Al Hilal anuncia Neymar e tem seu grande craque no showbol da Arábia Saudita
Turbinado com dinheiro do governo saudita, Al Hilal queria uma estrela de peso na liga saudita e consegue com a contratação de Neymar
O Al Hilal é um dos maiores clubes da Ásia e desde que a liga saudita virou uma espécie de showbol de profissionais, se esperava que o clube tivesse um craque do nível de Cristiano Ronaldo — que foi para o Al Nassr. Karim Benzema foi para o Al Ittihad, Roberto Firmino foi para o Al Ahli e faltava um supercraque ao Al Hilal. Agora o clube tem: Neymar, de 31 anos, é o novo jogador do clube, com contrato de dois anos, até junho de 2025.
A contratação é muito positiva para o PSG: não só se livra de Neymar, como ainda recebe €80 milhões por isso. Seu salário na Arábia Saudita será pornográfico, como basicamente todo jogador que vai para lá, mas na escala de um craque global como é Neymar, mesmo com todos os problemas. Seus rendimentos serão similares aos de Cristiano Ronaldo (que recebe €100 milhões como salários e outros €100 milhões com acordos comerciais vinculados à Arábia Saudita).
🎬 “O talento maravilhoso… que atrai a atenção de todos” @neymarjr 💙#نيمار_هلالي #الهلال pic.twitter.com/TTzADrVGJJ
— نادي الهلال السعودي (@Alhilal_FC) August 15, 2023
“Eu conquistei muito na Europa e desfrutei de momentos especiais, mas eu sempre quis ser um jogador global e me testar com novos desafios e oportunidades em novos lugares”, disse Neymar ao ser anunciado. “Eu quero escrever uma nova história no esporte, e a liga saudita tem uma energia tremenda e jogadores de qualidade no momento. Ouvi muito e aprendi que estou acompanhando uma longa lista de jogadores brasileiros que jogaram na Arábia Saudita ao longo dos anos, então acredito que este é um lugar desejado”.
“O Al Hilal é um clube gigante, com torcedores fantásticos, e é o melhor na Ásia. Isso me dá uma sensação de que é a decisão certa para mim, no momento certo, com o clube certo. Eu amo ganhar e marcar gols, e planejo continuar fazendo isso na Arábia Saudita com o Al Hilal”, continuou o brasileiro.
Como bem disse Paulo Júnior, Neymar, o personagem, não deu conta de firmar Neymar, o craque. Sua saída indica o caminho de seguir sendo uma estrela, um influencer, um nome badalado, mas a carreira de jogador perde e perde muito. Há, porém, um lado de quem vê o copo meio cheio e que acha que pode ser positivo para a seleção brasileira, já que ele deve jogar menos e sofrer menos fisicamente.
Adeus com sorriso amarelo do PSG
A concretização da transferência de Neymar para o Al Hilal coloca um fim na carreira de alto nível de Neymar e deixa a sensação de frustração. Até porque a sua saída é comemorada pelo clube e até por torcedores do clube, que apontaram para ele — e até para Messi — pelos problemas do clube, embora o alvo dos torcedores tenha sido primordialmente a diretoria, que seguirá por lá. A despedida do jogador do PSG, do ponto de vista do clube, foi um pouco constrangedora.
“É sempre difícil dizer adeus para um jogador incrível como Neymar, um dos melhores jogadores do mundo”, disse, cinicamente, o presidente do Paris Saint-Germain, Nasser Al-Khelaifi. “Nunca esquecerei do dia que ele chegou ao Paris Saint-Germain e o que ele contribuiu para o nosso clube e o nosso projeto nos últimos seis anos. Tivemos grandes momentos e Neymar sempre será uma grande parte da nossa história. EU gostaria de agradecer Neymar e sua família. Desejamos a ele o melhor para o futuro na sua próxima aventura”.
Neymar esteve em campo em um jogo na pré-temporada pelo PSG, mas claramente não estava nos planos do clube. A questão do PSG com Kylian Mbappé também era um problema: ele e o francês já não se dão bem há anos. Em campo, sempre tentaram o melhor, mas as relações fora de campo não são boas e pioraram muito desde a renovação do craque francês, em maio de 2022.
Com a passagem pelo PSG encerrada, Neymar deixa a França sem ter conseguido o objetivo principal, a Champions League. Bateu na trave em 2019/20, quando o brasileiro foi destaque na campanha que levou a equipe até a final, mas acabou derrotado pelo Bayern de Munique — dolorosamente, com gol de um jogador formado na base do PSG, Kingsley Coman.
Ao todo, Neymar deixa o PSG com 173 jogos, 118 gols e 77 assistências. Deixa Paris com cinco títulos da Ligue 1, três Copas da França, duas Copas da Liga e quatro Supercopas da França. Não faltaram títulos e nem gols, mas a sensação na sua saída é que não se cumpriu tudo que esperava. As atuações foram boas, mas inconstantes, especialmente pelas lesões. O jogador não conseguiu completar a temporada, tendo sempre uma lesão todos os anos — quase sempre por pancadas.
