Felipão no Atlético-MG: dos nove jogos sem vencer aos nove jogos de recuperação
No recorte igual, de novo jogos, o Atlético de Felipão saiu de uma sequência péssima para uma muito boa
O técnico Felipão teve um dos piores inícios de alguém no comando do Atlético-MG, passando nove jogos sem vencer. Agora, com mais nove jogos na conta, ele conseguiu reerguer o time e colocá-lo na briga por uma vaga na Libertadores. A Trivela analisa as duas metades da passagem do treinador pelo Galo até o momento.
No futebol, é comum as análises com recortes a cada cinco ou 10 jogos, mantendo um padrão. Como Felipão passou nove jogos sem vencer e agora está em uma boa sequência de também nove jogos, esse vai ser o recorte. O treinador foi do inferno aos céus, e tem grandes méritos nisso, mas ainda segue deixando a desejar em algumas coisas.
Os primeiros nove jogos de Felipão no Galo | Os últimos nove jogos de Felipão no Galo |
1 x 1 Fluminense – Campeonato Brasileiro 1 x 2 Fortaleza – Campeonato Brasileiro 1 x 1 Libertad – Copa Libertadores 2 x 2 América – Campeonato Brasileiro 0 x 1 Corinthians – Campeonato Brasileiro 0 x 0 Goiás – Campeonato Brasileiro 0 x 1 Grêmio – Campeonato Brasileiro 1 x 2 Flamengo – Campeonato Brasileiro 0 x 1 Palmeiras – Copa Libertadores |
2 x 0 São Paulo – Campeonato Brasileiro 0 x 0 Copa Libertadores (eliminado) 1 x 0 Bahia – Campeonato Brasileiro 0 x 1 Vasco – Campeonato Brasileiro 2 x 0 Santos – Campeonato Brasileiro 1 x 1 Athletico-PR – Campeonato Brasileiro 1 x 0 Botafogo – Campeonato Brasileiro 1 x 0 Cuiabá – Campeonato Brasileiro 2 x 0 Internacional – Campeonato Brasileiro |
O péssimo início de Felipão
Felipão chegou ao Atlético para substituir Eduardo Coudet, que surpreendentemente deixou o time em julho. Antes mesmo de conseguir dar um treino, Scolari já estava à beira do campo comandando o Galo em uma partida. Na estreia, empate em 1 a 1 com o Fluminense. O brasileiro “deu azar” que encarou logo três jogos fora de casa. Depois do Flu, foi derrotado pelo Fortaleza e empatou com o Libertad, pela Libertadores, o que foi suficiente para classificar o alvinegro para a fase mata-mata.
Felipão então teve dois jogos em casa para vencer pela primeira vez, mas empatou o clássico com o América-MG, após abrir 2 a 0, e perdeu para o Corinthians. Na sequência ruim, ainda empatou com o Goiás e perdeu para Grêmio e Flamengo. Tudo pelo Brasileiro. A fase péssima teve seu último capítulo no primeiro jogo das oitavas de final da Libertadores, quando o Galo perdeu em casa para o Palmeiras.
A explicação para o início ruim
Uma sequência tão ruim como a que Felipão teve no início do Atlético é difícil de explicar, mas há alguns pontos que podem ajudar a entender. O primeiro, sem dúvidas, é a mudança de estilo de jogo. O elenco atleticano foi montado por Coudet, que tem uma forma de ver o futebol completamente diferente da que Felipão tem. O argentino não costuma usar pontas, prefere ter dois atacantes, usa apenas um volante, faz pressão alta, tudo ao contrário do que gosta Scolari. Essa diferença foi claramente algo que afetou o time, que precisou “recalcular rota” no meio da temporada e se adaptar a um novo estilo.
Outro ponto é o afastamento de Hulk e Paulinho. Com Coudet, que usava uma formação com dois atacantes, a dupla ficava mais perto em campo, conseguindo se encontrar em várias ocasiões, gerando chances e gols para o time em todos os jogos. Quando Felipão chegou, ele optou por uma escalação com três atacantes, colocando Paulinho para jogar mais aberto e Hulk centralizado, o que afastou os dois jogadores, fazendo com que o rendimento deles, principalmente do camisa 10, caíssem.
