A Championship começou: 12 boas histórias para acompanhar na segundona inglesa
Com o início da Championship neste final de semana, apresentamos os principais destaques em busca do acesso à Premier League
A Championship não deveria ser vista como uma competição de nível tão inferior, mesmo que seja a divisão de acesso do Campeonato Inglês. A qualidade da segundona em temporadas recentes não deixa a desejar em relação a outras ligas de primeira divisão da Europa. Contribui o dinheiro que jorra na Inglaterra, bem como a competitividade entre as equipes e a quantidade de camisas tradicionais. Não dá para esperar um torneio que, tecnicamente, se aproxime tanto da Premier League. Contudo, a presença cada vez maior de jogadores estrangeiros e de times que priorizam um futebol vistoso aumentam a visibilidade do certame.
Basta olhar para os sucessos que muitos dos promovidos à Premier League fizeram nos últimos anos. Brighton e Aston Villa deram saltos rumo às copas europeias. Brentford e Fulham viraram pedras no sapato dos grandes. Mesmo quem já desceu, como o Leeds United, mostrou como dá para retornar à primeira divisão com ambição – algo que o Nottingham Forest também demonstra. A temporada passada foi um bom retrato, com os três promovidos da Championship 2021/22 se mantendo na Premier League 2022/23. E isso significa também algumas equipes de peso que caíram à segunda divisão, em especial pelos descensos de Leicester e Southampton após longas caminhadas na primeira prateleira.
A Championship tem seu pontapé inicial nesta sexta-feira, com transmissão dos canais ESPN e na plataforma Star.. Aproveitamos então para trazer 12 destaques da temporada que vem por aí:
– A reconstrução do Leicester
O Leicester City é o clube que mais atrairá olhares na Championship. Apenas sete anos depois do título milagroso na Premier League, e num intervalo ainda menor após o sucesso com Brendan Rodgers, as Raposas precisarão recomeçar na segunda divisão. Não é um processo simples, diante das dificuldades financeiras encaradas pelo clube nos últimos anos, entre os impactos causados pela pandemia sobre os negócios dos proprietários do clube e também decisões ruins na montagem do elenco. Não à toa, muitas faces novas pintarão no Estádio King Power. Uma delas é a do técnico Enzo Maresca, uma aposta da diretoria. O antigo assistente de Pep Guardiola viveu os sucessos recentes do Manchester City e tentará imprimir sua marca com um estilo de jogo mais ofensivo. A missão do italiano não é apenas faturar o acesso imediato, mas reconstruir a própria identidade.
O elenco sofreu uma coleção de perdas. O Leicester ganhou muito dinheiro com as vendas de James Maddison e Harvey Barnes, mas também viu uma série de nomes se despedirem ao final de seus contratos: Çaglar Söyüncü, Youri Tielemans, Daniel Amartey, Ayoze Pérez, Jonny Evans, Nampalys Mendy, Ryan Bertrand. As Raposas confiam em figuras tarimbadas como o volante Harry Winks (Tottenham) e o zagueiro Conor Coady (Wolverhampton), enquanto também apostam no ponta Stephy Mavididi (Montpellier) e no goleiro Mads Hermansen (Bröndby). E, mesmo com tantas movimentações, o elenco é forte. Nem todos devem ficar até o final da janela de transferências, é verdade, mas há uma boa mistura. A liderança seguirá com Jamie Vardy, de volta às divisões de acesso no último ano de contrato. A lenda segue com boas companhias, em especial de pratas da casa como Luke Thomas e Kiernan Dewsbury-Hall. Outros bons valores também continuam por ora, como Patson Daka, Timothy Castagne, Wilfred Ndidi, Boubakary Soumaré, Kelechi Iheanacho e Harry Souttar.
– A renovação do Southampton
O Southampton adotou uma estratégia particular na temporada passada. Com uma nova equipe de observadores, os Saints contrataram muitos jogadores jovens para a Premier League. Claramente não deu certo, com uma campanha de raros respiros fora do Z-3. Entretanto, os alvirrubros sugerem contar com um projeto de longo prazo em busca da ascensão. Muitos desses garotos continuam em St. Mary’s e talvez encontrem um ambiente mais apropriado para aflorar na Championship. O escolhido para conduzir os novatos é Russell Martin, uma boa aposta da diretoria. Em seus tempos de jogador, o escocês conquistou cinco acessos, dois deles rumo à Premier League. Já como treinador, vem de um bom trabalho à frente do Swansea, em que privilegiou a qualidade técnica.
