‘É a maçã envenenada da Branca de Neve’: os fortes ataques do presidente da Uefa à Superliga Europeia
O presidente da Uefa aumentou o tom nas críticas aos idealizadores da Superliga Europeia, expondo a ganância dos clubes que a defendem
Desde abril de 2021, a Superliga Europeia é um assunto que separa dois lados no futebol. Enquanto existem aqueles que defendem a criação de uma competição no continente reunindo clubes de peso, Uefa e Fifa somam esforços para que a ideia não crie vida. Em meio a esse cenário, a federação europeia lançou fortes ataques ao torneio através de seu presidente, Aleksander Ceferin.
Durante o 48º Congresso Ordinário da Uefa, realizado em Paris, nesta quinta-feira (8), o mandatário da Uefa aumentou o tom nas críticas aos idealizadores da Superliga Europeia. Ceferin expôs a história quase centenária da federação do continente em organizar competições, argumentando que dinheiro nenhum pode comprar tradição:
– Neste momento, algumas pessoas estão tentando pisar em 70 anos de história. Estão a tentar mudar este modelo europeu de futebol, apesar do seu sucesso. Dizem ser os salvadores do futebol, quando na realidade estão tentando cavar a sua sepultura. Se fazem de vítimas, quando na realidade não passam de predadores. Confundem monopólio com unidade, esmola com solidariedade. Falam muito sobre livres mercados, mas não sabem nada sobre liberdade de expressão.
Aleksander ainda expôs a ganância dos clubes que desejam criar a Superliga Europeia, que reuniria os mais ricos do continente. O presidente da Uefa usou o futebol como um exemplo do que está acontecendo na sociedade civil, exigindo a união entre todos os envolvidos nessa polêmica para dar um exemplo de que o esporte não é só um negócio:
– Parece que na União Europeia só uma lei conta: a lei do mercado. Algumas pessoas pensam que você pode comprar qualquer coisa. Tudo está à venda. Somos todos consumidores e nada mais. Este não é o tipo de sociedade que nós queremos transmitir aos nossos filhos. Não é o tipo de Europa que os seus pais fundadores imaginaram.
Aleksander Ceferin (UEFA president): "Right now people are trying to trample on 70 years of history, claiming to be saviours of football, in reality they are trying to dig its grave." pic.twitter.com/sSIz3TFPkV
— Barça Universal (@BarcaUniversal) February 8, 2024
Superliga Europeia divide opiniões
Tudo começou quando os 12 principais times da Europa – Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Arsenal, Chelsea, Manchester United, Liverpool, Manchester City, Tottenham, Juventus, Milan e Internazionale – anunciaram a criação de um novo torneio continental. A ideia não seria estruturada pela Uefa, teria um modelo fechado e participantes fixos.
De imediato, a comunidade global do futebol massacrou o projeto, principalmente na Inglaterra, o que fez com que a maioria dos clubes citados anteriormente desistissem da Superliga Europeia. A princípio, apenas Merengues, Barça e Velha Senhora continuaram defendendo a competição. O imbróglio foi parar na Justiça, já que a federação do continente tentou punir os três clubes que ainda tentavam viabilizar a ideia.
Vale reforçar que isso foi anulado por decisão judicial, e a Juventus acabou abandonando Real Madrid e Barcelona nos esforços pela criação da Superliga Europeia. No final de 2023, o Tribunal de Justiça Europeu declarou que os órgãos que regem o futebol, Fifa e Uefa, infrigiram a lei da União Europeia ao impedir a formação do novo torneio continental.
Apesar disso, a decisão não necessariamente significava que a Superliga Europeia poderia ser criada, já que essa deliberação depende das entidades do futebol do continente e do mundo. A empresa de desenvolvimento esportivo A22, que foi criada para ajudar na implementação da competição, lançou uma nova proposta que inclui 64 times masculinas e 32 femininos, disputando jogos no meio de semana em formato de liga.
Em mais um golpe nos planos de tirar a "Superliga" do papel, governos da União Europeia, liderados pela França, promovem defesa do modelo vigente de classificação para os torneios continentais via campeonatos nacionais. Apenas a Espanha não assinou o documento. https://t.co/zfOpY3Dqpm
— Leonardo Bertozzi (@lbertozzi) February 7, 2024
Contudo, a A22 não revelou os critérios para participação na Superliga Europeia. Com esse histórico em mente, o presidente da Uefa reforça seu discurso contrário à competição. Aleksander Ceferin acredita que a ideia de realizar um novo torneio continental é como a “maçã envenenada da branca de neve”. Para sustentar seu embasamento, ele explicou o conceito de pleonexia.
A maçã envenenada da Branca de Neve
“Os clubes são livres de participar em novas competições, se assim o desejarem. Ninguém quer impedí-los, ninguém lhes disse que não o podem fazer. Meus amigos, pleonexia é o desejo de ter sempre mais. Mais dinheiro, mais poder, mais capital, mais prestígio. Mais de qualquer coisa que alimente o senso de superioridade, ganância e orgulho de uma pessoa. Eles nunca podem ter o suficiente. Eles sempre querem mais e mais e não se importam se isso significa que os outros têm cada vez menos. Eles são superiores. Sócrates descreveu aqueles que sofriam de pleonexia como destruidores da coexistência e do bem comum. Eles sempre querem mais, mesmo que isso signifique destruir tudo ao seu redor. É por isso que a pleonexia é perigosa. É a maçã envenenada da Branca de Neve… Como os torcedores de futebol não são estúpidos, nada vai mudar. Eles sabem que uma ideia que parece boa apenas superficialmente é, na verdade, uma má ideia.Você pode não comprar sonhos. Não se pode comprar mérito esportivo. Não se pode comprar os valores que fazem do futebol um jogo forte e glorioso. Não se pode comprar 70 anos de história”.