Copa do Mundo

Classificação do Irã à Copa do Mundo pode causar problema diplomático com EUA?

Iranianos devem ser impedidos de entrar nos Estados Unidos, segundo norma do governo americano de Donald Trump

O Irã confirmou sua sétima participação em Copas do Mundo na edição de 2026. Nesta terça-feira (25), a seleção do Oriente Médio empatou com o Uzbequistão e foi o suficiente para se classificar para o Mundial que será disputado nos Estados Unidos, Canadá e México.

A ida para a principal competições de seleções do planeta, no entanto, levanta dúvidas sobre um problema diplomático.

O governo americano de Donald Trump prepara uma norma para restringir o acesso de pessoas vindo de diversos países do mundo, segundo informações do jornal “The New York Times”. A lista com os países está dividida em três categorias: amarelo, laranja e vermelho, sendo a última de total restrição e que o Irã está presente.

Isso obriga que pessoas nascidas na nação asiática só possam chegar nos EUA com vistos especiais e raros de serem emitidos. Os países não possuem relações diplomáticas desde 1979, quando aconteceu a Revolução Iraniana.

A Trivela buscou especialistas no assunto para entender se realmente o Team Melli (como é conhecido o selecionado do Golfo Pérsico) e seus torcedores poderão ter problemas na ida aos Estados Unidos para a disputa do torneio no ano que vem.

Irã pode não participar da Copa do Mundo? E os torcedores?

Para o professor José Paulo Florenzano, coordenador do curso de Ciências Sociais e professor do departamento de antropologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as políticas que o governo americano têm tomado desde que Trump reassumiu a Casa Branca, em janeiro deste ano, tornam o cenário “difícil de prever” nas relações internacionais.

Ele aponta três situações possíveis para a Copa de 2026: um pessimista, imaginando que a Fifa precisaria agir e colocar o Irã ou outra nação considerada “inimiga” jogando apenas nas outras sedes; um improvável, projetando que possíveis conflitos armados dos americanos (por anexações ou incursões em outros territórios) poderiam causar um boicote de outros países; e um otimista, sem qualquer proibição do governo.

O professor Jorge Mortean, mestre em Estudos Regionais do Oriente Médio pela escola de Relações Internacionais do Ministério de Relações Exteriores do Irã e doutorando em Geografia Política na Universidade de São Paulo (USP), está mais alinhado ao cenário otimista.

Segundo ele, o histórico dos Estados Unidos ao receber competições indica que o governo deve aceitar a ida do Irã à Copa sem problemas, mesmo com a imprevisibilidade do presidente, pois poderia ter problemas em competições no futuro.

— Os EUA têm como costume respeitar convenções internacionais desportivas oficiais. Ainda que o governo Trump seja imprevisível e inconsequente, qualquer ação contrária dos EUA em relação à viabilidade de um torneio oficial internacional conforme sua estrutura prevista abriria um precedente de retaliação à participação de seleções norte-americanas em futuros torneios mundo afora, por isso penso que seja um tanto improvável — contextualizou o professor.

Seleção do Irã comemora classificação à Copa do Mundo de 2026
Seleção do Irã comemora classificação à Copa do Mundo de 2026 (Foto: Imago)

A presença da seleção iraniana, no entanto, não deve mudar a realidade para os torcedores do selecionado. Os três tipos de vistos que são liberados a cidadãos do país asiático se tornaram cada vez mais difíceis de serem retirados.

— Absolutamente será vedada toda e qualquer entrada de cidadãos comuns para compor a torcida. EUA e Irã têm trâmites extremamente dificultosos com relação a vistos, e os casos são exclusivamente restritos a três tipos, cada vez mais raros — explicou o Mortean.

