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Como John Kennedy foi de herói a maior problema do Fluminense

Indisciplina faz John Kennedy virar decepção no Fluminense e ir de herói a maior problema do clube em poucos meses

O dia era 4 de novembro de 2023. Em um Maracanã lotado, o relógio marcava nove minutos da prorrogação na final da Libertadores quando tudo mudou. John Kennedy recebeu de Keno, chutou forte e se tornou herói do título do Fluminense. Uma história bonita de reinvenção que parecia terminar feliz. Mas que não só não acabou como poucos meses depois voltou a ser um problema para o clube.

Se foi chamado de Menino Rei pelos tricolores após marcar o gol mais importante da história do clube, John Kennedy preferiu ficar com o rei na barriga. Aos 21 anos e já ídolo do clube, como profetizara, o jogador acumula episódios de indisciplina no dia-a-dia, e agora, voltou na contramão do esperado: foi de herói a problema.

— Em relação aos jogadores, foi algo inadmissível, ainda mais nos tempos de hoje. A gente espera que sirva de correção para esses e para outros, para o futebol brasileiro levar mais a sério o futebol profissional — disse Fernando Diniz sobre a festa na concentração.

Não foi por falta de tentativa do Fluminense ou de Fernando Diniz. O técnico já desistiu do jovem uma vez e o clube chegou a emprestá-lo em 2023. O ano parecia de retomada: John Kennedy aproveitou a chance que teve, foi abraçado por lideranças do elenco e colocou seu nome na história. Mas em 2024, ele vê a indisciplina voltar a lhe atrapalhar, o clima azedar com seus companheiros, suas atitudes caírem mal internamente e sua família sofrer com a exposição.

A Trivela apurou que muito mais do que uma festa na concentração, John Kennedy cometeu diversos outros deslizes, decepcionou o clube e se tornou o maior problema do Fluminense. Todos querem o ajudar, mas o jovem de 21 anos, até aqui, não faz sua parte em 2024.

Clima azeda entre John Kennedy e companheiros

Embora negue a presença na festa, a indisciplina cometida por John Kennedy na concentração não foi a primeira — e nem a última do camisa 9 no Fluminense. Fato que azedou o clima entre o jogador e seus companheiros. Reincidente, ele já acumulava faltas e atrasos a treinos, mas como se esforça e muito nas atividades, o clube fazia vista grossa até os episódios de indisciplina aumentarem.

Lideranças do elenco como Felipe Melo, Marcelo e Paulo Henrique Ganso haviam abraçado John Kennedy em 2023 após seu retorno da Ferroviária, onde disputou o Campeonato Paulista. Ajudaram tanto que, após o atacante errar muito, o veem como uma grande decepção, conforme a Trivelapublicara na última semana.

Hoje, a relação entre o herói da Libertadores e outros atletas do elenco é fria, para dizer o mínimo. E a gota d'água foi a participação na festa. O que pioraria com a repetição de indisciplinas de John Kennedy mesmo após seu afastamento.

Mesmo afastado, John Kennedy cometeu outras indisciplinas

Após o afastamento pela festa na concentração, John Kennedy, engana-se quem pensa que o jogador mudou seu comportamento. O clube teve ciência de ao menos mais dois episódios de indisciplina do jogador que envolveram excessos na noite, atrasos e faltas a treinos.

Na madrugada de quinta para sexta-feira, ele esteve em uma boate na Barra da Tijuca e o vídeo acabou vazando. À comissão técnica, o camisa 9 afirmou que as imagens eram de outro dia. Pouco importa: no dia seguinte, John Kennedy chegou atrasado ao treino segundo apuração da Trivela.

Fluminense afastou John Kennedy e mais três jogadores por indisciplina - Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.
Fluminense afastou John Kennedy e mais três jogadores por indisciplina – Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.

O que já era ruim piorou no domingo, quando o jogador não apareceu para o treinamento, conforme informação publicada pelo canal Jornada 1902 que foi confirmada pela Trivela. E, até o fechamento desta reportagem, não justificou sua falta para o clube.

John Kennedy desmente clube sobre presença em festa

Em suas redes sociais, na noite de segunda-feira (29), John Kennedy negou ter participado da festa na concentração. À cúpula do futebol, havia confirmado estar no local em um primeiro momento. Dias depois, afirmou que apenas levou uma mulher até o quarto, mas não participou da festa.

A mensagem publicada em suas redes sociais pegou mal internamente. O Fluminense não se pronunciou oficialmente, mas fontes ouvidas pela reportagem não gostaram do tom utilizado e nem do fato de o jogador ter desmentido o clube.

Diniz pode ser última ponte de John Kennedy no Fluminense

Se decepcionou a todos no Fluminense, John Kennedy tem em Fernando Diniz uma de suas últimas pontes. Mas ela não está tão firme como no passado. O técnico, obviamente, também não ficou nada satisfeito com as atitudes do jogador, mas tenta fazê-lo cair na realidade.

Fernando Diniz abraça John Kennedy após o título da Libertadores do Fluminense: treinador tem relação especial com heroi da final - Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C
Fernando Diniz abraça John Kennedy após o título da Libertadores: treinador pode ser última ponte do atacante no Fluminense – Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C

A principal dificuldade de Diniz, entretanto, não é em convencer John Kennedy a voltar aos melhores dias. É fazer com que o elenco acredite no jovem de 21 anos novamente. O técnico está convicto em tentar e tem o apoio do presidente Mário Bittencourt e dos diretores Paulo Angioni e Fred. Em 2024, o treinador chegou a colocar o camisa 9 como capitão da equipe como demonstração de carinho, mas nada parece funcionar.

— Já conversei com ele duas vezes. E da minha parte vou fazer o máximo que puder por ele. É um grande talento e mais um daqueles jogadores, que, por trás, tem uma história de vida que, no futebol, ao invés da gente acolher a pessoa como um todo, a gente acolhe só o jogador. Essa é uma falha gigantesca que tem no futebol brasileiro — disse Diniz, em 2022.

No CT Carlos Castilho, comissão técnica e chefes do departamento de futebol não dão o jogador como caso perdido. Todos querem recuperar John Kennedy, mas veem a missão ficar cada vez mais difícil.

Foto de Caio Blois

Caio BloisSetorista

Jornalista pela UFRJ, pós-graduado em Comunicação pela Universidad de Navarra-ESP e mestre em Gestão do Desporto pela Universidade de Lisboa-POR. Antes da Trivela, passou por O Globo, UOL, O Estado de S. Paulo, GE, ESPN Brasil e TNT Sports.
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