Brasileirão Série A

Atlético-MG renova com sua maior promessa em anos; resta, agora, dar chances à base

O Atlético-MG conseguiu garantir a permanência daquele que hoje é o melhor jogador de suas categorias de base, mas terá de saber lidar com um grande problema do clube: má utilização dos jovens

O Atlético-MG renovou o contrato de sua principal joia da base, o meia Mateus Iseppe, de 17 anos. O clube mostra preocupação com seu jovem jogador e se resguarda aumentando a multa rescisória dele. Agora, resta ao Galo dar um segundo passo em relação aos meninos de sua base: passar a dar mais chances a eles entre os profissionais.

Após Iseppe ter ganho destaque na base, o Atlético correu atrás para renovar o contrato do jogador, estendendo-o até julho de 2026 e dando ao jovem uma valorização salarial. Esse aumento do salário ajuda também a aumentar a multa do jogador para times do Brasil, já que ela é calculada com base no salário dos jovens, diferente da multa para o exterior, que pode ser  estipulada no valor que o clube quiser.

Iseppe agora tem multa de R$ 24 milhões para o Brasil e de 50 milhões de euros (R$ 267 milhões) para clubes estrangeiros.

Sucesso de Iseppe na base do Atlético-MG

Mateus Iseppe vem ganhando cada vez mais destaque nas categorias de base do Atlético. No sub-17, onde ele atua em seu último ano na categoria, tem seis gols em cinco jogos no Campeonato Brasileiro da categoria, que está em andamento. No último jogo, marcou um belo gol de falta no empate com o Ceará; já no penúltimo, participou dos três gols da vitória contra o Cuiabá.

Antes, na Copa do Brasil da categoria, marcou cinco gols em quatro jogos, sendo um hat-trick na goleada no clássico contra o Cruzeiro, ajudando o Galo a eliminar o maior rival. Ele também jogou o Mineiro Sub-17 e o Sub-20. Ao todo, são 15 jogos na temporada e 16 gols marcados.

Atlético-MG não utiliza seus jovens

Uma das grandes críticas da torcida do Atlético com o clube é que ele não utiliza e não valoriza seus jovens jogadores. Essa crítica já vem de anos e não é exclusiva da atual diretoria, mas o gerente de futebol Victor Bagy comentou a situação:

— Temos que ter um certo cuidado. Existe a cobrança para revelar jogador, mas isso é um processo. Você não pode simplesmente colocar no profissional só porque se destacou na base. Existe um processo de adaptação, e a intensidade e velocidade de jogo são diferentes. Então tem que dar tempo para que haja adaptação e maturação para não queimar processo.

O caso Savinho: um exemplo de como Atlético-MG não usa jovens

Victor citou também que “quando um moleque é fenômeno” ele se destaca em qualquer categoria, mas é só “um entre 10 mil” jogadores. No entanto, para contrariar o gerente, o Atlético-MG teve um desses e não soube utilizá-lo.

Nos últimos anos, o Atlético-MG tinha Savinho, hoje no Girona, na base do clube como uma joia mundialmente comentada, com o jogador figurando em rankings de melhores prospectos do mundo e sendo muito visado, além de ser titular das seleções de base. Apesar disso, o jogador ganhou poucas oportunidades no profissional do clube, atuando em apenas 35 jogos, sendo só 969 minutos em campo, dando uma média de 27,6 minutos em campo. Número bem baixo.

Savinho tinha apelo enorme da torcida e da imprensa para ganhar mais oportunidades. Ele passou a jogar com Sampaoli, em 2020, mas perdeu espaço e voltou para a base. Depois, em 2021, com Cuca, atuou um pouco mais, mas sem protagonismo no estrelado time alvinegro. Em 2022, quando começou a ganhar mais minutos e engrenar no time de Turco Mohamed, foi vendido.

Savinho, Atlético-MG
Savinho marcou dois gols pelo Galo, ambos em 2022, quando começou a se destacar mais (Pedro Souza/Atlético)

A venda de Savinho é, até hoje, uma das que mais irrita o torcedor do Atlético. Primeiro pelo fato de terem dado mais oportunidades para ele tarde, basicamente com ele já vendido. Mas a principal reclamação é o valor. Enquanto outras joias do futebol brasileiro, mesmo as que jogaram pouco por aqui, foram negociados por montantes acima de 10 ou 20 milhões de euros, o atacante atleticano foi vendido ao Grupo City por apenas 6,5 milhões (R$ 35 milhões na época) fixos e mais 6 milhões de euros (R$ 30 milhões) em variáveis.

