Libertadores

Da diretoria a Chiquito Romero: Os 5 fatores que tiraram o Palmeiras da Libertadores

Palmeiras caiu para o adversário e para adversidades internas e fogo amigo

Em última instância, sim, o Palmeiras foi eliminado da Copa Libertadores porque “o futebol é assim”. Como disse Abel Ferreira após o jogo contra o Boca Juniors da quinta-feira (5), “o futebol, às vezes é cruel, às vezes é maravilhoso”.

Mas seria simplista demais resumir um resultado apenas ao que acontece no campo. Se assim fosse, não haveria necessidade de planejamento e, em última instância, de nenhum tipo de preparação.

O resultado final é um reflexo de um longo processo, que passa por diversos departamentos de um clube até desembocar no placar. E a queda do Palmeiras não é exceção.

A Trivela lista abaixo alguns dos erros que levaram a mais uma eliminação diante do Boca Juniors nos pênaltis, traçando uma linha que vem desde a presidência do clube e chega na última cobrança de penal do Boca, executada por Pol Fernandez.

1. Formação do elenco

É impossível não bater nesta tecla. Abel tem no máximo 14 jogadores em quem de fato confia para jogos decisivos: Weverton, Lomba, Mayke, Rocha, Luan, Gómez, Murilo, Piquerez, Zé Rafael, Menino, Veiga, Artur, Rony e Dudu.

Depois vem a faixa de reservas razoavelmente confiáveis, mas com nível técnico e tático abaixo dos titulares: Ríos, Breno Lopez, Endrick e López.

O resto do elenco é formado de garotos em maior ou menor nível de maturidade, para serem usados esporadicamente. É muito pouco para um calendário absurdo como o brasileiro.

Faltaram ao Palmeiras reservas de mais rodagem. Mais atletas nesse grupo intermediário para entrar numa partida de peso sem que o técnico temesse que eles fossem sentir o peso da partida.

Ficou um buraco no miolo do grupo. Quando Dudu, que é mesmo fora da curva, se lesionou, é claro que não haveria alguém à sua altura. Mas tampouco havia um meia-atacante/ponta da confiança do técnico para jogar pela esquerda. A ponto de Abel ter mudado todo o seu esquema para colocar Mayke, um lateral-direito, no ataque.

2. Falta de peças

Parece uma continuação do motivo 1, mas não é. Porque aqui, a questão não é o grupo como um todo, mas sim a incapacidade de contratar peças mínimas. Não faltou vinho do Porto, faltou água mineral.

Um camisa 5 pronto para jogar não é luxo, é item básico. Um meia reserva para o caso de Veiga se ausentar ou cair de produção é igualmente o mínimo esperado para um elenco que quer ser campeão.

Se já se sabia com antecedência que Danilo e Scarpa não ficariam, por que deixar janeiro chegar para tentar contratar? Quanto mais perto do Natal, mais caros os presentes.

3. Escalação e “excesso de convicção”

Com o pensamento exposto acima em mente, fica até mais fácil entender as atitudes de Abel. O que significa a frase dele “eu faço o melhor que posso com os recursos que tenho”.

Mas convicções precisam se dobrar à realidade, para não se tornarem apenas teimosia. Ao insistir nos nomes e no esquema que fez água em Buenos Aires, Abel transformou o segundo jogo da semifinal numa continuação do primeiro, onde o Boca já fora superior.

Seja pela entrada dos garotos, seja pela mudança tática do segundo tempo no Allianz Parque, ficou claro que esse era o melhor caminho para o time vencer o confronto.

A lenta equipe de Jorge Almirón entrou em pane com Endrick e Kevin pela frente. E, ao contrário, engoliu a previsível e nada criativa formação com Veiga, Artur, Mayke e Rony na primeira etapa. Que jogou três dos quatro tempos do duelo.

4. Clima tenso e negativo

Desde o começo do ano passado, o clima de “Todos somos um” morreu da porta da Academia de Futebol para fora. A ruptura da Mancha Verde com a presidente Leila Pereira, num duelo de idiosincrasias, já trouxe um clima desfavorável para os estádios de antemão mesmo no ano em que o time ganhou quatro taças, contando a Copinha.

Neste ano, o clima ruim não só seguiu, como cresceu. A Mancha fez protestos em frente à Crefisa, empresa de propriedade de Leila, com torcedres a ameaçando de morte no chat. A presidente aumentou a ruptura interna com a oposição, no caso dos ingressos suspensos aos conselheiros fora de sua base. E não cedeu facilidade às organziadas para compra de ingressos.

Abel Ferreira e seus auxiliares também passaram ainda mais do ponto nas cobranças à arbitragem e no embate com jornalistas – com direito até a celular tomado da mão de produtor que trabalhava em local permitido pela CBF.

Se Abel acredita na força da torcida, na união, em música para empurrar, em uma corrente positiva para apoiar o time, há também de acreditar que todo esse clima bélico não pode ter sido bom para o Palmeiras.

Parte importante dessa sensação negativa veio de atitudes evitáveis por parte da comissão técnica, não há como negar. Basta ver que Abel diminuiu o tom após a adoção da Lei do Silêncio e o trabalho seguiu at´´e melhor. Ou seja, não era necessário agir daquele modo. E a diretoria tampouco conseguiu coibir tais atitudes antes do ponto de fervura.

É claro que todo esse clima ruim chega no grupo. Não existe blindagem na era das redes sociais na palma da mão.

5. Do outro lado, havia o Boca

E sim, o jogo de futebol é feito de dois times. Em que pesem todos os erros, havia um adversário com uma das camisas mais pesadas da América do Sul do outro lado.

Se já não é o Boca de Carlos Bianchi, do começo do século, a equipe xeneize continua sendo um time forte mentalmente, com um estádio que é uma arapuca, como diria Juvenal Juvêncio, e jogadores com a tarimba de um astro como Edinson Cavani.

O Boca tem ainda uma joia de 17 anos nas mãos, o ruivo Barco, um jogador extraclasse. E, para completar, o maior pegador de pênaltis da atualidade, Chiquito Romero.

Tudo isso, no entanto, seria minimizado se o Palmeiras tivesse cumprido melhor o que está listado nos itens de 1 a 4.

 

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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