Dentre os três rebaixados, o Southampton era aquele que levava mais tempo na Premier League, com 11 temporadas consecutivas. Por enquanto, o desmanche não é tão agressivo. Entre os jogadores que saíram estão principalmente estrangeiros – como Mohammed Salisu, Mislav Orsic e Duje Caleta-Car. Obviamente nem todos devem ficar, especialmente pelas especulações ao redor de talentos como Roméo Lavia e Tino Livramento. Ainda assim, os Saints contam com uma profusão de ótimos jogadores em seus 20 e poucos anos, muitos trazidos no último ano: Kamaldeen Sulemana, Armel Bella-Kotchap, Gavin Bazunu, Carlos Alcaraz, Sékou Mara. A atual janela guardou também a compra de Shea Charles, volante de 19 anos revelado pelo Manchester City. Um nome a se observar é Nathan Tella, destaque do Burnley campeão da Championship que voltou de empréstimo. Outros também podem render bem na Championship, como Joe Aribo e Kyle Walker-Peters. E fica a expectativa sobre a situação de James Ward-Prowse. O meio-campista sobra como liderança técnica e faz tempo que tem mercado para clubes maiores. É um símbolo dos alvirrubros neste século, mas seria normal ter outras ambições. Se ficar, porém, dará uma demonstração respeitável de amor à camisa.
– O redirecionamento do Leeds
O Leeds United teve uma passagem curta nesta volta à Premier League, mas marcante. Foi uma grande história o fim do ocaso dos Whites, depois de tanto tempo afundados, especialmente quando contaram com a magia de Marcelo Bielsa. Contudo, as decisões da direção não foram as melhores no período recente. Não tanto pelos reforços, alguns interessantes, mas mais pelas escolhas na casamata. E, entre as críticas, haverá mesmo uma troca no comando geral em Elland Road: Andrea Radrizzani deixou de ser o proprietário após sete anos e o acionista majoritário agora é a 49ers Enterprises, conhecida por seu trabalho na NFL e que fazia parte do comando do Leeds desde a jornada do acesso. Na primeira decisão vital, Daniel Farke assumiu como técnico. É um especialista da Championship por seus sucessos com o Norwich, mas que não se provou na elite e vem de um trabalho apático no Borussia Mönchengladbach.
Muitos jogadores deixaram o Leeds United. Entre eles estão Rodrigo Moreno, Robin Koch, Brenden Aaronson, Rasmus Kristensen e Marc Roca. Curioso como a maioria foi só emprestada, sob confiança de um acesso imediato. O intuito parece ser preservar o grupo, até porque pouca gente nova chegou. Os únicos reforços até o momento são o zagueiro Ethan Ampadu (Chelsea) e o goleiro Karl Darlow (Newcastle). Talvez nem todos realmente continuem em Elland Road – talentos como Luis Sinisterra, Tyler Adams e Wilfried Gnonto têm mercado maior, especialmente pela idade. Se ficarem serão um impulso a um elenco que preserva velhos conhecidos da Championship, a exemplo de Patrick Bamford, Jack Harrison e Liam Cooper, alguns dos heróis na epopeia de Bielsa.
– O conto de fadas do Coventry
O Coventry City foi uma agradável surpresa na última temporada da Championship. Os celestes vinham de uma reconstrução exemplar desde a passagem pela quarta divisão e, em seis temporadas, saltaram da League Two a Wembley. É verdade que a derrota para o Luton Town na final dos playoffs machucou, mas não deixou de ser um grande feito para uma equipe de orçamento claramente inferior e que ainda vinha de uma campanha de recuperação, após passar 13 rodadas na zona de rebaixamento durante o primeiro turno. O comando permanece sob as ordens de Mark Robins, responsável pelo Coventry desde 2017. São mais de 300 partidas à frente do clube, que tornam o ex-atacante uma figura amada na CBS Arena. Parece o mais capaz de levar os celestes à elite do Campeonato Inglês, onde ficaram por 34 temporadas consecutivas até a virada do século. Quem também pode ajudar no salto é Doug King, empresário local que se tornou proprietário no meio da última temporada e empolga a torcida.
