Dez partidas marcantes da história da Copa América

É um absurdo dizer que a Eurocopa é uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina. Embora as duas equipes sejam, sim, as tradicionalmente mais fortes do continente sul-americano, outras equipes da América do Sul já cansaram de provar sua capacidade de protagonizar belas histórias dentro de campo. A Copa América, é claro, foi palco para muitas delas, e o clichê em relação ao torneio europeu tira do sul-americano a grande relevância que tem.
Facilmente podemos encontrar partidas marcantes da competição de nosso continente, e o verdadeiro desafio nesta matéria foi escolher apenas dez momentos. Alguns históricos, como o título do Brasil em 1997, do “vocês vão ter que me engolir”, tiveram que ficar de fora, e esta é a nossa seleção final com dez partidas que garantiram lugar de destaque na história do torneio.
16 e 17 de julho de 1916 – Argentina 0x0 Uruguai
A primeira edição da Copa América, então Campeonato Sul-Americano, teve uma questão extra-campo como fato mais marcante da campanha. A disputa contava com apenas Uruguai, Argentina, Brasil e Chile. Com a vitória por 2 a 1 sobre os brasileiros em seu penúltimo jogo, os uruguaios precisavam de apenas um empate com os argentinos na última rodada para ficar com a taça. O tempo necessário, para isso, foi mais do que o esperado. Marcada para 16 de julho, a partida teve que ser encerrada logo aos cinco minutos por causa de uma briga nas arquibancadas do Estádio GEBA, em Buenos Aires. A briga terminou com parte das arquibancadas em fogo, e o jogo foi levado no dia seguinte para Avellaneda, onde o Uruguai segurou o resultado sem gols e se sagrou como o primeiro campeão sul-americano.
29 de maio de 1919 – Brasil 1×0 Uruguai
A primeira grande conquista da seleção brasileira. Foi isso que a campanha de 1919 representou para a equipe, e a sensação não ficou restrita apenas à posterioridade. Disputado no Rio de Janeiro, o Campeonato Sul-Americano teve todos seus jogos realizados nas Laranjeiras, e em 29 de maio, dia da decisão, uma quantidade considerável de pessoas já se encontrava no estádio às 9h da manhã, com cinco horas de antecedência. Maior que a expectativa pelo duelo foi a sensação de alívio no momento em que Friedenreich, aos três minutos do segundo tempo da prorrogação – cujas etapas duravam 30 minutos –, pegou rebote de finalização de Heitor e empurrou para a rede. El Tigre se alçava, ali, à condição de herói nacional.
22 de outubro de 1922 – Brasil 3×0 Paraguai
Após disputar e perder o Campeonato Sul-Americano de 1921 desfalcado de alguns de seus principais destaques pela ordem vergonhosa do então presidente Epitácio Pessoa de que não levasse jogadores negros, a Seleção voltou a ter força máxima para a disputa do torneio. Em 1922, a competição foi disputada no Brasil, em meio à celebração do centenário da Independência, e ao fim das quatro rodadas, os anfitriões e o Paraguai terminaram empatados com quatro pontos. No jogo do desempate, vitória por 3 a 0 da seleção brasileira, que, mesmo desfalcada de Friedenreich, seu principal craque – contundido logo no primeiro jogo –, conseguiu despachar os paraguaios com gols de Neco e Formiga, duas vezes, encerrando a campanha invicta, com duas vitórias e três empates.
24 de outubro de 1926 – Uruguai 2×0 Argentina
Por quase toda a década de 1920, Uruguai e Argentina dominaram o futebol sul-americano. Entre eles, venceram todas as edições da Copa América da época entre 1923 e 1929, com três títulos para cada lado. A predominância continental também se espalhou pelo planeta, e entre 1926 e 1930, as duas equipes disputaram três títulos marcantes: Campeonato Sul-Americano de 1926, Olimpíadas de 1928 e Copa do Mundo de 1930. Neste primeiro dos três encontros entre uruguaios argentinos, no torneio realizado no Chile, a Celeste levou a melhor. Até o encontro com o Uruguai, a Argentina havia dado show, goleando a Bolívia por 5 a 0 e o Paraguai por 8 a 0. Os uruguaios haviam disputado apenas um duelo: triunfo por 3 a 1 sobre o Chile. No entanto, nenhum dos adversários dos argentinos nos jogos anteriores tinha a força da Celeste. O 2 a 0 uruguaio, com gols de Borjas e Castro, catapultou a equipe e derrubou o ritmo da Albiceleste, que apenas empatou com o Chile em sua última partida, deixando ambos com cinco pontos na segunda e terceira colocações. O 6 a 0 sobre a Bolívia e o 6 a 1 diante do Paraguai confirmaram o belo futebol e o sexto título uruguaio na competição, que estava apenas em sua décima edição.
31 de março de 1963 – Brasil 4×5 Bolívia
Comandada por Aymoré Moreira, com a Seleção de Minas Gerais, então campeã brasileira, como base do time e reforçada por cariocas e paulistas que não disputavam o Rio-São Paulo, a Seleção foi à Bolívia para a disputa do Campeonato Sul-Americano. Chegou ao jogo final, contra os anfitriões, sem chances de título, mas nem por isso deixou de oferecer resistência aos bolivianos. Com os mesmos nove pontos que o Paraguai, que já havia encerrado sua participação, a seleção boliviana entrou para o jogo precisando apenas de um empate, mas sabendo que havia a chance de ficar sem a taça dependendo do tamanho de uma possível derrota. A seu favor, segundo Nílton Alípio Reina, enviado da Gazeta Esportiva ao torneio, os donos da casa tiveram a arbitragem, que teria deixado de marcar três pênaltis claros para os brasileiros, além de assinalar uma penalidade “absurda” para os anfitriões. No final, um jogo maluco, repleto de gols e definido apenas aos 41 do segundo tempo, com Alcácer fazendo o 5 a 4 para a Bolívia e garantindo o único título sul-americano da história da equipe.
