Brasil

Como o Fortaleza foi da Série C à Libertadores e luta para se manter na Série A

Com muito trabalho fora de campo, os resultados começaram a aparecer em campo e o time subiu de patamar para se tornar frequente na Série A e tenta manter isso

O Fortaleza é um dos casos mais interessantes do futebol brasileiro. O time passou oito anos afundado na Série C, sempre batendo na trave para conseguir o acesso. Foi preciso um trabalho duro para conseguir levar o clube até a primeira divisão e, ainda mais difícil, se manter lá. O presidente do clube, Marcelo Paz, conversou com o site de esportes bets Betway para contar como o Fortaleza se estruturou para colher os frutos positivos, ao mesmo tempo que vive as dores do crescimento. Depois do melhor ano da sua história em 2021, o ano de 2022 também é histórico, ao mesmo tempo que traz o maior desafio: tentar evitar o rebaixamento, já em uma situação bastante complicada no Brasileiro.

Histórico de ascensão

O ano de 2021 foi histórico porque marcou a melhor posição do Fortaleza no Campeonato Brasileiro. A quarta colocação significo a inédita classificação à Libertadores, que o time disputa neste ano de 2022. Um passo gigantesco para a equipe que se frustrava ano após ano e chegou até a corre risco de rebaixamento à Série D.

Em 2011, o clube viveu a tensão de escapar do rebaixamento da Série C à Série D na última rodada. Foi só em 2017 que o clube, sob o comando de Antonio Carlos Zago, conseguiu o acesso à Série B, quebrando uma sequência imensa de fracassos. Enfim o clube estava de novo na segunda divisão, mas sabia que os próximos passos seriam cruciais.

Veio o ano de 2018 e com ele a chegada de Rogério Ceni. O técnico foi um ponto histórico na mudança de patamar do clube. Conquistou o título da Série B na sua primeira tentativa, liderando quase de ponta a ponta. O acesso à Série A foi uma conquista imensa, que permitiu ao clube dar novos saltos.

Conseguiu permanecer na primeira divisão em 2019, 2020 e entrou no ano de 2021 com um comandante que levou o time a novos sucessos. O bom trabalho de Juan Pablo Vojvoda fez com que o Fortaleza terminasse em quarto lugar e classificasse o time pela primeira vez à Libertadores.

Equilíbrio financeiro, organização fora de campo e investimento em estrutura

“O Fortaleza é um exemplo recente de organização, e consequente evolução de um clube no futebol brasileiro. É um clube que passou oito anos na Série C, não tinha perspectiva nenhuma de quatro, cinco anos depois estar disputando competições sul-americanas”, afirmou Marcelo Paz à Betway.

“Equilíbrio financeiro, tínhamos e sempre tivemos uma massa de torcedores para contribuir, para engajar, para comprar produtos, para fazer sócio torcedor, para lotar estádio. Temos um equipamento muito bom no nosso estado, que é a Arena Castelão, que comporta um público grande. Então, tudo isso somado com equilíbrio, sabendo superar os momentos difíceis, sabendo não se empolgar demais nos momentos de alegria, o Fortaleza foi crescendo”.

“Diretoria remunerada porque são pessoas que produzem, que têm capacidade intelectual, expertise nas suas áreas de atuação e estão colocando seu tempo à disposição do clube, gerando valor, gerando receita, o orçamento do clube cresceu a cada ano depois desse modelo. Então, é justo que a diretoria seja remunerada”.

“Planejamento estratégico é algo básico para qualquer organização, para qualquer empresa. Estabelecer um norte, saber onde quer ir, metas e objetivos claros em cada diretoria, não só no futebol. Na loja, no sócio torcedor, no planejamento, no licenciamento, no comercial, no financeiro, no administrativo, no patrimônio. Todo mundo tem que saber o que precisa fazer e isso ser checado ao longo do ano. Você tem que estar acompanhando se o planejamento estratégico que foi traçado lá no início está sendo executado”.