Até por ter custado €222 milhões, a maior transferência da história do futebol até hoje, Neymar deixa o PSG com a sensação que não entregou tudo que podia, nem em atuações, nem em títulos. Vai para o Al Hilal continuar a vida de estrelas, mas claramente abandonando o alto nível competitivo.
Neymar jogará com grandes jogadores no Al Hilal
Neymar é a cereja do bolo de um mercado estelar. Chegaram Kalidou Koulibaly, do Chelsea, por €23 milhões; Sergej Milinkovic-Savic, da Lazio, por €40 milhões, Rúben Neves, do Wolverhampton, por €55 milhões e Malcom, do Zenit, por €60 milhões. Neymar chega por um valor inicial de €80 milhões.
Além desses jogadores, o Al Hilal é a base da seleção da Arábia Saudita que esteve na Copa do Mundo de 2022. Jogadores como Salem Al-Dawsari, de 31 anos, camisa 10 dos sauditas na Copa, é um dos atacantes, além de Mohamed Kanno, meio-campista que brilhou no Mundial do Catar. O time ainda tem o lateral direito Saud Abdulhamid, outro que se destacou no torneio. Todos eles comandados por Jorge Jesus, figura bastante conhecida do futebol brasileiro por sua passagem bombástica e vitoriosa pelo Flamengo.
Na temporada passada, o Al Hilal ficou apenas no terceiro lugar na classificação. Ficou atrás do campeão Al Ittihad e do Al Nassr, de Cristiano Ronaldo. Agora, a disputa promete ser muito mais acirrada com esse showball que os sauditas montaram na sua liga, contratando diversos jogadores, muitos veteranos, outros no auge, outros que são estrelas periféricas. Você pode conferir os principais jogadores contratados pela Arábia Saudita aqui.
Al Hilal é um dos quatro clubes estatizados pela Arábia Saudita
O governo da Arábia Saudita tem investido em futebol há algum tempo e o Newcastle a tentativa de sediar a Copa do Mundo de 2030 ou 2034 já indicavam isso. Nesta temporada, porém, a ideia passou a ser outra: turbinar a liga saudita. Esse movimento começou com a contratação de Cristiano Ronaldo, em janeiro. Depois disso, os sauditas dobraram a aposta. E usando o aparato do Estado.
O Public Investment Fund (PIF), fundo do governo saudita para investimentos, comprou 75% dos quatro maiores clubes do país: Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli. Mais do que isso: prometeu investimentos robustos para reforçar todos esses times e tornar o Campeonato Saudita mais forte.
Já havia esse murmurinho nos bastidores porque Jorge Mendes, empresário de Cristiano Ronaldo, vinha dando indicativos que o seu cliente queria que o Al Nassr abrisse a carteira para ter companheiros de melhor nível. E isso aconteceu: o Al Nassr contratou Sadio Mané, Marcelo Brozovic, Seko Fofana e Alex Telles. Por enquanto. Já tinha por lá Anderson Talisca, que tem sido um ótimo parceiro para o português.
Plano de voltar à Europa parece uma loucura
A ideia de Neymar, segundo o jornal L’Equipe, é voltar à Europa ao final do seu contrato, de duas temporadas. Ele fica no clube saudita até junho de 2025 e seu plano depois disso é voltar à Europa, visando a participação na Copa do Mundo de 2026, nos Estados Unidos, Canadá e México.
Parece algo totalmente descolado da realidade. O contrato acabará quando Neymar tiver 33 anos. Com 31 anos, ele já levanta muitas suspeitas nos times do mais alto nível, tanto por questões físicas, quanto pelo seu comprometimento fora de campo, que atrai muitas polêmicas — como foi recentemente ao mergulhar em uma piscina de uma casa com obras interditadas em Mangaratiba.
Se ele precisava baixar significativamente sue salário para jogar na Europa neste momento, ganhando o dobro (ou até mais) do que ganha atualmente no PSG, sua volta à Europa parece inviável. Ele teria que aceitar reduções ainda maiores do que precisaria aceitar agora. Pode ser que ele esteja disposto, mas se torna uma aposta arriscada. Parece difícil que Neymar tenha mais mercado em 025 do que tem agora, em 2023. Ao menos nos maiores clubes.
Se ele estiver disposto a reduzir muito mais seu salário e suas exigências e jogar em times que não sejam os maiores na Europa, ele até pode ter mercado. Mespmo assim, será uma aposta complicada e, aos 33 anos, ter mercado em grandes clubes europeus seria um desafio para qualquer um. Mesmo para craques como Neymar. Vindo de dois anos na Arábia Saudita, então, parece muito improvável.