A base do Atlético-MG vai ter (finalmente) chances em 2024? Não é bem o que parece
Baixa utilização da base foi um dos pontos mais criticados no Atlético em 2023, mas em 2024 as coisas não parecem que serão muito diferentes

Uma das maiores críticas que o Atlético-MG sofreu em 2023 foi não ter utilizado a base. Somados, os seis jovens do elenco atleticano somaram apenas 220 minutos na temporada. Em 2024, há promessas da diretoria que eles vão receber mais oportunidades, mas Felipão parece não dar tanta abertura assim aos jogadores, que nem no Mineiro parece que vão receber as chances necessárias.
Os campeonatos estaduais no Brasil são, geralmente, utilizados como laboratório pelos times maiores, que colocam jogadores mais jovens para ver se eles demonstram algum potencial. Esse tipo de estratégia era esperado que acontecesse no Atlético em 2024, mas Felipão deixou claro que vai colocar sempre que possível os melhores em campo.
– Não tenho a ideia de poupar A ou B por gramado não ser bom ou de experimentar jogadores. Vou colocar a equipe ideal no momento ideal, dependendo das condições dos atletas. Vamos jogar sempre com o que temos de melhor — afirmou o treinador.
Mais cedo, Rodrigo Caetano falou sobre a utilização da base no Atlético. Reforçou algumas falas de que a ideia em 2024 é não só ter os jogadores no elenco principal como também utiliza-los.
Diretor falou sobre o orçamento baixo para contratações em outra resposta, algo que deve… pic.twitter.com/yEbINv3Ld4
— Alecsander Heinrick (@alecshms) November 21, 2023
No elenco atual do Atlético, há seis jovens que subiram recentemente da base: o lateral-direito Vitor Gabriel (que se juntará ao elenco após a disputa da Copinha), o zagueiro Rômulo, o volante Paulo Vitor, o meia Alisson e os atacantes Cadu e Isaac. Eles juntos tiveram 220 minutos em campo em 2023, o que 36,6 minutos para cada na média. Era pensado que eles teriam mais minutos agora no Campeonato Mineiro, começando partidas e jogando mais do que os meros minutos finais que a maioria recebeu no último ano. Mas Felipão segue com o discurso de utilizá-los apena quando tiver oportunidade.
– Posso dar oportunidades em momentos exatos. Não vou utilizar apenas por utilizar a base. Temos o objetivo de ser pentacampeão e temos que respeitar os adversários. Não devemos pensar que as coisas vão ser fáceis. Vamos colocar na medida que tivermos oportunidades e o jogo nos ofereça condição para isso. Quem estiver em condição melhor é o que vai jogar.
A fala de Felipão dá a entender que ele não confia muito ainda nos jovens que tem, já que fala em respeito ao adversário como se colocar jovens da base para atuar fosse um desrespeito a quem está enfrentando. O treinador fala ainda em oportunidade para colocá-los em campo, sendo que, na verdade, eles que precisam de ganhar essa chance e não ela surgir “do nada”.
Felipão irritado com questionamentos sobre a base
Ao longo da coletiva que concedeu nesta quarta-feira (10), Felipão foi questionado três vezes sobre a base e ao falar sobre quando um treinador deve utilizar a base, foi curto e ríspido: “Quando ele precisar e quando ele tiver jogadores à disposição que preencham aquilo que ele precisa”. Além disso, declarou que os jovens terão as mesmas oportunidades que os demais jogadores do elenco.
Por um lado, faz bastante sentido o treinador equilibrar as chances dos jogadores, por outro, na prática, não é assim que funciona com a base. Os jogadores que são profissionais há mais tempo já tiveram chances para mostrar seu futebol, enquanto os da base não. Então, se eles não tiverem mais minutos, nunca iremos descobrir se eles realmente podem ser úteis ao time. O estadual é onde o Galo terá jogos mais “fáceis” por lógica, então também deveria ser onde esses jovens ganham oportunidades, para quando for necessário usá-los em uma Libertadores ou no Brasileiro, eles já tenham tirado a “casca” e o treinador saiba o que pode ganhar com eles em campo.
