Conference League

Guia da Conference 2023/24: 15 histórias interessantes para acompanhar

A Conference League já se firmou como uma competição cheia de histórias alternativas e também clubes tradicionais em busca da glória continental

A Conference League caiu no gosto do público em pouquíssimo tempo, especialmente daqueles que apreciam um futebol mais alternativo. A competição virou uma porta aberta a clubes dos mais diferentes países nas copas europeias. Várias bandeiras pintaram na Conference durante suas três primeiras edições e permitiram que se contassem as mais distintas histórias. Isso continua acontecendo na atual temporada, com as estreias continentais dos representantes de Ilhas Faroe, Islândia e Bósnia-Herzegovina. Mas sem que o torneio perca peso na sua reta final. É quando as camisas mais tradicionais costumam prevalecer, vide os títulos conquistados por Roma e West Ham, além dos vices de Feyenoord e Fiorentina.

A Conference é mais uma competição que passará pela mudança de formato da Uefa na próxima temporada. Há uma dúvida natural sobre o impacto do regulamento difícil de se absorver sobre o público geral. A Conference, inclusive, terá particularidades como menos jogos na fase de classificação em relação à Champions e à Liga Europa. É ver se o formulismo da Uefa não implode um torneio que começou muito bem e conseguiu gerar mais interesses a diferentes rincões do continente.

Abaixo, preparamos um especial sobre o início da Conference, como fazemos sempre na Trivela, contando 15 boas histórias. Fica o destaque para os times mais alternativos do certame, bem como aos favoritos e aos países que chegam com mais força. Abaixo, também os grupos sorteados.

Grupo A: Lille (França), Slovan Bratislava (Eslováquia), Olimpija Ljubljana (Eslovênia), KÍ Klaksvík (Ilhas Faroe)
Grupo B: Gent (Bélgica), Maccabi Tel Aviv (Israel), Zorya Luhansk (Ucrânia), Breidablik (Islândia)
Grupo C: Dinamo Zagreb (Croácia), Viktoria Plzen (República Tcheca), Astana (Cazaquistão), Ballkani (Kosovo)
Grupo D: Club Brugge (Bélgica), Bodo/Glimt (Noruega), Besiktas (Turquia), Lugano (Suíça)
Grupo E: AZ (Holanda), Aston Villa (Inglaterra), Legia Varsóvia (Polônia), Zrinjski Mostar (Bósnia)
Grupo F: Ferencváros (Hungria), Fiorentina (Itália), Genk (Bélgica), Cukaricki (Sérvia)
Grupo G: Eintracht Frankfurt (Alemanha), PAOK (Grécia), HJK Helsinque (Finlândia), Aberdeen (Escócia)
Grupo H: Fenerbahçe (Turquia), Ludogorets (Bulgária), Spartak Trnava (Eslováquia), Nordsjaelland (Dinamarca)

VEJA TAMBÉM: Este é o Guia Trivela da Liga Europa 2023/24

– KÍ Klaksvík, o pioneiro de Ilhas Faroe

O KÍ Klaksvík foi a grande sensação das preliminares na temporada europeia. E não poderia ser diferente, com um clube de uma cidade de 5 mil habitantes, que possui um elenco cheio de jogadores que conciliam o futebol com outros trabalhos. A epopeia não rendeu a Champions, como os alviazuis até chegaram a sonhar, mas a vaga na Conference não deixa de ser gigantesca. Afinal, Ilhas Faroe é o segundo território menos populoso a botar um time em fases de grupos europeias, só acima de Liechtenstein. O KÍ é tradicional no Campeonato Faroês, com 20 títulos da liga nacional, e chegou a aprontar em edições recentes das copas europeias, mas nada comparável ao que ocorreu nos últimos meses. A equipe começou nas preliminares da Champions e logo de cara surpreendeu o Ferencváros, com um 3 a 0 em Budapeste. Depois, passou nos pênaltis pelo Häcken. Ainda venderam caro a eliminação para o Molde, apenas na prorrogação. Os alviazuis ainda tentaram entrar na fase de grupos da Liga Europa, repescado para este torneio, e caíram diante do Sheriff Tiraspol, mas deu para comemorar a vaga na Conference. O craque do time é o ponta Árni Frederiksberg, que fez maravilhas durante as preliminares da LC, com seis gols e duas assistências em seis aparições. O ponta concilia a carreira com o trabalho de representante de vendas. Também chama atenção a história do goleiro Jonathan Johansson, que tinha se aposentado e vinha jogando como zagueiro no futebol amador, mas aceitou o chamado para ser salvador. O KÍ lidera o atual Campeonato Faroês com uma campanha arrasadora, de 18 vitórias e só uma derrota em 21 rodadas.

