Com pitadas de Coudet e cara de Felipão, Atlético-MG se encontra na temporada
Felipão percebeu que, já que o time foi montado para Coudet, o certo era colocar um pouco a cara do argentino no Atlético-MG
O Atlético-MG chegou a terceira vitória seguida no Campeonato Brasileiro e se firmou na briga por uma vaga na Libertadores. Além dos resultados, o Galo apresentou bom futebol, algo que não estava acontecendo antes. O que explica isso é a mudança na formação do time, que agora está mais no estilo de Eduardo Coudet, mas com a cara de Felipão. A Trivela te explica como isso é possível.
Desde que chegou ao Atlético, Felipão já repetiu inúmeras vezes que está satisfeito com o elenco que tem, mas sempre ressaltou que foi um grupo formado por e para o técnico Eduardo Coudet, que antecedeu a ele no cargo. Scolari sempre falou em como o time não tem todas as peças que ele gostaria para impor seu estilo de jogo. O treinador tentou colocar só a sua cara no time, o que não deu muito certo no início e, depois, até gerou resultados, mas, como já citado, sem um bom futebol.
– Não me queixo do meu grupo. É ótimo, maravilhoso. Mas, da forma que eu trabalho há muitos anos, tenho outras variantes. Esses jogadores contratados pelo Coudet tem algo diferente do que penso. Eu e eles temos que nos adaptar – disse Felipão.
Agora, Felipão entendeu que, já que o time foi montado para Coudet, ele tem que ter algo do que o argentino gosta para funcionar. A mudança na formação para uma próxima a que Chacho usava, foi o ponto de partida para passar a reunir resultados e bom desempenho. Mas, mesmo que com um “estilo Coudet”, Scolari não deixou de dar também a sua cara para o time. A junção dos dois estilos parece o ideal para o Atlético.
As diferenças entre Coudet e Felipão
Eduardo Coudet é um treinador que foge um pouco do convencional da atualidade. Praticamente todos os times do mundo jogam com pontas de velocidade e drible, mas o argentino prefere sua formação com dois atacantes e meias abertos. Por isso, quando chegou ao Galo, atletas como Keno e Ademir, que são pontas com característica do 1×1, deixaram o time, enquanto jogadores como Edenílson e Patrick, meias que podem jogar aberto e não tem o drible como ponto principal, chegaram.
Já Felipão tem um histórico de gostar de pontas habilidosos, que tem o drible como característica. Ele mesmo já citou diversas vezes esse ponto, inclusive após a vitória contra o Fortaleza nesta quarta (1°): “Gosto sempre de ter pontas que partam para cima, no 1×1, que agridam, pois se você vence esse duelo, o adversário fica em uma desvantagem muito grande”. Por isso, quando o Atlético optou por Scolari para substituir Coudet, foi levantado esse questionamento, pois são dois treinadores com modelos de jogo completamente diferentes.
Essa mudança de estilo e a necessidade de adaptação, tanto do Felipão ao elenco como ao contrário, inclusive, foram algo apontado por jogadores, o próprio treinador e a diretoria como motivo do péssimo início de Scolari no Galo, que passou os nove primeiros jogos sem vencer.
O sistema de Coudet e como Felipão o adaptou ao seu estilo
Sem muitos jogadores com as caraterísticas que gosta pelas pontas, Felipão inicialmente tentou implementar o 4-1-2-3, tendo pegar um pouco do que Coudet usava (4-3-1-2), mas colocando Paulinho e Pavón como pontas e Hulk centralizado. Não deu certo e o time ficou mais frágil defensivamente. Ele então mudou para o 4-2-1-3, mantendo os pontas, mas adicionando mais um volante. O Galo melhorou defensivamente, mas seguiu penando no ataque.
Felipão seguiu insistindo na formação e o Atlético passou a ganhar os jogos, mas não demonstrava bom futebol. Com isso, quando não era efetivo, como foi contra Vasco, Coritiba e Cruzeiro, por exemplo, era derrotado. Após o revés no clássico, o treinador então mudou novamente a formação do time, encontrando uma mescla perfeita entre o elenco que tem, nos moldes de Coudet, e o estilo de jogo que mais gosta, chegando ao 4-2-2-2.
