Brasil

Obcecado por trabalho, Coudet conduz um Internacional que tem o melhor aproveitamento entre clubes da Série A em 2024

Treinador do time da Série A do Campeonato Brasileiro com melhor aproveitamento até aqui em 2024, Eduardo Coudet demonstra ser obcecado pelo trabalho, e sua postura empolga a torcida colorada na busca por títulos

A semana do Internacional está sendo intensa. Depois de vencer o clássico Gre-Nal, no apagar das luzes, no último domingo (25), o Colorado viajou para Arapiraca/AL, onde na quarta-feira (28) estreou na Copa do Brasil com vitória sobre o ASA. Quem imaginava que o dia seguinte seria de descanso para os jogadores, se enganou: depois de desembarcar às 6h da manhã de quinta-feira (29) em Porto Alegre, os atletas foram direto para o CT Parque Gigante, onde treinaram.

O planejamento da comissão técnica colorada tem embasamento científico, à medida que as dores musculares costumam ser mais intensas no segundo dia após o jogo. E diz muito sobre o treinador Eduardo Coudet, que já havia adotado prática similar em sua primeira passagem pelo Internacional, em 2020, e é obcecado pelo trabalho.

Conforme relatos de bastidores ouvidos pela Trivela, Coudet é o primeiro a chegar e o último a sair do CT Parque Gigante. Não é incomum, após o sol se pôr no Guaíba e os jogadores terem ido embora, o silêncio do local ser interrompido pelos gritos do treinador, cuja silhueta com o boné do clube aparece com alguma ideia sobre treinamento, modelo de jogo, estratégia para a próxima partida, adversário ou jogador a ser contratado.

‘Chato', Coudet potencializa jogadores do Internacional

Essa atenção de Coudet aos mínimos detalhes pode ser vista tanto coletivamente, na forma como seu time se posta dentro de campo, quanto individualmente, na evolução que alguns jogadores apresentaram tecnicamente sob seu comando. É o caso de Maurício, que terminou a última temporada com um duplo-duplo e foi eleito o melhor em campo no último Gre-Nal. Em entrevista ao canal oficial do Inter, divulgada na última quarta-feira (28), o meia ressaltou o quanto o treinador argentino é ‘chato', mas no bom sentido.

— Três, quatro anos atrás, quando eu cheguei, ele estava aqui. Acabei que não peguei tanto assim, o trabalho dele não teve continuidade. Se não me engano foram 15 dias que eu tive de treinamento, mas já era um pouco parecido com o que tem hoje. Claro que eu vim numa situação diferente, eu era ainda muito novo. Estava ainda em adaptação no clube, outra cidade. O ano passado já estava em um momento diferente, e vejo ele como um cara que me ajuda bastante, fala para eu melhorar minhas qualidades e também algumas coisas que temos para melhorar, que ele sempre comenta bastante, não só comigo, mas com todos da equipe. Ele sempre fica sendo chato nesses aspectos, de sempre ter coisa para melhorar. Acho que isso faz com que a gente cada vez mais eleve o nível — elogiou Maurício.

Internacional tem o melhor aproveitamento entre clubes da Série A em 2024

Coudet tem muito mérito em um Internacional que passou a desempenhar melhor a partir de sua chegada, em julho do ano passado. Ele conduziu a equipe de volta a uma semifinal da Libertadores após oito anos, e terminou a temporada com quatro vitórias consecutivas no Campeonato Brasileiro, em que o Colorado patinou justamente por priorizar a competição continental.

Nesse início de 2024, o Inter tem o melhor aproveitamento entre os 20 clubes da Série A. Em 11 jogos, o time de Coudet soma nove vitórias, um empate e uma derrota. Marcou 21 gols e sofreu seis. Após a segunda vitória consecutiva em Gre-Nal, o Colorado garantiu o primeiro lugar da fase classificatória do Campeonato Gaúcho com uma rodada de antecedência.

É claro que muito disso passa pelo qualificado elenco que vem sendo montado pela direção colorado desde 2022, e que, da metade de 2023 para cá, foi acrescido com nomes como Rochet, Aránguiz, Bruno Henrique, Enner Valencia e, mais recentemente, Robert Renan e Lucas Alario. Ainda assim, é difícil de imaginar que, nas mãos de outro treinador — como o antecessor Mano Menezes, por exemplo — o Internacional jogaria um futebol dominante como tem acontecido.

O desempenho da equipe, e a postura alucinada do treinador, empolgam a torcida colorada. Mas Coudet sabe que precisa conquistar títulos para saciá-la e, assim, transformar a admiração que recebe em idolatria. Até porque o Inter não ergue uma taça sequer desde 2017.

Foto de Nícolas Wagner

Nícolas WagnerSetorista

Gaúcho, formado em jornalismo pela PUC-RS e especializado em análise de desempenho e mercado pelo Futebol Interativo. Antes da Trivela, passou pela Rádio Grenal e pela RDC TV. Também é coordenador de conteúdo da Rádio Índio Capilé.
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