Brasileirão Série A

Atlético-MG muda processos na base e mostra evolução, resta refletir isso no profissional

O Atlético-MG conseguiu evoluir a estrutura de sua base, mas de nada adianta se os jovens seguem sem receber chances no time principal

O Atlético-MG mudou muito a forma como vê a base nos últimos três anos, desde quando o presidente Sérgio Coelho chegou ao clube com a promessa de olhar melhor para os jovens do clube. O Galo fez uma palestra sobre o desenvolvimento da categoria e mostrou que evoluiu muito, mas o ponto mais importante, do reflexo no profissional, ainda não aconteceu.

Uma das promessas de Sérgio Coelho quando se candidatou a presidente do Atlético era reformular as categorias de base do clube, que, neste século, sempre foi algo deixado de lado, com o Galo revelando poucos jogadores. A reformulação aconteceu, mas ainda não refletiu no profissional, o que gera muitas críticas da torcida.

Atualmente, o Atlético até tem muitos jogadores da base no elenco profissional, mas eles não recebem muitas chances. A Trivela fez dois levantamentos sobre a base atleticana. No primeiro, a prova da falta de oportunidades para os jovens, mostrando que eles têm poucos minutos. No segundo, uma crítica a forma como o time (não) faz a transição dos jogadores, desperdiçando oportunidades de lançar seus jovens talentos.

As mudanças na base do Atlético

As mudanças na base do Atlético começaram com a chegada de Erasmo Damiani, um dos responsáveis por também mudar a base do Palmeiras, um dos clubes que melhor revela hoje no Brasil. O dirigente explicou que o primeiro passo foi implementar as chamadas categorias de iniciação, que vão do sub-8 até o sub-13

— Se pegarmos as maiores vendas do Brasil, quase todos são atletas que chegaram nos clubes entre 9 e 12 anos, poucos chegaram com 15 ou mais. O Atlético precisava de entrar nessa linha.

Para isso, o clube implementou alguns detalhes, como uma rede de apoio a familiares de jogadores que vem de fora. Essa medida tem a intenção de fazer os jovens se sentirem em casa, mantendo eles próximos dos familiares. Outro ponto que Damiani destacou muito foi a fidelidade dos atletas com o Atlético. O objetivo do clube nesse caso é fazer os jovens terem uma relação íntima com o Galo, se tornarem torcedores, já que até os jogadores só podem assinar um primeiro contrato a partir dos 14 anos. O gerente citou Vinícius Junior como exemplo:

— O Vini Jr. chegou com 10 anos no Flamengo, se você chega para ele com 13 ou 14 anos e faz uma proposta, ele nega, como teve e negou, por que? Porque ele é apaixonado pelo clube, tem vínculo com o clube. É um ponto fundamental para que a gente tenha esse atleta “preso”, gostar do clube não por imposição financeira, mas por paixão.

Além disso, o Atlético fez outras várias alterações na estrutura do clube e na forma como as categorias de base são tratadas. Essas mudanças são físicas, como salas para as comissões de cada categoria e grama sintética em um dos campos da Cidade do Galo, e também de comportamento, como a análise todos os atletas e relatórios diários das comissões técnicas.

Saímos do nível 2 para o nível 5, mas esperamos que possamos chegar na excelência (nível 10) e brigar com Flamengo, Palmeiras, São Paulo, etc”, afirmou Damiani.

Mudanças nas estruturas do clube

  • Salas de comissão técnica para cada categoria
  • Mudou a parte administrativa para fixar o clube na mente de quem trabalha nele
  • Objetivo de levar todas as categorias para o CT, mas ainda não tem a estrutura
  • Está sendo implementado um campo de grama sintética para aí sim conseguir levar todas as categorias para o CT. A partir de novembro isso deve acontecer.
  • Padronização de uniforme: na iniciação (9-14) tem um padrão e, depois disso outra, que já é com a adidas. A mesma roupagem do time principal é da base
  • Tem um controle de todos os atletas diariamente
  • Todos os dias as comissões técnicas têm que enviar o plano de treino do dia seguinte para o coordenador técnico, que se reúne uma vez por semana para discutir sobre os treinos.
  • Diariamente os treinadores preenchem uma ficha com todos os detalhes dos treinos; o mesmo é feito nos jogos
  • Do sub-8 ao sub-20, o modelo de preleção é o mesmo, o que facilita o entendimento quando um jogador sobe de categoria
  • Tem um plano de jogo para todos os jogos, mesmo os amistosos
  • De três em três meses há uma avaliação completa para ter um indicador de performance dos atletas

