava (quase) sempre sem brilho, que às vezes conquistava os resultados fazendo o mínimo, ou nem isso, como nos empates contra América-MG e Corinthians. Mas essa história mudou justamente após o jogo contra o time paulista. Na partida seguinte, contra o Goiás, o Galo teve uma grande demonstração de força de vontade, vencendo mesmo com um a menos durante todo o segundo tempo. Esse jogo serviu como uma faísca para acender a chama do torcedor.

No duelo seguinte, contra o Grêmio, uma das melhores atuações do time no ano, que serviu para inflamar de vez o torcedor. Naquele ponto, o torcedor do Atlético passou a ver em campo um time que lutava pelas bolas, que buscava sempre o gol e que empolgava. Independente das chances que ainda lhe restavam, aquilo bastava para a torcida naquela altura. Mas as coisas foram ficando mais sérias quando o Galo deu outro baile, dessa vez contra o Flamengo em pleno Maracanã. Ali, além de empolgado, o torcedor começou a realmente acreditar na possibilidade de título, mesmo que parecesse uma loucura, mas nada além do que os atleticanos já estão acostumados.

O sonho, no entanto, encerrou nesse domingo, com a vitória do Palmeiras e a situação posta acima. Mas, antes, o torcedor pôde ter seu último momento de euforia máxima, de sonhar como nunca, com a épica vitória contra o São Paulo em um Mineirão pulsante, que empurrou o time atleticano como se fosse uma real decisão de campeonato. A festa foi incrível e, mesmo sabendo que a possibilidade era pequena, foi notório que a torcida estava daquela forma por conta de como o time se portou nos últimos jogos.

O Galo ainda tem o que fazer na última rodada

Apesar da chance de título ser nula, o Atlético ainda tem uma missão na última rodada, que é alcançar o principal objetivo do clube na temporada: terminar no G4. Para isso, uma vitória simples garante o Galo entre os quatro primeiros, podendo dar ainda o vice-campeonato ao clube, que vale pelo dinheiro a mais que irá receber por ter ficado melhor colocado.

Caso não vença o Bahia, o Atlético precisa torcer para que um entre Flamengo (3°), Grêmio (4°) e Botafogo (5°) não vença também. Todos os três, assim como o Galo, jogam fora de casa na rodada, mas só o Alvinegro enfrenta um adversário que ainda tem (muito) a fazer na competição. No caso, o Tricolor de Aço precisa do resultado para escapar do rebaixamento – e ainda torcer contra Santos ou Vasco.

Sem título, o que vale para o Atlético?

No fim das contas, mesmo sem o título na última rodada, essa campanha, principalmente essas últimas rodadas, serviu para muita coisa. A principal delas foi atrair o torcedor de volta. Antes, como citado, o torcedor não conseguia se empolgar com o time, e a Arena MRV não tinha o clima esperado, havia vaias para jogadores, como Jemerson e Edenilson, e divisão de opiniões sobre dar sequência a Felipão. Depois desse fim de ano, difícil algo tirar a empolgação do torcedor do Atlético para 2024, o torcedor que fez uma das maiores festas que o Mineirão já viu, o torcedor que passou a não só não vaiar como ovacionar Edenilson e o torcedor que se rendeu a experiência de Luiz Felipe Scolari.

E claro, vale ao Atlético o grande ano da sua dupla dinâmica. Com 30 gols cada em 2023, Hulk e Paulinho formam algo difícil de explicar, uma conexão poucas vezes vista da mesma forma. Resta ao clube agora segurar seus astros e municiá-los ainda mais na próxima temporada. Além deles, um ano fenomenal de Everson e a volta por cima de Matías Zaracho servem para fazer o torcedor acreditar desde o início do próximo ano.

No fim das contas, muitas coisas ficam marcadas no ano de 2023 do Atlético, como a empolgação com Eduardo Coudet e a surpresa com a saída dele, e a chegada desastrosa de Felipão. Mas, o que mais vai ficar marcado mesmo, é a forma como o time demonstrou força e terminou o Brasileirão em seu auge, jogando um grande futebol e dando muita esperança à torcida, mesmo que ela já tenha sido avisada que os investimentos serão comedidos. Afinal, sonhar e acreditar faz parte de qualquer dia comum para o torcedor atleticano, e em 2024 não será diferente, principalmente agora com o recado que o time deu.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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