Brasil

Entrevistas e busca por perfil ideal: entenda como São Paulo trabalha para definir novo técnico

São Paulo adota mesma tática que uso com Crespo e entrevista nomes como Zubeldia e Pedro Martins

O São Paulo viu Dorival Júnior deixar o clube para assumir a seleção brasileira e pouco conseguiu avançar na urgente missão de definir um substituto para o cargo desde então. A dez dias da estreia na temporada, a demora em até escolher um nome ideal poderia causar preocupação. Mas a cautela e a minúcia na busca por um novo técnico são justamente parte central da estratégia adotada pelo clube no mercado.

Se ainda não há consenso interno sobre quem será o substituto de Dorival, o critério e o processo de seleção já estão definidos e inclusive são colocados em prática pelos dirigentes. A diretoria conduz uma série de entrevistas com profissionais do Brasil e do exterior para encontrar o treinador que melhor se encaixe no perfil buscado pelo clube.

Com a pré-temporada já em andamento – e sob as orientações de auxiliares de Dorival –, os dirigentes tentam reduzir ao mínimo possível a chance de erro na escolha de quem irá comandar a equipe no ano em que o São Paulo volta. Este processo envolve uma série de consultas e conversas com muitos treinador até a tomada de decisão.

Campeão da Sul-Americana e outros técnicos são entrevistados

É por isso que muitos nomes têm sido vinculados ao São Paulo desde a saída de Dorival Júnior. Um deles é o de Luis Zubeldia, argentino campeão da Sul-Americana pela LDU em 2023 e que inclusive eliminou o Tricolor na competição. O treinador acabou de deixar o clube e está livre no mercado. Por isso, a diretoria entrou em contato com ele para entender o que ele pensa sobre o futuro, além de questões táticas e de metodologia e das condições de negócio.

O Tricolor também entrou em contato com o português Pedro Martins, tricampeão grego pelo Olympiacos, e que hoje está no Al-Gharafa, do Catar. Ele já esteve na mira do clube em outras oportunidades, mas o que afasta ele do São Paulo é a questão financeira. O treinador já recusou ofertas de equipes da Inglaterra para seguir no Oriente Médio, justamente pela remuneração que recebe por lá.

Outro nome que esteve no radar é o de André Jardine, treinador com longa passagem como auxiliar no Morubmi e que até já assumiu a equipe. Mas ele acaba de ser campeão nacional pelo América do México e não tem interesse em deixar o futebol mexicano neste momento.

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Mercado escasso e recusas também emperram busca

Além das entrevistas, a demora na definição do novo treinador se dá também pelas dificuldades encontradas pelo São Paulo em um mercado inflacionado de opções escassas e profissionais valorizados. Muitos dos nomes que estiveram em pauta no São Paulo estão empregados e prestigiados em seus respectivos clubes.

É o caso dos dois alvos prioritários do São Paulo – o clube ouviu negativas de ambos. O plano A era Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza. A diretoria entrou em contato com o treinador e recebeu um “não” de imediato. O argentino repetiu a resposta que deu a outros clubes que tentaram tirá-lo do Leão do Pici e reforçou o compromisso de seguir no comando da equipe.

Depois, o Tricolor sondou a situação de Pedro Caixinha, técnico do Red Bull Bragantino. A resposta foi semelhante. A diretoria são-paulina ouviu de imediato que o técnico não pretende deixar o Massa Bruta. O português confia no projeto a longo prazo no clube e além disso tem uma multa rescisória alta a ser paga em caso de saída. Com a negativa, o Tricolor sequer avançou em contatos com o Bragantino.

A situação foi semelhante com António Oliveira, hoje técnico do Cuiabá,. Conforme apuração da Trivela, o clube sinalizou com uma oferta sobre valores ao treinador, e o profissional deve fazer uma contraproposta. Um impeditivo na negociação é a multa rescisória de R$ 5 milhões para tirá-lo do Cuiabá. Esta parte só entrará em discussão em caso de acerto anterior com o treinador. Thiago Carpini, do Juventude, foi outro nome sondado.

São Paulo contratou Crespo após série de entrevistas

As entrevistas, aliás, estão longe de ser novidade nas política de contratação de treinadores da atual gestão de Julio Casares. Foi em um processo semelhante a este que o clube buscou Hernán Crespo para assumir a equipe em 2021. O argentino chegou em fevereiro e conquistou o Campeonato Paulista daquele ano, mas não resistiu muito tempo: acabou demitido e substituído por Rogério Ceni no segundo semestre

A sucessão no cargo também é um fator que “tranquiliza” a diretoria. A avaliação interna é de que o clube acertou na hora de fazer trocas no comando com a temporada já em andamento. Foi assim com Dorival Júnior, que chegou em maio de 2023 e conduziu a equipe ao título inédito da Copa do Brasil.

Auxiliares de Dorival seguem no comando

Apesar das dificuldades no mercado, o São Paulo não está exatamente sem comando. Enquanto o Tricolor não define quem será o novo técnico para a sequência de 2024, os auxiliares Lucas Silvestre e Pedro Sotero serão os responsáveis por comandar as atividades com o elenco.

A dupla da comissão pessoal de Dorival permanece no ambiente do clube até a definição de quem será o substituto do técnico no cargo. Assim que o São Paulo anunciar seu novo treinador, eles deixam o clube e passam a trabalhar a serviço da CBF na Seleção.

O dedo do técnico na preparação do São Paulo para 2024 vai muito além disso. Dorival foi o responsável por tocar todo o planejamento do clube para este ano. Ele tomou as decisões sobre a montagem do elenco, seja na hora de definir as (muitas) saídas ou de buscar os três reforços anunciados até agora. O treinador se despediu do grupo e do clube após o treino do último domingo(7).

Auxiliar de Dorival, Lucas Silvestre comanda o treino do São Paulo (Rubens Chiri/saopaulofc.net)

A saída de Dorival para assumir a Seleção

O treinador de 61 anos era o principal alvo da entidade máxima do futebol brasileiro desde que Ednaldo Rodrigues reassumiu a presidência da CBF, após decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele ouviu os primeiros contatos do mandatário nos últimos dias e já demonstrava interesse em ser o sucessor do interino Fernando Diniz, demitido na semana passada.

– É a realização de um sonho pessoal, que só foi possível porque tive o reconhecimento do trabalho desenvolvido no São Paulo. Por isso tenho de agradecer por ter feito parte desse importante período de reconstrução, liderado com competência pela presidência e pela diretoria. Com o investimento na infraestrutura e o planejamento dos últimos anos, o Clube está preparado para receber os mais qualificados profissionais do mercado. Agradeço também à torcida por todo o carinho e apoio – disse o treinador, em nota oficial publicada pelo Tricolor.

 

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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