Diretoria do São Paulo pensou grande para ser campeão da Copa do Brasil, mas pagou o preço fora de campo
São Paulo segurou jogadores para ser campeão, mas deve encerrar ano com déficit, mesmo com título e Morumbi lotado
Julio Casares sequer teve um candidato opositor no pleito que o consagrou como presidente reeleito do São Paulo para o triênio 2024-2026. Para além das articulações políticas que consolidam o mandatário no poder, o enfraquecimento da oposição nos bastidores do Conselho Deliberativo é também um sintoma de um ano em que a atual gestão muito mais acertou do que errou no comando do Tricolor ao longo de 2023. O título inédito da Copa do Brasil não foi fruto do acaso, mas sim de uma aposta de alto risco da diretoria que deu certo. Mas essa estratégia também cobra seu preço – e ele é bem alto – nas finanças do clube.
Tudo isso, porque para ser campeão, o São Paulo precisou fazer vista grossa à obrigação de vender jogadores para conseguir fechar as contas do ano. O técnico Dorival Júnior pediu à diretoria que não negociasse seus titulares para manter o time competitivo no segundo semestre. A diretoria não só acatou, como pensou ainda mais longe. As duas únicas contratações de meio de ano foram no sentido de fazer o São Paulo dar um salto de patamar. Na melhor janela do futebol brasileiro, o clube trouxe Lucas Moura e James Rodríguez como grandes reforços.
Enquanto o time avançava na Copa do Brasil, e o sonho do título ia ficando cada vez mais real, o Morumbi lotava, e aí depois, lotava de novo. Com preços populares de ingressos (à exceção da final da Copa do Brasil), o São Paulo quebrou recorde atrás de recorde de público e de bilheterias.
O problema é que a conta sempre chega. E ela atingiu com força a já delicada saúde financeira do São Paulo. O clube enfrentou severos problemas para conseguir pagar salários e direitos de imagem ao elenco. Sem vender jogadores, o Tricolor encerrará o ano com déficit e, portanto, aumento de sua já astronômica dívida.
Após votação realizada nesta sexta-feira (8), Julio Casares é reeleito Presidente da Diretoria do São Paulo Futebol Clube. Olten Ayres, também reeleito, segue como Presidente do Conselho Deliberativo.
Saiba mais: https://t.co/91JctNeAzN#VamosSãoPaulo ?? pic.twitter.com/wzjkzROtjk
— São Paulo FC (@SaoPauloFC) December 9, 2023
O que deu certo fora de campo para o São Paulo em 2023
O título da Copa do Brasil é a prova de que a estratégia do São Paulo de segurar os seus principais jogadores e manter o time competitivo deu resultado dentro de campo. E ela tem tudo para dar ainda mais certo fora dos gramados. O clube recusou propostas de valores considerados baixos por jogadores como Lucas Beraldo e Pablo Maia. Os dois se valorizaram e devem deixar o Tricolor por cifras bem mais elevadas. O zagueiro, por exemplo, já recebeu proposta de 18 milhões de euros (R$ 95 milhões), e a diretoria sabe que pode pedir ainda mais por ele.
Mas é impossível falar de acertos fora de campo do São Paulo sem mencionar as arquibancadas do Morumbi. É bem verdade que os ingressos na final da Copa do Brasil tiveram preços tão alto, que fizeram o clube faturar R$ 24 milhões com bilheteria. Mas o clube manteve ao longo de quase todo o ano entradas com valores acessíveis para o seu torcedor. Um acerto que se refletiu no recorde de público em uma mesma temporada – mais de 1,5 milhão de pessoas foram ao estádio em 2023.
? Os campeões da Copa do Brasil de 2023 se despedem da temporada nesta noite!#CampeãoPorInteiro#VamosSãoPaulo ??
? Rubens Chiri / saopaulofc pic.twitter.com/C0wtLy2Avg
— São Paulo FC (@SaoPauloFC) December 6, 2023
O que deu errado fora de campo para o São Paulo em 2023
Em 2023, o São Paulo chegou a dever mais de direitos de imagem e até um mês de salários aos seus jogadores – valores que foram acertados com a Copa do Brasil. Depois, já em dezembro, voltou a dever direitos de imagem a parte dos atletas. O ano ainda encerrará com o clube no vermelho. O déficit até setembro era de R$ 97 milhões – quase o dobro do projetado para o período no orçamento.
Fica evidente que a gestão financeira do clube não acompanhou o sucesso alcançado dentro de campo. Pelo contrário. O clube paga justamente o preço de ter priorizado a conquista da Copa do Brasil, mesmo que ela pudesse trazer um efeito perverso às finanças. E aqui, não há julgamento do que é certo, ou errado. Apenas a constatação de que o Tricolor aumentou o rombo em seus cofres para ser campeão. E olha, que a premiação da competição trouxe quase R$ 90 milhões em receitas, além da renda com bilheteria, que ultrapassou os R$ 111 milhões.
O que esperar do São Paulo fora de campo para o São Paulo em 2024?
O principal desafio da diretoria para 2024 é montar um elenco competitivo para uma temporada em que o São Paulo volta a disputar a Libertadores, mas sem onerar (ainda mais) os cofres do clube. As finanças, aliás, têm (ou ao menos, deveriam ter) papel central em todas as decisões a ser tomadas na próxima temporada. O Tricolor deve vender jogadores logo em janeiro, ou até mesmo em dezembro, para conseguir equilibrar as finanças. A reestruturação financeira é vital para que o sucesso de 2023 não seja caso isolado. E nesse sentido, a venda de Lucas Beraldo por ao menos 20 milhões de euros será essencial.
Ao longo do ano que se avizinha, é possível também que o São Paulo dê sequência ao plano de reforma e ampliação do Morumbi, ainda bem distante de virar realidade. No Conselho Deliberativo, há possibilidade de que o projeto de tornar as eleições do clube diretas, ou seja, com o voto do sócio, seja votado. Hoje, o presidente do São Paulo é escolhido por votação indireta, com escolha dos conselheiros.