O Coventry não conseguiu segurar o grande protagonista da última temporada, o atacante Viktor Gyökeres, que se tornou a contratação mais cara da história do Sporting. Emprestado pelo Manchester City, o garoto Callum Doyle foi muito bem na zaga, mas acabou repassado ao Leicester. Outro propenso a sair é o catarinense Gustavo Hamer, ótimo especialmente na reta final da Championship. Mas os celestes também gastaram bastante em reforços, reinvestindo a grana que veio de Portugal. Trouxeram inclusive jogadores de clubes da Premier League, como o atacante Ellis Simms, aposta de 22 anos que chega do Everton e disputou a Championship anterior. O principal reforço é o atacante Haji Wright, jogador da seleção americana, que veio pelo valor recorde do clube do Antalyaspor. O lateral Milan van Ewijk, ex-Heerenveen, é outro para ficar de olho. De resto, a base que bateu na trave durante a temporada passada está preservada, mas sem tanta badalação ao redor. O goleiro Ben Wilson foi o melhor da última Championship, com boas companhias no lateral Jack Bidwell e no meio-campista Ben Sheaf.
– Os ases do Middlesbrough
Excetuando-se as equipes que não foram rebaixadas na última temporada da Premier League, o maior candidato ao acesso na Championship é o Middlesbrough. A força do Boro na briga pelo G-2 é praticamente um consenso entre os especialistas na Inglaterra, e não apenas pela história que os alvirrubros possuem na primeira divisão ou pela estabilidade garantida por Steve Gibson, um proprietário engajado com o clube. O grande motivo dos elogios reside em Michael Carrick. O ex-volante agrada bastante em sua primeira experiência como treinador. Depois de dirigir interinamente o Manchester United onde fez história, o inglês chegou ao Riverside em outubro. O Middlesbrough estava na penúltima colocação e corria sérios riscos de rebaixamento. Na sequência da segundona, Carrick só conseguiu menos pontos que Burnley e Sheffield United, os dois times que subiram direto. Alcançou os playoffs, e não foi a queda diante do Coventry que o atrapalhou. Pelo contrário, acredita-se que pode ir além em seu primeiro ano completo no Boro.
Carrick é uma das cartas na manga do Middlesbrough. A outra aparece no ataque: Chuba Akpom. O centroavante não tinha ido bem em seu primeiro ano no Boro e até foi emprestado ao PAOK, mas se redimiu em 2022/23. Terminou a Championship como artilheiro, autor de 28 gols, e eleito também o melhor jogador do campeonato. Sua permanência é bastante importante aos alvirrubros. O mercado não anda muito agitado em Riverside, com apenas negócios pontuais que não chamam muita atenção. Os destaques ficam para o goleiro Seny Dieng e para o ponta Morgan Rogers, este emprestado pelo time sub-21 do Manchester City. O lado positivo é que o grupo também se preserva, apesar das despedidas de quem estava emprestado. O zagueiro Paddy McNair, o meia Riley McGree e o centroavante Marcus Forss são figuras experientes do futebol de seleções. Quem também empolga é o jovem meio-campista Hayden Hackney, de 21 anos.
– A história de cinema do Sunderland
Muita gente acompanha a empreitada do Sunderland com carinho. Auxilia a tradição do clube, que chegou a ser potência no final do Século XIX, e também o fanatismo de sua torcida. Entretanto, também é influente a cobertura midiática desde que a Netflix resolveu acompanhar a infeliz tentativa de volta dos Black Cats à Premier League. Depois da queda à terceirona, os alvirrubros dão passos mais firmes e o recomeço na Championship foi positiva na temporada passada. Mesmo com o elenco de menor média de idade da liga, o Sunderland alcançou os playoffs e perdeu apenas para o promovido Luton Town. A intenção é seguir nessa toada. O jovem magnata Kyril Louis-Dreyfus permanece como proprietário. Confia no trabalho do técnico Tony Mowbray, que manteve as bases deixadas por Alex Neil após o acesso na League One.
