CEO ‘popstar’, Marcelo Paz revolucionou Fortaleza, mas agora não descarta saída
Dirigente explica recusa recente ao Corinthians e revela sonhos que ainda quer realizar pelo Leão do Pici
Mesmo fora do eixo Rio-São Paulo e longe de ter a folha salarial mais robusta do futebol brasileiro, o Fortaleza tem figurado como protagonista entre os clubes do Brasil há, pelo menos, três temporadas.
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Cenário que, no entanto, contrasta com uma realidade recente do Tricolor de Aço. Em um passado nem tão distante, a equipe do Pici viveu um calvário de oito anos consecutivos (2010 a 2017) na Série C do Campeonato Brasileiro.
A bonança após a tempestade veio mediante uma rápida guinada de reconstrução que passou diretamente pelo trabalho de Marcelo Paz.
CEO do Fortaleza desde a transformação do clube em SAF, no fim de 2023, Paz chegou ao clube nordestino em 2015 para ser diretor de futebol. Ele foi também vice-presidente até assumir a presidência em 2017, função da qual se licenciou para ocupar o cargo em que trabalha atualmente.
De dirigente tradicional, Paz se tornou um executivo, algo que despertou o interesse de rivais diretos no futebol brasileiro. Em junho, o Corinthians, adversário do Leão nas quartas de final da Copa Sul-Americana, fez uma proposta para que o CEO do clube nordestino se transferisse para São Paulo. A oferta, no entanto, foi recusada.
Marcelo Paz admite possível saída do Fortaleza para rival brasileiro – Imagens: Fábio Lázaro/ Trivela
A negativa de Marcelo, no entanto, não teve a ver com a parte financeira ou receio de se transferir para um adversário direto no Brasil, mas pelo compromisso com o projeto do Fortaleza na temporada. O que não descarta que em um futuro o próprio Timão ou outro clube brasileiro possa tirar o dirigente do Pici.
Localizado na maior metrópole da América do Sul, o Corinthians ofereceu, naturalmente, uma oferta mais vantajosa financeiramente para Marcelo, que, ainda, assim, declinou o convite.
Mais do que a satisfação de participar das conquistas recentes do Leão, como o pentacampeonato cearense, os três títulos da Copa do Nordeste e o vice da Sul-Americana em 2023, o orgulho também está nas frustrações, quando parecia que o Leão estava fadado à eternidade na terceira divisão do Campeonato Brasileiro.
– As frustrações foram quando não conseguimos subir da (Série) C para B em 2015 e 2016, eu já era dirigente, já era diretor de futebol, e doeu demais quando eu não consegui o acesso e por duas vezes a gente não conseguiu. A de 2016 doeu até mais. Foi quando eu saí, fiquei entre cinco e seis meses fora, e depois retornei. Foi o maior momento de dor e frustração, mas Deus sabe o que faz, porque subimos em 2017 e iniciamos uma grande trajetória. A gente não sabe se subíssemos em 2015 e 2016, se teríamos essa trajetória – relembrou Paz, que recebeu a reportagem da Trivela na sua sala, no CT do Pici, em Fortaleza.
Marcelo sonha com grande título pelo Fortaleza
Pavimentado por frustração e sofrimento, o caminho do Leão hoje é refletido em uma estrada de boas campanhas que levaram a cinco títulos cearenses consecutivos, três Copas do Nordeste e um vice da Sul-Americana.
Em 2023, o Fortaleza foi finalista da competição continental, mas ficou com o vice-campeonato ao ser derrotado nos pênaltis pela LDU, do Equador, no jogo decisivo, disputado em Maldonado, no Uruguai. No tempo normal, a partida ficou empatada por 1 a 1.
Conquistar um título de relevância superior aos que o clube do Pici tem na sua galeria é um dos maiores sonhos de Marcelo Paz que, mesmo tendo inúmeras realizações na direção do Tricolor de Aço, acredita que pode ir muito além.
Mesmo com o grande desejo de ser campeão pelo time do coração, Paz prefere não definir o seu futuro mediante a uma possível conquista pelo Fortaleza, citando o exemplo do próprio Corinthians que em 2012 conquistou os títulos da Libertadores e Mundial de Clubes presidido por Mário Gobbi.
Gobbi foi sucessor de Andrés Sánchez, presidente corintiano na recuperação do clube alvinegro a partir do rebaixamento à segunda divisão do Campeonato Brasileiro cinco anos antes, em 2007.
Para que, então, o Leão siga buscando vitórias e títulos, Marcelo Paz, enquanto dirigente do Fortaleza, tem outros sonhos que vão além do campo e bola.
Dirigente ‘popstar', Paz é ídolo do Fortaleza
No entorno da Arena Castelão antes da partida contra o Corinthians, pelas quartas de final da Copa Sul-Americana, a reportagem da Trivela conversou com sete torcedores do Leão e questionou se eles trocariam o título da competição continental ou até mesmo do Brasileirão, em que a equipe nordestina está no G4, pela saída de Marcelo Paz.
A pesquisa deu resultado equilibrado, com três votos favoráveis à permanência do dirigente mesmo se isso custasse conquistas em campo. E até mesmo os que escolheram o troféu demonstraram certa dúvida ao responder o questionamento.
A opinião, no entanto, não fica restrita aos torcedores do Fortaleza. Em junho deste ano, Marcelo Paz conquistou o prêmio do Conselho Nacional do Futebol (Conafut) como melhor CEO entre os clubes do Brasil. Dois meses depois, em agosto, foi a vez de vencer a eleição do Confut Sul-Americano como melhor diretor-executivo entre os times da América Sul, superando nomes como Leila Pereira e Jorge Pablo Brito, presidentes de Palmeiras e River Plate (ARG), respectivamente.
Mesmo elogiado pelos críticos e abraçado pelas arquibancadas do Castelão, o dirigente do Leão não se sente unanimidade.
– Não me considero uma unanimidade. Me permita uma citação, não sei se chega a ser poética, mas pelos termos que vou falar, mas o grande Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Então, não é nem bom ser unanimidade e eu não me considero, de verdade. O tempo vai fazer as mudanças ocorrerem. As mudanças são saudáveis, reenergizar faz bem. Não quero estabelecer prazo para isso. Eu tenho por obrigação, profissionalismo, dar o meu máximo enquanto estiver aqui. Não posso me permitir menos do que a minha melhor versão no Fortaleza. Isso é o que me move, além da minha paixão pelo clube. Mas eu acho que é um ciclo que uma hora pode terminar naturalmente, pode passar e, acima de tudo, temos que deixar o clube preparado para seguir com essa eventual saída e tem muita gente boa do clube que tem condições de tocar. É um trabalho coletivo, de muitas mãos – destacou Marcelo.
Unânime ou não, fato é que o Fortaleza de Marcelo Paz é um case de sucesso no futebol brasileiro. Com uma folha salarial inferior até mesmo à do Santos, que está na Série B do Campeonato Brasileiro, o clube do Pici hoje é tratado como uma das forças a serem batidas no Brasil. E o braço forte de Marcelo Paz é fundamental para a consolidação desse rótulo.