Copa do Brasil

Paulo Junior: Corinthians será testado no Majestoso em casa: qual seu nível?

Corinthians recebe o primeiro Majestoso pela semifinal da Copa do Brasil e tem diante do São Paulo a maior prova de sua atual sequência de bons resultados

Os grandes momentos do Corinthians em Itaquera nesta temporada apareceram em circunstanciais voltas de duelos pela Copa do Brasil, primeiro contra o Atlético e depois contra o América, ambos mineiros, quando o time deu conta de reverter noites pouco inspiradas, ambas em em Belo Horizonte, com vitórias suficientes para alcançar somente a classificação na disputa por pênaltis.

Confrontos por mata-mata têm dessas, empurrando rumo à virada numa postura baseada muito mais na necessidade do placar do que em qualquer plano tático ou eficácia técnica. No Brasileirão, são só duas vitórias em seis jogos em casa, com atual série negativa, que vem de empate com o Cuiabá e derrota para o Red Bull Bragantino. Na Libertadores a vaga para as oitavas de final escapou em constrangedora antecipação muito por conta das quedas para Argentinos Juniors e Independiente del Valle, ambas na Neo Química Arena.

Nesta terça-feira (25), ao abrir as semifinais diante do São Paulo em seu estádio, o time comandado por Vanderlei Luxemburgo entra em campo para, pela primeira vez nesta Copa do Brasil, iniciar a chave como mandante. Sem um placar a ser perseguido, nem a trincheira da marca da cal, o Corinthians precisará lidar com a óbvia, porém árdua, missão de construir um bom resultado por natureza própria.

O problema é que não tem sido muito simples. Apesar da atual sequência invicta e das classificações na Copa do Brasil e na Sul-Americana, não dá para cravar, nem insinuar, que o Corinthians ofereça hoje a segurança de responder a um grande jogo. E o Majestoso surge exatamente como essa provocação ao elenco alvinegro, uma espécie de tira-teima para que se mostre se a equipe tem nível de se impor para valer contra um rival de bom valor.

Corinthians não terá jogadores fundamentais

Porque no Corinthians não há muita margem de sobra quanto ao que se tem sido jogado, e os bons resultados aparecem bem no limite. Renato Augusto, o unânime toque de classe da companhia, saiu com dores no sábado (22) e no momento lida mais com liberações do departamento médico do que com jogos seguidos.

Matías Rojas, reforço recente que deixou ótima impressão contra o América-MG, saiu do jogo em Salvador após entrada que pegou seu pé esquerdo, rompendo seu tendão de Aquiles, segundo informou o time na segunda-feira (24). Gabriel Moscardo, 17, repentina solução para cobrir o meio-campo, virou desfalque no fim de semana por conta de apendicite, um tanto de azar nessas coisas de jovem — a minha veio aos 19.

O trio foi fundamental na última fase da Copa do Brasil.

Corinthians e São Paulo em momentos distintos

Vanderlei, numa onda mais segura, experimentou três zagueiros na Fonte Nova, sem o suspenso Roger Guedes. Surpreenderia se mantivesse o esquema, mas fica a dúvida sobre o que fazer com as iminentes ausências. Por ali, tem Fausto Vera, Giuliano, Maycon, Guilherme Biro, Ruan Oliveira, Adson… Fico curioso para saber se o time começa o jogo tentando amassar o São Paulo. E, para além disso, se conseguirá. Sem o resultado, nos jogos de ida contra os mineiros Atlético e América, não conseguiu, mesmo que fora de casa nas duas oportunidades.

O Palmeiras em sua chance bem que tentou amassar o Tricolor, mas não teve sucesso. Mesmo conseguindo abrir o placar e tendo espasmos de seus tempos recentes de rolo compressor verde, foi logo sendo bem remediado pelo encaixe do time de Dorival Junior. Quando viu, sofreu o empate, deixou o jogo esfriar diante de seu torcedor e terminou sofrendo a virada. Se o alvinegro vem passando por um fio em sua trajetória, o Tricolor sobrou, no Morumbi e no Allianz Parque, abrindo margem para um leve favoritismo no ponto de vista técnico, casas decimais num clássico de difícil previsão, como sempre.

São Paulo rodou jogadores e terá foco total

Dorival Junior rodou alguns jogadores contra o Cuiabá, fora de casa, pela última rodada do Brasileirão. O treinador descansou Alisson, deu folga a Rafinha e deixou Luciano no banco, mas é claro que não estava na conta um jogo tão aquém, que terminou em derrota no Pantanal. Gabriel Neves, que vinha em ótimo gás no meio-campo, se machucou, e Pablo Maia deve sair jogando. Luan nem de longe demonstra a energia dos tempos em que surgiu, apesar de nova chance no sábado. Rafinha, que esteve na Alemanha em jogo festivo como lenda do Bayern, deverá estar de volta após megaoperação feita pelo São Paulo.

Parece clichê, e recentemente até houve algum debate sobre o conceito de escolher jogo, mas é inegável que nenhum time do planeta se monta para todas as partidas da mesma forma. Faz parte da rotina do jogo mediar seus medos e motivações, pressões e expectativas, tamanhos, necessidades, lidar com as curvas e dores do acúmulo de compromissos. No Brasil, sabemos bem, um duelo local valendo eliminação mobiliza mais que qualquer coisa, e nem duas décadas de pontos corridos foram capazes de superar um encontro copeiro. A tendência é o São Paulo retomar o nível de concentração que exibiu para vencer um rival há duas semanas.

Majestoso é um clássico que sempre rende muito

O maior Majestoso que vi foi numa semifinal, a do Brasileiro de 1999. Dida pegou dois pênaltis de Raí e levou uma raríssima nota 10 da revista Placar depois de um jogo de altíssimo nível e muita tensão. Três anos depois, pouco antes da Copa do Mundo, valendo vaga na final da mesma Copa do Brasil, uma semi com Rogério, Belletti e Kaká de um lado, Dida, Vampeta e Ricardinho de outro. Ainda éramos (um pouco, mas éramos) reis, assistindo em pleno Morumbi seis dos futuros pentacampeões do mundo algumas semanas depois lá no Japão e na Coreia do Sul.

Thomaz Mazzoni, o jornalista inventor de apelidos, deu esse nome ao clássico depois do empate em 3 a 3 no dia da estreia do novo são-paulino Leônidas da Silva, em 1942. Eram tempos de coisas maravilhosas, como duas torcidas rivais dividindo um Pacaembu para mais de 70 mil pessoas; e outras pavorosas, como a proibição da prática de futebol pelas mulheres. Ontem, que bom, Ary Borges acordou sorrindo, Majestosa.

Foto de Paulo Junior

Paulo JuniorColaborador

Paulo Junior é jornalista e documentarista, nascido em São Bernardo do Campo (SP) em 1988. Tem trabalhos publicados em diversas redações brasileiras – ESPN, BBC, Central3, CNN, Goal, UOL –, e colabora com a Trivela, em texto ou no podcast, desde 2015. Nas redes sociais: @paulo__junior__.
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