Na nova formação, Felipão mantém os dois volantes que gosta de ter para proteger a defesa e escala dois meias abertos, como Coudet gostava, mas com características diferentes, atuando quase como pontas. Rubens é o jogador chave para esse esquema funcionar. Ele é mescla perfeita do que Chaco gosta, um meia que saiba defender e chega ao ataque para ajudar a trabalhar a bola, e Scolari gosta, um ala que tem vigor físico e habilidade para criar jogadas.
– Não digo que achamos o ideal, mas alguns elementos que podem ajudar completando o time. Em todos os times que trabalhamos, jogamos muito verticais. Para ser vertical, tem que ter jogadores de ponta e atacantes de área que agridam toda hora. Tenho que me adaptar ao grupo que tenho e vou ajeitando da forma que posso. Com o Rubens, torna-se vertical. Mas, além disso, trabalha a bola.
Paulinho e Hulk precisam ser um só
Com Coudet, mesmo quando Pavón jogava, Paulinho e Hulk formavam uma dupla de ataque, jogando sempre próximos. Por isso, eles deram tão certo com o argentino. Mas, quando Felipão chegou e tentou implementar os três atacantes, o poder da dupla caiu, mesmo tendo ganhado um novo membro e se tornando um trio. O treinador percebeu isso e, assim como fazia Chacho, aproximou a dupla mesmo com Pavón em campo. Rapidamente eles voltaram a brilhar.
Agora, com a formação de dois atacantes, sem Pavón entre os titulares, ficou mais evidente ainda como Hulk e Paulinho funcionam melhor como dupla, pois eles elevaram ainda mais o nível que já estavam apresentando. Esse é outro ponto que Felipão percebeu que precisava herdar de Coudet para ter um time melhor. O Galo de 2023 precisa atuar com a dupla no ataque, e não é uma dupla qualquer, é a melhor do Brasil.
Hulk e Paulinho pelo @Atletico em 2023:
Jogos: 53 – 54
Gols: 27 – 26
Assistências: 10 – 7
Mins p/ participar: 119 – 128
Nota Sofascore: 7.27 – 7.11• Dupla que mais somou participações em gols (70) entre todas da Série A.
• Marcaram 67% do total de gols do time no ano.— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) November 2, 2023
Rubens e Zaracho: a outra dupla
Para a formação atual do Atlético funcionar, Rubens é uma peça chave, como citado, mas, além dele, é importante dar créditos a Zaracho. O argentino é, de longe, um dos mais queridos do grupo do Galo, tanto pelos jogadores quanto pela torcida, e sempre se mostrou diferenciado. No entanto, em 2023, ele teve muitos problemas de lesão e familiar, como a perda do cunhado e do pai. A volta por cima do meia, se encaixando perfeitamente no esquema de Felipão, é uma das grandes vitórias do Alvinegro na temporada.
Com Rubens de um lado e Zaracho do outro, Felipão consegue ter tudo do seu estilo de jogo e do estilo de Coudet. Tem marcação, vigor físico, bom passe, trabalho de bola, habilidade, drible e muito mais. A dupla, claro, é “ofuscada” por Hulk e Paulinho, mas consegue seu reconhecimento. Rubens teve o nome gritado duas vezes na vitória contra o Fortaleza, enquanto Zaracho, sempre ovacionado, teve o nome exaltado contra o Fluminense.
As formações utilizadas pelos treinadores
- Coudet – 4-3-1-2: quatro defensores + um volante centralizado com dois meias abertas + um meia de criação + dois atacantes
- Felipão – 4-1-2-3: quatro defensores + um volante + dois meias + dois atacantes abertos e um centralizado
- Felipão – 4-2-1-3: quatro defensores + dois volante + um meia + dois atacantes abertos e um centralizado
- Felipão – 4-2-2-2: quatro defensores – dois volantes – dois meias – dois atacantes
É claro, dentro do jogo, essas formações podem variar. Por exemplo, no atual cenário do Atlético, Zaracho pode cair pelo meio para abrir espaço para Saravia, o mesmo com Rubens para Arana. Alan Franco ou Otávio podem se adiantar e virarem um meia. Dentro do jogo, as possibilidades são inúmeras, mas, no básico, foi assim que o Galo entrou em campo ao longo do ano.