4 de outubro de 1975 – Peru 0x2 Brasil
Sem sede fixa, a Copa América de 1975, a primeira com esse nome, teve cada equipe disputando duas partidas em casa na fase de grupos, de um total de quatro jogos por chave. O melhor de cada grupo e o Uruguai, campeão da edição passada, então se encontrariam nas semifinais. Vencedor do Grupo A, o Brasil teve pela frente o Peru, líder do B, no jogo de mata-mata. Na primeira partida, disputada no Mineirão, a Seleção tropeçou em seu próprio excesso de confiança. Oswaldo Brandão, então técnico da equipe, afirmava antes do jogo que tinha certeza de que passaria pelos peruanos. Resultado: 3 a 1 para os visitantes em solo brasileiro. Na volta, o Brasil precisaria vencer por três gols para avançar direto ou por dois de diferença para decidir no sorteio. Em Lima, não deu outra: 2 a 0 para os brasileiros. O sorteio, feito com papeizinhos, apontou o Peru como vencedor, e houve quem reclamou da legitimidade do sorteamento. De qualquer forma, a lição que ficou para o Brasil, que disputou grande parte do torneio com um time formado por atletas de clubes mineiros, foi de que era preciso levar para as próximas competições o melhor que tinha disponível em todo o país.
3 de julho de 1987 – Brasil 0x4 Chile
Com apenas dois jogos na fase de grupos, o Brasil parecia ter deixado a classificação ao mata-mata encaminhada após o 5 a 0 na estreia contra a Venezuela. O Chile, que completava a chave, também bateu os venezuelanos, por 3 a 1, e foi para o duelo em Córdoba como azarão. Pelo lado brasileiro, discutia-se mesmo após apenas um jogo o tamanho da premiação em caso de conquista, e a vaidade de alguns atletas, como Mirandinha e Júlio César, insatisfeitos com a reserva, era outro problema com que a Seleção tinha de lidar. No final, nada importou tanto, já que, após perder algumas chances de gol no início, o Brasil tomou um passeio dos chilenos, que abriram o placar no fim do primeiro tempo, com Basay, e decretaram a goleada no segundo, com mais um do atacante e dois outros tentos de Letelier. Uma atuação desastrosa da defesa brasileira.
9 de julho de 1987 – Argentina 0x1 Uruguai
A Argentina era a grande favorita a levar o título da Copa América de 1987. Além de ser a detentora da Copa do Mundo, vencida no ano anterior sobre a Alemanha Ocidental, a Albiceleste ainda jogava em casa. Tinha como grande arma Maradona, que apenas um ano antes havia sido o grande destaque da conquista do Mundial, e teria a seu lado o Monumental de Núñez e o clima festivo do Dia da Independência para passar pelo Uruguai, campeão da edição anterior e que entrara na disputa justamente no jogo que definiria vaga na decisão. E todos esses elementos juntos é que tornaram tão grande a queda para a Celeste. O 1 a 0, com gol de Alzamendi – herói da conquista do Mundial de Clubes pelo River Plate no ano anterior –, após jogada tipicamente sul-americana, que começara segundos antes no tiro de meta do goleiro Eduardo Pereira, foi suficiente para o anticlímax geral que tomou conta do estádio dos Millonarios.
14 de julho de 1989 – Uruguai 2×0 Argentina
Após liderar o Grupo B na primeira fase da Copa América de 1989, disputada no Brasil, a Argentina teve desempenho para esquecer no quadrangular final. Perdeu dois e empatou um jogo dos três que disputou e ficou apenas na terceira colocação, vendo o arquirrival e anfitrião ficar com o título. Um lance em especial, no entanto, inevitavelmente ficou na memória dos argentinos – e de todos que acompanharam o campeonato. Em pleno Maracanã, no duelo com o Uruguai já na fase final, Maradona ajeitou a bola do meio do campo e, com a confiança digna de um dos maiores da história, arriscou de cobertura ao ver o goleiro adiantado. Enquanto a bola percorria seu caminho, o destino parecia certo, mas caprichosamente a trave frustrou aquela que foi a oportunidade em que o Pibe chegou mais perto de balançar a rede do estádio mais emblemático do futebol brasileiro.
25 de julho de 2004 – Brasil 2×2 Argentina
Brasil e Argentina chegaram à final da Copa América de 2004, a primeira vez que os rivais se encontravam na decisão da competição, e os hermanos eram os grandes favoritos. Marcelo Bielsa, então técnico da Albiceleste, havia levado seu grupo principal para o torneio, enquanto Carlos Alberto Parreira contava com um time alternativo, repleto de jogadores que ainda buscavam seu espaço na Seleção. Apesar da superioridade no papel, na prática a Argentina tinha dificuldade para impor seu jogo. Kily González e Luisão haviam feito os gols no primeiro tempo, e César Delgado, com um tento aos 42 da segunda etapa, dava o título aos hermanos com a vitória por 2 a 1. Diante da vantagem, os argentinos tiravam onda, e um ainda novato Carlos Tevez fazia gracinha, esperando o apito final. Eis que, já nos acréscimos, Adriano recebeu na área e mandou uma bomba para deixar tudo igual. Nos pênaltis, Julio César foi decisivo no gol, e o Brasil saiu com a taça do Estádio Nacional de Lima, no Peru.
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