É um fato: torcida brasileira está amando a Copa do Mundo Feminina e criou até nova mascote
A torcida brasileira tem dado cada vez mais mostras que está curtindo tanto a Copa Feminina que criou até uma nova mascote

Vuvuzelas, bateria, bandeirões e apitos. A atmosfera de Copa do Mundo tomou as dependências do complexo esportivo “Nossa Arena”, na manhã da segunda-feira (24), na Barra Funda, em São Paulo. Era dia de estreia da Seleção. E a sede oficial do Movimento Verde Amarelo, torcida que segue e apoia a Seleção Brasileira, ficou animada na estreia brasileira, que era transmitida por um telão para mais de 300 pessoas, entre adultos e crianças.
O espaço recebeu, além de muitos torcedores, imprensa e criadores de conteúdo, que apontavam a todo momento suas câmeras para registrar as manifestações da torcida, muito apreensiva até os 20 minutos de jogo. No entanto, o nervosismo foi dando espaço aos gritos de quase, mostrando que a chance estava chegando. E aí chegou em forma de um grito só que colocou a arena abaixo: era Ary Borges e o primeiro de seus três gols em quatro feitos pelo Brasil.
A geração de meninas que está crescendo com referências, com a oportunidade de torcer e viver o futebol. Uma geração que contagia! #SelecaoFeminina pic.twitter.com/l1WMmW3GBf
— Livia Camillo (@livia_camillo_) July 24, 2023
– Torcemos pela Seleção, seja masculina ou feminina. O Elas no Movimento Verde Amarelo é um braço da torcida que se mobiliza para sempre estar presente pelas mulheres. Temos representantes lá na Austrália, mas é uma viagem longa, cara, então não pudemos levar mais pessoas – disse Ynara Corrêa, 52, parte da bateria do MVA, à Trivela.
Meninas e meninos gritavam e se abraçavam, trajados com a camisa da seleção feminina. E era exatamente isso que o projeto queria promover no dia de estreia do Brasil na Copa do Mundo: integração.
– É um espaço seguro para mulheres que amam futebol. Aqui vai ser a sede do MVA durante a Copa, e o que a gente quer é juntar todo mundo para torcer pela seleção feminina, sem discriminação e sem preconceito – contou Júlia Vergueiro, uma das fundadoras da arena.
Ver essa foto no Instagram
Do outro lado do oceano surge a Canarinha Guerreira
Enquanto isso, do outro lado do oceano, os representantes do MVA, na Austrália, embalavam as arquibancadas do estádio Hindmarsh, em noite fria da cidade de Adelaide. Foi com o batuque da torcida organizada que o Brasil goleou o Panamá por 4 a 0. A cada close da transmissão da Rede Globo nos compatriotas uniformizados, a bateria urgia na zona oeste de São Paulo.
– Os nossos representantes que estão na Austrália estão fazendo um trabalho bom demais. O “esquenta” do MVA lá em Adelaide foi um sucesso, além do trabalho lindo de arquibancada incentivando nossas jogadoras. Nós fazemos o mesmo daqui – apontou Ynara.
Ver essa foto no Instagram
Além da “invasão brasileira” na Austrália, a Seleção também ganhou uma nova mascote: é a Canarinha Guerreira, que fez sua primeira aparição no estádio. Criada por Gabriel Morais, 35, e outros oito co-criadores, a personagem é a versão feminina do mascote oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
– A gente percebeu que a seleção feminina está na luta de conquistas próprias. É a primeira Copa em que elas estão usando o uniforme só delas, sem as cinco estrelas, com patrocinadores exclusivos. Essa Copa já entrou na História, mas a gente percebeu que elas não tinham uma mascote feminina. Foi assim que a ideia surgiu – revelou o co-criador.
Ver essa foto no Instagram
O grupo de torcedores lançou uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar a quantia necessária para produzir e levar a mascote para a Copa do Mundo de 2023 na Austrália. Foi uma brasileira que vive no país da Oceania que representou a Canarinha pela 1ª vez.
– Sempre será uma mulher vestindo a fantasia – completou Gabriel.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Liberdade para jogar e torcer por mulheres
Felipe Rebellon, 47, é colombiano e pai de Abigail, de 10 anos. Ela joga na escolinha do Barcelona dentro da “Nossa Arena” há um ano. Apesar da pouca idade, a menina já sentiu na pele o peso de ser uma mulher no futebol ao sofrer com o preconceito de meninos na escola.
– Eles não passavam a bola pra ela, faziam com que ela não se sentisse parte do jogo. Por isso, procuramos um lugar para ela treinar, onde ela pudesse jogar com outras meninas e se sentir mais livre. Quando chegou na escolinha, logo a Abi fez amizades, ficou à vontade. Hoje, estamos aqui para torcer pela seleção junto com as amigas dela. É muito bom ter espaço para ela fazer o que gosta. Ela lutou muito para isso – contou Felipe à reportagem.
Abigail veste a camisa 9 do time e tem um estilo parecido com o de Ronaldo, segundo o pai coruja. Ele mostra, com orgulho, as fotos da filha treinando no gramado sintético. “Olha que linda”, disse apontando para a postura altiva da primogênita na imagem do celular. Bem naquele momento, as atletas mirins do Barça eram entrevistadas pela TV para falar sobre o jogo da seleção.

– Eu, a mãe dela e a Abigail somos da Colômbia, mas nossa filha mais nova já é brasileira, nasceu aqui. Mesmo ela sendo colombiana, a Abi já torce pelo Brasil. Ela fala que um dia vai defender a seleção daqui. É o sonho dela – acrescentou.
A possibilidade do sonho de uma seleção brasileira é recente para meninas. Afinal, nem sempre essa foi uma ambição palpável, principalmente por ser uma modalidade com pouquíssima visibilidade. O “boom” da Copa de 2019 foi importante para quebrar estigmas e aproximar as meninas do esporte.
– A gente vive um momento muito único do futebol feminino e temos que aproveitar. Meninas que estão começando a jogar futebol agora, elas têm a oportunidade de sonhar, de ter referências na TV e dentro de campo. A Nossa Arena faz isso todos os dias, reunindo mulheres, mulheres trans e meninas que querem praticar esporte. Precisamos levar essa mensagem adiante para que não seja só aqui – afirmou Júlia, que projeta dias melhores para o futebol feminino.