– Breidablik, o pioneiro da Islândia

As ilhas próximas do Círculo Polar Ártico não estarão sozinhas nesta Conference League. Além de Faroe, a Islândia também terá um representante inédito nas copas europeias. O sucesso islandês pode até nem soar como novidade, num país que disputou Copa do Mundo e Eurocopa. Pois o Breidablik tem ligação direta com essa representatividade da seleção, mesmo sem ser o clube mais tradicional do país. Localizados em Kópavogur, cidade de 37 mil habitantes, os alviverdes somam apenas dois troféus da liga nacional, o mais recente faturado em 2022. Em compensação, contam com prolíficas categorias de base que revelaram diversos jogadores da equipe nacional, entre eles Gylfi Sigurdsson, Alfred Finnbogason, Johann Berg Gudmundsson e Sverrir Ingi Ingason. Por causa do título nacional, o Breidablik iniciou sua temporada europeia na Champions. Disputou inclusive a primeira fase, com o “Final Four dos nanicos”, em que aplicou goleadas sobre Tre Penne e Buducnost Podgorica. Depois passou pelo Shamrock Rovers, mas não foi páreo diante do Copenhague. Os islandeses também caíram na Liga Europa, em embate com o Zrinjski Mostar. A vaga na Conference dependeu dos triunfos na última fase qualificatória, contra o Struga. É a primeira vez que um time passa por seis etapas para chegar aos grupos de um torneio europeu. O técnico da equipe é Óskar Thorvaldsson, com um elenco no qual entre os destaques está um faroês, o atacante Klaemint Olsen. O Breidablik é o terceiro colocado no atual Campeonato Islandês, mas já 21 pontos distante do líder Víkingur.

– Zrinjski Mostar, o pioneiro da Bósnia

A Bósnia-Herzegovina estava entre os países mais tradicionais no futebol que nunca tinham classificado um clube para a fase de grupos das competições europeias. Os bósnios chegaram a figurar com sucesso em mata-matas continentais nos tempos de Iugoslávia, com campanhas relevantes de Zeljeznicar, FK Sarajevo e Velez Mostar – incluindo uma semifinal de Copa da Uefa do primeiro nos anos 1980. Entretanto, o mesmo sucesso não se repetiu a partir da independência do país e o pioneirismo coube ao Zrinjski Mostar, rival do Velez. O clube possui uma história particular, ligado à comunidade croata da cidade de Mostar. Surgiu em 1905 e chegou a ser banido em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, por fazer parte do Campeonato Croata nos tempos de estado fantoche dos nazistas. O ressurgimento aconteceu em 1992, durante a Guerra da Iugoslávia, com a independência bósnia. Desde então, a equipe se estabeleceu como importante no Campeonato Bósnio e levou oito títulos. Entretanto, nunca com tamanho impacto além das fronteiras. O Zrinjski começou a atual temporada na Champions, passando por Urartu, antes de cair diante do Slovan Bratislava. Realocado para a Liga Europa, superou o Breidablik e só não disputou a fase de grupos da LE porque sucumbiu contra o LASK Linz. Krunoslav Rendulic é o treinador responsável pelo feito. Já o grande destaque em campo é o centroavante Nemanja Bilbija, maior artilheiro da história do Campeonato Bósnio e máximo goleador das três últimas edições da liga.

