Inglaterra

Por que o início de temporada do Manchester United é tão ruim?

Com seis derrotas em 10 jogos, a promissora temporada do Manchester United começou de modo desastroso, em meio a uma enxurrada de problemas

Quando a temporada começou, a expectativa em relação ao Manchester United era grande. O time fez uma boa primeira temporada com o técnico Erik Ten Hag, voltou à Champions League e parecia ter encontrado um caminho. Um número grande de lesões que deixaram o time com menos opções, problemas na organização defensiva, falta de controle nos jogos e até na saída de bola prejudicam este início de temporada da equipe. Ainda tem um mercado que é problemático e ainda problemas fora de campo, em parte que o clube não tem controle, mas uma parte que gere muito mal.

Lesões e problemas na saída de bola

Os problemas de lesão do Manchester United impediram que Ten Hag escalasse seus melhores jogadores nesta temporada. Alguns dele são jogadores-chave, que prejudicaram o time em diversos outros aspectos. Alguns dos problemas são consequências das ausências, que colocaram em risco o modo de jogar do time.

Uma das principais lesões no clube é a de Lisandro Martínez. O zagueiro, de 25 anos, foi fundamental desde que chegou ao clube, no começo da temporada passada, indicado por Ten Hag. O zagueiro foi questionado pelo seu tamanho, 1,75 metro de altura, em um jogo tão físico quanto o da Premier League. Todas as dúvidas caíram por terra com o seu desempenho em campo. Tanto pelo alto quanto por baixo, ele se mostrou importante para corrigir diversos problemas do time.

A defesa do Manchester United tinha vários problemas. Harry Maguire vinha em má fase técnica. Victor Lindelof não convencia. Raphaël Varane era o melhor zagueiro, mas sempre com muitos problemas físicos. Foi Lisandro Martínez que corrigiu, de alguma forma, os problemas de confiabilidade do time diminuíram. Mais do que isso: além de melhorar o desempenho do time sem a bola, ajudou o time a ter uma saída de bola mais limpa, com mais qualidade.

Sem Lisandro, a saída de bola foi prejudicada. O time ficou tão carente que o veterano Jonny Evans, que ficou sem contrato com o Leicester e estava treinando no clube para manter a forma, ganhou um contrato e tem jogado. Varane segue sendo o melhor jogador da posição, mas fisicamente segue pouco confiável.

A defesa ainda tomou outro golpe profundo com a perda dos seus dois laterais esquerdos. Luke Shaw e Tyrell Malacia se lesionaram e deixaram o time sem outro jogador para atuar por ali. Ten Hag tem precisado improvisar. Em dois desses jogos, foi Sofyan Amrabat que atuou como lateral esquerdo. Não por acaso, duas derrotas, contra Crystal Palace e Galatasaray.

A saída de bola já estava prejudicada sem Lisandro Martínez e piorou ainda mais sem um lateral esquerdo de origem, que ajudasse a dar tanto segurança defensiva quanto dar uma saída de bola mais simples. E dá para piorar ainda mais. O lateral direito Aaron Wan-Bissaka também se lesionou. Mesmo sendo mais reserva do que titular, já que Diogo Dalot tem sido usado com mais frequência como titular.

Outra lesão que prejudica o time é do atacante Amad Diallo, que deixou o time com ainda menos opções. Ele pode atuar pelo lado direito do ataque, justamente uma posição bastante carente do time neste momento. E carente por problemas que estão fora de campo.

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Organização sem a bola

Defender era um problema para o Manchester United já na temporada passada. Uma parte disso passava por Cristiano Ronaldo. O atacante português ainda era um craque quando voltou ao clube, em 2021, mas também gerava um problema: como lidar com o jogador que menos pressionava a saída de bola adversária? E sim, isso não era uma suposição, era um fato baseado em dados.

Como o próprio técnico Ole Gunnar Solskjaer admitiu em entrevista recente, contratar Cristiano Ronaldo parecia certo, mas não funcionou. Ele era parte do problema e Ten Hag o colocou no banco com razão. Sua atitude foi vista como corajosa e parecia uma necessidade. O técnico parecia estar colocando o time acima do indivíduo, do jogador.

