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Dos pés a cabeça: Entenda como vai funcionar a SAF do Atlético-MG

CEO e presidente do Atlético deram coletiva para explicar como vão acontecer as coisas no clube agora que ele é uma SAF

O Atlético-MG realizou uma coletiva de imprensa, com o presidente Sérgio Coelho e o CEO Bruno Muzzi, para explicar como a SAF do clube, que entrou em vigor no dia 1° de novembro, vai funcionar. Qual a estrutura, as ideias, os projetos internos, como pagamento da enorme dívida, e os externos, como o aporte no futebol, e muito mais foi debatido. A Trivela esteve presente e te explica como o Galo vai seguir agora como clube-empresa.

O primeiro ponto é a estruturação da SAF do Atlético. Quando aprovada, a Trivela fez também um levantamento para explicar como as coisas seguiriam. De lá pra cá, algumas coisas sofreram alterações e outras foram adicionadas ou retiradas. A porcentagem de divisão entre Associação e SAF segue a mesma, sendo 25% e 75%, respectivamente. Dentro da SAF, há uma repartição entre os acionistas da Galo Holding, constituídos pelo então mecenas do clube e dois fundos de investimento. Confira:

Galo Holding

  • 67,90% da 2Rs – Rubens e Rafael Menin
  • 10,27% de Ricardo Guimarães
  • 10,91% FIP Galo Forte
  • 10,91% do FIGA – torcedores

O FIP Galo Forte é do empresário Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Já o FIGA é um fundo com muito mais investidores, que podem entrar no negócio com aportes a partir de R$ 1 milhão. Esse último, inclusive, ainda está em processo de captação de recursos. Até por isso o Galo recebeu “só” R$ 500 milhões dos R$ 600 milhões previstos. Bruno Muzzi disse que espera que espera que o fundo seja preenchido integralmente ao longo de 2024. Mesmo com R$ 100 milhões a menos, o Atlético já trabalha para utilizar o dinheiro recebido em pagamento de dívidas. É a prioridade máxima do clube.

A estrutura da SAF do Atlético

Dentro da SAF atleticana, haverá uma hierarquia de funções, como mostra a imagem abaixo. Bruno Muzzi detalhou quem estará presente na gestão de cada uma dessas partes da estrutura. Vale destacar que Sérgio Coelho revelou, depois de ter dito que não pretendia, que vai ser candidato a reeleição para presidente do Atlético. A votação acontece no dia 12 de dezembro.

Organograma da SAF do Atlético (Reprodução)

Conselho de Administração – 9 membros (7 SAF + 2 Associação)

  • Rubens Menin – membros dos 4Rs e sócio majoritário da SAF
  • Rafael Menin – membros dos 4Rs e sócio majoritário da SAF
  • Ricardo Guimarães – membros dos 4Rs e sócio minoritário da SAF
  • Renato Salvador – membros dos 4Rs e sócio minoritário da SAF
  • Daniel Vorcaro – sócio minoritário da SAF através de um fundo de investimento (FIP Galo Forte)
  • Gustavo Drummond – membro do conselho deliberativo, responsável pela área de risco do clube e representante da 2Rs
  • Marcelo Patrus – sócio minoritário da SAF através de um fundo de investimento (FIGA)
  • Sérgio Coelho – presidente da associação*
  • José Murilo Procópio – vice-presidente da associação*

*Os cargos da Associação serão das duas pessoas que ocuparem as cadeiras de presidente e vice do Atlético, ou seja, vão variar se os eleitos mudarem

O que fazem?

– Você tem matérias no acordo de acionistas que são determinadas pelo Conselho de Administração. Então se eu tenho movimentações acima de R$ 50 milhões, preciso subir para o conselho, grau de endividamento, patrocínio acima de X milhões, são uma série de questões que são determinadas. Temos um escritório de advocacia que nos ajuda a fazer essa governança – explicou Muzzi.

Conselho Fiscal

  • Thiago Lott
  • Paulino Leite
  • Alexandre Vilela

O que fazem?

É um órgão independente  que fiscaliza o cumprimento das normas legais e do estatuto de uma empresa.

Comitê de Gestão do Futebol

  • Presidente Sérgio Coelho
  • Diretor de futebol Rodrigo Caetano
  • CEO Bruno Muzzi
  • Investidores da SAF: Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador

O que fazem?

O comitê de gestão do futebol basicamente vai discutir sobre todas as questões que envolvem o futebol do Atlético, como contratações, vendas, renovações e outros assuntos do campo e bola. Como são seis membros, caso haja um empate, o voto final será de Sérgio Coelho. Bruno Muzzi explicou que está nesse grupo mais como a voz das finanças, que vai explicar sobre o que o clube pode ou não gastar financeiramente.

Desde que a SAF foi aprovada e Sérgio Coelho soube que passaria a cuidar mais da parte do futebol, ele tem estado mais presente na Cidade do Galo para acompanhar treinos e conversar com a comissão (Pedro Souza/Atlético)

Auditoria Externa

Já há atualmente no Atlético uma auditoria externa que faz a análise de tudo que acontece no clube e, na SAF, essas análises serão trimestrais.

