Brasil

CBF enfim atende pedido por jogo contra europeu e enfrentará Inglaterra em março de 2024

Amistoso diante dos ingleses é uma chance da seleção brasileira atuar contra uma seleção de ponta da Europa, um pedido que era feito pelo ex-treinador, Tite, e por grande parte da crítica

A seleção brasileira fará amistoso contra a Inglaterra em março de 2024, em Wembley. O jogo será realizado no dia 23 de março, no Estádio de Wembley, durante a data Fifa daquele mês. Com isso, a CBF atende a um pedido não só de grande parte da crítica e da torcida, mas também dos técnicos, tanto o ex, Tite, quanto o atual, Fernando Diniz.

Desde 2006, o Brasil é consecutivamente eliminado por seleções europeias no mata-mata da Copa do Mundo. Em 2006 perdeu da França nas quartas de final; em 2010, da Holanda, também nas quartas de final; em 2014, foi varrido com o doloroso 7 a 1 pela Alemanha na semifinal; em 2018, o algoz foi a Bélgica, nas quartas de final; por fim, em 2022, caiu diante da Croácia mais uma vez nas quartas de final.

A criação da Liga das Nações da Uefa, criada em 2018, reduziu drasticamente a disponibilidade dos europeus para amistosos contra seleções de outros continentes. O torneio foi uma forma que a Uefa criou para dar um sentido mais competitivo ao que antes eram amistosos, mas ao mesmo tempo fechou os europeus a atuarem praticamente só contra si mesmo, com algumas poucas datas livres para outros jogos.

Além do jogo contra a Inglaterra, o Brasil também jogará com a Espanha na mesma data Fifa, em dia ainda não confirmado. A data Fifa de março vai de 18 a 26 de março. Como o jogo contra a Inglaterra é no dia 23, muito provavelmente o jogo contra a Espanha será no dia 26 de março, mas ainda falta confirmação. Brasil e Espanha se enfrentarão no Estádio Santiago Bernabéu, em Madri. São, portanto, dois duelos de peso para o Brasil em 2024.

“O objetivo é sempre fechar jogos da Seleção Brasileira contra grandes equipes, especialmente equipes campeãs do mundo, para que possamos ter confrontos de alto nível técnico, que permitam também uma avaliação do desempenho da Seleção Brasileira em testes como estes. Nos jogos contra a Inglaterra e a Espanha, no ano que vem, teremos dois grandes clássicos do futebol mundial e, certamente, dois grandes espetáculos”, afirmou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

Considerando a pressão que Fernando Diniz já enfrenta depois de vencer seus dois primeiros jogos, contra Bolívia e Peru, empatar com a Venezuela no terceiro e perder de forma categórica do Uruguai no quarto, será um momento de ainda mais pressão. Especialmente porque o Brasil terá um importante duelo com a Argentina na data Fifa de novembro. Enfrentará primeiro a Colômbia, no dia 16 de novembro, em Barranquilla, e depois a Argentina, no dia 21, no Maracanã.

Estádio de Wembley, em Londres (Icon Sport)

Confrontos com europeus fazem falta, mas têm peso exagerado na crítica

A falta de confrontos com times europeus é vista como um problema na preparação do Brasil. Aliás, este é um aspecto que recebe um peso até maior do que deveria, por vezes minimizando a qualidade dos times sul-americanos comparados aos europeus. As Eliminatórias são bastante tranquilas para o Brasil, de modo gera, pelo alto número de vagas (antes quatro, agora seis vagas diretas), mas não quer dizer que as seleções sul-americanas sejam galinhas mortas que não fazem cócegas em ninguém.

É só lembrar o que aconteceu na Copa. Não só porque a Argentina foi campeã, mas porque mesmo seleções consideradas de segundo nível, como o Equador, deram trabalho para seleções como a Holanda na primeira fase. Em 2018, vimos o Peru fazer a França, que seria campeã, sofrer um bocado também. Não quer dizer que sejam seleções do mesmo nível que os adversários citados, mas apenas para dizer que passam longe de serem apenas babas que o Brasil tem obrigação de atropelar como se não fossem nada.