Os três tipos de vistos que os EUA aceitam de iranianos:

  • Vistos diplomáticos (a representantes da Chancelaria iraniana que atuam na sede da ONU em Nova Iorque);
  • Vistos estudantis (sobretudo a pós-graduandos iranianos que conseguem bolsa de estudos em universidades nos EUA);
  • Vistos de refúgio/asilo político (casos ligados a violações dos Direitos Humanos por parte do regime teocrático de Teerã).

Já Florenzano ainda aponta que o comparecimento nos EUA não será complexo apenas para iranianos, mas também para várias nacionalidades que têm sofrido com deportações desde o início do ano.

— As torcidas das equipes latino-americanas, árabe muçulmanas e africanas, não poderão transitar com liberdade pelas fronteiras dos países sedes e frequentar com segurança os estádios do evento. Ao contrário, deverão enfrentar as ameaças de prisões arbitrárias e deportações sumárias, medidas cada vez mais naturalizadas em um clima geral de aberta hostilidade aos imigrantes, promovido por um governo autoritário que se encontra empenhado em eliminar o Estado de Direito — detalhou o professor da PUC.

- - Continua após o recado - -

Assine a newsletter da Trivela e junte-se à nossa comunidade. Receba conteúdo exclusivo toda semana e concorra a prêmios incríveis!

Já somos mais de 3.200 apaixonados por futebol!

Ao se inscrever, você concorda com a nossa Termos de Uso.

Comunidade ‘Tehrangeles' deve marcar presença na Copa dos EUA

Taremi cumprimenta Pulisic antes de jogo entre Irã e Estados Unidos
Taremi cumprimenta Pulisic antes de jogo entre Irã e Estados Unidos (Foto: Imago)

Jorge Mortean, porém, esclarece que o Team Melli poderá ver torcedores com a camisa da seleção nas arquibancadas. Isso porque há uma comunidade de expatriados do Irã, especialmente na Califórnia, que saíram do país por conta da revolução de 79. Eles são chamados de “Tehrangeles”, uma mistura dos nomes da capital iraniana Teerã e a cidade de Los Angeles.

Esse grupo, apesar de poder ser numeroso nos estádios, não deve ser de um apoio, como explica o doutorando em Geografia Política na USP. O professor também relembrou o episódio do último Mundial, no Catar em 2022, quando a seleção do Irã se recusou a cantar o hino nacional antes de um jogo como apoio a protestos que tomavam o país na época.

— Friso que será uma presença, e não um apoio/torcida, pois esses expatriados, e provavelmente os próprios jogadores, aproveitariam a ocasião para protestar ao vivo contra o regime iraniano, como já foi observado na última Copa e isso, de certa forma, ajudaria e muito a corroborar a retórica anti-iraniana do governo Trump — concluiu Mortean.

As partidas da Copa de 2026 em Los Angeles serão no SoFi Stadium.

Venezuela e Sudão também estão na lista vermelha e podem se classificar à Copa

Além do Irã, Afeganistão, Butão, Cuba, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Síria, Iêmen, Venezuela e Sudão também estão na lista vermelha que podem ver seus cidadãos serem proibidos de entrar em território americano. Os dois últimos tem boas chances de classificaram ao Mundial.

Após 14 rodadas das Eliminatórias Sul-Americanas, a seleção venezuelana soma 15 pontos e está na sétima posição, lugar que leva à repescagem.

Já a nação africana, mesmo em meio a uma guerra, protagoniza grande disputa. O selecionado sudanês é terceiro do grupo B da classificação na África, apenas um ponto atrás do líder, único que vai direto ao Mundial.

Assim como o Irã, a presença da dupla também não deve ser vetada pelo governo dos EUA, segundo Mortean.

Seleções classificadas à Copa do Mundo de 2026

  • EUA (país-sede)
  • México (país-sede)
  • Canadá (país-sede)
  • Japão (Eliminatórias Asiáticas)
  • Nova Zelândia (Eliminatórias da Oceania)
  • Irã (Eliminatórias Asiáticas)
  • Argentina (Eliminatórias Sul-Americanas)
Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
Botão Voltar ao topo