Com Hulk e Paulinho mais distantes, o Atlético teve queda ofensiva, principalmente na eficiência. No período dos primeiros nove jogos de Felipão, o Galo marcou apenas seis gols, sendo apenas um gol de cada um deles. Mas o alvinegro não sofreu só ofensivamente, a defesa, que sempre foi um ponto forte dos times de Scolari, também sofreu. O clube passou apenas um jogo sem ser vazado durante o início do treinador, mostrando uma deficiência no setor.
O renascimento do Atlético de Felipão
A sequência ruim de Felipão no comando do Atlético terminou no dia 6 de agosto, quando venceu o São Paulo, fora de casa, por 2 a 0. Mas a retomada foi rapidamente freada dias depois, quando o Galo empatou com o Palmeiras e foi eliminado da Copa Libertadores sem dar um chute sequer ao gol do adversário. Parecia ali que a partida contra o Tricolor Paulista tinha sido uma exceção.
No jogo seguinte, o Atlético voltou a respirar ao vencer o Bahia em casa, a primeira vitória de Felipão como mandante no clube. A derrota para o Vasco na rodada seguinte, em um Maracanã lotado, pareceu novamente um balde de água fria em uma retomada na temporada, mas não afetou o alvinegro. O Galo estreou na Arena MRV na rodada seguinte e, desde então, não perdeu mais. Venceu Santos, Botafogo e Cuiabá na sua nova casa, empatou com Athletico-PR e venceu o Internacional, no Beira-Rio, na última rodada.
O que explica a retomada atleticana?
Como citado mais acima no texto,Felipão chegou ao Atlético com uma ideia de futebol completamente diferente da que Coudet tinha implementado no clube. Para estabelecer seu estilo, Scolari precisou de tempo. Nesse sentido, estar eliminado das copas foi bom, pois ele teve semanas cheias para trabalhar o time no seu modelo. O Galo ainda não está perfeitamente adequado ao estilo do brasileiro, mas mostra claros sinais do dedo do treinador.
A primeira importante mudança de Felipão foi incluir um segundo volante ao time. O escolhido foi Otávio, que ajudou a proteger mais a defesa atleticana e dar consistência para o setor. Como também citado, ter defesas sólidas é uma das principais características dos times do experiente treinador.
Outra alteração de Felipão foi voltar a aproximar Paulinho e Hulk. Mesmo utilizando três atacantes, com Pavón sempre titular, o treinador deu um jeito de ajustar sua formação para fazer a dupla jogar perto de novo. O resultado foram quatro gols de Paulinho com assistência de Hulk, todos garantindo vitórias para o Galo.
🔎| Curiosidade:
Paulinho e Hulk formam a dupla com mais participações em gols (58) da Série A em 2023.
A interação de gols Hulk dando assistência para Paulinho marcar gol também é a maior da 1ª divisão, com 8. 🤝🔥Paulinho: 47 jogos, 21 gols, 6 assistências e Nota Sofascore… pic.twitter.com/6YnGm7IBfs
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) September 24, 2023
A consistência defensiva e a eficiência no ataque marcam essa segunda metade de Felipão no Atlético. O time sofreu apenas dois gols nesses nove jogos, sendo atualmente a segunda melhor defesa do Brasileirão. No ataque, 10 gols, média pouco maior que um gol por jogo, o que reflete o que é o time em campo, que não cria muito, mas consegue concluir em gol o que cria.
O que ainda pode melhorar no Atlético de Felipão?
Apesar dos resultados, que no fim das contas são o que importa, o Atlético de Felipão não tem muito brilho, não encanta ao jogar. Pelo contrário, é um time que muitas vezes é dominado pelo adversário, sofre até o fim e cria pouco. Pelo potencial da equipe, o treinador, agora que vive uma fase mais tranquila, já pode pensar em fazer o time jogar mais bola, vencer sem passar sufoco e dominar os rivais.
Para isso, Felipão pode “dar mais coragem” ao time. O Atlético tem recuado quase sempre que abre o placar, chamando o adversário para cima e abrindo mão de atacar. Cabe ao treinador dar ao time a coragem para seguir em cima dos rivais mesmo com a vantagem no placar, buscando mais gols. Não há rival melhor para isso do encarar em casa o lanterna e pior defesa do campeonato, que é justamente o próximo jogo do Galo, recebendo o Coritiba no domingo (8), na Arena MRV.