Caso Vai de Bet: Entenda as divergências apresentadas pelo Presidente do Corinthians
Em depoimento à Polícia Civil, Augusto Melo contradisse versões de aliados e admitiu transações em conta bancária fora de São Paulo

Presidente do Corinthians, Augusto Melo entrou em contradição sobre a forma que conheceu Alex Cassundé, apontado como intermediário no negócio firmado pelo clube alvinegro com a “Vai de Bet”, antiga patrocinadora máster do clube paulista.
Segundo informações apuradas pela Trivela, o mandatário corintiano relatou que foi apresentado a Cassundé pelo ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e o ex-superintendente de marketing Sergio Moura em dezembro de 2023, no Parque São Jorge.
A declaração contradiz afirmações anteriores do próprio Augusto sobre a relação com o dono da Rede Social Media Design LTDA, empresa computada em contrato como a responsável pelo elo entre o Timão e a “Vai de Bet”.
Diferentemente do que afirmou durante o interrogatório à Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo nesta quarta-feira (16), o presidente do Corinthians disse em entrevista ao programa “Fantástico”, da TV Globo, no dia 19 de janeiro, que nunca teve contato com Cassundé.
– Nenhuma (relação). Nunca tive contato. Não tenho telefone. Nunca sentei numa mesa – pontuou Augusto.
Já em maio de 2024, durante entrevista ao “Canal do Benja”, Augusto Melo disse ter visto Alex Cassundé “duas vezes na vida” e contou como negociou o percentual de comissão com ele.
– Ele (Cassundé) trouxe porque conhecia a gente. É normal em uma empresa, um amigo ou conhecido trazer possíveis parceiros. A empresa pergunta: ‘você tem acesso no clube?’ e ele fala quem conhece. Isso é normal. Vi esse Alex (Cassundé) duas vezes na vida. Sobre os valores, eles pediram 20%, bati o pé, pelo valor ser muito alto, e pedi 5%. No fim, fechamos em 7% – declarou o presidente corintiano à época.
Depoimento de Augusto Melo diverge com os de aliados
Ainda que Augusto Melo tenha reforçado o discurso de que Alex Cassundé foi o intermediário no negócio entre Corinthians e “Vai de Bet”, alguns relatos do dirigente divergiram com os dos aliados Marcelo Mariano e Sérgio Moura.
Conforme soube a Trivela, o presidente corintiano apresentou a quarta versão sobre a negociação com a casa de apostas, que divergiu com os depoimentos de Mariano, Moura e Cassundé. O contato inicial com Alex, sobre o qual o próprio presidente se contradiz, é um desses pontos de desconexão.
Em nenhum momento Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé apresentaram elementos que comprovem a intermediação.

Em paralelo ao discurso do presidente coritiano e os ex-diretores do clube, que garantem que Cassundé intermediou o negócio entre o Corinthians e a “Vai de Bet”, o dono da empresa de apostas apresentou outra versão.
Em depoimento concedido à Polícia Civil no último dia 12 de dezembro, José André da Rocha Neto disse não conhecer Alex Cassundé e revelou que a intermediação do acordo com o Timão foi costurada pelo empresário Antonio Pereira dos Santos, conhecido como Toninho Duettos.
Em entrevista concedida à “Gazeta Esportiva”, em janeiro, Toninho confirmou a versão de Rocha Neto e declarou ter sofrido um golpe de Marcelo Mariano.
Segundo a versão apresentada por Duettos, o então diretor administrativo do Corinthians teria inserido a Rede Social Media Design LTDA, empresa de Alex Cassundé, no lugar que seria do empresário goiano.
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Augusto Melo reconhece transações, mas não conta em Santa Catarina
No último domingo (13), a “Gazeta Esportiva” teve acesso ao relatório do Controle de Atividades Financeiras (COAF), presente no processo do “Caso Vai de Bet”, que aponta a existência de uma conta bancária no nome de Augusto Melo em Blumenau, cidade de Santa Catarina.
A Trivela confirmou a existência deste documento e trouxe que o presidente corintiano negou veementemente a existência da conta.
Posteriormente, a reportagem também informou que, ao ter acesso à íntegra dos autos, a defesa do dirigente passou a trabalhar com a possibilidade de fraude.
Conforme apuração da Trivela, Augusto foi questionado sobre a conta durante o interrogatório à Polícia Civil e reconheceu algumas transações registadas. Porém, ele manteve o discurso de que não possuia o objeto bancário em questão.
– A gente mandou investigar agora (a conta em Santa Catarina). Nunca estive em Blumenau. Não tenho conta alguma a não ser no meu banco aqui (em São Paulo, aqui. Já comparamos as minhas contas, agência. Não tem nada nesse sentido. Que seja investigado. Agora quem quer essa investigação sou eu – disse Augusto Melo na saída da 3ª Delegacia Especializada em casos de Lavagem de Dinheiro.
A Polícia Civil pretende encerrar o inquérito sobre o “Caso Vai de Bet” na primeira semana de maio.
A tendência é que Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé sejam indiciados por crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee pode responder por omissão.
Após o fechamento do inquérito, o processo é encaminhado ao Ministério Público, que, por meio de um promotor de Justiça, pode oferecer a denúncia ou optar pelo arquivamento.
O MP/SP acompanha o caso desde o início através da participação do promotor Juliano Carvalho Atoji, dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).