Kjetil Knutsen, técnico do Bodo/Glimt (DANIEL LEAL/AFP via Getty Images/One Football)

– A força dos nórdicos

Se por um lado há certo exotismo nas participações de KÍ Klaksvík e Breidablik, por outro eles apenas ampliam o que é uma temporada muito forte dos clubes nórdicos nas competições europeias. Todos os países da região terão seus representantes. Na Conference também estarão Dinamarca, Noruega e Finlândia, enquanto a Suécia, embora ausente, pelo menos disputará a Liga Europa. O mais qualificado é o Bodo/Glimt, que já virou figurinha carimbada nas competições europeias. O Raio sofreu sucessivos desmanches nas últimas temporadas, mas preserva o técnico Kjetil Knutsen. Também há bom jogadores que não saíram, como Amahl Pellegrino e Ulrik Saltnes, enquanto o capitão Patrick Berger até voltou. Os aurinegros são vice-líderes na reta final do Campeonato Norueguês e possuem um grande repertório na própria Conference. Outro candidato a ir longe, o Nordsjaelland é treinado por Johannes Thorup, de apenas 34 anos. O trabalho de base dos aurirrubros é sensacional, especialmente pela formação que realizam em Gana, de onde são os proprietários. O time atual conta com a volta por empréstimo do ponta Andreas Schjelderup, bem como a chegada do rodado Marcus Ingvartsen no ataque. Já o HJK Helsinque pode ter possibilidades mais limitadas, mas jogará a Conference pela segunda vez em três edições e é o mais tradicional no cenário europeu de todos os nórdicos do torneio. O time lidera o Campeonato Finlandês, sob a liderança do capitão Miro Tenho e os gols do centroavante Bojan Radulovic.

Dzeko e Tadic, do Fenerbahçe

– Respeito à dupla de Istambul

A Turquia pinta entre as favoritas a um bom papel na Conference League. Basta ver a qualidade à disposição de seus dois representantes, Fenerbahçe e Besiktas. Foi um mercado de transferências intenso na Süper Lig e isso deve se refletir também na frente continental. O Fener, dirigido por Ismail Kartal, montou um time praticamente novo. Edin Dzeko e Dusan Tadic chegaram sem custos e puxam a fila dos ótimos negócios dos Canários. O time ainda levou Dominik Livakovic, Sebastian Szymanski, Cengiz Ünder, Fred, Rodrigo Becão, Ryan Kent e Alexander Djiku. Outras boas opções como Michy Batshuayi, Irfan Can Kahveci e Ferdi Kadioglu seguem por lá. Já o Besiktas não foi tão midiático, mas sua coleção de novidades inclui Alex Oxlade-Chamberlain, Eric Bailly, Ante Rebic, Gökhan Inler, Daniel Amartey, Jean Onana e Milot Rashica. O técnico é o histórico Senol Günes, enquanto Vincent Aboubakar começou a temporada destruindo no ataque. Nas preliminares, o Besiktas venceu seus seis jogos contra KF Tirana, Neftchi Baku e Dynamo Kiev. O Fenerbahçe também ganhou os seis diante de Zimbru Chisinau, Maribor e Twente – com goleada para cima dos holandeses de lambuja. É preciso respeitar.

(Icon Sport)

– A Fiorentina busca se redimir

A Fiorentina sonhou com o título da Conference League na temporada passada. A Viola fez uma excelente campanha, sobretudo nos mata-matas, e tinha força para bater de frente com o West Ham, mas viu o troféu continental escapar. O time de Vincenzo Italiano, no entanto, ganha uma nova chance na competição – garantida pela desqualificação da Juventus por seus problemas com o Fair Play Financeiro. Alguns protagonistas deixaram o Estádio Artemio Franchi, como Arthur Cabral e Sofyan Amrabat. Os violetas também se mexeram no mercado para contratar jogadores como Yerry Mina e Arthur Melo, além de reforçarem o ataque com os bons Lucas Beltrán e M'Bala Nzola. É uma espinha dorsal ainda muito forte, pensando especialmente em Cristiano Biraghi, Giacomo Bonaventura e Nico González entre os protagonistas recentes. O começo ruim na Serie A passada facilitou o foco na Conference. É ver como a Fiorentina lidará com esse equilíbrio, numa campanha nacional que desta vez se iniciou com algumas oscilações.

