Europa

A ida de Scarpa ao Olympiacos oferece novos ares num clube de mesmo dono

Evangelos Marinakis é proprietário do Olympiacos e também do Nottingham Forest, o que facilitou a transferência de Gustavo Scarpa para a Grécia

A passagem de Gustavo Scarpa pela Premier League não durou mais do que um semestre. Existiam boas expectativas sobre o meia com a camisa do Nottingham Forest. Scarpa chegava de um excelente momento no Palmeiras e o clube indicava sua confiança na contribuição do brasileiro. Entretanto, sua estadia no City Ground se tornou bastante atribulada. Sofreu com os problemas físicos e também pessoais, diante da fraude que sofreu em seus negócios. Sem espaço com os alvirrubros, Scarpa vestirá nova camisa na próxima temporada. E a transferência para o Olympiacos nada mais é do que um remanejamento dentro dos negócios do magnata Evangelos Marinakis, proprietário de ambos os clubes.

Aos 56 anos, Marinakis é um dos homens mais ricos da Grécia, com grande parte de seus negócios ligada ao setor de transportes marítimos. Sua entrada no esporte aconteceu em 2010, quando se tornou acionista majoritário e presidente do Olympiacos. O poder no futebol local também o elevou ao cargo de presidente da Superliga Grega, que organiza o campeonato local, e de vice-presidente da federação. Já seu investimento no Nottingham Forest começou em 2017. Desde então, foi comum o trânsito de jogadores entre o City Ground e o Estádio Karaiskakis.

Gustavo Scarpa foi emprestado ao Olympiacos até o final da temporada. O brasileiro ainda tem contrato com o Nottingham Forest até 2026. O meia esperava uma negociação na atual janela de transferências, mas não chegaram propostas atrativas nem para ele e nem para Marinakis. Assim, o atleta acabou remanejado rumo a Pireu. Vai buscar uma renovação de ares no Campeonato Grego, enquanto ainda pode mostrar serviço para voltar à Inglaterra. Estará numa competição de nível bem mais baixo do que a Premier League, mas num clube que costuma ser dominante na liga local, apesar das oscilações das temporadas recentes.

Desde que Marinakis se tornou dono de ambos os clubes, 12 transferências aconteceram do Nottingham Forest para o Olympiacos ou vice-versa. A maneira como o proprietário passou a priorizar seu investimento na Inglaterra inclusive causou incômodo na Grécia, não apenas pela saída de destaques, como também pela perda de força do Olympiacos na liga local. A equipe ganhou três títulos dos últimos seis do Campeonato Grego, enquanto só tinha perdido duas taças da Superliga no intervalo entre 1996/97 e 2016/17. Na última temporada, o Olympiacos foi o terceiro colocado, abaixo de AEK Atenas e Panathinaikos.

Como foi a passagem de Scarpa pelo Forest

Gustavo Scarpa disputou apenas seis partidas pelo Nottingham Forest na Premier League, além de outras quatro pelas copas nacionais. O meia fez sua estreia no início de janeiro, contra o Southampton. Teve uma sequência de partidas na equipe durante as semanas seguintes, titular inclusive contra Leicester e Fulham, bem como em compromissos pela Copa da Inglaterra e pela Copa da Liga – encarando o Manchester United nas semifinais. Entretanto, mesmo com os bons resultados do time no período e algumas boas apresentações, o brasileiro não conseguiu se firmar. Passou a frequentar o banco em fevereiro, com aparições só esporádicas na virada de março para abril. Foi também neste momento que a fraude que enfrentava se tornou pública.

Além das questões pessoais, Scarpa também enfrentou uma lesão na panturrilha. Assim, o meia não disputou as últimas nove rodadas da Premier League. Não estava mais nos planos do técnico Steve Cooper. A falta de espaço contrastou com o impacto positivo de outros brasileiros. O volante Danilo engrenou na reta final da campanha e se tornou imprescindível, com gols vitais na fuga do rebaixamento. O zagueiro Felipe também foi titular absoluto na defesa durante o segundo turno. Mesmo o lateral Renan Lodi agradou, ainda que o Forest não tenha chegado a um acordo por sua contratação em definitivo.

Depois de tantas contratações na temporada passada, o Nottingham Forest espera que a continuidade valha uma sequência mais estável na Premier League. Já no Olympiacos, Scarpa encontrará um clube que sempre briga pelos troféus, mas que sofreu com a desorganização e com a megalomania de contratações pouco frutíferas durante a última temporada. O time não competiu com AEK Atenas e Panathinaikos pela liderança no último Campeonato Grego. Não à toa, um novo técnico chegou: Diego Martínez assume respaldado especialmente pelo bom trabalho recente no Granada, que levou para a Liga Europa.

O elenco do Olympiacos possui alguns bons jogadores, como o volante Mady Camara, o meia Pep Biel, o centroavante Youssef El Arabi e o ponta Georgios Masouras. Scarpa, de qualquer maneira, chega com qualidade para ser uma das referências técnicas do time, se deixar seus problemas recentes de lado. O atual mercado dos alvirrubros conta com um número alto de reforços. Entre eles estão o centroavante Ayoub El Kaabi (Al-Sadd), o volante Vicente Iborra (Villarreal), o zagueiro Panagiotis Retsos (Verona) e o zagueiro Jackson Porozo (Troyes). Além do Campeonato Grego, o Olympiacos busca uma vaga na fase de grupos da Liga Europa. Enfrentará os sérvios do Cukaricki na última fase qualificatória. Se perder, será repescado para a Conference.

Scarpa amplia a legião de brasileiros no Olympiacos

Gustavo Scarpa também reforça uma história de jogadores brasileiros no Olympiacos. O elenco atual conta com os laterais Rodinei e Ramon, com o primeiro inclusive titular nos compromissos recentes pela Liga Europa. Desde os anos 1990, mais de 20 brasileiros vestiram a camisa alvirrubra. A relação se tornou mais forte a partir de 1999, quando o Olympiacos tirou Giovanni do Barcelona e ganhou um de seus grandes ídolos recentes. O paraense teve uma passagem marcante, com grandes campanhas inclusive na Champions. O volante Zé Elias foi outro contemporâneo nesse período, muito querido pela torcida.

Mais um craque brasileiro que acumulou títulos no Olympiacos foi Rivaldo. O veterano chegou a atuar por uma temporada ao lado de Giovanni, antes de se tornar isoladamente a grande referência. Foram três temporadas em Pireu, de 2004 a 2007. Outros jogadores como o volante Dudu Cearense e o atacante Diogo também brilharam na Grécia na década de 2000. Já nos últimos dez anos, a qualidade dos brasileiros diminuiu um pouco. O volante Leandro Salino e o atacante Sebá tiveram passagens relativamente longas, enquanto o volante Guilherme se destacou. Mais recentemente, Tiquinho Soares ficou uma temporada no Karaiskakis. Rafinha e Marcelo também viraram apostas do clube, mas decepcionaram.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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