Corinthians, Flamengo e 2023: problemas que passam por um português

Corinthians e Flamengo entrarão em campo neste sábado (7), às 21h (horário de Brasília), pelo Campeonato Brasileiro, e apesar de estarem em lugares completamente diferentes na tabela, o Timão em 13º e o Rubro-Negro em 5º lugar, fora dos gramados a situação dos clubes de maiores torcidas no país parece caminhar lado a lado, entre eliminações, erros de diretorias e troca de treinadores.

Se olharmos mais a fundo, a temporada de 2023 de Corinthians e Flamengo está interligada, por um único fator, ou melhor, uma única pessoa: Vítor Pereira.

Saída de Vitor Pereira desencadeou sequência de erros

Após a saída de Sylvinho, o Corinthians anunciou quem seria o novo comandante da equipe para a temporada de 2022. A aposta recaiu sobre Vítor Pereira, mais um treinador do grupo de treinadores portugueses que assumiria um time brasileiro. O contrato entre o clube e o técnico foi de um ano, pois ele mesmo havia afirmado que só trabalharia sob essas condições.

Ao longo desse período, com adaptação, Vítor foi conquistando a confiança da torcida, mesmo diante das dificuldades do elenco, devido a lesões e desgastes. Sob seu comando, o time conseguiu chegar às quartas de final da Libertadores e também à final da Copa do Brasil, sendo derrotado em ambas as ocasiões pelo mesmo adversário desta noite, o Flamengo.

A saída de Vítor Pereira ao final do ano era esperada, mas o clube ainda tentou a renovação, uma vez que o treinador alegou problemas familiares que impossibilitaram sua continuidade no Brasil. Ao término da temporada, a diretoria do Corinthians precisava iniciar o planejamento para 2023. Foi a partir desse ponto que começamos a observar uma sequência de erros da diretoria alvinegra, com o presidente Duílio Monteiro Alves e o diretor de futebol Alessandro Nunes.

Inicialmente, optaram por não buscar nenhum treinador no mercado, apesar das boas opções disponíveis, e efetivaram Fernando Lázaro, que havia sido formado no clube e estava na comissão de Tite na Seleção Brasileira. Como resultado, o time foi eliminado no Campeonato Paulista nos pênaltis contra o Ituano e correu o risco de perder a Copa do Brasil em uma partida contra o Remo. A solução, então, foi a substituição do treinador. O Corinthians se despediu de Lázaro e trouxe Cuca, o que acabou se mostrando um grande equívoco.

Assim que o anúncio foi feito, a crise se instalou em todos os cantos do clube: no clube social, no Centro de Treinamentos e entre a torcida. Cuca, pressionado de todos os lados devido às acusações de estupro e diante da classificação na Copa do Brasil, optou por pedir demissão.

Na tentativa de acalmar as coisas, Duílio buscou um treinador experiente que pudesse conter os protestos e ajudar o time a conquistar uma sequência de vitórias. Vanderlei Luxemburgo montou a equipe da melhor forma possível, fazendo uso dos jovens talentos, que foram sendo vendidos em sequência. Sofrendo pressões há bastante tempo, Luxa resistiu até a última semana, quando foi demitido após o empate em 1 a 1 com o Fortaleza pela Copa Sul-Americana. Vale destacar que o treinador também havia disputado a semifinal da Copa do Brasil.

Agora, com Mano Menezes, que assumiu o time há apenas uma semana, já teve que enfrentar uma semifinal que resultou em eliminação. O novo treinador está trabalhando para reorganizar a equipe e buscar uma recuperação no Campeonato Brasileiro enquanto ainda há tempo.

Depois do jogo em Fortaleza, sob protestos da torcida, o presidente do Corinthians assumiu sua enorme parcela de erro:

— No futebol, a gente não tomou as melhores decisões, por isso tantos treinadores. Se tivéssemos feito as melhores escolhas, não teríamos passado por tudo o que passamos, o que é o motivo realmente desta eliminação, como foi a da Copa do Brasil. Temos que seguir trabalhando com o Mano, que seja o caminho a percorrer, para o próximo presidente ter melhores escolhas lá na frente — disse o presidente.

Em toda essa linha do tempo prova-se a falta de planejamento da diretoria após a saída de Vitor Pereira, foram quatro treinadores na temporada, sem contar Danilo, que comandou o sub-20 e assumiu o time principal por uma rodada. Mano reforçou como a sequência de troca de treinadores prejudica o ano, e dificulta o trabalho tático com os atletas que passaram por ideologias diferentes de jogo.

— Não é fácil passar por tantas ideias diferentes num curto espaço de tempo e isso funcionar bem. O que quero dar a eles é uma ideia simples, segura, para que eles se sintam seguros e capazes de executar. Não será algo complexo no primeiro momento, senão eles não darão conta de executar num curto espaço de tempo, mas eles vão conseguir. Acredito que os jogadores podem entregar mais a curto prazo. Senão não estaria aqui — finalizou.

Chegada de Vítor Pereira causa espiral que se tornou incontrolável no Flamengo

Apesar de admirado pelo bom trabalho no Corinthians, Vítor Pereira não era o nome que o Flamengo esperava para 2023. Dorival Júnior, campeão da Copa do Brasil e da Libertadores, era cotado para permanecer no Rubro-Negro. De maneira ainda um pouco nebulosa, tendo a ver com os resultados no fim do Campeonato Brasileiro, o clube da Gávea optou pela saída do brasileiro e chegada do português.

O clima era de animação, mas o estilo do treinador não combinou muito com o elenco. Diferente de Dorival Júnior, VP é muito mais do foco na sua comissão técnica, sem conversas muito individualizadas, escolhas baseadas nas estatísticas e nos treinamentos. O resultado foi um desastre completo e apenas quatro meses de trabalho.

Vítor Pereira deixou o comando do Flamengo em abril, depois de ter assumido em janeiro, com quatro vices nas costas: Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil, Taça Guanabara e Campeonato Carioca. Foi justamente depois da derrota por 4 a 1 para o Fluminense, que decretou o segundo lugar no Estadual, que o português acabou demitido. Ele recebeu R$ 15 milhões em multa rescisória.

Depois de Vítor Pereira, o Flamengo precisou correr para buscar um novo treinador e escolheu Jorge Sampaoli. O início do argentino até foi animador, com séries de invencibilidade, classificações na Copa do Brasil e Libertadores, mas tudo mudou com apenas um soco. Assim que o ex-preparador físico, Pablo Fernández, acertou o rosto de Pedro, artilheiro do time, a temporada voltou a ficar na corda bamba.

Com os mesmos problemas — talvez até piores — que Vítor Pereira na “gestão de pessoas”, Sampaoli fracassou na tentativa de retomar a confiança do elenco, e o Flamengo sucumbiu no fim da temporada. A eliminação precoce na Libertadores, diante do Olimpia, e o vice-campeonato da Copa do Brasil, contra o São Paulo, foram a cereja do bolo do furacão vivido pelo clube.

Ainda que a escolha tenha sido pensando no máximo que esse elenco poderia produzir, é inegável que o Flamengo tomou a decisão errada ao trazer Vítor Pereira. O ano começou com o português e, provavelmente, vai terminar com Tite, o terceiro treinador do Rubro-Negro na temporada. A dança das cadeiras continua e, muito provavelmente, tenha encontrado seu nome mais pesado até agora. Resta saber como será.