Isso, porém, não exime do fato que os problemas defensivos do United já existiam. O próprio Cristiano Ronaldo ajudava a mascará-los, de certa forma, quando fazia gols que levavam o time a viradas espetaculares. A sua saída se tornou inevitável, mas culpar o jogador por todos os problemas defensivos do time também parece uma medida incorreta. O time continuava com os problemas que não permitiram que a equipe chegasse sequer perto de Arsenal e Manchester City na disputa pelo título.

Esses problemas ficaram ainda mais evidentes com as lesões. Agora não há mais Cristiano Ronaldo para culpar pela falta de pressão, nem pela forma desorganizada que o time atua sem a bola. Também não tem algumas atuações acima da média para salvarem o time, como Casemiro fez algumas vezes na temporada passada. O brasileiro já não vive um bom momento e não tem conseguido corrigir problemas que o time continua apresentando.

Sem conseguir se defender bem, o time toma gols demais. Alguns em erros que parecem repetidos. Como, por exemplo, tomar gols rapidamente depois de reinício do jogo, como após fazer um gol. É um problema que passa por concentração, mas passa também por saber se defender em muitas situações. O time não parece saber como evitar os adversários, dos mais qualificados aos menos.

Com isso, sem conseguir marcar bem, o time não recupera tanto a bola e isso gera problemas no ataque. Porque o time raramente tem espaço quando tem a bola, já que não a recupera em zonas perigosas para o adversário. Isso tudo torna o time mais previsível no ataque, um outro problema que a equipe tem enfrentado. Se antes faltava um centroavante, agora tem Rasmus Hojlund, que tem ido bem, mas não tem conseguido salvar o United de todos os problemas.

Falta de controle nos jogos

Todos os problemas são relacionados e este é, sem dúvida, um que passa pela falta de capacidade do time de marcar o adversário: a falta de controle dos jogos. O time sofre para impor seu ritmo, para fazer o que deseja e cumprir o seu plano de jogo.

Seja marcando, sofrendo para conseguir recuperar a bola, seja com a posse, o time parece não ter um plano muito claro. Não joga de forma incisiva pelos lados, mas também não se aproxima tanto pelo meio. E mesmo quando joga bem, como foi o maluco 4 a 3 contra o Bayern de Munique na Alemanha, o time toma gols e não consegue manter o jogo controlado em nenhum momento. Assim, vira uma troca de tiros que, inevitavelmente, gera muitos problemas.

Em alguns casos, o time consegue se recuperar, como foi contra o Brentford, quando Scott McTominay achou dois gols nos acréscimos para dar a vitória em uma virada inacreditável. Só que o verbo escolhido não foi por acaso: o time de Ten Hag achou os gols e não sabe exatamente como conseguiu isso.

Sem saber o que fazer, como fazer e nem quando fazer, o Manchester United parece um time perdido no oceano sem um colete salva-vidas. Às vezes, nada sem saber para onde, na esperança de encontrar alguma terra firme para se apoiar. Não é sempre que vai achar.

Os casos fora de campo

Dois jogadores ficaram afastados do time por questões fora de campo. Uma delas muito grave: a acusação de um crime. O brasileiro Antony foi afastado depois que novas denúncias foram feitas que o jogador teria agredido a ex-namorada. No caso, as denúncias eram as mesmas do Brasil, mas foram apresentadas às autoridades inglesas. Por isso, o jogador ficaria fora do time.

A punição, por assim dizer, durou pouco. Sua ausência foi de apenas três jogos. Menos de um mês depois, ele foi reintegrado. As razões declaradas para isso foram que ele estaria colaborando com a Justiça inglesa. Na prática, ele foi reintegrado porque o time tinha poucas opções e Antony é um jogador importante e fazia falta ao time.

