Ásia/Oceania

A ida de Neymar para Arábia Saudita tem um grande vencedor: o PSG

PSG esperou o momento certo para negociar Neymar com a Arábia Saudita; Atacante pouco fez para seguir na Europa

Parece ser consenso de que a ida de Neymar para o Al Hilal é uma frustração. Aos 31 anos, o maior craque brasileiro de sua geração e um dos jogadores mais talentosos da história parece mesmo que não atingirá toda expectativa que um dia gerou nos apaixonados por futebol, além de ser um adeus precoce ao mais alto nível do esporte. A chegada na Arábia Saudita é uma derrota para o craque, que não terá a carreira ou reconhecimento que poderia. Por outro lado, foi uma grande, e pouco falada, vitória do Paris Saint-Germain.

A negociação do camisa 10 foi exatamente como o PSG gostaria. Por mais que o nome de Neymar estivesse sempre envolvido em especulações (algumas um tanto quanto sem sentido), tudo indicava que o brasileiro seguiria na capital francesa. No último dia 7, o pai e empresário do atacante desmentiu a informação do jornal francês L’Équipe de que Neymar teria pedido para deixar o clube. Antes disso, o próprio jogador havia rechaçado qualquer possibilidade de deixar Paris nesta janela de transferências, dizendo até que o êxodo de atletas renomados para Arábia Saudita e Estados Unidos não o influenciava, em entrevista ao streamer e influenciador Casimiro gravada em 22 de junho.

— Cara, espero que (a próxima temporada) seja no PSG. Tenho contrato com o Paris Saint-Germain, até agora ninguém me informou nada. Não (influencia, a ida de jogadores para Arábia Saudita e MLS), está tranquilo. Por mais que não tenha muito amor entre torcida e jogador, estarei lá. Com amor ou sem amor, mas com Neymar — disse na ocasião.

Teoricamente nos planos do clube, Neymar viajou com o restante do elenco do PSG para a excursão asiática de pré-temporada. Se recuperando de uma cirurgia de reparação dos ligamentos do tornozelo direito, só participou do último amistoso da equipe, contra o Jeonbuk Motors, da Coreia do Sul. O atacante foi o grande destaque da vitória por 3 a 0, marcando dois gols e dando uma assistência.

Até então, o futuro de Neymar parecia ser mesmo no Paris Saint-Germain, com quem tinha contrato até 2027. A estrela que aparentemente estava de saída era Kylian Mbappé, que ficou fora da viagem para Japão e Coreia do Sul e foi afastado dos treinamentos. Então, o que mudou na última semana?

PSG esperou hora perfeita para vender Neymar

Mesmo com Neymar afirmando publicamente que gostaria de permanecer no PSG até o fim de seu contrato e se destacando no último amistoso de pré-temporada, a emissora RMCSport publicou na última quarta-feira (9) que o jogador foi informado que estava fora dos planos do clube francês pelo técnico Luis Enrique e pelo diretor Luis Campos.

O momento para tornar público o desejo de negociar o craque foi escolhido perfeitamente pelo Paris Saint-Germain. Já seria difícil para qualquer clube arcar com o valor de transferência pedido pelo clube, algo em torno de €90 milhões, e com o salário astronômico de Neymar. Na França, o brasileiro recebia cerca de €3,67 milhões mensais.

Depois de mais de um mês da abertura da janela de transferências, então, ficou quase impossível de algum grande clube realizar uma oferta por Neymar. A maioria dos recursos financeiros das grande potências do futebol europeu já tinham sido destinados em outras contratações. Investir pesado em um atleta de 31 anos e com histórico recorrente de lesões nas últimas temporadas também não era vantajoso, por mais qualificado que seja o atacante.

O Paris Saint-Germain só comunicou Neymar que não contaria com ele para a temporada no dia 9 de agosto (Foto: Icon sport)

Até houve uma especulação sobre uma volta do astro ao Barcelona, mas o clube catalão vive uma crise financeira e só poderia oferecer um salário muito mais baixo do que Neymar recebia no PSG. Além disso, a desconfiança do técnico Xavi Hernández também pesou. O único cenário viável para o Barça era o brasileiro recusar qualquer outra investida, conseguir rescindir seu contrato com o time parisiense e ainda topar receber menos da metade do que estava acostumado.

Obviamente, não rolou. O Paris Saint-Germain não iria rescindir com um dos jogadores mais qualificados do mundo, até por ter investido €222 milhões na contratação do mesmo em 2017. Por tudo que sabemos sobre Neymar, também era improvável que ele aceitasse diminuir tanto seu salário.

Arábia Saudita era único destino possível para Neymar

Com Neymar estando publicamente à venda, o PSG sabia que dificilmente uma grande potência do futebol teria condições de ir atrás do craque. O clube também sabia que Neymar não toparia fazer jogo duro e permanecer em Paris mesmo com a possibilidade de não jogar, como vinha fazendo Mbappé. Ou mesmo diminuir significativamente seu salário para seguir na Europa. Assim, abriu espaço para o único destino possível: a Arábia Saudita.

Uma das maiores equipes da Ásia, o Al Hilal era o único dos quatro clubes estatizados pela Arábia Saudita que ainda não tinha um grande craque. O Al-Nassr conta com Cristiano Ronaldo desde janeiro, e Al Ittihad e Al Ahli contrataram Karim Benzema e Roberto Firmino, respectivamente, nesta janela.

Apesar de toda a rivalidade e interesses políticos ente a Arábia Saudita e o Catar (que controla o PSG), o Paris Saint-Germain sabia que era inevitável o interesse do Al Hilal em Neymar. Semanas antes, o clube já havia feito uma proposta de €300 milhões por Mbappé, que nem quis se reunir com representantes sauditas.

Neymar topou deixar o alto nível para receber nada mais que €160 milhões por duas temporadas no Al Hilal. Foi o fim ideal de uma negociação conduzida sempre pelo PSG, mesmo quando poucos imaginavam o desejo francês em vender o craque ainda nesta janela de transferências. Com o brasileiro no Oriente Médio, o time de Paris se livra de um salário surreal, empurra um dos seus principais pivôs de polêmicas para longe e ainda não correrá risco de reforçar um adversário na Liga dos Campeões, seu principal objetivo.

Mesmo que tenha ficado com as mãos um tanto quanto atadas no negócio, Neymar está longe de ser vítima. Suas escolhas e atitudes nos últimos seis anos fizeram com que fosse de jogador mais valioso do mundo para um que não dá confiança alguma para o mercado europeu investir pesado. A responsabilidade da transferência para a Arábia Saudita também é dele, mas isso todo mundo sabe e tem discutido desde que surgiu o interesse do Al Hilal. Ao mesmo tempo, seu novo destino também é decorrência de um plano muito bem executado pelo Paris Saint-Germain, que sai como o grande vencedor do negócio.

Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
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