Brasileirão Série A

Palmeiras só evita derrocada se Leila e torcida derem passo atrás e sinalizarem trégua

Em momento de clima insustentável, Palmeiras se vê caindo na tabela e corre risco de ficar fora da Libertadores

A situação do Palmeiras é insustentável. Quem conhece o clube já percebeu que, da maneira como a situação está, o time não deve conseguir nem uma vaga para a próxima Copa Libertadores. Não dá para imaginar que disputar 11 jogos sob a tensão que se viu na quinta-feira (19), na derrota para o Atlético-MG pelo Brasileirão, pode propiciar algo positivo para o time.

É preciso encerrar esse clima de tensão absoluta que permeia o clube. É hora de a presidente Leila Pereira reconhecer, mesmo que não publicamente, que passou do ponto na fatídica entrevista coletiva. Que, ainda que sem querer e sob a emoção de ver lojas de sua empresa vandalizadas, humilhou o clube que preside e a torcida da qual diz fazer parte.

Mesmo que ninguém lhe peça desculpas pelas graves, inconsequentes e vazias ameaças de morte, que pululam nas redes sociais a torto e a direito. Mesmo que não lamentem os xingamentos de baixo calão dirigidos em uníssono a ela e ao diretor Anderson Barros no estádio alviverde.

Se Leila Pereira é mesmo palmeirense e, desse modo, coloca o sentimento pelo clube acima de sua vaidade, chegou a hora de provar. Porque o torcedor de verdade é habituado e talhado a colocar o clube acima de suas convicções.

É hora também de a torcida em geral, e em especial a Mancha Verde e as demais organizadas, darem um passo atrás. Mesmo que Leila nunca se desculpe ou reconheça que errou. Ainda que não retire ter chamado de cânceres os torcedores que dedicam suas vidas a seguir o Palmeiras pelo mundo. Porque o que está em jogo é o futuro próximo do Palmeiras.

Não há protesto que tire Leila do cargo antes do fim de seu mandato. E não há nada que tire da torcida o direito de empurrar e se orgulhar do Palmeiras. Pois essas duas verdades terão de conviver, pelo bem do clube.

Se é verdade que a energia positiva de um estádio empurra um time no campo, também é preciso acreditar que a energia negativa pode derrubá-lo.

Não foi por acaso que Rony e Raphael Veiga, jogadores próximos e afáveis, discutiram no gramado. O clima do Allianz Parque na derrota para o Atlético-MG, na quinta-feira (19), foi o mais hostil desde a reinauguração do estádio, em novembro de 2014.

O Palmeiras vai precisar da torcida nos próximos jogos. Na atual toada, o recorde negativo de 27 mil torcedores registradas contra o Galo vai ser fichinha perto do vazio que o Allianz Parque vai presenciar nas próximas rodadas. Ou, muito pior, que a longínqua Arena Barueri vai receber em pelo menos quatro rodadas até o fim do Brasileirão.

Maturidade e desapego

Em outros tempos, a Mancha nem teria recebido Breno Lopes depois dos xingamentos feitos por ele, ao anotar o gol da vitória contra o Goiás. Mas ali, a torcida mostrou uma enorme maturidade, pensando em manter elevado, o astral para as semifinais da Copa Libertadores. E, de fato, o que não faltou foi apoio da arquibancada.

Só quem não conhece o futebol no estádio despreza o peso das organizadas. Goste-se ou não, são elas que ditam o ritmo na maior parte do tempo e puxam o resto da arquibancada. E foi com apoio irrestrito que esse Palmeiras e essa comissão técnica montaram este time.

O vazio da pandemia, é verdade, ajudou na maturação de algumas peças. Rony teria se tornado um dos maiores artilheiros do clube na história da Libertadores sendo xingado a cada erro no seu péssimo início de 2020? O retraído Veiga teria virado o protagonista que jamais fora antes?

Abel teria a mesma liberdade para inovar e consolidar o inexperiente Danilo e o improvisado Zé Rafael? Ou a alcunha de “Pardal” teria brecado sua evolução? Quando os palmeirenses voltaram ao estádio – entreveros com Luiz Adriano à parte – esse Palmeiras ultravencedor já estava forjado e Abel já mostrara o seu melhor.

Foi a paz aplicada ao futebol que levou o Palmeiras onde está. E é só essa combinação que poderá manter o time nesse lugar.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata Lima

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023
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