Atlético-MG foi o time que menos se movimentou na janela, cumprindo o planejado, mas, foi o suficiente?
Com apenas duas contratações, o Atlético cumpriu com o que foi planejado e revelado desde o fim de 2023, mas vê vários adversários subindo o nível e o alcançando - ou ultrapassando

Nesta quinta-feira (7), a janela de transferências para os clubes brasileiros contratarem jogadores se fechou. Ao todo, foram mais de 170 contratações realizadas, com gastos que ultrapassaram R$ 1 bilhão. O Atlético-MG, no entanto, foi na contramão do mercado e fez apenas duas aquisições, sendo o time que menos se movimentou na janela. Essa baixa movimentação foi planejada e revelada pelo clube ao longo do fim de 2023 e início de 2024, mas, ela foi o suficiente para o time seguir no topo?
Desde o fim de 2023, através do então diretor Rodrigo Caetano e do presidente Sérgio Coelho, o Atlético já deixava claro que não pretendia se movimentar muito no mercado de transferências, mesmo não tendo feito nenhuma contratação já na janela anterior. Como citou Caetano, o reforço do Galo foi a manutenção do elenco, que não perdeu nenhuma peça relevante.
Os únicos que deixaram o Galo foram o zagueiro Réver, que se aposentou, o meia Hyoran, que não teve contrato renovado, e o atacante Pavón, vendido ao Grêmio. Nenhum deles era titular. Pavón era constantemente acionado, mas não era peça do 11 inicial de Felipão.
Sobre contratações, o Atlético sempre deixou claro que faria “duas ou três” apenas, sempre buscando dois tipos de perfil: jogador que “chega pra jogar”, sem ser aquele só para compor elenco, ou jovens promissores, com potencial de renderem em campo e depois serem negociados, rendendo também financeiramente. E foi isso que aconteceu.
O Atlético fez uma aquisição para cada “tipo” de jogador que citou. O que “chega para jogar” é o meia Gustavo Scarpa, que foi anunciado no fim de 2023 e já vem atuando constantemente no time titular do Galo. Já o jovem promissor é Brahian Palacios, colombiano de 21 anos que foi anunciado nesta quinta vindo do Atlético Nacional. Além disso, o clube já anunciou acordo para o retorno de Bernard, mas ele só chega no meio do ano.
????? O atacante Brahian Palacios, de 21 anos, é o novo reforço do #Galo!
O jogador colombiano estava no Atlético Nacional de Medelín e, agora, chega ao Brasil pra vestir o Manto do maior de Minas. Contrato válido até dezembro de 2027!
Vamos juntos, Palácios! ? pic.twitter.com/Xz9kK2H56n
— Atlético (@Atletico) March 7, 2024
– (A janela de transferências) Foi como esperava. Nós tínhamos combinado que nós íamos trazer um jogador que já estava no nosso radar. Trouxemos (Scarpa). Nós combinamos que na saída de A, B ou C, por alguma razão, nós teríamos outro. Isso está sendo providenciado (e foi, com Palacios) — afirmou o técnico Felipão
Está tudo dentro do planejado, e eu não tenho que cobrar nada da direção e nem a direção está fazendo diferente daquilo que foi combinado – Felipão
Com essas movimentações, dá para dizer que o Atlético cumpriu com o planejado e revelado por eles há meses. Mas, será que “só” a manutenção do elenco e a adição de duas peças são o suficiente para o Galo seguir como um dos principais times do Brasil?
Atlético manteve o nível… mas os adversários subiram o deles
Com essas movimentações que fez, mantendo o elenco e adicionando poucas peças, o Atlético manteve o nível do time para 2024, talvez subindo um degrau agora que tem Gustavo Scarpa. O Galo, nos últimos três anos, estava no top 3 de melhores times do Brasil (ao lado de Flamengo e Palmeiras). No entanto, após essa janela, não dá mais para cravar isso, pois, apesar do Alvinegro ter mantido o seu nível, os adversários elevaram o deles.
Clubes como Botafogo, Internacional, Bahia e Fluminense investiram pesado (ou em nomes muito relevantes) nessa janela, subindo assim o nível e chegando (ou ultrapassando) o Atlético. Flamengo e Palmeiras seguem sendo os “cabeças”, inclusive com o Rubro-Negro investindo muito para melhorar o que já era bom. O Flu, atual campeão da Libertadores, o que por si só já fala da qualidade, reforçou o elenco com nomes experientes, como Renato Augusto e Douglas Costa. Botafogo, Inter e Bahia também elevaram muito o nível com várias contratações de peso (Luiz Henrique e Savarino; Alario e Borré, Everton Ribeiro; entre outros) que os colocam, no mínimo, na mesma prateleira do Galo.
A questão é que, hoje, o Atlético tem muito mais concorrentes a sua altura, pelo menos no papel. Se antes ele era colocado entre os favoritos ao lado apenas de Palmeiras e Flamengo, hoje ele vê, pelo menos, mais cinco times nesse bolo. Enquanto os adversários se reforçaram muito, o Galo ficou “estagnado”. É claro que o elenco já era muito forte, mas os de Palmeiras e Flamengo também eram, e eles se movimentaram para subir mais ainda o nível.