A falta de duelos com os europeus é sim um problema, porque os desafios oferecidos são, em geral, diferentes. Boas equipes técnicas, com dificuldades diferentes também nas formas de atacar e se defender. Jogar contra a Inglaterra em Wembley é um bom desafio para a seleção brasileira, que não terá Neymar e terá uma seleção que foi finalista da última Eurocopa e fez um bom papel na Copa, vendendo caríssimo a derrota para a finalista França.

O ponto aqui é que o Brasil não foi eliminado nas últimas cinco Copas do Mundo por europeus no mata-mata pela falta de bons duelos com essas seleções. Esse é um fator que atrapalha a preparação, mas está longe de ser uma explicação realmente relevante. Tanto é que a Argentina foi campeã e enfrenta o mesmo problema. É algo que precisa ser repensado pela Conmebol e até pela Fifa, em última instância, mas é preciso parar de criar fantasmas onde não existem.

Uma Liga das Nações com a Fifa, com tudo

A Fifa tem uma grande vontade de criar uma Liga das Nações em versão mundial e já falava sobre isso em 2017.É mais um capítulo da queda de braço entre Uefa e Fifa, porque a Uefa, claro, gosta da Liga das Nações em versão apenas europeia, porque é ela quem colhe as receitas dos belos direitos de TV das emissoras. A Fifa quer algo assim para si, mas necessariamente passaria por derrubar algo da Uefa.

Como a Uefa não é boba e nem nada, em 2021, já se anunciava um plano de se unir com a Conmebol para a criação de uma espécie de Liga das Nações conjunta entre os dois continentes. Esse seria um golpe forte na Fifa, porque são os dois continentes mais relevantes do futebol mundial. Afinal, todos os campeões mundiais saíram desses dois continentes.

Em 2022, às vésperas da final da Copa, essa ideia voltou a aparecer e a Fifa chegou a falar em um torneio chamado de World Series, reunindo seleções do mundo como um torneio amistoso em anos pares (uma espécie de Liga das Nações reduzida).

Seja como for, já se sabe que essa história de Liga das Nações veio para ficar, mas há conversas sobre ampliar para além da Europa. A Concacaf criou uma sua, mas que evidentemente não gera a mesma atração. A Conmebol não tem sentido criar uma com o calendário absolutamente congestionado que suas Eliminatórias possuem. Poderia ser até uma boa ideia, se as Eliminatórias fossem reduzidas a menos da metade dos jogos.

Europeus também sentem falta de duelos com sul-americanos

Esse tipo de duelo ajuda o time a se preparar melhor. Curiosamente, esse problema também é visto pelos europeus: para eles, faltam bons duelos com os sul-americanos para avaliar melhor os seus times. É algo que Van Gaal já falou em 2021, ainda como técnico da seleção holandesa.

“Temos que medir nossas forças contra as melhores seleções, porque isso não aconteceu durante os últimos dois anos. Quero jogar contra diferentes culturas de futebol. Uma seleção da América do Sul é muito diferente da Alemanha, por exemplo. Estamos trabalhando para arranjar isso, mas é difícil por causa do coronavírus e também do calendário da Fifa”, afirmou o treinador.

Duelos contra times sul-americanos ajudariam os times europeus a também se prepararem melhor para seus torneios. Mas isso é algo que fica em segundo plano quando estamos falando de um torneio que dá mais dinheiro às federações nacionais europeias do que amistosos. E aí, meu amigo, como dizem, Money talks. Ao menos até que alguém dê uma ideia que tenha um argumento (financeiro, claro) melhor.

