Da tragédia à ‘final’, em seis atos: Como o Palmeiras voltou à disputa do título brasileiro
Palmeiras viveu período mais turbulento da temporada, mas voltou a disputar a ponta após mudanças no time e volta da paz
Em três jogos, o Palmeiras foi de correr risco de não conseguir uma vaga no G4 para uma final contra o Botafogo, na próxima quarta-feira (1º). Em 11 dias, o time do técnico Abel Ferreira deixou para trás o fantasma do Boca Juniors, engatou três vitórias seguidas sem sofrer gols e pode terminar a próxima rodada com apenas três pontos perdidos a mais que o líder do campeonato.
O caminho para tal mudança teve seus traumas e exorcismos. Houve protestos, questionamento quanto a peças do elenco, bate-boca interno, crise política e embate da diretoria com a torcida. Mas, faltando apenas oito jogos para o campeonato acabar, a possibilidade de título volta a ser palpável na Academia de Futebol.
Entenda abaixo o roteiro que recolocou o Palmeiras na trilha de postulante ao troféu. Que precisa da vitória no Rio de Janeiro, sobre o Botafogo, para se manter viável.
O fundo do poço e os desabafos
Assimilar toda a frustração com a eliminação na Libertadores era fundamental – somada a uma derrota para o Santos. De modos diferentes, comissão técnica, torcida e diretoria exorcizaram, em forma de ira, a decepção geral entre os palmeirenses com a queda nos pênaltis diante de um adversário mais fraco tecnicamente.
Abel Ferreira, por exemplo, estava muito nervoso e na defensiva na entrevista coletiva após o segundo jogo da semifinal do Continental. Protocolarmente, disse que era o maior culpado pelo resultado, mas não reconheceu ter errado em nada. Reafirmou que seu plano era correto e, mais de uma vez, com outras palavras, desdenhou e deixou claro não levar em conta a análise dos jornalistas.
A torcida, que na maior parte do tempo protege o técnico Abel Ferreira de qualquer crítica, voltou-se contra a presidente Leila Perreira e o diretor Anderson Barrros. Questionando a competência de ambos para dar as peças necessárias para o treinador, liderados pelas organizadas, os palmeirenses, por exemplo, se esqueceram do jogo e passaram os 90 minutos mais acréscimos de Palmeiras 0 x 2 Atlético-MG, no dia 19, ofendendo a dupla.
Muito dessa fúria decorreu da desastrosa entrevista coletiva concedida pela mandatária oito dias antes quando, para se defender, Leila atacou seus adversários políticos, chamou de “câncer” as uniformizadas, incluindo e principalmente a Mancha Alviverde, responsável direta por sua legitimação política, e, com uma péssima escolha de palavras, tratou com desrespeito a história do Palmeiras antes de 2015, quando suas empresas passaram a patrocinar o clube.
A superação do abalo emocional do grupo
O baque nos jogadores foi forte. Conforme revelou o volante Fabinho, em entrevista à Trivela, os jogadores passaram dias conversando entre eles para tentar entender a eliminação. A sensação geral era de que o time fez tudo certo e jogou melhor. Portanto, merecia ter passado para a decisão do torneio.
Grandes lideranças do elenco, como Weverton, Veiga, Gómez e Rony, mostravam claro abatimento e não vinham sendo suas melhores versões. Veiga e Rony chegaram até mesmo a discutir em campo na derrota ante o Galo, algo raríssimo na Era Abel. Havia uma tensão latente, que para alguns resultava em abatimento, para outros, em fúria.
Mas os dias foram passando, e as coisas, voltando ao lugar. Conforme revelou em entrevista coletiva, no dia de trabalho seguinte à discussão, Abel chamou Rony e Veiga e perguntou a ambos se era necessário que ele pagasse um jantar para que as pazes fossem feitas. Ambos disseram que não, entre risos. O bom clima tinha chance de retorno.
Nova formação e volta da vitória
Encarar o vice-lanterna poderia ser uma armadilha para o Palmeiras. Voltar de Curitiba com menos do que a vitória seria a constatação final de que a baixa produção alviverde se instalara para ser perene.
A formação que jogou três dos quatro tempo contra o Boca estava abandonada. A improvisação de Mayke no ataque não aconteceria mais. Mas Abel tampouco estava convencido de que atuar com Endrick e Kevin nas pontas, com Rony como 9, era a resposta. Veio então a ideia salvadora: usar um terceiro zagueiro.