Evolução da base não reflete no profissional

As mudanças na base foram várias e mostram uma evolução do Atlético na categoria. No entanto, o clube não conseguiu fazer ainda com que isso reflita no time principal. Atualmente, os jovens da base que fazem parte do elenco profissional do Galo, não tem minutos em campo com o técnico Felipão. O principal destaque, como o garoto Mateus Iseppe, ainda nem treina com os profissionais e muito menos ganha uma chance de jogar. Mesmo os mais experientes, como Rubens, não jogam com Scolari. Mesmo assim, Damiani garante que a relação entre base e profissional é quase que diária.

— A relação base-profissional está muito conjunta hoje. Temos um grupo que participa o auxiliar fixo do clube, o gerente do profissional, os gerentes da base. Então quando eles solicitam um atleta para treinar, eles mandam lá. Pode ser um jogador específico, ou algo do tipo “precisamos de um lateral-direito e um meia”. Há, quase que diariamente, uma comunicação da base com o profissional.

Damiani destacou que o auxiliar fixo do Atlético, Lucas Gonçalves, e o diretor Rodrigo Caetano estão sempre assistindo aos jogos e em contato sobre os jogadores. Felipão também pede a opinião deles sobre jogadores. Para o gerente, a falta de minutos para os jovens também tem a ver com o momento que o Galo passou de muitos jogos sem vencer e ainda estar em recuperação, já que não é o momento ideal para lançar jovens.

Não é colocar um atleta em um momento que, ao invés de ir pra cima ele vai pra baixo. O torcedor quer o atleta da base no profissional, mas no primeiro ou segundo erro ele vai criticar”, disse o gerente.

Damiani promete jovens com mais minutos

Com a temporada de 2023 chegando ao fim e o Atlético ainda na luta por uma vaga na Libertadores, é improvável que o cenário com os jovens jogadores mudem, de eles passarem a ter mais minutos. Mas para 2024, Damiani garantiu que esses jovens vão jogar mais.

– A tendência ano que vem é ter esses jogadores com minutagem. É o passo dois, dar minutagem em estadual e outras situações. Passar confiança para os atletas. O Rodrigo Caetano sabe que o clube precisa (de jovem para jogar e vender), e você só vai começar a ter esses atletas ali se tiverem oportunidade. Ano que vem o clube caminha para que isso aconteça.

Alguns desses jogadores vão participar da pré-temporada atleticana desde o início, já outros vão começar o ano atuando no principal torneio de base do país, a Copa São Paulo. Entre eles, deve estar a joia Iseppe, que deve se juntar ao elenco principal após o torneio.

Iseppe vai ter chances em 2024?

Não há certeza ainda se Felipão vai seguir no comando do Atlético em 2024. Se seguir, vai precisar mudar seu método de utilização de jogadores para poder cumprir a meta atleticana de dar mais minutagem para os jovens. Entre todos, o que o torcedor mais espera ver é Mateus Iseppe, de 17 anos. O jovem teve uma temporada astronômica no sub-17 e chamou atenção da torcida, que já o quer jogando entre os profissionais. Há algumas semanas, a Trivela questionou Scolari sobre a utilização do jovem, e o treinador não gostou.

Damiani defendeu Felipão e falou sobre o processo para que um jogador como o Iseppe chegue até o profissional: “Quando o Felipão coloca que um jogador vai ter que passar pelo processo do sub-17 e sub-20, não quer dizer que são os três anos. O Iseppe é um atleta que está sendo muito discutido, tem um processo. Estivemos semana passada com o empresário e o pai, mostramos os processos, a família tem processo muito parecido com o nosso também”. O jovem recebeu sua primeira convocação para a Seleção Brasileira da categoria e soube aproveitar.

Para justificar a fala de Felipão, Damiani citou o exemplo do meia Lincoln, que tinha enorme projeção no Grêmio e foi lançado pelo treinador aos 16 anos. No entanto, ele não conseguiu desempenhar tanto quanto na base e acabou sendo queimado. Hoje ele atua no Fenerbahçe, da Turquia.

– O treinador tem um receio de criar uma expectativa, de vocês ficarem falando de colocar o jogador e, quando o Atlético precisar de um resultado positivo, o menino errar dois três passes e a expectativa é diferente da realidade. Acaba o jogo, o torcedor vai na rede social e xinga, e o menino não está pronto para receber aquilo. O processo é gradativo.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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