Ainda falta jogar mais pelo Brasil

A CBF prometeu que a Seleção vai jogar em todo o país e vai usar as Eliminatórias para isso. Foi algo que nosso repórter Eduardo Deconto nos contou na data Fifa de setembro. O problema é que isso é uma prática comum já nos últimos ciclos: jogar as Eliminatórias em vários lugares do país é uma prática corriqueira há anos. Então, na prática, mudou alguma coisa?

Se especulava que Brasil x Argentina poderia ser em Manaus. A CBF foi mais conservadora nessa: escolheu mesmo o Maracanã como palco para o duelo contra os atuais campeões do mundo, naquele que pode ser o último jogo de Lionel Messi pela Argentina em território brasileiro.

É preciso dizer que o Brasil é obrigado a jogar em seu território nas Eliminatórias. Parece um tanto óbvio, mas é por isso que a CBF fala que vai usar as Eliminatórias para isso. Ela é obrigada a atuar no Brasil e os adversários têm pouco ou nenhum poder de escolha. Esse é um ponto crucial, porque quando se fala em jogar mais no Brasil, se fala especificamente de amistosos. As Eliminatórias o Brasil precisa jogar aqui, então não há essa discussão.

A CBF gosta de usar cortinas de fumaça e manobras discursivas para dizer que atende os pedidos do torcedor e da crítica. Isso aconteceu todo ano quando a entidade mostra o calendário e diz que respeitará as datas Fifa. O calendário 2024 diz isso, mais uma vez, mesmo que isso não seja exatamente verdade, como explicado por Gabriel Rodrigues neste texto.

Por isso, Ednaldo Rodrigues falou com tanta ênfase que o Brasil vai ser atuar em diversos territórios do país nas Eliminatórias. “Sempre que for possível e tivermos condições, vamos estar colocando, até porque os atletas também gostam de jogar no Brasil. É a CBF que cuida dessas partidas, e a gente vai sempre priorizar (jogar no Brasil), disse Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

Legal, presidente, só que esse é o famoso: não faz mais do que a obrigação. Nesse caso, uma obrigação literal, de regulamento: o Brasil precisa mandar os jogos das Eliminatórias no seu território. Mas e os amistosos? Ah, meu filho, aí é outra coisa. Vocês também, hein? Querem demais, só sabem criticar, diria alguém por aí.

Aqui é preciso entender também que é difícil convencer uma seleção de fora da América do Sul a vir para o Brasil para jogar apenas um amistoso. Seria preciso criar um evento com patrocinadores que banquem esse custo para uma equipe europeia, asiática ou mesmo africana. Os Estados Unidos fizeram isso recentemente, quando chamaram a Alemanha para atuar em seu território em amistoso e os alemães aproveitaram para jogarem também contra os mexicanos na mesma data Fifa. Ou seja: é difícil, mas é possível.

Se há tanto interesse em um jogo no Brasil, seria legal que trouxesse amistosos para cá também. Jogos contra, por exemplo, o Japão, que tem barbarizado os adversários em amistosos recentes, seriam bem interessantes. Talvez trazer uma seleção africana que possa fazer amistosos também contra outra seleção do continente na mesma data Fifa. Seria interessante. Mas a gente sabe que dificilmente vai acontecer.

Dificilmente vai acontecer porque isso exige muito trabalho, muita negociação, articulação com patrocinadores para tornar esses jogos atrativos para as seleções que vierem visitar o Brasil, enfim, exige uma organização e atuação que a CBF não mostrou ter capacidade de fazer nos últimos anos. Quem sabe isso mude, mas não é o que parece no momento.

O que vemos é uma seleção brasileira que tem um técnico com prazo de validade, até junho de 2024, que tem um estilo bastante único de treinar os seus times e, quem sabe, talvez, se tudo der certo, se as coisas correrem como Ednaldo Rodrigues quer e se Carlo Ancelotti ainda quiser vir até lá, em junho de 2024 o italiano será o treinador da seleção. Reparou que tem muitos “se”, né? Pois bem, é melhor esperar sentado, só por precaução.  

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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