Os 3 problemas que o Chelsea tem para o início da temporada
De técnico novo e com caras novas no elenco, Blues tem mais perguntas do que respostas para 2024/25
O Chelsea de Roman Abramovich já não existe mais, e o torcedor dos Blues precisa se acostumar com isso. Mas a verdade é que a tarefa de esquecer o ex-dono não tem sido nada fácil pelos lados de Stamford Bridge.
Após tempos de glória vivido sob o comando do bilionário russo, o clube londrino foi vendido ao consórcio liderado pelo empresário norte-americano Todd Boehly, em maio de 2022. Desde então, tudo mudou na instituição, e pode-se dizer que para pior.
Se com Abramovich o Chelsea formava times fortes, era presença assídua na Champions League e costumava lutar pelos principais títulos em disputa, a chegada de Boehly trouxe ao clube uma nova rotina.
Bom, vamos a ela:
- Gastos exorbitantes no mercado;
- Contratações que fazem pouco sentido para o presente;
- Elenco caro e com lacunas a serem preenchidas;
- Campanhas fracas na Premier League;
- Técnicos sem respaldo;
- Nenhum título conquistado
A receita parece perfeita para o fracasso, não? E de fato é o que vem acontecendo com o Chelsea. Prestes a iniciar uma nova temporada — a terceira de Boehly à frente do clube — os Blues seguem acumulando erros de gestão e decepcionando seu torcedor.
A surpreendente arrancada no final de 2023/24 não foi suficiente para manter Mauricio Pochettino. O técnico argentino não topou ‘se curvar' 100% ao planejamento da diretoria e, em comum acordo, decidiu interromper seu trabalho.
Enzo Maresca foi o escolhido para assumir a equipe. Jovem, ‘discípulo' de Guardiola e adepto de um estilo de jogo arrojado e ofensivo, o italiano superou a concorrência de outros nomes e convenceu a alta cúpula do Chelsea.
Se vai dar certo ou não, ainda não sabemos. Fato é que a pré-temporada dos Blues — primeiro contato de Maresca com o plantel — escancarou problemas consideráveis. A Trivela enumerou três, que certamente ajudam a entender ‘insanidade' virou o bicampeão europeu.
1. Elenco inchado e deficitário
Imagina ter mais de 40 jogadores no plantel e, ainda assim, apresentar claras deficiências. Esse é o Chelsea na gestão Boehly. Uma administração que empilha contratações de jovens jogadores e bate recordes de transferências, mas é incapaz de formar um elenco coeso e estruturado.
Em toda temporada, o roteiro se repete. Neste início de 2024/2025, por exemplo, os Blues já gastaram 189 milhões de euros (R$ 1,4 bilhão) comprando nove jogadores. Tirando Adarabioyo, nenhum deles tem mais de 25 anos. Alguns, inclusive, serão emprestados de imediato e não sabem se algum dia terão a oportunidade defender o clube londrino.
O plano é literalmente investir em ‘todo' jovem que desponta, seja no futebol europeu, sul-americano e até em mercados alternativos, como a MLS. Contratar, ‘avaliar' e descartar: eis o ciclo vicioso dos Blues.
Com um elenco inchado, o Chelsea se vê obrigado a vender peças nesta reta final de janela. Dito isso, ao mesmo tempo em que precisa fazer caixa se desfazendo de jogadores, o clube sabe que ainda tem lacunas importantes a serem preenchidas.
Entre as carências está a falta de um camisa 9 confiável. Nicolas Jackson, apesar da boa temporada de estreia em 2023/24, já mostrou não ter o estilo matador/artilheiro. Marc Guiu, garoto prodígio vindo da base do Barcelona, não parece pronto, já que só tem 18 anos e nunca jogou no futebol inglês.
Victor Osimhen, do Napoli, é o alvo prioritário da diretoria. Caso feche com o bom atacante nigeriano, o Chelsea dá um salto de qualidade e resolve o problema no setor. Mas e as outras posições? Há vida no miolo de zaga após a saída de Thiago Silva? Os amistosos de pré-temporada mostraram que a situação é preocupante.
E o que falar dos goleiros? Preterido por Maresca, Petrović pode deixar o clube. O sérvio foi uma das gratas surpresas da equipe na última temporada, porém, seu jogo com os pés não é bem-visto pelo novo técnico.
