O segredo da volta de Veiga, mais decisivo do Palmeiras sob Abel, não estava no campo
O camisa 23 vivia ano irregular, mas se tornou o grande protagonista do time nas últimas dez rodadas
O sorteio do Campeonato Brasileiro não poderia ter acertado mais ao colocar o duelo de Palmeiras e Botafogo exatamente para a 36ª rodada, nesta terça-feira (26).
Como em um roteiro de filme ruim, o vice-líder tem justamente o antigo ponteiro pela frente no primeiro jogo em que defende o 1º lugar. Uma “final” digna da era pré-pontos corridos.
E se o assunto é final, no Palmeiras, ninguém tem mais autoridade que Raphael Veiga. Com 12 gols em decisões, ninguém marcou mais que ele em jogos que valiam títulos. Mas seu poder de decisão vai além.
O jogador mais decisivo do Palmeiras de Abel
Somando todos os jogos que valiam vaga ou título na Era Abel, em campeonatos de sistema eliminatório, o Palmeiras fez 106 gols.
Destes, Raphael Veiga fez 22. Com 21% de participação, ninguém marcou mais que ele na hora de decidir, desde a chegada dos portugueses ao clube.
Mas 2024 não parecia ser o ano do camisa 23. Na final do Campeonato Paulista, ele até deixou o seu, contra o Santos. Mas nos jogos da Copa do Brasil e no mata-mata da Copa Libertadores, passou em branco.
Leila não cumprimenta candidato derrotado e fecha porta para a oposição no Palmeiras https://t.co/NPEodG0Ekt via @trivela
— Diego Iwata Lima (@DiegoMarada) November 25, 2024
O segredo estava fora do campo
Quando se começa a analisar mais friamente o crescimento do Palmeiras depois que o time passou a ter apenas o Brasileiro pela frente, os gritos de “muita folga para pouca obrigação”, que ecoaram na vitória sobre o Grêmio (1 a 0), soam ainda mais injustos.
E quem mais se beneficiou com a redução de datas foi Raphael Veiga. A Trivela veio apurando, ao longo da temporada, o que acontecia com Veiga e seu rendimento declinante. E duvidava, quando seu estafe e pessoas do clube diziam que ele estava apenas cansado.
Embora fosse visível que o meia se arrastava em campo, parecia uma desculpa fácil para esconder, talvez, alguma outra questão, médica ou psicológica. Já em abril, Abel Ferreira assumia que vinha usando o jogador além de seu limite físico:
— A culpa é minha, porque já deveria ter tirado ele em dois ou três jogos, mas sigo o colocando. Veiga é um jogador que pode nos dar coisas e decidir jogos a qualquer momento. E o problema é o treinador que insiste em colocá-lo. Mas ele precisa descansar.
Quando o descanso veio, tudo mudou
Tal descanso, porém, só veio em setembro, após as eliminações nas copas. E de um jeito desagradável para além das eliminações. Pela primeira vez depois de se tornar peça-chave de Abel, ainda em 2021, Veiga ia para a reserva — do recém-chegado Maurício.
Foram três jogos seguidos no banco: Cuiabá (5 a 0, no qual nem entrou), Athletico-PR (2 a 0) e Criciúma (5 a 0). Os placares, que deram início à arrancada que culminaria na liderança do Brasileirão, mostravam que Veiga talvez não fosse necessário.
Mas aí o destino quis dar uma ajuda a Veiga. Primeiro, ele se aproveitou da lesão do Estêvão e jogou como ponta diante de Vasco (2 a 0), Atlético-MG (2 a 1) e Red Bull Bragantino (0 a 0). E então, foi a vez de Maurício se lesionar.
Veiga aproveitou a sequência que recebeu e passou a ser, nos pontos corridos, tão decisivo quanto já era em jogos eliminatórios. O meia, que não deixou mais o time, é o grande jogador da reta final do Palmeiras no Brasileiro, com absurdos 9 gols em dez jogos.
Com 20 gols em 55 jogos, Raphael Veiga, o grande ator da recolocação do Palmeiras na rota do tricampeonato brasileiro, está a uma bola na rede de igualar os 21 gols em 54 jogos de 2022, seu ano mais artilheiro.