O nome que desperta maior curiosidade no mercado de transferências do Sunderland é o de Jobe Bellingham. O irmão mais novo de Jude Bellingham não foi tão meteórico em seu surgimento no Birmingham, mas tem apenas 17 anos e pode desabrochar. Grande parte dos reforços dos Black Cats, aliás, tem no máximo 20 anos. A lista inclui garotos como Jenson Seelt (PSV), Eliezer Mayenda (Sochaux), Nectarios Triantis (Central Coast Mariners) e Luís Semedo (Benfica). A direção também optou por evitar grandes perdas no elenco, mesmo sem conseguir segurar Amad Diallo, de excelente temporada e que até voltou ao Manchester United ao final de seu empréstimo. Ainda assim, será possível acompanhar outros garotos empolgantes já presentes no Stadium of Light, como o ponta Jack Clarke, o meio-campista Dan Neil e o goleiro Anthony Patterson. Alex Pritchard e Ross Stewart são lideranças fundamentais desde o acesso na League One.
– Os touchdowns e as navalhas do Birmingham
Não é sempre que um dos maiores vencedores da história do esporte desembarca na direção de seu clube. Assim, é natural que os holofotes ao redor do Birmingham City se tornem maiores a partir dessa semana, com o anúncio de que Tom Brady será um dos proprietários dos Blues. Mesmo como acionista minoritário, o lendário quarterback mandou uma mensagem animadora aos torcedores, ressaltando como valoriza os laços da cidade com o time e que também pretende levar sua mentalidade aos bastidores. Resta saber como funcionará na prática. Brady será presidente do Conselho Consultivo, em meio à nova gestão da Knighthead Capital Management. A empresa americana assumiu o controle há um mês e, para chamar atenção, batizou a administração de Shelby Companies Ltd. – uma referência ao seriado Peaky Blinders, com várias ligações com o clube. Só não é o momento que mais orgulharia Thomas Shelby, com os alviazuis bem mais acostumados a lutar contra o descenso nas últimas temporadas.
O Birmingham é dirigido desde 2022 por John Eustace, treinador de pouca experiência e ainda no início de sua jornada na casamata, após ficar por bons anos como assistente no QPR. O recomeço do trabalho pelo menos garante um bom número de contratações, especialmente jovens. Dion Sanderson (Wolverhampton), Lee Buchanan (Werder Bremen) e Ethan Laird (Manchester United) são apostas, enquanto chegam com mais rodagem Tyler Roberts (Leeds) e Koji Miyoshi (Royal Antuérpia). Além de Jobe Bellingham, outro jovem badalado que saiu dos Blues foi o ponta Tahith Chong, rumo ao Luton. Juninho Bacuna fica como referência de um elenco que, por enquanto, não parece tão qualificado para uma Hail Mary na tabela com Tom Brady.
– As pretensões dos galeses
Dois times que geralmente chamam atenção na tabela da Championship são os “infiltrados” galeses, históricos participantes das divisões de acesso na Inglaterra – por vezes dando as caras na elite. A ascensão do Wrexham mais abaixo agita o futebol em Gales. E o Swansea é quem parece mais pronto para sonhar com a volta à Premier League. Os Cisnes não são tão fortes quanto os recém-rebaixados, mas podem correr por fora pelo menos em busca dos playoffs. A mudança no comando técnico deixa um ponto de interrogação, mas Michael Duff chega com boa rodagem nas divisões de acesso. O elenco também conta com seus trunfos, que incluem o zagueiro Ben Cabango, o centroavante Joël Piroe e o meia Matt Grimes. O mercado de transferências, porém, tem mais perdas do que ganhos até o momento – apesar da chegada de Jerry Yates, autor de gols importantes na ascensão do Luton Town.
Enquanto isso, o Cardiff City teme o rebaixamento. Os Blue Birds escaparam do descenso na última temporada e seguem na caótica gestão de Vincent Tan. Para tentar dar uma guinada, o clube trouxe Erol Bulut, treinador de bons trabalhos no Campeonato Turco e que chegou a passar pelo Fenerbahçe em 2020/21. Já em campo, quem está de volta em sua casa é Aaron Ramsey, 15 anos depois de deixar o Cardiff para assinar com o Arsenal. A história se respeita, mas as últimas temporadas do meio-campista significam pouco. Os atacantes Iké Ugbo e Karlan Grant também podem auxiliar. Em nomes, os Blue Birds possuem outros valores como Callum Robinson e Mark McGuinness. Pouco para cravar qual o destino na tabela.