No grupo City, ele foi inicialmente emprestado ao PSV, onde teve boas atuações, e agora ruma ao Girona, da Espanha, para sua primeira temporada e uma das grandes ligas da Europa. Savinho foi um dos destaques do Brasil no último Mundial Sub-20.

Falta de oportunidades aos crias do Atlético

Por conta da renovação de Iseppe, a Trivela fez um levantamento, com base nos dados do oGol, de jogadores da base do Atlético utilizados no time profissional nos últimos três anos, que prova a falta de oportunidades deles. Confira:

Jogadores da base do Atlético utilizado no profissional em 2023

  • Cadu (atacante): 2 jogos – 11 minutos
  • Paulo Vitor (volante): 1 jogo – 16 minutos – emprestado pelo Boston City
  • Alisson (meia): 3 jogos – 38 minutos
  • Vitinho (lateral-direito): 1 jogo – 45 minutos
  • Isaac (atacante): 3 jogos – 45 minutos
  • Calebe (meia): 3 jogos – 146 minutos – vendido ao Fortaleza
  • Rubens (meia/lateral): 27 jogos – 1857 minutos

O zagueiro Rômulo e os Matheus Mendes e Gabriel Delfim são os únicos que não ganharam minutos ainda no time profissional em 2023. Matheus Mendes terá a primeira oportunidade nesta domingo (6), contra o São Paulo, já que Everson está suspenso.

O meia Alisson foi um dos motivos do questionamento feito a Victor na coletiva desta sexta, já que o jogador ganhou alguns minutos nos últimos jogos e se destacou. Apesar disso, ele ficou de fora até do banco de reservas do último jogo, pela Libertadores contra o Palmeiras.

Jogadores da base do Atlético utilizado no profissional em 2022

  • Yan Phillipe (meia): 1 jogo – 18 minutos
  • Micael (zagueiro): 1 jogo – 21 minutos – emprestado/vendido ao Houston Dynamo (EUA)
  • Neto (meia): 4 jogos – 52 minutos
  • Felipe Felício (atacante): 3 jogos – 61 minutos
  • Echaporã (atacante): 3 jogos – 96 minutos
  • Vitor Mendes (zagueiro): 3 jogos – 270 minutos – emprestado ao Juventude
  • Guilherme Castilho (meia): 9 jogos – 290 minutos
  • Savinho (atacante): 14 jogos – 412 minutos
  • Calebe (meia): 27 jogos – 862 minutos
  • Rubens (meia/lateral): 43 jogos – 1902 minutos

Em 2022, Rubens, que havia feito apenas uma partida pelo profissional no ano anterior, saltou para 43 jogos. Esse “boom” do jogador se dá pelo fato dele, que é meia, ter sido utilizado como lateral-esquerdo nas ausências de Dodô (no início do ano) e Guilherme Arana (do meio para o fim do ano).

Rubens, do Atlético-MG, conversa com Felipão
Rubens já é figurinha carimbada no time do Atlético desde o ano passado (Pedro Souza / Atlético)

Jogadores da base do Atlético utilizado no profissional em 2021

  • Rubens (meia/lateral): 1 jogo – 11 minutos
  • Echaporã (atacante): 5 jogos – 72 minutos
  • Neto (meia): 8 jogos – 94 minutos
  • Felipe Felício (atacante): 9 jogos – 244 minutos
  • Savinho (atacante): 13 jogos – 398 minutos
  • Calebe (meia): 24 jogos – 671 minutos

Na temporada 2021, outros jovens jogadores ganharam alguns minutos no início dela, já que os principais jogadores estavam de férias, pois as temporadas 20 e 21 foram sequenciais, sem intervalo, devido a pandemia. No entanto, nos dados acima, estão apenas os jogadores que realmente ganharam oportunidades ao longo do ano.

Vale ressaltar que os zagueiros Nathan Silva (21/22/23) e Jemerson (22/23) são crias da base do Atlético e tiveram alta minutagem. Apesar disso, eles não se encaixam na lista pois saíram e jogaram em outros clubes por anos antes dessas últimas temporadas pelo Galo.

Fatos no Atlético e falas de Victor não batem

Apesar de Victor ter dito que é preciso ter paciência e inserir os jogadores aos poucos no time profissional, o Atlético claramente não faz isso. Os atletas da base que ganham minutos são sempre por necessidade, como os caso de Rubens em 2022, que precisou ser colocado em outra posição pois não tinha ninguém para ela, e Isaac e Cadu em 2023, atacantes que só entraram em campo pois Coudet não tinha outras opções no banco.

O caso mais recente, de Alisson, também foi por necessidade, mas de um tipo diferente dos citados. O jogador foi acionado, mesmo Felipão tendo opções mais experientes para o meio, justamente para tentar ser um fator diferente nessa sequência ruim do time atleticano.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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