(Icon Sport)

– A ausência dos ibéricos

A Liga Europa costuma ver um inegável sucesso da Península Ibérica nas fases finais, especialmente dos clubes da Espanha. Sevilla, Atlético de Madrid e Villarreal acumularam conquistas recentes no torneio, isso sem negar os títulos um pouco mais longínquos de times como Porto e Valencia. No entanto, os representantes ibéricos ainda não emplacaram na Conference. E a realidade é que a atual temporada foi desastrosa para espanhóis e portugueses desde as preliminares. Nenhum representante de ambos os países estará na fase de grupos. Os lusitanos tinham dois times, Arouca e Vitória de Guimarães. Os noruegueses do Brann e os eslovenos do Celje foram os algozes antes mesmo da última fase preliminar, já que nenhum deles também alcançou a etapa principal. De qualquer maneira, o clube ibérico mais forte era o Osasuna. Não se nega o impacto negativo da Uefa, que tentou bloquear a participação dos rojillos por um caso antigo de manipulação de resultados, o que influenciou no planejamento do clube. Também houve uma pitada de azar, com o confronto diante de um forte oponente como o Club Brugge. Mesmo assim, era de se esperar que o competitivo conjunto de Jagoba Arrasate estivesse na fase principal da Conference. Com a queda precoce, os espanhóis ficaram de mãos abanando.

Trapp, do Frankfurt (Martin Rose/Getty Images/One Football)

– O Eintracht Frankfurt tem credenciais

Durante o sorteio da Conference, o clube com maior pontuação no Ranking da Uefa era o Eintracht Frankfurt. O retrospecto continental recente coloca automaticamente as Águias entre os favoritos ao título do torneio. Na temporada passada, a SGE fez uma ótima campanha em seu retorno à Champions League depois de 62 anos. Conseguiu a classificação aos mata-matas num grupo bastante equilibrado. Antes disso, os bons momentos ocorreram na Liga Europa. O Frankfurt já tinha deixado sua marca com boas caminhadas nos mata-matas, mas nada comparado ao impacto de 2021/22, quando eliminaram uma porção de camisas pesadas e reconquistaram o título continental depois de 42 anos. O mínimo que se espera desta vez é outra caminhada longa da equipe. O técnico Dino Toppmöller assumiu nesta temporada e o início na Bundesliga não anima tanto, com muitos empates diante de oponentes da parte inferior da tabela. O mercado também teve várias perdas custosas, com as saídas de Randal Kolo Muani, Jesper Lindström, Djibril Sow, Evan Ndicka e Daichi Kamada. No entanto, o Eintracht também buscou uma baciada de reforços, com bons nomes como Ellyes Skhiri e Omar Marmoush. Além disso, uma base forte se preserva com Kevin Trapp, Tuta, Sebastian Rode e Mario Götze. As reconstruções não são incomuns dentro do Deutsche Bank Park e tal capacidade deve auxiliar.

Unai Emery (Foto: PA Images / Icon Sport)

– O Aston Villa com um especialista

O Aston Villa comemorou demais sua primeira aparição nas competições europeias em 13 anos. O clube de Birmingham fez por merecer sua vaga continental, diante da excelente campanha na Premier League, e retomou a história europeia de quem venceu inclusive a Champions League nos anos 1980. No papel, os Villans representam a equipe mais forte entre as 32 que começam a fase de grupos, sem muitas margens ao questionamento. A começar pela qualidade de seu treinador, Unai Emery, um especialista nas competições continentais. Os repetidos títulos que teve na Liga Europa, com Sevilla e Villarreal, apontam um caminho para o Villa. Não é o tipo de comandante que irá relegar a Conference a um segundo plano, como muitas vezes os ingleses fizeram com as copas europeias secundárias. O início na Premier League teve derrotas duras para Newcastle e Liverpool, mas garantiu também nove pontos em cinco rodadas. O elenco se tornou mais forte com as contratações pontuais de Moussa Diaby, Pau Torres, Nicolò Zaniolo, Youri Tielemans e Clément Lenglet. O que atrapalha mesmo são as lesões desse início de campanha. Mas vai ser um time cheio de atrações, especialmente pelas aparições continentais de nomes como Emiliano Martínez, Douglas Luiz, John McGinn e Ollie Watkins.