– Três promovidos que arrebentaram na League One
A League One ofereceu uma temporada em altíssimo nível. Os três clubes promovidos tiveram campanhas maiúsculas, fazendo de 96 a 101 pontos. O salto para a Championship possui seus desafios e muitas vezes o planejamento da terceira para a segunda divisão não dá certo. Entretanto, são equipes que podem pegar o elevador se preservarem o embalo. O campeão foi o Plymouth Argyle, que reaparece na segundona depois de 13 anos. O técnico Steven Schumacher continua no cargo e merece atenção, diante do sucesso em seu primeiro trabalho como comandante principal. Possui apenas 39 anos e mais de 200 partidas pelo clube, contando também o período como auxiliar. Entre os destaques do acesso aparecem o goleiro Michael Cooper, o atacante Ryan Hardle e o meia Joe Edwards. Os Pilgrims também investem em reforços, especialmente para manter jogadores que estavam emprestados, como o lateral Bali Mumba e o ponta Morgan Whittaker.
Dono de uma história bastante respeitável na Inglaterra, especialmente por ter projetado técnicos como Alf Ramsey e Bobby Robson, o Ipswich Town vem de quatro anos fora da Championship. Os Tractor Boys não foram campeões, mas tiveram o melhor ataque e a melhor defesa da League One. Méritos do técnico Kieran McKenna, mais um jovem no posto. Aos 37 anos, tem como chancela ter sido assistente do Manchester United por três anos – trabalhou ao lado de José Mourinho e Ole Gunnar Solskjaer. Os dois principais destaques do elenco continuam: o atacante Conor Chaplin e o lateral Leif Davis, respectivamente o líder em gols e o líder assistências da terceirona. O australiano Massimo Luongo, bastante rodado, é outro nome importante.
Quem também merece respeito é o Sheffield Wednesday, mais um clube de enorme peso histórico no Campeonato Inglês. É verdade que as Corujas não conseguiram o acesso direto, mesmo com um excelente aproveitamento. Contudo, mostraram caráter nas dramáticas classificações nos playoffs – ao reverterem os 4 a 0 sofridos nas semifinais contra o Peterborough graças à vitória por 5 a 1 na volta e também por ganharem a final em Wembley contra o Barnsley com um gol aos 18 do segundo tempo da prorrogação. Uma grande perda é o técnico Darren Moore, herói do acesso, mas que deixou o cargo num movimento inesperado – em consenso com a direção. Seu substituto é Xisco Muñoz, que já levou o Watford à primeira divisão. Destaques como Barry Bannan, Josh Windass e Michael Smith continuam.
– Os mercados chamativos
A Championship possui muitos magnatas no controle dos clubes, o que garante um alto investimento no mercado de transferências, inclusive em busca das fortunas da Premier League. Nos últimos anos, tornou-se bastante comum que times da segundona inglesa levassem destaques que poderiam pintar em ligas médias da Europa. O time que mais gastou na atual janela é o Leicester, seguido por Coventry, Southampton e Leeds United. Enquanto isso, equipes em teoria de meio de tabela têm investido mais para tentar sair do marasmo e fazem uma pré-temporada que vale pelo menos atenção.
Um desses clubes é o Watford, ainda sob posse da família Pozzo. Os Hornets venderam destaques como João Pedro e Ismaïla Sarr. Não gastaram tanto, mas trouxeram muitas novidades: Tom Ince (Reading), Rhys Healey (Toulouse), Jake Livermore (West Brom), Jamal Lewis (Newcastle) e Giorgi Chakvetadze (Gent) chegaram. Outros bons nomes continuam, como o garoto Ismaël Koné. O técnico é o francês Valérien Ismaël. O Norwich trouxe David Wagner para o comando e tem boas peças ainda por lá – Angus Gunn, Max Aarons, Grant Hanley, Gabriel Sara, Josh Sargent. Os Canários compraram Christian Fassnacht (Young Boys), além de pegarem sem contrato os medalhões Shane Duffy (Fulham) e Ashley Barnes (Burnley). São candidatos aos playoffs, mesmo que seja difícil suprir a saída do artilheiro Teemu Pukki. Já o Stoke City está sob as ordens de Alex Neil, de bom trabalho no Sunderland. Uma bela adição é o atacante Ryan Mmaee (Ferencváros), enquanto também vieram Enda Stevens (Sheffield United) e Wesley Moraes (Aston Villa) entre os mais experientes. O capitão Lewis Baker é a referência.
