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De franco-favorito a pior classificado: O que aconteceu com o Atlético-MG no Mineiro?

O Atlético passou de favorito com sobras para um time sempre muito questionado e que foi o pior entre os classificados no Mineiro

Atual tetracampeão. Melhor e mais caro elenco da competição – por muito. Franco-favorito a ser não só campeão, como também o melhor time do torneio. Foi assim que o Atlético-MG iniciou o Campeonato Mineiro de 2024, mas, após a primeira fase, ele é o pior entre os classificados para as semifinais e pratica um futebol medíocre. O que aconteceu para essa diferença tão grande entre expectativa e realidade?

Antes da bola rolar para o Campeonato Mineiro, não existia dúvida de que o Atlético era, mais uma vez, o favorito, com sobras. Melhor time do estado desde 2020, não à toa venceu todos os títulos estaduais desde então, o Galo manteve toda a sua base, que terminou em alta em 2023, e por isso era esperado que o time já começasse bem.

Enquanto isso, o América-MG, que foi quem mais ameaçou nos últimos anos, foi rebaixado para a Série B e perdeu força. Já o Cruzeiro, segue seu processo de reestruturação e está ainda em um caminho para voltar a ter poder para disputar (na teoria, pois na prática venceu os dois últimos jogos) com o Galo. Restou então ao Alvinegro a alcunha de “franco-favorito”, mas ele não conseguiu demonstrar isso em campo.

Com a vitória contra o Ipatinga, o Atlético terminou a primeira fase líder do Grupo B com 14 pontos, garantindo assim vaga para as semifinais. No entanto, no geral, o Galo foi o pior entre os classificados: Cruzeiro (19 pontos) – América (18) – Tombense (15). Fora a sensação de que o Galo só não passou mais aperto em seu grupo por falta de competência dos times do seu grupo, que variaram ainda mais durante essa primeira fase.

Além do que os números finais contam, que é de um Atlético longe de ser o melhor da competição, o campo, o “jogo jogado” também demonstra isso. O Galo simplesmente não fez bons jogos na primeira fase. Foram oito ao todo, e todos ruins ou medianos. E só demonstrou uma singela evolução no último jogo, mas com um time alternativo em campo. Mas há explicação para isso?

Mudança de formação

Da mesma forma que tentou em 2023 ao chegar no clube, Felipão iniciou o ano tentando implementar uma formação tática que tem mais a sua cara: os três atacantes. Quando chegou no último ano, o time atuava com dois atacantes, no estilo de Coudet. Ao tentar mudar isso, as coisas foram de mal a pior, só melhoraram quando ele voltou a jogar com dois no ataque, mesclando um pouco do estilo dele com o do argentino.

Agora, em 2024, com pré-temporada feita, ele tentou novamente essa formação. Hulk centralizado, Paulinho de um lado e Scarpa ou Alisson nas pontas foi o mais visto. Mas isso, de novo (ainda) não deu certo. O ataque do Atlético parece mais distante e menos efetivo com esse esquema. Pode ser por conta da formação ou mesmo pelas características dos jogadores.

Distanciamento de Hulk e Paulinho

Atrelada a mudança de formação está o distanciamento da dupla Hulk e Paulinho. Juntos, eles fizeram 61 gols em 2023, sempre atuando um ao lado do outro (ou pelo menos mais próximos). Com três atacantes, eles ficam mais distantes, já que Hulk centraliza e Paulinho abre em um das pontas. Isso, inclusive, infringe no estilo do camisa 10, que ainda não marcou em 2024 muito por estar mais distante do gol.

Se Felipão quer mesmo colocar a sua cara e utilizar o seu esquema, fugindo dos dois atacantes, ele precisa dar um jeito de fazer isso sem afastar Hulk e Paulinho – e sem afastar o camisa 10 do gol.

Falta de novas peças para o “estilo Felipão”

Quando Felipão foi contratado no meio de 2023 para substituir Coudet, causou uma grande estranheza, principalmente pela diferença de estilos entre os dois treinadores, que são quase opostos. É como se alguém que comesse apenas carnes, passasse a comer apenas frutas. Uma mudança muito drástica.

Felipão chegou dizendo que confiava no elenco e sempre fez questão de deixar claro, mas, quando “apertado”, também não deixava de dizer que não tinha algumas peças para implementar o seu estilo, como um meia de criação “refinado”, ou pontas agudos. Para 2024, era esperado que o Galo então desse ao treinador essas peças, ou pelo menos algumas delas, mas o que ele recebeu foi a manutenção de todo o elenco e apenas a contratação de Scarpa (que era o meia que ele pedia).