Na parte inferior do organograma, esses são os líderes de cada setor

  • Administrativo Financeiro (Thiago Maia)
  • Futebol (Rodrigo Caetano – Comitê)
  • Operações (Rodrigo Messano)
  • Institucional e Comunicação (Andre Lamounier)
  • Jurídico (não definido)*
  • Marketing e Negócios (não definido)**
  • Infraestrutura (Carlos Antônio Pinheiro)
  • Inovação – PMO e TI (CEO)

*Luiz Fernando Pimenta, antes no comando, tem um escritório próprio e a SAF precisa de uma dedicação 100%
**Leandro Figueiredo deixou o clube recentemente e não há um substituto ainda

Os pilares da SAF do Atlético

Bruno Muzzi fez questão de deixar claro que a SAF do Atlético, pelo menos nesse início, de três ou quatro anos, será em função da reestruturação do clube. Para isso, eles vão se basear em cinco pilares. O CEO elencou e explicou cada um deles:

  • Fluxo de caixa operacional positivo

– O Atlético não tem um resultado operacional positivo, e a gente precisa rever isso. É bem complexo, temos diversas metas dentro dessa única, como a redução de custos em várias áreas. Temos um orçamento detalhado com muitas coisas a serem feitas. Vamos poder acompanhar esse processo através das nossas demonstrações de resultado, que chamamos de geração de EBITDA recorrente, que nada mais é que o resultado diante de impostos, depreciação e amortização.

– A gente tira desse resultado a venda de atletas e também as depreciações relacionadas a esses contratos. Isso significa que é de fato um resultado operacional, eu não quero comprometer venda de atletas para fazer com que essa receita pague a operação do clube. Receita que nós obtivemos com venda de atletas precisam ser revestidas em aquisição de atletas. É uma meta ousada, mas que precisamos persegui-la a todo custo.

  • Reestruturação do endividamento

– Todos sabem que o endividamento do Atlético ainda é muito alto, a gente tem o CRI da Arena MRV, dívidas bancárias que estão sendo amortizadas, mas a gente precisa melhorar esse perfil de dívida. Negociar com banco, credores, etc

– Preocupa bastante a gente. Vamos utilizar o aporte para o pagamento de dívidas. Precisamos reestruturar para tentar melhorar juros mais baratos, alongar mais para ter parcelas menores. A partir do momento que eu tenho um fluxo de caixa não negativo, ele não aumenta o meu endividamento. A minha primeira missão é melhorar esse perfil da dívida. A missão para 2024 é estancar essa situação. Se a gente consegue estruturar isso, podemos ter um novo aporte de um novo investidor para acelerar ainda mais a amortização da dívida.

  • Implementação do plano de otimização de custos

– A gente fez um estudo nas últimas cinco semanas, um plano ousado de redução, cada uma das áreas e diretores tem seu plano de redução, para que a gente possa transformar esse fluxo de caixa operacional em positivo.

  • Maximização dos resultados da Arena MRV

– Com oito jogos na Arena, na nossa análise, estamos melhorando a cada dia. Não vamos fazer a Arena funcionar de forma perfeita em um ou dois anos. A gente precisa de prazo, mas a gente já vem demonstrando essa capacidade de geração. Uma das fontes de receita importantes é a bilheteria. Temos custos de segurança e limpeza, que são muito importantes. Temos questões estruturais na Arena também, que é a quantidade de segurança que precisamos ter. Esses dois custos são os mais importantes e representam uma média de R$ 215 mil por jogo, mais R$ 100 e pouco mil de limpeza. Representa algo grande e passamos a tentar achar alternativas.

  • Implantação do novo planejamento estratégico

– É uma discussão constante e cada vez mais alinhada com o comitê do futebol, como eles enxergam o futebol do Atlético daqui pra frente. Isso vem sendo construído e a discussão tem sido em ótimo nível.

O futebol para a SAF

A Trivela já informou nesta terça (14) alguns detalhes do planejamento do Atlético para o futebol, como as metas orçamentárias e a ideia de que todo o dinheiro que sair do futebol seja reinvestido nele mesmo. Para 2024, o Atlético pretende ter R$ 500 milhões de orçamento, sendo R$ 400 milhões apenas para o futebol. A folha salarial será na casa de R$ 210 milhões, bem próximo da folha atual (R$ 212 milhões) e o clube deve ter cerca de R$ 40 milhões para investimentos.

Uso da base do Atlético

Uma das grandes reclamações dos últimos anos e, principalmente em 2023, é a baixa minutagem que jogadores da base do Atlético têm tido. Recentemente, o clube apresentou para a imprensa as mudanças e a evolução que ocorreram na atual gestão. No entanto, elas ainda não refletem no profissional. Muzzi afirmou que sabe que estão devendo nesse sentido, e Sérgio Coelho lembrou que isso demanda tempo, mas que a SAF vai trabalhar melhor para ter um mínimo de atletas no elenco profissional.

– É um processo longo. Estamos fazendo essa reformulação. Já estamos colhendo alguns frutos. Para se ter uma ideia, o investimento na base em 2020 era R$ 13 milhões e hoje são R$ 27 milhões, ano que vem vai ser R$ 30 milhões. Estamos trabalhando para a base fornecer jogadores para o elenco principal, mas é um processo lento. O projeto da SAF é ter algo próximo de 30% do elenco principal de jogadores formados na base – disse o presidente.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick se formou em Jornalismo na PUC Minas em 2021. Antes da Trivela, passou por Esporte News Mundo, EstrelaBet e Hoje em Dia.
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