Cinco motivos que explicam o Botafogo ter perdido o título do Campeonato Brasileiro
Troca de treinadores, elenco 'inexperiente', problemas emocionais... Depois de liderar por 31 rodadas, o Botafogo perdeu o título e protagonizou o maior vexame da história do Brasileiro por pontos corridos

Depois de liderar o Campeonato Brasileiro por 31 rodadas e ter feito o melhor primeiro turno da história da competição no atual formato, o Botafogo conseguiu perder o título da competição. Mais do que isso. A queda durante o segundo turno foi tão grande que, além de chegar na última rodada sem chances de ficar com a taça, agora o Glorioso também corre o risco de ficar sem a vaga direta na próxima Copa Libertadores.
Mas o que explica um time que chegou a abrir 13 pontos do vice-líder e 14 do virtual campeão Palmeiras ter perdido o título do Campeonato Brasileiro? Com problemas dentro e fora de campo, o Botafogo derreteu durante o segundo turno. Abanado pelo primeiro comandante, Luís Castro, o Glorioso teve escolhas erradas do seu departamento de futebol, que confiou demais no elenco – a ponto de acatar um pedido de demissão de um treinador e a escolha por um auxiliar para comandar o time justamente na reta final do Brasileiro. Assim, entre outros motivos, a Trivela tenta explicar o que parece inexplicável: o maior vexame da era dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro.
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Troca de treinadores
Entre efetivados e interinos, o Botafogo teve cinco técnico diferentes durante o Campeonato Brasileiro deste ano. Depois de começar a competição com Luís Castro, que deu início a um primeiro turno histórico, o Glorioso foi supreendido com a decisão do português de deixar o clube por uma proposta milionária do Al Nassr, da Arábia Saudita. Mas, antes da oficialização da saída do técnico, uma novela se estendeu por pouco mais de uma semana, até Castro deixar o Botafogo no fim de junho, quando o time liderava a competição com sete pontos de vantagem sobre o Grêmio, então vice-líder.

Enquanto o Botafogo procurava outro treinador e, depois, aguardava por Bruno Lage, o time foi comandado pelo interino Cláudio Caçapa por quatro jogos, sendo três deles no Brasileiro. Neste período, o Glorioso teve 100% de aproveitamento. Então, com a chegada de Bruno Lage, o time começou a passar por um momento de instabilidade. Ainda assim, o Botafogo fez o melhor primeiro turno da história do Campeonato Brasileiro, conseguindo abrir 13 pontos do vice-líder Red Bull Bragantino. Mas, logo no começo do returno, a situação começou a desandar.
Logo depois da precoce eliminação na Copa Sul-Americana, o Botafogo foi derrotado pelo Flamengo, em pleno Nilton Santos, acabando com a invencibilidade que o time tinha como mandando no Brasileiro. Depois dali, o time ficou outros três jogos sem vencer, com derrota para Atlético-MG, Corinthians e o empate com o Goiás, que foi determinante para a demissão de Bruno Lage. Neste jogo com o Esmeraldino, no Nilton Santos, Bruno Lage escalou Diego Costa como titular e deixou Tiquinho Soares no banco, o que irritou parte do elenco. Depois do jogo, um grupo de atletas se reuniu com a direção e pediu a saída do português, sendo atendido por Textor.
Com o apoio dos jogadores, que pareciam se sentir autossuficientes para confirma o título, o então auxiliar técnico Lúcio Flávio assumiu o time de forma interina. Mas, as duas vitórias sobre América-MG e Fluminense, que voltaram a fazer o Botafogo abrir vantagem na liderança, fizeram o a diretoria optar pela permanência de Lúcio Flávio, apesar de não externarem isso publicamente. Mas as quatro derrotas seguidas, incluindo dois 4 a 3, de virada, para adversários diretos, fizeram a diretoria mudar de ideia. Então, o Botafogo contratou Tiago Nunes para os últimos cinco jogos do ano, em uma desesperada tentativa de salvar o Brasileirão do clube. Mas, com quatro empates em quatro jogos, o Glorioso deu adeus as chances de levantar a taça.

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Queda de rendimento de destaques do time
Em meio a uma queda de rendimento coletiva da equipe, o Botafogo também viu alguns dos seus principais destaques no primeiro turno caírem de produção no returno. Ainda mais nesta reta final do Brasileiro. Do gol ao ataque, os candidatos a craque do Botafogo no Brasileirão não conseguiram manter o ritmo e contribuíram para a perda do título.
Lucas Perri, que chegou até a ser convocado pela seleção brasileira devido à boa fase no Botafogo, apresentou seguidas falhas nesta reta final do Brasileiro. O goleiro falhou no gol da derrota por 1 a 0 para o Cuiabá – que pese o toque na mão de Isidro Pitta no lance, ao sair do gol e cortar a bola em cima do atacante adversário. Perri também foi mal no primeiro gol de Palmeiras, com uma reposição errada, e no primeiro gol do Grêmio, quando se posicionou mal na finalização de Galdino.

