Brasil

Sem Ancelotti, CBF se vê na urgência de resolver em seis meses o que não conseguiu em um ano

Com contrato até o meio do ano, Fernando Diniz ainda não foi procurado para tratar de renovação

Assim que anunciou a renovação de contrato com Carlo Ancelotti até 2026, o Real Madrid proferiu também uma sentença com requintes de crueldade para a CBF. A entidade tinha o italiano como nome certo para assumir o comando da seleção brasileira a partir de junho. Mas o que parecia ser uma realidade tranquilizadora para o futuro a curto prazo virou apenas um devaneio do ex-presidente Ednaldo Rodrigues. O acordo com o clube espanhol transferiu ao futuro mandatário (seja ele quem for) a missão de definir com urgência quem será o novo treinador da Seleção.

De tão vexatório, o roteiro parece até fabricado para um drama hollywoodiano. O próximo presidente assumirá a CBF com bastidores em ebulição logo após aquele que pode ser considerado o pior ano da entidade e da seleção brasileira. Ele terá de resolver em menos de seis meses algo que Ednaldo não conseguiu solucionar em mais de um ano desde a saída de Tite. Com dois detalhe: sequer há data definida para as novas eleições presidenciais, e tudo isso terá de ser definido em meio a uma severa crise institucional.

Diniz não foi procurado sobre renovação

A situação atual é tão grave, que a única certeza sobre a seleção brasileira tem um curto prazo de validade. De fato, só é possível afirmar que Fernando Diniz será o técnico até junho, quando encerra o seu contrato. A partir daí, tudo é terreno nebuloso para o futuro em campo do brasil.

Até agora, o treinador não foi procurado para tratar de renovação, ou de permanência ao menos até a Copa América. Também, seria impossível algo diferente disso: a CBF atualmente está sob o comando interino de José Perdiz, presidente licenciado do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por 30 dias. Ou seja: sequer há um mandatário que possa conduzir quaisquer decisões sobre o cargo de treinador. Além disso, o técnico está offline. Ele desfruta de um merecido período de férias após a disputa do Mundial de Clubes pelo Fluminense.

Fernando Diniz tem apenas 38% de aproveitamento na Seleção desde que assumiu como interino - Foto: Icon sport
Fernando Diniz tem apenas 38% de aproveitamento na Seleção desde que assumiu – Foto: Icon sport

Acerto com Ancelotti era dado como certo

O papelão da CBF com a permanência de Ancelotti na Espanha tem muito mais a ver com a postura da entidade do que com o anúncio feito pelo Real Madrid na última sexta-feira (29). É que a chegada do italiano era tratada como assunto já resolvido há tempos. O ex-presidente Ednaldo Rodrigues se orgulhava de um acerto com o treinador desde junho deste ano, pouco antes do anúncio de Fernando Diniz como técnico.

Só faltava assinar. “Só”. Como Ancelotti tinha vínculo com o Real Madrid até a metade de 2024 (e agora, é até 2026), ele não poderia assinar nenhum outro contrato até janeiro. A CBF dizia já ter garantias para bancar a chegada do treinador, e o próprio Ednaldo Rodrigues deixou escapar logo após a primeira convocação de Diniz, que o italiano assumiria a Seleção. Mas aquele velho ditado já lembrava: o peixe morre pela boca, e o ser humano morre pela língua.

E que língua! Não bastasse afirmar informalmente a jornalistas que Ancelotti seria o técnico da Seleção a partir de junho, Ednaldo Rodrigues também garantia aos jogadores que o treinador assumiria a equipe. O descrédito da CBF reina até mesmo entre o elenco, dentro do vestiário da seleção brasileira. O relato ouvido pela Trivela, aliás, é de que o ex-mandatário teve de pedir o contato do técnico a um dos atletas que já trabalhou com o italiano para iniciar as conversas.

 

Quando a Seleção volta a jogar?

Ao menos, a Seleção só volta a jogar em março do ano que vem. No dia 23, o Brasil enfrenta a Inglaterra em um amistoso em Wembley, em Londres. Está previsto ainda outro duelo com a Espanha, no Santiago Bernabéu. Mas até agora, esta partida não foi oficializada pela CBF. Estes serão os últimos dois compromissos sob o comando do técnico Fernando Diniz e antes da disputa da Copa América. Resta saber quem assumirá a seleção brasileira a partir daí.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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