– Vários técnicos promissores (e o maior medalhão)
A Championship definitivamente revelou bons técnicos nos últimos anos. Nem todos se consolidaram no mais alto nível, mas o ambiente favorece o aparecimento de bons iniciantes na casamata, sem a mesma pressão que existe na Premier League. Basta ver alguns nomes já citados que chamam atenção. Dois times que acabaram de cair, como Leicester e Southampton, deram espaço a novatos como Enzo Maresca e Russell Martin. O mesmo vale para as equipes que acabaram de conquistar o acesso, com Steven Schumacher no Plymouth e Kieran McKenna no Ipswich. Há também aqueles que se sobressaem pelo passado em campo – e não só isso. Michael Carrick é um deles no Middlesbrough, enquanto o Blackburn conta com Jon Dahl Tomasson. O dinamarquês vai para sua segunda temporada em Ewood Park, depois de ser bicampeão sueco à frente do Malmö. Vincent Kompany é uma inspiração a todos eles, depois do que fez no Burnley em 2022/23.
Entre outros nomes que valem destaque, o West Brom será dirigido por Carlos Corberán. É mais um treinador jovem, que tenta sua afirmação depois de ganhar destaque nos tempos em que trabalhava com Marcelo Bielsa no Leeds United. Começou bem nos Baggies. Liam Rosenior dirige o Hull City desde 2022 e, aos 39 anos, possui também uma história no clube como jogador. Gareth Ainsworth é bem mais rodado, mas não deixa de ser uma novidade após encerrar 11 anos de um grande trabalho no Wycombe Wanderers, onde é lenda. Os primeiros meses à frente do QPR, entretanto, não animaram. No fim das contas, restam poucas vagas aos medalhões. Um deles é Nigel Pearson, à frente do Bristol City, mais lembrado por fazer história com o Leicester que subiu em 2013/14 – e não caiu em 2014/15. Enquanto isso, ninguém supera Neil Warnock. Aos 74 anos, o treinador com mais partidas dirigidas na história do futebol profissional da Inglaterra chegou ao Huddersfield Town neste ano. É preciso respeitar o maior “Rei do Acesso” do futebol inglês, com o recorde de oito promoções.
– A tradição que segue fora da Premier League
O Campeonato Inglês possui mais de 130 anos de história. Assim, muitos clubes tradicionais na primeira divisão precisam se contentar com as divisões de acesso. Alguns deles fazem hora extra na Championship, enquanto perseguem a ambição de voltar à elite. Um exemplo claro é o do Blackburn. Os campeões da Premier League de 1994/95 completaram uma década desde o rebaixamento em 2011/12. Jon Dahl Tomasson tenta reerguer os Rovers, o que não se mostra uma missão tão dócil. A perda de Ben Brereton Díaz pode custar caro, num elenco um pouco mais limitado, com destaque ao ponta Tyrhys Dolan e ao volante Lewis Travis. Outro decano da elite que busca a recuperação é o West Brom, ioiô em anos recentes. O técnico Carlos Corberán possui um elenco com alguns nomes interessantes, que ganhou o meia Jeremy Sarmiento (Brighton) e o centroavante Josh Maja (Bordeaux) como reforços na atual temporada. Entretanto, o time não teve fôlego nem para os playoffs na última campanha.
Um clube que sempre merece respeito por seu passado é o Preston North End, primeira potência do Campeonato Inglês e uma força até os anos 1950, mas que está fora da elite desde a temporada 1960/61. Os Lilywhites vêm de um período estável no meio da tabela na segundona, e confiam no técnico Ryan Lowe para tentar para tentar uma campanha além. Calvin Ramsay e Layton Stewart chegaram do Liverpool, enquanto Will Keane reforça o ataque. Por fim, vale mencionar o Millwall. Os Leões sucumbiram na reta final da temporada passada e deixaram a vaga nos playoffs escapar de forma dolorosa. Não é um clube tão assíduo na elite, mas bem respeitado pelo fanatismo da torcida. Tal apoio será necessário num momento incerto, após a morte do proprietário John Berylson num acidente de automóvel. O pragmático técnico Gary Rowett é um nome importante no ciclo recente, presente à beira do campo desde 2019. Ganhou um bom número de reforços com as contratações de Casper De Norre (Leuven), Kevin Nisbet (Hibernian), Matija Sarkic (Wolverhampton) e Joe Bryan (Fulham).