Pelas falas de Felipão, parece que a situação dos jovens no Atlético não vai mudar muito em 2024. Resta saber se, na prática, as coisas vão mudar e eles vão receber pelo menos algumas oportunidades para demonstrarem se já estão prontos ou não para ajudar quando necessário.
Falta de oportunidade fará o Galo perder o artilheiro do Sub-20
Um dos destaques da base do Atlético, o atacante Isaac foi quem teve mais minutos (102 em três jogos) no time principal em 2023, sempre sendo utilizado por necessidade, já que não havia outro atacante à disposição. No entanto, ele acabou voltando ao time Sub-20, onde deslanchou e marcou 19 gols em 25 jogos, sendo o artilheiro da categoria. Mesmo assim, não recebeu oportunidades com Felipão, e por isso ele deve deixar o clube.
Isaac tem contrato com o Atlético apenas até abril. O clube tenta renovar com ele, mas, junto ao seu empresário, ele entende que não deve ficar justamente por prever que não receberá as oportunidades que acha necessárias. O jogador já teve nome ligado a times da Premier League, ao Fortaleza e, mais recentemente, ao Coritiba, mas ainda não tem seu futuro definido.
O Isaac está aqui com a gente. Na situação dele de contrato eu não me envolvo – disse Felipão, que nunca o colocou em campo no profissional
Por que tanto receio do Atlético com a base?
Felipão pode ser apontado como um dos “culpados” pela baixa utilização dos jovens da base atleticana, mas esse problema no clube é recorrente independente de quem está no comando. Estudos em 2023 confirmaram que o Galo é um dos times no Brasil que menos oportuniza os jovens, mas o Alvinegro tenta reverter isso com uma mudança estrutural nas categorias de base do clube, liderada por Erasmo Damiani, que fez processo parecido no Palmeiras, hoje a melhor base do futebol brasileiro.
Mas vale o questionamento do motivo do Atlético ter tanto receio em utilizar seus jovens. Todo time no Brasil lança jogadores de destaque da base no profissional o quanto antes. A maioria desses times faz isso colocando os garotos na fogueira mesmo, em meio a sequências ruins de jogos e a necessidade de um “fato novo”. O Galo, no entanto, não faz isso em nenhuma ocasião, e seus jovens ficam no ostracismo, com o torcedor sempre questionando: “Será que esse menino realmente é bom?”, já que não tem a oportunidade de vê-los.
E é importante destacar também que oportunizar os jovens não é só dar para eles cinco ou dez minutos finais de um jogo já resolvido. Foi isso que o Atlético fez com Savinho, por exemplo, que sempre foi apontado como um enorme prospecto mundial e pouco jogou no Galo, saindo por uma venda muito abaixo da realidade atual e brilhando hoje no surpreendente Girona, da Espanha. Dar oportunidades é colocar esses jogadores jogando com o time titular, seja desde o início ou por mais minutos, para que ele possa ter mais chances de tocar na bola e mostrar o que sabe.
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Atlético se destaca na Copinha
Além dos jogadores já integrados ao time principal, o Atlético tem também alguns jogadores chamando atenção na disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior. O camisa 10 Yan, que já estreou no profissional em 2022, é um desses destaques – mas se lesionou no último jogo e é dúvida para a sequência -, assim como o parceiro de meio-campo dele, Caio Ribas, que treinava com o time principal ainda na época de Sampaoli (2020/21). O zagueiro Renan, o atacante João Rafael e o volante Zé Phelipe também tem se destacado mais.
O Atlético avançou em primeiro lugar no Grupo 18 da Copinha, vencendo o Timon-MA (5×0), o Floresta-CE (2×0) e o SKA Brasil-SP (2×1). O adversário do Galo na próxima fase será o Sfera-SP.