Neymar na Arábia tem um único lado bom possível e ele pode ajudar a Seleção
Neymar abre mão de ser protagonista na Europa por muitos milhões que irá receber na Arábia; para Seleção, há ponto positivo nisso
Neymar está a um exame médico de deixar o PSG e virar jogador do Al-Hilal, da Arábia Saudita. O jogador assinará contrato por duas temporadas para receber “módicos” 160 milhões de euros (R$ 860 milhões) com a camisa 10 do clube árabe neste período.
Um negócio de cifras astronômicas. Serão R$ 430 milhões por ano, R$ 35,8 milhões por mês, R$ 1,19 milhão por dia, e por aí vai. Mas a transferência daquele que era para ser um dos maiores jogadores da história para um mercado tão periférico precisa ser analisada para além da frieza dos (muitos) números que preencherão seu contrato com o Al-hIlal.
Passo atrás em uma carreira que só retrocede
O movimento soa como mais um passo atrás dado por um craque que parece querer abrir mão deste título e de qualquer ambição de se eternizar como um dos maiores do esporte. Claro. Dizer isso é fácil, é ser engenheiro de obra pronta depois dos anos frustrantes que o brasileiro viveu em Paris.
Mas em 2017, não era tão simples assim. Neymar deixou a sombra de Messi no Barcelona em um dos maiores times da história, para (tentar) ser protagonista no PSG, um clube no mínimo emergente e turbinado por bilhões de euros. Impossível condenar o pensamento, apesar de controverso. Mas o que veio depois da transferência é a prova de que o que poderia ser nunca virou realidade. Uma relação muito mais conturbada do que vitoriosa.
Neymar até teve bons números. Fez 118 gols e deu 70 assistências em 173 jogos. Mas também jogou pouco, uma média de 28,8 jogos por temporadas, e fez pouco. Sobreviveu de bons momentos e um lampejo de protagonismo no vice da Liga dos Campeões, em 2020. A sensação, ao fim de tudo isso, é que ele deixou a sombra de Messi em Barcelona para viver à sombra de Mbappé em Paris.
Aos 31 anos, Neymar deixa a Europa justamente no momento em que devia reinar absoluto no Velho Continente. Ou, ao menos, essa era a expectativa, um caminho natural. Sem Cristiano Ronaldo e Messi, era para o brasileiro assumir o trono em solo europeu e até a nível mundial. A transferência para a Arábia Saudita é de quem abre mão de tudo o que poderia ter sido ou vir a ser. Esqueça as ambições de ser o melhor do mundo, de ser protagonista na Liga dos Campeões, de transformar uma carreira brilhante em uma trajetória de um dos maiores do esporte.
Porque é importante que se diga também. A carreira de Neymar até aqui é, sim, brilhante por clubes e na Seleção. O camisa 10 liderou um Santos que encantou o Brasil para conquistar a Libertadores, é campeão também da Liga dos Campões, divide a artilharia da seleção brasileira com Pelé, trouxe o ouro olímpico inédito…
Mas tem um lado positivo (para a Seleção)
Nem toda a mudança é totalmente negativa ou totalmente positiva. É assim no futebol, como na vida. E isso se aplica também a Neymar. Jogar os próximos dois anos no Al-Hilal pode ser bom para o camisa 10 e – talvez especialmente – para a seleção brasileira.
O principal ponto positivo da transferência para a Arábia Saudita é a saúde de Neymar. O atacante deixa para trás seis temporadas em que as lesões foram mais regra do que exceção. Desde que chegou ao PSG, o brasileiro teve um total de 28 problemas médicos – desde lesões musculares, fraturas, ou desgaste físico – conforme registro do portal Transfermarkt. Ele foi desfalque em 119 jogos e 741 dias (mais do que dois anos!!!).
Neymar (31 anos) na temporada 22/23 pelo PSG:
⚔️ 29 jogos
⚽️ 18 gols
🅰️ 16 assistências
⏰ 69 mins p/ participar de gol (!)
👟 49 chutes (31 no gol!)
🛠️ 22 grandes chances criadas (!)
🔑 75 passes decisivos (!)
👊 93 faltas sofridas (!)
💯 Nota Sofascore 7.74👀🇧🇷 pic.twitter.com/PJKiD3o9d4
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) August 7, 2023
Dizer que Neymar terá dois anos sabáticos no futebol árabe é beirar a maldade. Mas o fato é que o atacante atuará em uma liga não só menos competitiva, mas com menos jogos a disputar. O Al-Hilal que disputou até o Mundial em 2022/23 fez apenas 38 partidas na temporada, 12 a menos do que o PSG. Ou seja: o jogador terá mais tempo de recuperação, atuará sob uma exigência menor… Em outras palavras, jogar na Arábia Saudita pode fazer bem para a saúde do atleta.
E Neymar bem de saúde faz bem para a seleção brasileira. E é justamente em Messi que reside o argumento desta tese. O argentino deixou o Barcelona em que sempre tinha de jogar como Messi, para defender o PSG às vésperas da Copa de 2022. Um movimento de carreira que se provou frutífero para a Argentina: com seu craque “descansado” e com foco total no Mundial, a Albiceleste enfim conquistou o tri no Catar.
Além disso, a seleção brasileira agora passa a ser o único ambiente de maior competitividade para Neymar. O craque pode destinar toda a ambição restante em sua carreira para o ciclo da Copa de 2026 nestes próximos dois anos. Inclusive, sua liderança será ainda mais vital para o Brasil neste período de transição sob o comando de Fernando Diniz até a chegada do italiano Carlo Ancelotti.
Neymar já tem planos para depois do Al-Hilal
Outro ponto importante da transferência de Neymar para a Arábia Saudita é o que vem depois do futebol árabe. De acordo com o jornal L'Equipe, o jogador pretende voltar à Europa depois dos dois anos de contrato. A negociação foi apenas uma maneira de ele se ver livre do vínculo com o PSG – com alguns muitos milhões de euros no bolso, é verdade.
O PSG já não contava com Neymar para esta temporada, e o atacante sempre quis seguir na Europa, com prioridade total ao Barcelona. Mas as dificuldades financeiras do clube, que sequer conseguiu inscrever todas as suas contratações (além da, digamos, má vontade do técnico Xavi) impediram a negociação. O Chelsea, da Inglaterra, queria a contratação do craque, mas não pagaria os 100 milhões de euros exigidos pelo PSG. A saída foi mudar de continente e de vida.
Estreia da Seleção nas Eliminatórias
A Seleção estreia nas Eliminatórias da Copa de 2026 em 8 de setembro, quando enfrenta a Bolívia no Mangueirão, em Belém. Depois, o Brasil viaja a Lima para enfrentar o Peru no dia 12 de setembro.