Outro caso que prejudicou o time foi a ausência de Jadon Sancho, em um caso que, mais do que o de Antony, mostra problemas da gestão do Manchester United. O jogador foi afastado por pedido de Ten Hag, que considerou que o jogador não apresentava um nível suficiente para ser relacionado. Uma justificativa que é, no mínimo, estranha. Há muita coisa não dita nessa história.

Até porque Sancho detonou em seguida, criando um clima mais explosivo. Publicou no Instagram que nada disso era verdade. Depois apagou. Foi afastado, desativou o seu Instagram e continua sem jogar, quase um mês depois. A situação é incômoda no clube. A diretoria se divide sobre o caso, alguns achando que Ten Hag tem razão, outros que Sancho é um ativo e um jogador importante do clube.

No elenco, se sabe que alguns jogadores estão incomodados com o afastamento de Sancho. Alguns tentaram convencer o jogador a pedir desculpas ao técnico para voltar a ser relacionado. Notadamente, são seus companheiros de seleção inglesa, Luke Sahw, Marcus Rashford e Harry Maguire. Até agora, não houve solução. Já se sabe que o jogador está aberto a deixar o clube na janela de janeiro.

O clube queria que ele saísse depois da janela europeia ter fechado, em uma sondagem da Arábia Saudita. O jogador não quis. A relação entre ele e o técnico parece rompida de um modo difícil de ser recuperada.

O modo como Ten Hag e o clube geriram a situação gera insatisfações. Alguns acham que Ten Hag está prejudicando o time para provar um ponto. Outros acham que ele está tomando a atitude que outros técnicos deveriam ter tomado antes. Há reclamações sobre o comportamento de Jadon Sancho, mas a justificativa do treinamento pareceu bastante capenga.

O clube tem gerido a insatisfação de Sancho de um modo bastante questionável. Desde que foi contratado, Sancho pediu para usar a camisa 7. Ele não foi atendido e, com a chegada de Cristiano Ronaldo, era inevitável que o português vestisse o seu número preferido. Só que Cristiano Ronaldo saiu e, nesta temporada, o número ficou vago. Não só não deram par Sancho como deram para um jogador novato no elenco, que chegou do Chelsea e sequer atua na posição mais típica do jogador que veste esse número: Mason Mount, um meio-campista central.

O imbróglio do número da camisa é menor, claro, e não é decisivo em qualquer aspecto. Mas mostra como o Manchester United lida mal com um jogador que foi uma das contratações mais importantes que o clube fez nos últimos anos. O mau desempenho de Sancho em muitos jogos é um problema, mas o clube parece disposto a se livrar do jogador antes de tentar recuperá-lo. Dois anos depois da sua chegada, ele se tornou um problema em um time que sente falta de jogadores com a sua característica.

Incertezas sobre a venda e no departamento de futebol

Com tantas questões, o Manchester United ainda pode dar a volta por cima e render mais. Muitos desses problemas já estavam lá na temporada passada e mesmo assim o time conseguiu uma boa campanha. Desta vez, porém, há mais desconfianças, seja dentro do elenco, seja com o técnico, seja na diretoria. E não há Cristiano Ronaldo para culpar pelos problemas.

Será preciso trabalhar melhor para encontrar caminhos. Jogadores para render mais o time tem. Falta que isso seja colocado em prática com constância. Ten Hag é um bom técnico e é capaz, mas o Manchester United é grande demais (e rico demais) para falhar. O final da temporada é o limite que o treinador terá para encontrar um rumo. Se não, será preciso repensar o que o clube quer a longo prazo e se ele é mesmo o nome para comandar isso.

Isso para não falar da própria diretoria, que lida com rumores constantes de uma venda do clube que, a essa altura, ninguém sabe se ocorrerá ou não. A diretoria do Manchester United trabalha mal há anos e com a instabilidade de ninguém saber qual será o rumo, as coisas tendem a piorar. Assim, será bom que isso também seja definido para que o clube possa decidir a respeito de todo o departamento de futebol – que parece continuar com problemas muito grandes.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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