Solskjaer admite: “Parecia certo contratar Cristiano Ronaldo, mas não funcionou”
Técnico do Manchester United quando Cristiano Ronaldo foi contratado, Solskjaer admite que sentiu que a contratação era certa, mas que as coisas não funcionaram
Ole Gunnar Solskjaer tem uma história incrível pelo Manchester United e que jamais será esquecida pelos torcedores. Como jogador, era o “super sub”, sempre pronto a causar problemas aos adversários. O gol do título na final da Champions League de 1999 o coloca no coração dos torcedores. Sua passagem como técnico teve alguns momentos de alegria, mas o treinador deixou o cargo depois de um desgaste enorme. Um dos pontos que ele admite ter dado errado foi algo imenso: a contratação de Cristiano Ronaldo.
É bom lembrar o contexto em que aquilo aconteceu. Cristiano Ronaldo estava disposto a deixar a Juventus e o Manchester City de Pep Guardiola apareceu como uma oportunidade para o atacante. A negociação caminhou e o português ficou próximo de assinar com o time que é rival do seu antigo clube. A diretoria do Manchester United se mexeu, escalando nomes de peso como Alex Ferguson para falar com Ronaldo e seus representantes e levá-lo a Old Trafford.
“Foi uma decisão que era muito difícil de recusar”
O retorno de Cristiano Ronaldo pareceu mesmo um conto de fadas, mas passou longe disso. Da sua contratação, em 2021, até a sua saída, acertada durante a Copa do Mundo de 2022, em novembro, nenhum título foi conquistado e Ronaldo passou a ser questionado se ainda poderia atuar no mais alto nível, apesar de ainda conseguir fazer seus gols. A falta de contribuição defensiva e ser o jogador que menos pressionava a saída de bola tornou o seu nome mais difícil de ser defendido entre os titulares. Eventualmente, ele foi para o banco.
No começo desse processo, estava Ole Gunnar Solskjaer, o técnico que tinha dividido o ataque com ele nos tempos de jogador. E apesar de tudo ter parecido uma incrível história, nada funcionou.
“Foi uma decisão que era muito difícil de recusar e eu senti que tínhamos que fazer, mas deu errado. Pareceu tão certo quando ele assinou e os torcedores sentiram isso naquele jogo contra o Newcastle, quando o Old Trafford estava vibrando (vitória por 4 a 1, com dois gols de Cristiano Ronaldo). Ele ainda era um dos melhores artilheiros do mundo, ele estava parecendo forte”, disse Solksjaer em entrevista ao site The Athletic.
“Quando olhei a sequência de jogos, seria um período decisivo: Manchester City, Liverpool, Tottenham e Leicester fora. Depois Chelsea e Arsenal, além de jogos da Champions League. As coisas correram contra nós. Começou com o Aston Villa em casa (derrota por 1 a ) e um pênalti perdido no fim”, continuou o treinador.
“Quando você tem um grupo, precisa que todos puxem na mesma direção. Quando as coisas não dão certo, você pode ver alguns jogadores e egos aparecerem. Vencemos o Tottenham de forma convincente por 3 a 0 fora, mas então perdemos dois jogos…”.
Título que escapou nos pênaltis poderia ter mudado percepção
“Bem, uma coisa ficou faltando: um título. Um pênalti poderia ter mudado isso (o Manchester United perdeu a final da Liga Europa para o Villarreal nos pênaltis) e meu tempo lá seria visto de forma diferente”, afirmou o treinador.
“Títulos são importantes, mas também é importante manter a fundação de boas atuações. Conseguimos isso por um longo tempo, consistentemente. No fim, isso não foi o bastante, mas a missão que me foi dada foi fazer os torcedores sorrirem novamente e tínhamos algo acontecendo. Estávamos na liderança da liga em setembro de 2021, Cristiano Ronaldo veio, Raphaël Varane e Jadon Sancho vieram”, continuou.
“Ficamos mais fortes ao contratar esses jogadores. Se tratava de dar o próximo passo para lutar pelo título. E, infelizmente, simplesmente não deu certo”.
A demissão esperada
“Ninguém me contou, mas eu sabia no intervalo do jogo contra o Watford (uma derrota por 4 a 1 em novembro de 2021). Não perecíamos um time do Manchester United, os jogadores não corriam uns pelos outros. No intervalo, falei aos jogadores que provavelmente seria a última vez que trabalharíamos juntos e para jogarem com orgulho. Quase conseguimos reverter, até que Harry Maguire foi expulso”.
“Recebi uma mensagem de texto na manhã seguinte de Ed Woodward dizendo que ele precisava me ver no escritório em Carrington. Aquilo foi muito duro quando você está no clube por 18 anos com todos aqueles momentos bons e ruins”, continuou.
“Eu tive muito apoio e bons momentos com Ed. Ele me deu uma chance e, por isso, eu sempre serei grato. Deixei a minha família no aeroporto antes que a mensagem de texto tivesse chegado. Depois da mensagem, eu disse à minha esposa que eu poderia estar na Noruega antes dela”.
Foi um dia muito emocionante. Muito emocionante. Eu não achei que seria, mas foi como deixar sua família. Queria falar com todos os jogadores e dizer adeus. Falei com os técnicos e os funcionários. Então voltei para uma casa vazia”.
Perguntado se sentia que os jogadores o deixaram na mão, ele não quis culpá-los. “Não senti raiva. Nem amargo. Decepcionado. Não consegui fazer o meu trabalho dos sonhos como eu esperava. Fui para um trabalho de seis meses e gostei. Realmente gostei, especialmente a vitória contra o Paris Saint-Germain (uma vitória por 3 a 1 em Paris que levou o time às quartas de final e eliminou os franceses, em 2019).
“Houve alguns grandes momentos quando fui efetivado. As vitórias contra o City fora, vencer o City em casa com Scott McTominay marcando no último jogo antes do lockdown. Nunca senti o Old Trafford vibrando como aquele dia. Os torcedores nos apoiaram por eras. Aconteceu que foi a última vez que eles estiveram no estádio por meses. Outra vitória contra o PSG. Ficar invicto fora de casa por tanto tempo. Não é fácil ficar 29 jogos fora de casa sem perder”.