O que pode acontecer com Augusto Melo após reprovação das contas no Corinthians?
Primeiro ano da gestão do atual presidente corintiano não teve o demonstrativo aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube

A reprovação das contas do primeiro ano da gestão de Augusto Melo na presidência do Corinthians pode levar o dirigente a um novo processo de impeachment.
Em votação realizada nesta segunda-feira (28), no Parque São Jorge, 130 conselheiros corintianos foram contrários à aprovação, 73 favoráveis e seis se abstiveram.
Com o resultado, o Conselho Deliberativo, através do presidente do órgão, Romeu Tuma Júnior, tem cinco dias para encaminhar o requerimento referente ao processo de destituição de Melo à Comissão de Ética e Disciplina.
É através da Ética que o mandatário corintiano terá a possibilidade de apresentar a defesa. A partir do recebimento da notificação, Augusto terá 10 dias para se proteger perante à Comissão, inclusive indicando possíveis provas.
Ao deixar o Parque São Jorge, o presidente corintiano citou o processo através da Ética. Ele demonstrou tranquilidade e indicou que apresentará documentos ao órgão.
– A gente está muito tranquilo, está tudo de boa, está tranquilo. Agora é provar na Ética o que teve nos documentos – disse brevemente.
Após o período dado à defesa, a Comissão de Ética e Disciplina do Corinthians terá 10 dias para emitir um parecer, que possui caráter consultivo, e enviá-lo à presidência do Conselho Deliberativo.
A tendência é que o rito até a reunião em que os conselheiros definirão pelo prosseguimento, ou não, do impeachment de Augusto Melo ocorra no intervalo de um mês.
Caso a maioria simples do Conselho seja favorável à destituição, será convocada, em até cinco dias, uma assembleia de sócios. O presidente, porém, fica afastado da função até essa votação.
A eleição entre os associados é a última instância que definirá a permanência, ou não, de Augusto Melo. Assim como entre os conselheiros, a decisão estará de acordo com a maioria simples do resultado.
Esse processo atende o artigo 107 do Estatuto Social do Corinthians e não possui relação alguma ao outro trâmite de impeachment aberto contra o mandatário corintiano.
O passo a passo do possível impeachment de Augusto Melo
- Presidente do Conselho Deliberativo, num prazo de cinco dias, encaminha requerimento com contas reprovadas à Comissão de Ética e Disciplina;
- Augusto Melo terá, então, 10 dias para apresentar sua defesa à Comissão;
- Comissão de Ética tem 10 dias para emitir um parecer, que possui caráter consultivo, e enviar ao Conselho Deliberativo;
- Conselho Deliberativo vota pelo impeachment do presidente;
- Caso a maioria simples seja favorável, o presidente é afastado e uma assembleia de sócios é convocada;
- A eleição entre sócios é a última instância que bate o martelo sobre o impeachment.
No dia 20 de janeiro houve uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo corintiano que votaria a destituição do dirigente com base nas investigações referentes ao “Caso Vai de Bet”.
No entanto, após uma série de confusões, o encontro foi suspenso e até hoje não foi remarcado.
O inquérito referente a possíveis crimes de corrupção na intermediação do acordo entre o Corinthians e a antiga patrocinadora máster do clube deve ser fechado na próxima semana.
Augusto Melo e outros ex-diretores (Marcelo Mariano e Sérgio Moura) devem ser indiciados por crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Caberá ao Ministério Público oferecer a denúncia ou optar pelo arquivamento do processo.
De todo modo, o possível indiciamento do presidente corintiano deve levar a pauta o processo de impeachment contra ele.
Conselho do Corinthians indica gestão temerária de Augusto Melo
Antes da reprovação no Conselho Deliberativo, as contas do Corinthians já não haviam sido aprovadas pela Comissão Fiscal e o Conselho de Orientação.
O Cori, inclusive, classificou a gestão corintiana como temerária em ofício no qual a Trivela teve acesso. O órgão relatou o aumento de R$ 829 milhões no passivo total do clube. Houve também elevação do passivo em R$ 300 milhões em relação ao aumento total do ativo do clube.
Os números divergem do que foi apresentado pela diretoria corintiana.
Segundo parte da apresentação do clube ao Conselho, que chegou à reportagem, o endividamento em dezembro de 2024 era de R$ 1,869 bilhão – superior em R$ 280 milhões ao ano anterior.
Deste montante, R$ 1,201 bilhão refere-se às dívidas da instituição e R$ 668 milhões à Neo Química Arena.

Ainda assim, a diretoria corintiana apontou R$ 191 milhões em dívidas e contingências com origem anterior a 2024, sendo os seguintes valores discriminados:
- Apropriação de juros do Profut: R$ 30,2 milhões;
- Contingências prováveis em 2023: R$ 56,2 milhões;
- Parcelamento do ISS junto à Prefeitura de SP: R$ 76 milhões
- Contingências de dívidas passadas: R$ 28,8 milhões.
Esses números também estão presentes no ofício do Cori.
Na apresentação ao Conselho Deliberativo, a diretoria corintiana também ressaltou os seguintes pontos:
- Ajuste no saldo devedor do parcelamento do Profut junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN);
- Contingências já existentes em 2023 como prováveis e não contabilizadas;
- Parcelamento do ISS sobre bilhete junto a prefeitura de São Paulo que já vinha sendo discutido pelas últimas gestões;
- Contingências referentes a dívidas geradas e acordos feitos em anos passados como, por exemplo, processos cíveis, trabalhistas, tributários e de âmbito esportivo (CNRD/FIFA/CAS).

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Diretor cultural responde por parte financeira em reunião
Com o pedido de demissão de Pedro Silveira do cargo de diretor financeiro do Corinthians, na última sexta-feira (25), alegando problemas de saúde, a diretoria foi representada por Raul Corrêa, diretor cultural.
A reportagem soube que Raul é cotado para assumir o departamento financeiro do clube alvinegro e teve grande atuação na montagem do demonstrativo apresentado aos conselheiros nesta segunda-feira (28).
Ainda que não tenha sido oficializado na nova função, ele foi autorizado pelo presidente Augusto Melo para responder pela gestão durante a reunião.
O superintendente financeiro Luiz Ricardo Alves, conhecido como Seedorf, também falou em nome da diretoria executiva.