“A questão estrutural é fundamental. Boa estrutura retém talentos e atrai talentos, isso deve ser feito dentro do campo para o futebol, para o departamento de futebol, que é o mais importante do clube, mas também nos outros setores, também na categoria de base, no administrativo. São pilares que a gente trabalha dentro do Fortaleza de forma permanente, de forma constante”.

Investimento em captação de talentos

“O CIFEC é o Centro de Inteligência do Fortaleza Esporte Clube. É um departamento que foi criado quando eu ainda era diretor de futebol, na minha gestão nós criamos esse departamento. Hoje tem quatro pessoas trabalhando no futebol profissional. Trabalham em análise de mercado e análise de desempenho do nosso clube”.

“É um setor de inteligência no clube, porque ali tem conteúdo, tem informação, tem análise de dados, banco de dados de atletas que podem ser prospectados, é um setor muito importante para o clube. A gente pode citar no elenco recente o zagueiro Ceballos, de 20 anos, que foi identificado pelo CIFEC, o próprio Moisés que era destaque na Série B, está brilhando na Série A e na Libertadores, entre outros bons nomes ao longo dessa caminhada que o CIFEC já trabalhou”.

“Tem o trabalho humano e tem o trabalho também de material, de software, trabalhamos com o Sport Code, com Wyscout, com o Instat, com software de tagueamento para montar as apresentações para a comissão técnica, então tudo isso tem uma importância, uma relevância dentro do clube para a tomada de decisão, para o dia a dia, e para o futuro do futebol profissional no Fortaleza. E isso já estamos implicando na categoria de base, também com equipamentos, também com analistas de qualidade”.

“Na parte estrutural ainda tem algumas coisas a serem feitas, uma nova e moderna sala de imprensa, o hotel está sendo concluído, vai ter muita qualidade, a gente está criando também uma área de convivência para os jogadores, uma área de estar, tem algumas coisas no Pici que ainda precisam ser feitos, no CT de Maracanau para a base, o campo sintético, novos vestiários, tem coisas a serem evoluídas”.

“Na parte administrativa, acho que temos que buscar sempre buscar o nível de excelência, temos que evoluir em recursos humanos, embora tenhamos um índice de satisfação dos nossos colaboradores próximo de 90%, um padrão internacional, mas tem coisas que podem ser evoluídas. Acho que temos que evoluir nos serviços ao sócio torcedor, cresceu muito a quantidade de sócio torcedor, 44 mil sócios, e esse serviço é fundamental”.

Luta contra o rebaixamento em 2022

A ótima gestão do Fortaleza, porém, vive um ano de um imenso desafio em 2022. Encerrou a campanha na Libertadores nas oitavas de final, caindo para o Estudiantes, mas ainda está vivo na Copa do Brasil. No Campeonato Brasileiro, o time vive uma situação catastrófica O time é o 20º colocado depois de 16 jogos, com sete pontos de desvantagem em relação ao Avaí, primeiro time fora da zona do rebaixamento.

Escapar do descenso será o desafio mais difícil do Fortaleza até agora. Mesmo com toda boa gestão que o clube faz, viver três competições com a intensidade que o clube está vivendo é algo inédito e tem o seu preço. Se já cobra o preço dos clubes mais ricos do país, cobraria ainda mais de um clube que não passa nem perto disso.

Ainda há muito campeonato, mas o Fortaleza já sabe que a sua briga contra o rebaixamento será dura e, muito provavelmente, até o final do campeonato. Resta saber como a gestão de tanto sucesso fora e dentro de campo irá lidar com essa nova circunstância. Até porque para um clube como o Fortaleza, com recursos tão inferiores à grande maioria dos concorrentes, mesmo o rebaixamento não pode ser encarado como uma tragédia. É preciso lidar com o percalço para seguir crescendo. Por enquanto, porém, a torcida quer saber de lutar com todas as forças em campo para escapar do descenso.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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