Diniz é demitido por Ednaldo Rodrigues e abre caminho para investida por Dorival na Seleção
De volta ao cargo, presidente decide demitir Fernando Diniz, que tinha contrato até a metade do ano

Ednaldo Rodrigues voltou à presidência da CBF após decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes na última quinta-feira (4) e já tomou sua primeira medida mais drástica no cargo. O presidente decidiu demitir Fernando Diniz do comando da seleção brasileira nesta sexta-feira (5). Com isso, o mandatário abre caminho para uma investida por Dorival Júnior, nome favorito para assumir o cargo.
O treinador está de férias após a disputa do Mundial de Clubes pelo Fluminense, mas já foi comunicado da decisão. Ednaldo avisou primeiro o presidente do Tricolor, Mário Bittencourt, que depois comunicou o treinador, conforme informação noticiada inicialmente pelo portal ge. Diniz tinha contrato com a CBF apenas até a metade desta temporada.
Ednaldo abre caminho para avançar por Dorival
Assim que voltou ao cargo, o presidente antecipou que seu primeiro ato seria avançar para buscar uma comissão técnica permanente para a seleção brasileira. O nome de preferência de Ednaldo Rodrigues é Dorival Júnior, do São Paulo. A permanência de Diniz era um entrave para avançar nos contatos com o clube paulista e com o treinador. Não é mais.
Após o vexame mundial com a renovação de contrato de Carlo Ancelotti com o Real Madrid frustrar o sonho de contratar o italiano, Ednaldo Rodrigues quer definir rapidamente a contratação de Dorival Júnior, hoje técnico do São Paulo, no comando da Seleção. Além disso, Filipe Luis, recém aposentado do futebol, também é cotado para um cargo na estrutura da seleção brasileira. O ex-lateral fez cursos da CBF Academy e tem desejo de se tornar treinador.
– (Os primeiros objetivos são) Inscrever a seleção brasileira no torneio pré-olímpico e resolver a questão do técnico e da comissão técnica definitiva da seleção principal – disse o presidente, em entrevista à Veja.

De volta ao comando da CBF, Ednaldo Rodrigues chega “chegando” justamente para marcar território, depois da crise institucional que o tirou do poder. Ao mirar Dorival Júnior e Filipe Luis, o presidente dá também um recado aos opositores. Especialmente no cenário incerto atual. Antes da decisão em caráter liminar, a entidade se preparava para uma corrida eleitoral, já com pré-candidatos lançados.
É justamente este cenário nebuloso que pode pesar para a permanência de Dorival Júnior no São Paulo. Mas o técnico sempre deixou claro que o sonho é comandar a seleção brasileira. Inclusive, disse isso em mais de uma ocasião durante entrevistas coletivas em 2023.
Até agora, houve apenas um contato inicial de Ednaldo Rodrigues com Dorival Júnior e também com o presidente do São Paulo, Julio Casares. O mandatário do clube paulista manifestou a Ednaldo o desejo de que Dorival permaneça no Tricolor para 2024.
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Diniz se despede com recordes negativos
Fernando Diniz deixa a Seleção após seis partidas, todas elas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O técnico estreou com duas vitórias – a goleada por 5 a 1 sobre a Bolívia e o 1 a 0 sobre o Peru. Mas depois vieram apenas tropeços. O Brasil empatou em casa com a Venezuela e depois amargou três derrotas históricas para Uruguai, Colômbia e Argentina.
Ao todo, o treinador se despede com duas vitórias, um empate e três derrotas em seis jogos. O aproveitamento nestas partidas é de míseros 38%.
As marcas negativas do Brasil em 2023:
- pior posição no ranking da Fifa em mais de sete anos;
- três derrotas seguidas pela primeira vez na história das Eliminatórias;
- perdeu em casa pela primeira vez na história das Eliminatórias;
- derrota para a Colômbia pela primeira vez na história das Eliminatórias;
- derrota para o Uruguai pela primeira vez em 22 anos;
- derrota nas Eliminatórias pela primeira vez em oito anos;
- pior campanha na história das Eliminatórias;
- quarto pior aproveitamento entre as seleções que jogaram a Copa de 2022;
- já sofreu mais gols nestas Eliminatórias do que nos 17 jogos da anterior.
Aproveitamento em 2023 entre as 32 seleções que disputaram a última Copa do Mundo:
?? 100%
?? 90%
?? 88%
????????? 87%
?????? 83%
?? 77%
?? 73%
?? 69%
???? 67%
?? 65%
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?? 62%
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?? 47%
?? 41%
?? 40%
?? 37%
?? 33%
?? 29%
?? 28%— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) November 22, 2023
Entenda o retorno de Ednaldo à CBF
Nos últimos dias, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) entrou com uma ação no STF para pedir a anulação da decisão do TJ-RJ que demoveu Rodrigues do cargo. Gilmar Mendes, então, solicitou à PGR e à Advocacia-Geral da União uma posição sobre o tema. Os dois órgãos deram o mesmo parecer e se manifestou a favor de suspender a decisão que tirou o presidente do comando da CBF.
Com a decisão de Gilmar Mendes, Ednaldo Rodrigues voltará a ser o presidente da CBF. Desde a deposição do presidente, em 7 de dezembro, José Perdiz, presidente licenciado do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) era quem exercia o comando interino da entidade.
Na ação movida no STF, o PCdoB defende que a decisão do TJ-RJ de destituir Ednaldo Rodrigues configura uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI). O partido sustenta ainda que a nomeação de um gestor interino pode trazer sanções da Fifa e da Conmebol ao futebol brasileiro, com risco até de a seleção brasileira ficar fora do torneio pré-olímpico.
Como foi o afastamento
O Tribunal de Justiça decidiu destituir o mandatário do cargo por entender que um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro, em março de 2022, é ilegal. O documento, assinado pelo próprio Ednaldo Rodrigues, foi o que permitiu que fosse realizada a eleição que o colocou na presidência da entidade, com um mandato de quatro anos. Mas o imbróglio judiciário é bem mais antigo do que isso e começa em 2017. No plenário, a destituição foi aprovada por três votos a zero. Os desembargadores Mauro Martins e Mafalda Luchese acompanharam o voto do relator Gabriel Zéfiro.
O processo judicial foi aberto em 2018, após o Ministério Público questionar uma Assembleia Geral da CBF que mudou as regras para as eleições na entidade, à época sob o comando de Marco Polo Del Nero. O MP contestou a mudança porque ela ocorreu sem a participação dos clubes na tomada de decisão.
Sob o novo regimento eleitoral, Rogério Caboclo foi eleito presidente da CBF para um mandato de quatro anos, desde abril de 2019 até abril de 2023. Em 2021, o ex-mandatário foi afastado do cargo por conta de denúncias de assédio sexual. A Justiça decidiu anular a eleição e nomeou o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro, e o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, como interventores.

Esta decisão acabou sendo anulada pelo Tribunal meses mais tarde. Em agosto daquele ano, os vice-presidentes da CBF nomearam Ednaldo Rodrigues como presidente interino até a conclusão do mandato de Caboclo, em abril de 2023. Em do ano passado, o agora presidente deposto assinou um TAC com o Ministério Público do Rio de Janeiro para extinguir a ação na Justiça contra a CBF.
Foi graças a esse termo e às novas regras, que Ednaldo foi candidato único na eleição e acabou eleito presidente da CBF em 2022, para um mandato de quatro anos. A alegação do Tribunal de Justiça é que Ednaldo não poderia assinar o TAC na condição de interino, porque ele poderia se beneficiar do acordo.