Quem também caiu de produção neste segundo turno foi o atacante Tiquinho Soares. O camisa 9, que foi artilheiro do Brasileiro durante parte da competição, chegou a ficar seis jogos sem marcar neste returno. Dos 17 gols que ele tem na competição, apenas quatro foram marcados nesta segunda parte do Brasileirão. Mas, vale ressaltar, Tiquinho sofreu uma lesão na reta final do primeiro turno e ficou três jogos fora. Além disso, também convive com um problema grave de saúda na família, com o pai internado em situação delicada.
O meia Eduardo também foi outro que caiu de produção neste segundo turno. Principal articulador do time, o camisa 33 parece ter sentido fisicamente a sequência de jogos e não manteve o ritmo do primeiro turno. Na zaga, nem mesmo Cuesta e Adryelson foram poupados das críticas da torcida neste fim de Brasileirão. O lateral-esquerdo Marçal, que já oscilava desde o primeiro turno, e o volante Marlon Freitas também deixaram a desejar no returno.
Pichações feitas há mais de uma semana por torcedores do Botafogo contra o time e a diretoria seguem no Nilton Santos e nos arredores do estádio. @trivela pic.twitter.com/u4QbGZb9S4
— Gabriel Rodrigues (@gabrielcsr) December 3, 2023
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Janela de transferências ruim no meio da temporada
A queda de rendimento de alguns destaques do time deixam ainda mais claro com o Botafogo usou uma estratégia errada na janela de transferências do meio do ano. Apostando na manutenção da base do time titular, o Glorioso fez poucas contratações na segunda janela da temporada. E a maioria pensando no futuro do clube.
O Botafogo contratou apenas quatro jogadores neste meio de 2023: os atacantes Diego Hernandéz e Valentín Adamo, e o lateral-direito Mateo Ponte, todos jovens uruguaios, o atacante Diego Costa e o zagueiro angolano Bastos, o único mais experiente.

Repetindo a estratégia feita com Segovinha, o Botafogo contratou Diego Hernández (23 anos), Valentín Adamo (21), e Mateo Ponte (20) pensando no futuro do clube. Os três chegaram para compor elenco e ganharem experiência para serem utilizados nas próximas temporadas. Tanto é que pouco foram usados neste segundo semestre. Ponte, por exemplo, só foi relacionado em sete partidas e jogou por 66 minutos. Adamo nem sequer entrou em campo.
Enquanto isso, com os titulares sofrendo com questões físicas e com a sequência de jogos, a falta de reposição a altura, principalmente na lateral-direita e do meio para frente, cobrou o preço nesta reta final de Campeonato Brasileiro.
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Falta de experiência do elenco do Botafogo
Apesar do Botafogo ter o elenco com sexta maior média de idade do Brasileirão (27,9 anos), o grupo tem poucos jogadores “vencedores”, acostumados com momentos decisivos e com disputa de títulos. O próprio técnico Tiago Nunes citou este fato depois do traumático empate com o Coritiba, na última semana, no Couto Pereira.
– Sabemos que temos que evoluir, não só dentro do campo, mas também saber fechar uma partida, conduzir um final de jogo. Experiência só se ganha vivendo. Muitos jogadores estão disputando título pela primeira vez. Vivendo esse momento de protagonismo pela primeira vez. Esses momentos servem para ensinar para que não voltemos a viver isso no futuro – afirmou Tiago Nunes depois do empate com o Coritiba.
No atual elenco do Botafogo, Diego Costa, Tchê Tchê e Tiquinho Soares têm títulos de peso no currículo. Por outros lados, mesmo os experientes Marçal (34 anos) e Cuesta (35) não têm tantas conquistas nas respectivas carreiras como jogadores.
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Problemas emocionais e apatia do elenco
Junto com essa falta de experiência, o elenco do Botafogo também sofreu com visíveis problemas emocionais e psicológicos nesta reta final do Campeonato Brasileiro. A partir da queda de rendimento do time, os jogadores passaram a apresentar dificuldade para reagir depois que sofriam gols, como aconteceu contra o Cuiabá e o Vasco, e ainda mais problemas para segurar a vitória quando tinha o placar favorável. Nos confrontos diretos com o Palmeiras e o Grêmio, o Botafogo conseguiu perder os dois jogos por 4 a 3, de virada, em uma semana. Contra o Verdão, chegou a abrir 3 a 0. Já contra o Tricolor, o Glorioso fez 3 a 1 no começo do segundo tempo.

Este problema voltou a se repetir nos empates com o Red Bull Bragantino, o Santos e o Coritiba, quando também estava vencendo e terminou o jogo sem os três pontos. Nesses três casos, o time adversário ainda buscou o placar nos minutos finais. Contra o Coxa, de forma ainda mais cruel. O Botafogo abriu o placar, de pênalti, aos 50′, e levou o empate aos 53′, ficando praticamente sem chances de título – o que se confirmou no melancólico e apático empate com o Cruzeiro, no último domingo (3).