Brasileirão Série A

Crise bate à porta de um São Paulo prestes a decidir o ano em dois jogos

São Paulo não vence há 5 jogos, mas Dorival sabe o que fazer para transformar pior momento da temporada em classificações

Lucas Moura chegou, vestiu a camisa 7 e já estreou. James Rodríguez teve a chance de sentir na pele o calor e o barulho de um Morumbi lotado por 53 mil almas são-paulinas. O São Paulo tinha tudo para estar se não em polvorosa, ao menos esperançoso com o que está por vir em 2023. Mas às vésperas das duas decisões que valem o ano para a equipe de Dorival Júnior, o clube respira apenas entre o alerta e a preocupação com uma crise que já bate à porta do Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

A turbulência tem números expressivos. São cinco jogos sem vitórias, com quatro derrotas no meio do caminho. A última delas veio neste domingo (6), por 2 a 0 para o Atlético-MG, pelo Brasileirão. Os são-paulinos tiveram muito mais a amargar do que o resultado adverso justo no dia em que Lucas voltou a pisar o gramado do Morumbi após 11 anos.

O pior momento da temporada – e desde setembro de 2022 – coincide com os jogos mais decisivos desta mesma temporada. Nos próximos dez dias, o São Paulo jogará para manter vivas as duas chances que tem de ser campeão em 2023.

São duelos no Morumbi com San Lorenzo, na próxima quinta-feira (10), pelas oitavas de final da Sul-Americana, e Corinthians, no dia 16, pela semifinal da Copa do Brasil. Duas decisões de mesmo contexto: a equipe terá de reverter derrotas por um gol de diferença sofridas fora de casa nas partidas de ida.

O primeiro passo é admitir

Se existe um ponto de conforto em meio à turbulência, ele está nas palavras de Dorival Júnior. O treinador sequer faz menção de mascarar as adversidades e as aborda com a lucidez de quem trabalha para solucionar os problemas o quanto antes. A sua entrevista coletiva após a derrota para o Atlético-MG é prova disso.

A primeira pergunta foi sobre a preocupação com o momento do time. E Dorival nem titubeou. Admitiu de imediato que, sim, está preocupado com os resultados recentes. E apenas com os resultados recentes, não com o desempenho da equipe.

– Natural. A preocupação existe. Ela não pode se tornar uma obsessão. Porque o São Paulo não tem feito jogos ruins. Temos pecado em momentos de finalizações. Temos tido posse de bola, temos tentado criar e temos dificuldades nas finalizações. É natural que isso passe a preocupar. Mas não podemos criar em cima de duas decisões, o ambiente em que tudo seja negativo. Tenho que procurar acalmar toda a situação no vestiário e fazer com que nós não joguemos fora tudo aquilo que foi realizado – afirma um preocupado (mas não tanto) Dorival Júnior.

Em mais de uma resposta, o treinador chegou a atrelar algumas das quatro derrotas nos últimos jogos ao “inexplicável”, a lances decididos “no detalhe”. Mas o próprio Dorival sabe bem os motivos para que as vitórias tenham desaparecido do vocabulário recente no Morumbi.

O São Paulo das duas últimas partidas foi um time de uma nota só. A equipe teve posse de bola, ocupou o campo de ataque e rondou a área adversárias. Comportamentos típicos de quem sufoca os rivais e leva perigo com uma postura agressiva. Mas o Tricolor, tão confiante em outros momentos, foi consumido pela ansiedade na hora de finalizar as jogadas e mal assustou San Lorenzo e Atlético-MG.

– O São Paulo não perde em momento algum a organização. Agora, é inexplicável quando o resultado não acontece. É preocupante neste quesito. O time jogando com equilíbrio, segurança. Com muita regularidade. Temos que manter os pés no chão. Porque é só a primeira bola entrar, que as coisas voltam à normalidade. É uma ansiedade natural. Isso acontece com qualquer equipe. Quando quer acelerar em demasia, pode passar do ponto. Com tranquilidade, as coisas podem ficar mais fáceis. A falta de gol tem trazido ansiedade. É tudo questão de um pouco mais de consciência e tranquilidade – pondera Dorival.

“Nesse momento, demos uma caída. Aconteceu, mas não deixamos de jogar. De botar a bola no chão. Isso me deixa muito confiante. Os gols vão acontecer. É questão de capricho maior, pequenos detalhes que fazem a diferença. A equipe não deixou de fazer as coisas que vinham acontecendo. Tem situações que não tem como explicar” (Dorival Júnior)

Uma prova de que é “só a bola entrar” para a má fase acabar está nos números da partida contra o Atlético-MG. O São Paulo beirou os 70% de posse de bola e teve quase o triplo de finalizações na comparação com o adversário. Mas a equipe só acertou o gol três vezes, contra duas do rival – que fez dois gols e ganhou o jogo.

ESTATÍSTICAS DE SÃO PAULO 0 X 2 ATLÉTICO-MG

  • Posse de bola: São Paulo 68% x 32% Atlético-MG
  • Chutes: São Paulo 18 x 7 Atlético-MG
  • Chutes no gol: São Paulo 3 x 2 Atlético-MG
  • Gols: Atlético-MG – Hulk (03′) e Pavón (69′)

O ápice veio cedo demais?

A equipe viveu a melhor atuação do ano, um manifesto de futebol por Dorival Júnior, ao eliminar o Palmeiras no Allianz Parque na Copa do Brasil. Veio o jogo seguinte, uma goleada no clássico contra o Santos, e parecia, de fato, que o São Paulo estava destinado a um título em 2023.

O problema é que de lá para cá, o time simplesmente parou de vencer. Amarga quatro derrotas e um empate em cinco jogos. Trata-se do maior jejum de vitórias do Tricolor em quase um ano. Entre 18 de agosto e 4 de setembro de 2022, foram seis partidas de seca.

O São Paulo hoje dá impressões de que encaixou “cedo demais”, ou de que viveu seu ápice com muito ainda por vir na temporada. Mas Dorival foge desta máxima. O treinador sabe que a temporada é feita de oscilações e que todos os rivais também passarão por momentos de instabilidade.

Cabe ao São Paulo transformar a instabilidade em uma retomada rumo aos títulos em 2023. Primeiro contra o San Lorenzo, depois, contra o Corinthians. Do contrário, as contratações de Lucas Moura e James Rodríguez e a melhor janela de transferências do país servirão apenas para brigar por vaga na Libertadores de 2024.

Quando serão as decisões?

O São Paulo enfrenta o San Lorenzo na próxima quinta-feira (10), às 19h (horário de Brasília), no Morumbi, pelo jogo da volta das oitavas de final da Copa Sul-Americana. A equipe perdeu o jogo de ida por 1 a 0 na Argentina.

Na Copa do Brasil, a semifinal contra o Corinthians está marcado para o dia 16 de agosto, às 19h30, no Morumbi. A equipe perdeu o duelo de ida por 2 a 1 em Itaquera.

A equipe precisa fazer o mesmo nas duas competições para avançar de fase: ganhar por dois gols de diferença. Em caso de vitória por um gol, a decisão vai para os pênaltis.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo Deconto

Eduardo Deconto nasceu em Porto Alegre (RS) e se formou em Jornalismo na PUCRS. Antes de escrever para a Trivela, passou por ge.globo e RBS TV.
Botão Voltar ao topo