– A volta do Aberdeen

A Escócia vem conseguindo colocar seus representantes na fase de grupos da Conference. Na temporada passada, os escoceses contaram com o Hearts, apesar da campanha sem muito fôlego. Desta vez, quem pinta na fase de grupos é o Aberdeen, um time que se acostumou a representar a principal ameaça à dupla de Glasgow na liga nacional. Os Dons possuem um passado valioso nas copas europeias, com 37 participações e sua maior glória na Recopa de 1983 – quando o célebre time dirigido por Sir Alex Ferguson conseguiu a proeza de vencer o Real Madrid numa final europeia. Entretanto, fazia tempo da última aparição na fase de grupos, ainda na Copa da Uefa de 2007/08, quando os alvirrubros passaram aos mata-matas e até arrancaram um empate contra o Bayern de Munique. A vaga na Conference foi garantida pela melhora da Escócia no Ranking da Uefa, impulsionada por Celtic e Rangers. Como entrou na Liga Europa, o Aberdeen foi repescado após a eliminação diante do Häcken. Não é um bom começo de temporada, ainda sem vitórias na liga nacional. Barry Robson é o treinador que tentará levar os escoceses além, mas num grupo difícil.

Igor Thiago, ex-Cruzeiro, que defende o Club Brugge, da Bélgica
Thiago comemora um de seus gols pelo Club Brugge, da Bélgica – Foto: Bruno Fahy/Icon Sport

– A Bélgica em peso

O Campeonato Belga aproveita a Conference League para elevar seus números no Ranking da Uefa. A atual edição está sendo uma ótima oportunidade ao país, com três representantes na fase de grupos. E três equipes que podem fazer bonito, diante de seu histórico recente. Responsável por eliminar o Osasuna nas preliminares, o Club Brugge vem de cinco participações consecutivas na fase de grupos da Champions League e alcançou até os mata-matas na temporada passada. Não conseguiu manter a hegemonia nacional, mas tem um elenco forte sob as ordens de Ronny Deila. Simon Mignolet, Hans Vanaken, Andreas Skov Olsen e Tajon Buchanan são algumas das figuras, com a chegada do brasileiro Igor Thiago para a atual temporada. O Genk bateu na trave em busca do título nacional e também disputou a Champions não faz muito tempo. Wouter Vrancken é o comandante do time com bons jovens, como Bilal El Khannouss e Yira Sor. Andi Zeqiri é um belo reforço para a temporada. Já o Gent emenda sua terceira participação na Conference e alcançou as quartas de final na última temporada, fazendo o West Ham passar apuros no confronto. A equipe dirigida por Hein Vanhaezebrouck lidera o início do Campeonato Belga. Será o momento de apreciar os gols do prodígio Gift Orban, que arrebentou na última Conference, numa linha de frente que também reúne os mais rodados Hugo Cuypers e Tarik Tissoudali.

– O domínio da Cortina de Ferro

A Conference League é uma competição criada para abarcar o máximo de países. A sua própria estrutura beneficia isso, com os campeões nacionais repescados da Champions e as vagas diminutas às ligas mais ricas do continente. E no cardápio recheado, há muitos países do Leste Europeu que batem cartão. Desta vez, são nada menos que 13 times de nações que compunham a antiga Cortina de Ferro. Há claros destaques. A antiga Iugoslávia tem cinco equipes. O Dinamo Zagreb sem dúvidas é o mais forte, mas passa por uma reformulação e vendeu vários jogadores importantes nessa temporada – como Dominik Livakovic, Josip Sutalo e Luka Ivanusec. O centroavante Bruno Petkovic é quem lidera a atual equipe, como sempre arraigada nas excelentes categorias de base dos azuis. O Ballkani coloca Kosovo pela segunda vez em fases de grupos, enquanto entre os estreantes há o bósnio Zrinjski Mostar, o sérvio Cukaricki e o esloveno Olimpija Ljubljana. A Eslováquia também aparece com força, graças a Spartak Trnava e Slovan Bratislava – este com um time experiente que inclui Milan Borjan, Juraj Kucka e Vladimir Weiss.

De resto, as equipes estão mais espalhadas. Um candidato a chegar longe é o Ferencváros, que começou mal a temporada continental, mas possui um bom histórico recente e foi assumido pelo técnico Dejan Stankovic. É um elenco forte, com jogadores como o atacante Adama Malouda Traoré e o goleiro Dénes Dibusz. O Ludogorets é outro com bom retrospecto continental e reúne sua legião de brasileiros, entre eles Caio Vidal e Pedro Naressi. O Viktoria Plzen tenta elevar o ranking dos tchecos com um time cheio de jogadores da seleção local, incluindo o experiente Matej Vydra. O Legia Varsóvia tem a seu favor um enorme caldeirão, além de um elenco também enriquecido pela experiência de jogadores de seleção, como o centroavante Tomas Pekhart. O Astana surfa na onda do sucesso recente da seleção cazaque, além de trazer medalhões da Armênia. Já o Zorya Luhansk precisa se virar longe da Ucrânia, mas conseguiu atrair alguns estrangeiros, entre eles o ponta Wendell, do Goiás.

