Europa

15 anos anos depois, esposa de Robert Enke fala sobre morte do goleiro alemão e importância da saúde mental no futebol

Sua esposa disse que está feliz que a saúde mental é mais discutida atualmente, mas que não se sente bem ao falar do Barcelona

Neste 24 de agosto de 2024, o goleiro alemão Robert Enke completaria 47 anos. Sua esposa, Teresa, deu uma entrevista ao jornal alemão Bild e relembrou de momentos do jogador, que tragicamente deu fim a sua vida em 10 de novembro de 2009.

— Ele podia ser muito alegre. E tinha um senso de humor, ríamos muito juntos. Foi a doença que o levou à morte. A dor nunca desaparecerá — afirmou a esposa de Enke.

Teresa, que é gestora da Fundação Robert Enke, cujo intuito é auxiliar pessoas com depressão, está feliz por ver a doença deixar de ser um tabu no esporte. Para ela, atualmente, se fala mais na mídia e nos clubes em depressão do que se um jogador tem um ligamento rompido.

A saúde mental é, de fato, muito mais debatida na mídia e por atletas atualmente. Temos exemplos de Henry , Thiago Galhardo, Richarlison, Emerson Royal, Milito, entre outros.

Ainda falta dedicação dos clubes à saúde mental

Se por um lado temos jogadores e a imprensa debatendo mais sobre depressão e ansiedade, ainda falta dedicação dos clubes ao assunto.

Em 2023, a Trivela publicou um levantamento exclusivo que destacava que apenas 10 clubes brasileiros tem psicólogos que acompanham o time profissional na Série A.

A situação não é comum apenas na Europa. Teresa Enke revelou que o clube mais famoso onde jogou, o Barcelona, é um dos que mais fica devendo no critério saúde mental. Para ela, falta humanidade no clube catalão. 

— O Barcelona é em si um covil de bruxas. Os jogadores não foram tratados de forma particularmente humana. No entanto, às vezes pergunto-me: ‘Será que ainda estaríamos em Barcelona se Robbi conseguisse?' Às vezes, a vida é diferente do que planejamos

Ao longo de sua carreira, Robert Enke jogou no Carl Zeiss Jena (1995-1996), Borussia Mönchengladbach (1996-1999), Benfica (1999-2002), Barcelona (2002-2003), Fenerbahçe (2003), Tenerife (2004) e Hannover 96 (2004-2009).

Convidada para assistir à Supercopa da Alemanha, entre Bayer Leverkusen e Stuttgart, Teresa admitiu que também lhe custa ir a estádios de futebol.

Torcedores do Hannover 96 homenageiam Robert Enke. (Foto: Imago)

A depressão tirou a vida de Robert Enke

No dia 10 de novembro de 2009, Enke saiu de casa pela manhã e disse à Teresa que iria chegar tarde, pois tinha dois treinos marcados com o treinador de goleiros do Hannover.

Infelizmente, o fim do dia chegou a Robert não apareceu. Sua mulher, em pânico, ligou para o treinador, que afirmou que não tinha nenhum treino marcado. Desesperada, o empresário de Enke sugeriu que Teresa procurasse por qualquer pista em casa, até que ela encontrou uma carta no quarto.

1 minuto de silêncio em homenagem a Robert Enke na partida entre VfL Wolfsburg x Bayer Leverkusen na Bundesliga em 2019. (Foto: Imago)

O goleiro nunca superou o falecimento de sua filha Lara, em 2006, e vivia com depressão. A menina nasceu com um problema cardíaco grave e faleceu por conta de complicações durante uma cirurgia no ouvido. Robert e Teresa chegaram a adotar uma criança, Leila, de dois meses, mas Enke não conseguia conviver com o que aconteceu com Lara.

Robert era acompanhado por um médico, mas tinha medo que o público soubesse da sua condição e que tirassem sua filha adotada.

Em sua biografia, denominada de Ein allzu kurzes Leben, “Uma Vida Muito Curta”, na tradução para o português, contada pelo jornalista Ronald Reng, é possível notar que o jogador viveu seu pior momento quando foi para o Barcelona. Ronald conta que Enke era muito feliz no Benfica e que chegou a recusar uma proposta do Porto por respeito ao time em que jogava. Ele não desejava ter saído.

Biografia de Robert Enke. (Foto: Imago)

No Barcelona, ficou quase 1 ano sem jogar e foi superado por Victor Valdés. Em um jogo da Taça do Rei, Louis van Gaal, treinador da época, colocou Robert no gol, diante do Novelda. O jogo terminou com a derrota do Barcelona por 3 a 2.

Diante do placar, o jornal Sport, escreveu que “Enke assinou a sua sentença” e o capitão da equipe, Frank de Boer, culpou o goleiro publicamente pela derrota.

Naquele 10 de novembro, Robert Enke caminhou centenas de metros pela linha ferroviária e foi atingido por um trem. O maquinista não se recuperou do choque até hoje.

Foto de Gabriella Telles

Gabriella TellesRedatora de esportes

Gabriella Telles é jornalista formada pela UFRJ, faz pós-graduação em Gestão Estratégica de Marketing. Já trabalhou na TNT Sports na cobertura da Rio 2016, futebol internacional e eSports. Nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro.
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