O irregular Robert Sánchez ganhou a condição de titular, enquanto o recém-contratado Filip Jörgensen deve ser o reserva imediato. Apostas no mínimo arriscadas.
2. Contratações que não resolvem
Dos 12 reforços do Chelsea em 2023/24, dois deles foram emprestados — Ângelo e Diego Moreira. E numa análise fria, quatro deram certo. Principal destaque do time, Cole Palmer teve números expressivos e ‘cansou' de decidir jogos. Moisés Caicedo oscilou, contudo, terminou a Premier League em alta.
Já Nicolas Jackson e Petrović cumpriram bem suas respectivas funções e agregaram na equipe de Pochettino. Em contrapartida, Roméo Lavia, Nkunku e Ugochukwu sofreram com lesões e perderam grande parte da temporada.
Robert Sánchez e Disasi acumularam erros e não passaram confiança, enquanto David Washington praticamente não foi acionado. Em resumo, aproveitamento fraco. Pois bem, o pior é que tal receita tem tudo para ser mantida neste 2024/25.
Os Blues investiram em nove nomes até o momento na janela, dos quais apenas quatro tem presença garantida no elenco de Maresca para esta temporada. São eles: Pedro Neto, Dewsbury-Hall, Filip Jörgensen e Tosin Adarabioyo.
A pergunta que fica é: são jogadores capazes de causarem impacto e fazerem a diferença?
A verdade é que só o tempo dirá, todavia, algumas observações importantes precisam ser pontuadas:
- Pedro Neto já provou seu valor na Premier League (jogando pelo Wolverhampton), mas seu histórico de lesões assusta;
- Dewsbury-Hall tem somente uma temporada de destaque na carreira, justamente a última, quando marcou 12 gols e distribuiu 15 assistências pelo Leicester;
- Filip Jörgensen, de 22 anos, tem 44 jogos como profissional e ainda precisa se provar;
- Contratado em transferência gratuita, Adarabioyo apresenta claras falhas de cobertura e está longe de ser um zagueiro ideal para o esquema de Maresca.
Muito dinheiro investido para poucas certezas. Mesmo apostando alto, os Blues ainda parecem bem longe dos principais postulantes ao título da Premier League — Manchester City e Arsenal.
Nem mesmo uma vaga na Champions League é garantia. Maresca terá uma temporada desafiadora pela frente. A ver o que o ex-Leicester conseguirá extrair desse elenco.
3. O tempo de adaptação ao estilo de Maresca
Como se não bastasse a falta de experiência de boa parte do elenco e as lacunas que o plantel possui, o Chelsea ainda terá que lidar com a implementação de um novo sistema de jogo. Afinal, as ideias de Maresca são completamente diferentes de seu antecessor, Mauricio Pochettino.
Ter paciência e confiar no processo: esse é o recado para diretoria e torcida. Não dá para saber se o treinador italiano é o homem certo para fazer os Blues recuperarem o protagonismo na Inglaterra. Entretanto, ele foi o escolhido e precisa de tempo para desenvolver sua metodologia.
Se levarmos em conta o histórico recente de técnicos no Chelsea, a situação de Maresca é preocupante. Thomas Tuchel, Frank Lampard, Graham Potter e Pochettino: nenhum deles agradou os novos donos e todos acabaram fritados.
Em poucas palavras, Maresca pensa futebol com posse, pressão e precisão. O ex-auxiliar de Guardiola é adepto de um estilo que mescla tradições italianas de disciplina tática com a fluência e a criatividade do futebol espanhol e inglês.
Ele valoriza e pede a todo momento que seus jogadores mantenham a posse de bola, mas não por mero capricho. Seu pensamento é estratégico e visa utilizar o protagonismo com a bola como uma ferramenta para ditar o ritmo da partida e desmantelar a defesa adversária.
O jogo posicional é um aspecto central do trabalho de Maresca. Os atletas são treinados para ocupar espaços específicos no campo, criando linhas de passe e triangulações constantes. A ideia é ludibriar a marcação e conseguir brechas para conclusão a gol.
Isso não só leva tempo para ser empregado, bem como exige inteligência tática, entendimento coletivo e concentração.