Benzema é a prova de que não existe futebol sem cobranças (em qualquer lugar do mundo)
Mau desempenho em campo rende críticas a Karim Benzema, que chegou a Arábia Saudita como Bola de Ouro
Contratado como então Bola de Ouro, Karim Benzema chegou ao Al-Ittihad, atual campeão nacional, como o principal craque do clube, disposto a brigar contra Cristiano Ronaldo no Al-Nassr e os outros times do governo saudita — Al-Hilal e Al-Ahli. Passados quase cinco meses da estreia do craque francês com a camisa aurinegra, é possível enxergar que o camisa nove do Tigre não é nem sombra de quem outrora era a referência técnica do Real Madrid.
O francês até tem números bons, com 15 gols em 23 jogos, mas a questão física, problemas de relacionamento com o então técnico Nuno Espiríto Santo e, mais recentemente, o desempenho em campo tirou a paciência de torcedores e imprensa, antes mais benevolentes com o jogador. Especialmente após a derrota do Ittihad para o Al-Ahly nas quartas de final do Mundial de Clubes, na qual francês desperdiçou um pênalti quando o placar estava 1 x 0 contra, Benzema foi alvo de críticas de Walid al-Farraj, conhecido apresentador de TV saudita e de bom relacionamento com o governo.
– Vocês acompanharam as reações dos torcedores do Al-Ittihad após a eliminação do Al-Ahly no Mundial de Clubes? Chamaram Benzema de ‘Ben-Hazima', literalmente o filho da derrota em árabe. Um jogador que não se esforça o suficiente. É como se ele estivesse dizendo aos fãs: ‘Estou apenas me divertindo com vocês'. A distância entre o jogador e os torcedores aumenta. […] Ele não está jogando como deveria. […] Em resumo, ele não marcou seu espaço. Quando Cristiano Ronaldo chegou, em janeiro, deu sinais de que queria jogar, mas Benzema não ofereceu nada. É como se o time não gostasse dele. Ele está desconfortável. Não sei o motivo – disparou o apresentador.
Uma fala pesada, que também mostra a insatisfação dos torcedores, mesmo em um contexto competitivo montado de forma artificial pela família real do país. O futebol é futebol em todo lugar do mundo e as críticas e cobranças fazem parte do dia a dia.
O Mundial de Clubes era uma forma da Arábia Saudita mostrar ao mundo como suas equipes podem ser competitivas – óbvio, a partir do dinheiro. Bater o Auckland, modesta equipe da Nova Zelândia, não foi o suficiente e, quando precisou se provar contra um adversário mais competitivo (e de menor orçamento), falhou.
Mesmo com Benzema mal, é bom citar como o coletivo do Ittihad atrapalha e impede que o individual se sobressaia. Nuno Espírito Santo foi o técnico até 6 de novembro, um mês antes do Mundial, sucedido por Marcelo Gallardo – que ainda não teve tempo de implementar seu trabalho. O futebol praticado no campo não corresponde ao elenco do clube saudita que conta com N'Golo Kanté, Fabinho, Luiz Felipe, Romarinho, Jota, Marcelo Grohe e outros.
Na Saudi Pro League, o Tigre ocupa apenas a sexta colocação, atrás de Damac e Al-Taawoun, elencos mais modestos que não tiveram os mesmo petrodólares depositados. A distância para o líder Al-Hilal já é de 22 pontos e de 12 para o Al-Nassr de CR7, que aos 38 anos (três a mais que Karim) soma 51 gols em 2023.
Ao menos o time continua vivo nas quartas de final da Copa do Rei Saudita e avançou como líder do grupo C da AFC Champions League. O título nacional parece praticamente impossível e sonhar com as taças eliminatórias precisa, além da evolução no trabalho de Gallardo, um Benzema em forma e a fim de jogar, como mostrou quando chegou ao Ittihad.