Então, Scolari basicamente segue sendo uma pessoa que só come frutas, mas só tem carnes no cardápio como opção. Ele consegue mesclar os estilos e fazer o time jogar bem? Sim, e isso foi visto no fim de 2023, mas é um treinador que não tem muitas peças para fazer o que quer. Isso exclui de Felipão a culpa do time jogar mal? Não mesmo. Mas ajuda a explicar um pouco.

Scarpa ainda não encaixou

Única peça que Felipão recebeu até então, Gustavo Scarpa chegou sob muita expectativa, mas ainda não fez uma grande atuação. Ele foi bem na estreia, mas sem fazer algo muito especial. Depois, atuando pela esquerda, não foi tão bem. Então, conversou com Felipão para mudar para a direita – onde sempre se saiu melhor -, e jogou melhor. Mas ainda não convenceu com a camisa atleticana.

São poucos jogos pelo Atlético, de um jogador que passou um ano muito conturbado fora do Brasil, e que precisa se adaptar a um novo esquema (que todos estão tendo dificuldade para adaptar) e a um time em que só ele é o novato, todos já se conhecem. Então, sim, Scarpa está abaixo do esperado nesse início pelo Galo, mas não dá para descartá-lo com essa pouca amostragem.

O Atlético era isso tudo mesmo?

É claro que o Atlético era o favorito e, no papel, o melhor time (por muito). É óbvio também que o time demonstrou evolução em 2023 e terminou o ano bem. Mas, de modo geral, pegando apenas o Galo, sem comparar com os outros times, era para se esperar muito mesmo?

Com Felipão, o Atlético teve os primeiros (nove) jogos péssimos, sem vencer. Depois, conseguiu um equilíbrio maior, com vitórias e derrotas, ainda oscilando muito, principalmente nas atuações. No fim, fez três jogos (Grêmio, Flamengo e São Paulo) em alto nível.

Na soma geral, então, o Atlético de Felipão fica como um time nota 5/6: início péssimo + meio comum + final ótimo = campanha ok.

Só que, como a última impressão é a que fica, todos esperavam ver o Galo da mesma forma dos três jogos citados. No entanto, aquilo pareceu algo mais fora da curva do que uma constância. O Atlético de Felipão, até então, é apenas um time ok mesmo, que tem potencial, que pode mais, mas joga o básico na maioria das vezes e, até por isso, não tem o desempenho esperado.

É claro, nessa primeira fase do Mineiro, o Atlético fez ainda menos do que o básico. Foi muito mal em vários jogos. A questão é: aquele Galo que venceu e convenceu contra Grêmio, Fla e São Paulo, foi algo esporádico ou não? Será que dá para esperar um time “encantador”, como foi nesses jogos, ou nós estamos esperando muito de um time que, até então, tem praticado um futebol de nota 5/6 na média?

O que esperar do Atlético nas semifinais?

O Campeonato Mineiro agora basicamente não permite erros. Entramos na fase mata-mata. O Atlético vai encarar o América, o qual foi o time mais consistente da primeira fase. No entanto, é também um clube que virou freguês do Galo, principalmente desde 2016, e pode ser o ponto de partida para essa melhora do time. Ter agora jogos decisivos como vão ser, com um adversário “chato” de se enfrentar, pode ser o combustível para o Alvinegro demonstrar algo e começar a engrenar na temporada.

– Quando vai chegando essa fase final, a expectativa aumenta. A gente se concentra ainda mais e trabalha mais focado. Às vezes você trabalhando da mesma forma (do último ano) e o resultado não vem. Aí fica esse questionamento de porque o Atlético não está jogando igual jogou ano passado. O Felipão está fazendo um grande trabalho para que a gente consiga manter o nível do ano passado, e até melhorar, pois talvez o do ano passado não seja suficiente para conquistar coisas esse ano. Às vezes tem que elevar o nível — afirmou o zagueiro Jemerson.

Por outro lado, caso o Atlético siga com um futebol ruim e, principalmente, se for eliminado. A pressão vai ficar praticamente insustentável. A torcida, que já pega no pé de Felipão, não vai dar sossego e, assim, talvez uma mudança no comando seja necessária.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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