Palmeiras é Bi Brasileiro.
Flamengo investiu valor recorde em contratações.
Fluminense é campeão da Libertadores e reforçou o banco.
Inter fez janela espetacular.Sério que tem gente caindo no conto do Galo entre os 3 melhores elencos do Brasil e que não precisamos de reforços?
— Tomaz Araujo (@tomazaraujo13) March 7, 2024
O que faltou ao Atlético?
O Atlético focou muito no setor ofensivo do time e deixou o defensivo de lado nessa janela de transferências. O clube e a comissão técnica de Felipão entendem que já tinha peças suficientes no setor, se agarrando ao fato de terem terminado o Campeonato Brasileiro de 2023 com a melhor defesa da competição. No entanto, na prática, não é bem assim.
Na lateral-direita, o Atlético renovou tanto com Saravia quanto com Mariano (esse último, muito questionado). O argentino é o famoso “8 ou 80”, pode fazer grandes jogos ou ir muito mal. E, até em uma mesma partida, ele pode fazer uma grande jogada e uma grande atrapalhada em sequência. Com a escassez de laterais-direitos no futebol (mundial), ele é um bom nome, mas que não consegue passar confiança ao torcedor. Já Mariano tem 37 anos e está longe do grande jogador que foi em 2021, por exemplo. Em 23 já demonstrava sinais de não conseguir mais atuar em alto nível por muito tempo. Fora que, pela idade, é um jogador que tem muitos problemas físicos e pode ser desfalque em jogos importantes.
Em resumo, o Atlético tem dois laterais direitos que não dá para confiar muito, seja técnica ou fisicamente. Além deles, há o jovem Vitinho, da base, que ainda não teve uma real chance para sabermos se conseguiria “assumir a bronca” caso necessário. Por isso, o torcedor esperava muito que um lateral-direito fosse contratado, mas isso passou longe de acontecer.

A zaga atleticana é outra que não passa muita confiança. Os excelentes números em 2023 foram, muitas vezes, garantidos por conta da excelente temporada que Everson fez, fechando o gol atleticano em diversas oportunidades. O que não quer dizer que os zagueiros do Atlético não sejam bons, pelo contrário, mas eles têm, principalmente, problemas físicos. Bruno Fuchs é, tecnicamente, o melhor da zaga, mas se lesiona constantemente. Igor Rabello é outro de muita qualidade, mas que ainda não conseguiu ter uma sequência desde que teve uma séria lesão em 2022. Mauricio Lemos é quem tem segurado (e bem) as pontas, mas parece “faltar algo” para ele ser um zagueiro elite como pode ser. Por fim, Jemerson está quase sempre disponível, mas vem sendo perseguido pela torcida há meses, pois teve um 2023 ruim tecnicamente.
Basicamente o Atlético tem dois ótimos zagueiros, mas que são ausências constantes, um que é muito bom, mas não ao nível dos outros, e um último que não está bem tecnicamente e ainda sofre com a torcida. Além deles, há o jovem Rômulo, mas, assim como o caso de Vitinho, não recebeu chances reais para saber se está pronto para jogar caso necessário.
A lateral-esquerda é a única que não tem problemas no setor. Guilherme Arana é titular e um dos melhores do país na posição, e na reserva dele há o jovem Rubens, que sempre vai muito bem quando acionado – seja na lateral ou no meio -, e vem pedindo passagem há meses, fazendo agora um início de 2024 excelente.
Base não pode ser solução
A base não ter muitas chances no Atlético foi algo muito cobrado em 2023. Em 2024, o clube prometeu dar mais espaço aos garotos, e isso até aconteceu, mas ficou claro que só porque o Galo não fez contratações e ainda perdeu alguns jogadores. O caso de Alisson é o mais evidente, já que ele só ganhou sua chance na temporada, pois Pavón não estava mais disponível pela negociação com o Grêmio. Rômulo virou quinta opção na zaga porque Réver se aposentou e ninguém foi contratado. Cadu só jogou no último jogo, pois Vargas estava em negociação (que não se concretizou).
É crucial dar chances aos jovens, mas tratá-los como contratações, como Felipão fez com Alisson, não é a forma certa. São jovens jogadores que podem (e devem oscilar), contar “só” com eles como solução pode ser um tiro no pé, tanto para o clube quanto para os jogadores. Cadu não pode ser a solução do ataque só porque o Galo não contratou ninguém e os outros dois (Vargas e Alan Kardec) não conseguem contribuir, por exemplo. A base precisa ser sempre opção, mas nunca solução.
Mais cedo, Rodrigo Caetano falou sobre a utilização da base no Atlético. Reforçou algumas falas de que a ideia em 2024 é não só ter os jogadores no elenco principal como também utiliza-los.
Diretor falou sobre o orçamento baixo para contratações em outra resposta, algo que deve… pic.twitter.com/yEbINv3Ld4
— Alecsander Heinrick (@alecshms) November 21, 2023