Jonathan David, artilheiro do Lille (Icon Sport)

– Lille e AZ podem aprontar

O Campeonato Francês e o Campeonato Holandês não costumam ser tão cotados nas copas europeias, até quando se compara com o histórico das ligas mais ricas do continente. Porém, ambos serão representados por times com potencial na Conference. O Lille tem condições de chegar longe, vide o histórico recente, em que desbancou até o PSG pelo título da Ligue 1. Ainda falta um grande feito continental aos Dogues, que nunca alcançaram quartas de final nos torneios da Uefa. O começo da nova temporada tem seus altos e baixos sob as ordens de Paulo Fonseca, mas é um bom elenco. Jonathan David permanece entre os melhores centroavantes do Francesão, num plantel que ganhou a interessante adição de Samuel Umtiti para a atual temporada. Já o AZ se credencia por uma história que rendeu vice de Copa da Uefa nos anos 1980, além de uma baita campanha na última Conference. Os alvirrubros eliminaram Anderlecht e Lazio, parando só no West Ham durante as semifinais. A equipe de Pascal Jensen mantém os 100% de aproveitamento na atual Eredivisie e lidera, mesmo após perder figuras talentosas como Tijjani Reijnders e Milos Kerkez. Vangelis Pavlidis é um bom centroavante e Yukinari Sugawara vive grande fase na lateral. Ainda há muita experiência à disposição com Mat Ryan e Jordy Clasie.

– A final em Atenas

A Uefa acertou na escolha do estádio para a final da Conference, com um palco bem legal. É verdade que Atenas possui até final de Champions em seu currículo, com três decisões no Estádio Olímpico, mas já se passaram quase 16 anos desde a última vez que isso aconteceu. Além de premiar um país apaixonado pelo esporte, a entidade continental ainda escolheu um estádio novíssimo: o Agia Sophia, casa do AEK Atenas. Os aurinegros tiveram uma simbólica inauguração da arena durante a última temporada, e não apenas por acabarem com o título do Campeonato Grego. Era uma ansiada volta para casa, no bairro onde o clube fincou raízes em Atenas, embora tenha passado as últimas décadas rodando por outros estádios. O antigo estádio do AEK sofreu danos estruturais por causa de um terremoto ainda em 1999 e a reforma foi atravancada por promessas do poder público, bem como por uma severa crise financeira enfrentada pelos atenienses. A construção da nova casa soou como o fim de um longo exílio. Não é a estrutura mais suntuosa, mas o Agia Sofia é moderno e abrigará 32,5 mil torcedores na decisão continental. Vale lembrar que o PAOK terá a chance de disputar a final na Grécia. Os alvinegros têm ligações históricas com o AEK por suas raízes em Constantinopla. Razvan Lucescu voltou ao comando do clube, num time estrelado por Taison e Marcos Antônio.

Declan Rice, do West Ham (Icon Sport)

– A repescagem da Liga Europa

A Conference League possui mecanismos parecidos com a Liga Europa, ao repescar times eliminados na fase de grupos da competição continental acima. Porém, os terceiros colocados na LE não têm causado tanto impacto assim na Conference. Na edição passada, nenhum desses times da Liga Europa sequer passou das oitavas de final. Já em 2021/22, na primeira edição da Conference, Leicester e Olympique de Marseille pararam nas semifinais. Por enquanto, todos os finalistas da Conference iniciaram suas campanhas no próprio torneio, o que não é algo comum ao se olhar para a Liga Europa e as equipes repescadas da Champions – vide o Sevilla campeão na última temporada. O nível inicial da Conference pode nem ser o mais alto, mas há times competentes para sonhar com a taça. A única ressalva é mesmo para o domínio das grandes ligas. Mesmo com apenas um representante, o início do torneio é marcado pelas glórias de Itália e Inglaterra.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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