Rony foi para o banco. Em seu lugar, entrou Luan. Longe de recuar o time, a mudança deu liberdade para o Palmeiras reforçar sua criação e potencializar o que seus dois laterais fazem de melhor: atacar.
Zé Rafael passou a encostar mais em Veiga, para auxiliar na criação. Ríos, que conquistara a titularidade do lesionado Menino, também passou a participar mais ainda da articulação ofensiva, permitindo a Veiga atuar mais centralizado para infiltrar a área, posicionado atrás da dupla Lopes-López.
O 2 a 0 sobre o Coritiba não foi brilhante, mas foi seguro e sólido. A formação com três zagueiros passara no teste.
Brazil Serie A 03/12/23
V
Fluminense
0
Palmeiras
1
Brazil Serie A 30/11/23
V
America MG
0
Palmeiras
4
Brazil Serie A 26/11/23
E
Fortaleza EC
2
Palmeiras
2
Brazil Serie A 12/11/23
V
Internacional
0
Palmeiras
3
Brazil Serie A 09/11/23
D
Flamengo
3
Palmeiras
0
Mea culpa a portas fechadas, último protesto na rua
A segunda-feira, dia 23, foi tensa politicamente. Dia de uma das quatro reuniões anuais ordinárias do conselho deliberativo, a data marcou um mea culpa discreto de Leila Pereira aos palmeirenses.
Leila não pediu desculpas por nada que disse na fatídica coletiva. Mas reafirmou respeitar a história do Palmeiras, clube ao qual ela disse amar e que chamou de “nosso” mais de uma vez, mesmo diante de opositores ávidos por questioná-la – o que eventualmente fariam.
Do lado de fora, as organizadas terminaram de colocar para fora a raiva contra a mandatária. Serviram pizzas simbólicas em mesas postas na calçada, em alusão às pizzadas nas quais ela angariou capital político antes de se candidatar conselheira, e gritaram mais ofensas, esgotando o tema momentaneamente.
A trégua e a goleada
Conforme revelado por Jorge Luiz, presidente da Mancha, à Trivela, a partir da quarta-feira (25), o comando era ignorar Leila e focar no Choque-Rei. A ideia era que a torcida deixasse de ser a que xinga e reclama para ser apenas a que canta e vibra.
No campo, o esquema com três zagueiros, oxigenado pela entrada de Endrick e a consolidação de Ríos, Luan e Breno Lopes como titulares, fez do Palmeiras uma máquina de futebol naquele dia. Os 5 a 0 sobre o São Paulo poderiam facilmente ter sido seis, sete ou oito.
Páginas viradas e confiança restabelecida, era hora de o Palmeiras começar a olhar para cima na tabela, já que os demais resultados também favoreciam o Alviverde.
Nova vitória e “classificação para final”
Em paz e com o moral elevado pelo massacre em cima do arquirrival campeão da Copa do Brasil, o Palmeiras recebeu o Bahia de Rogério Ceni, um velho conhecido que costuma penar no Allianz desde que ainda defendia a meta do Tricolor Paulista.
O 1 a 0, com gol de um Raphael Veiga que vai voltando a sorrir, conforme Abel também revelou na coletiva, teve o efeito de um placar mais elástico. Porque o futebol mostrado foi digno de uma nova vitória por muitos gols de diferença.
O Palmeiras bateu 26 vezes a gol e não sofreu risco. Mais do que isso, mostrou um time seguro defensivamente e e encaixado dentro da nova proposta de jogo com Luan, Breno e Ríos, o trio de novidades, justificando suas escalações.
Com a derrota do Botafogo para o Cuiabá na noite de domingo, o Palmeiras vai para o Nilton Santos, na quarta-feira, com o bicampeonato seguido em mente. E com a responsabilidade toda nas costas do Botafogo, que chegou a abrir 11 pontos do Palmeiras e agora se vê com risco de ver sua vantagem cair a três – com um jogo a menos.
Nada mal para quem já vislumbrava, sem alucinação, o fantasma da Copa Sul-Americana.
Brazil Serie A 25/06/23
Palmeiras
Botafogo
Brazil Serie A 03/10/22
Botafogo
Palmeiras
Brazil Serie A 09/06/22
Palmeiras
Botafogo
Brazil Serie A 02/02/21
Palmeiras
Botafogo
Brazil Serie A 07/10/20
Botafogo
Palmeiras