Brasileirão Série A

Como Choque-Rei de hoje explica tratamento dado por Palmeiras e São Paulo às suas bases

Kevin e Beraldo farão duelo particular em um Choque-Rei que é a prova definitiva da atenção que Palmeiras e São Paulo deram às suas bases em 2023

Só agora, na reta final da temporada, o Palmeiras decidiu apostar mais em seus garotos da base. Embora viva um momento complicado, com risco de não se classificar para a Libertadores, Abel Ferreira decidiu dar mais chances, por exemplo, a Kevin, 20.

Já no São Paulo, Dorival Júnior não titubeou para manter Beraldo como dono da sua defesa. Aos 19 anos, o defensor não sentiu o peso dos jogos decisivos da Copa do Brasil e foi soberano nos dois jogos da final contra o Flamengo.

De modo que os dois garotos vão ser peças-chave de seus times na reta final da temporada e, muito provavelmentem no Choque-Rei desta quarta-feira (25), às 20h, no Allianz Parque.

Mas Kevin, com menos rodagem, vai entrar em um Palmeiras mais tenso, com seus principais objetivos do ano tendo ficado pelo caminho e a obrigação de conquistar uma vaga na próxima Copa Libertadores.

Já o São Paulo, como há muito não acontecia, está bem tranquilo para o restante do ano. Com a vaga na próxima Libertadores no bolso, e a Copa do Brasil na estante, o time dará ao já experiente Beraldo um fim de ano tranquilo, daqui a poucos pontos – é o que tudo indica.

Os dois atletas, que devem protagonizar duelos na partida desta noite, de certo modo resumem qual foi o peso e a importância das categorias de base na temporada de cada um até o momento.

Sobrou cautela para Abel Ferreira

O jogador Kevin, do Palmeiras, disputa bola durante partida contra o Boca Juniors (Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)

Há, no Palmeiras, a percepção de que Abel foi conservador demais quanto ao aproveitamento dos atletas recém-promovidos da base neste ano.

Desde 2020, a atual temporada do Palmeiras foi a segunda que teve menos estreias de jogadores da base, com cinco: Ian, Pedro Lima, Luis Guilherme, Kevin e Kauan Santos. Destas, apenas as de Luis Guilherme e Kevin de fato contam. Pedro Lima foi emprestado, e Kauan e Ian têm contagem pífia de minutos em campo.

A temporada que menos teve estreias de garotos promovidos foi a de 2022, quando Endrick debutou. Contudo, há nessa análise uma distorção, já que o Palmeiras praticamente só jogou com Crias da Academia os últimos dois jogos do Brasileiro de 2021, depois da conquista da Libertadores.

Endrick até começou 2023 como titular, para deppois perder espaço. Mas Kevin só entrou mesmo na lista de opções de Abel depois da eliminação na Libertadores.

Tanto que, por quatro jogos, entre a lesão de Dudu contra o Vasco, em 27 de agosto, e a ida da semifinal contra o Boca Juniors, em 28 de outubro, Kevin, único ponta-esquerda destro do elenco, como Dudu, jogou menos de 40 dos 360 minutos que o Palmeiras teve para prepará-lo.

Abel preferiu apostar em um ataque com Artur e Rony, apoiado por uma linha de cinco, com Mayke e Piquerez abertos, Zé e Menino, mais centralizados, e Veiga, ora buscando a bola próximo à linha de meio-campo ora como falso ponta-esquerda canhoto.

O comandante português do Palmeiras é convicto, mas não é bobo. Depois do ótimo segundo tempo contra o Boca Juniors no Allianz Parque, na volta pelo Continental, Abel se rendeu ao futebol de Kevin, titular contra Santos e Atlético-MG, poupado contra o Coritiba. A despeito dos maus resultados, Kevin teve boas atuações.

Beraldo vira caso de sucesso e exemplo a ser seguido em Cotia

O São Paulo campeão inédito da Copa do Brasil tem a marca de Cotia, com Rodrigo Nestor como grande herói da final contra o Flamengo. O meia deu assistência na vitória por 1 a 0 no Maracanã, no duelo de ida, e fez o gol do título no empate em 1 a 1 no Morumbi. Mas o grande exemplo de sucesso “Made in Cotia” em 2023 é Lucas Beraldo.

O zagueiro de 19 anos acaba de assinar uma merecida renovação de contrato até o final de 2028, com multa rescisória de 60 milhões de euros (aproximadamente R$ 325 milhões na cotação atual). Trata-se de um movimento da diretoria para reconhecer a temporada dos sonhos vivida pelo jovem e também para se proteger no mercado de transferências. O clube quer transformar Beraldo na maior venda de um atleta da posição na história do futebol brasileiro.

– O que o Beraldo joga é de outro planeta, já está na hora de se pensar em convocação para seleção principal. Já chegou proposta e proposta alta, mas alta para aquele momento. Agora, vão ter que pagar o que ele vale. Quando o Miranda estava conosco ainda, o Beraldo ainda não tinha jogado no profissional, ele falou “esse moleque vai ser melhor que eu” – afirmou Carlos Belmonte, diretor de futebol do São Paulo, logo após o título da Copa do Brasil.

São Paulo quer transformar Beraldo em maior venda de um zagueiro na história do Brasil (Foto: Iconsport)

Nem parece que, no início do ano, Beraldo era uma opção remota de Rogério Ceni no elenco são-paulino. Promovido pelo técnico ainda em 2022, o jovem atuou apenas quatro vezes em sua primeira temporada. Tudo mudou a partir da baixa de Arboleda na defesa, ainda durante o Paulistão.

Ainda sem contar com Diego Costa, que se recuperava de cirurgia, Ceni bancou Beraldo como substituto do equatoriano na dupla com Alan Franco. O São Paulo acabou eliminado pelo Água Santa nas oitavas de final do Paulistão. Mas a aposta no garoto lá atrás se provou certeira para o que vinha pela frente. Hoje, ele é titular de Dorival ao lado de Arboleda – e Alan Franco é banco.

Os minutos em campo no estadual fizeram a diferença para Beraldo pegar casca e se firmar como titular da equipe. E até hoje, ele dá conta do recado, sem medo de encarar os grandes jogos da temporada. Para isso acontecer – e seguir acontecendo – o São Paulo teve de recusar uma proposta do Wolverhampton, da Inglaterra, no valor de 10 milhões de libras (R$ 63,3 milhões).

Hoje, o jovem não sai por menos de 20 milhões de euros (R$ 105 milhões na cotação atual). Mas vale lembrar que o Tricolor não é dono da totalidade dos direitos do atleta. Os direitos do zagueiro de 19 anos estão divididos entre o São Paulo (60%), o XV de Piracicaba (20%) e o próprio jogador (20%).

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata Lima

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023
Foto de Eduardo Deconto

Eduardo Deconto

Eduardo Deconto nasceu em Porto Alegre (RS) e se formou em Jornalismo na PUCRS. Antes de escrever para a Trivela, passou por ge.globo e RBS TV.
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