Brasileirão Série A

Cruzeiro acerta ao apostar em Paulo Autuori para sair do buraco?

Paulo Autuori, de 67 anos, ocupava cargo de diretor técnico do clube e terá o auxílio de Fernando Seabra, técnico do sub-20, e Vinicius Rovaris

Nem Vanderlei Luxemburgo, nem Roger Machado ou qualquer outro treinador do mercado. Quem comandará o Cruzeiro até o fim do Campeonato Brasileiro, de forma interina, é o experiente Paulo Autuori, de 67 anos, campeão da Copa Libertadores com o clube em 1997. O ex-treinador, que ocupava o cargo de diretor técnico do clube desde o início de agosto deste ano, substitui Zé Ricardo, demitido nesse domingo (12).

Paulo Autuori já comanda o time celeste contra o Fortaleza, no sábado (18), às 18h30, na Arena Castelão, em partida atrasada da 30ª rodada do Brasileirão. A nova comissão técnica da Raposa será composta, ainda, por Fernando Seabra, técnico do sub-20 do Cruzeiro, e por Vinicius Rovaris, auxiliar técnico fixo do clube.

Esse não foi o primeiro convite do Cruzeiro para que Paulo Autuori assumisse o clube. Após a demissão de Pepa, no final de agosto passado, a diretoria celeste encontrou dificuldades em fechar com um novo treinador e, após receber alguns “não”, propôs ao diretor técnico que comandasse o time até o fim da temporada. Na ocasião, Autuori também negou, e então a Raposa fechou com Zé Ricardo, nome muito rechaçado pela torcida, que durou apenas dez jogos no comando do time.

Agora, faltando apenas seis jogos para o final do Brasileirão e com o Cruzeiro vivendo grave crise — a equipe ocupa a 17ª colocação, com 37 pontos em 32 jogos, tendo dois jogos a menos que a maioria de seus adversários na tabela —, Autuori atendeu o pedido da diretoria celeste para comandar o clube interinamente.

Além da posição na classificação e da tabela traiçoeira — o Cruzeiro ainda enfrenta Fortaleza, Vasco, Goiás, Athletico-PR, Botafogo e Palmeiras —, Paulo Autuori terá que lidar com uma provável punição à torcida cruzeirense. Um grupos de torcedores organizados invadiu o gramado da Vila Capanema, no último sábado (11), após o time celeste sofrer, nos minutos finais da partida, o gol que daria a vitória ao virtual rebaixado Coritiba no confronto entre as duas equipes.

Com a entrada dos cruzeirenses no campo, torcedores de uma organizada do Coritiba, rival histórica das TO’s do time mineiro, também pularam as grades, iniciando uma batalha campal, que teve de ser contida pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Jogadores e comissões técnicas se refugiaram no vestiário.

Com a briga, é provável que tanto Cruzeiro quanto Coritiba sejam punidos. A expectativa é que o time mineiro não tenha torcida nos três jogos finais que tem por fazer em casa neste Brasileirão, contra Vasco, Athletico-PR e Palmeiras.

A efetivação de Paulo Autuori foi uma boa escolha?

Os problemas enfrentados pelo Cruzeiro dentro e fora de campo tornam uma procura por treinador, que já seria complicada, quase que uma missão impossível. O elenco limitado e com nítidos problemas de confiança, a pressão exacerbada e a possibilidade de rebaixar um gigante do futebol brasileiro afasta nomes que poderiam ser alvos da diretoria celeste.

Além disso, com apenas seis jogos restantes e um destino indefinido na competição, faz com que eventuais candidatos ao cargo não tenham a segurança de como será o próximo ano. Basicamente, para os treinadores disponíveis, seria um tiro no escuro.

Já foi muito difícil encontrar um substituto para Pepa, quando ainda faltavam 16 jogos e o Cruzeiro vivia momento mais tranquilo, ainda com certa distância da zona de rebaixamento. Com a fase atual do clube e a urgência em fechar com um nome, já que o Campeonato Brasileiro segue a todo vapor, a escolha de Paulo Autuori passa a ser justificada, mesmo que ainda seja uma incógnita.

Nos últimos anos, Paulo Autuori vem dividindo alguns momentos como treinador e outros como dirigente das equipes em que trabalha, não sendo essa a primeira vez que ele é chamado para “apagar um incêndio”, assumindo um clube após demissão de técnico.

Apesar do histórico de conquistas, há muito tempo o treinador não tem um grande trabalho, de destaque. Ainda assim, podemos dizer que nem é esse o objetivo do Cruzeiro. Basta pontuar para se livrar da primeira divisão.

Falar de aspectos táticos é até difícil num momento como esse e, com seis jogos num período de três semanas, é improvável que o treinador implante “o jeito Paulo Autuori de jogar” no Cruzeiro. Sua chegada passa mais pelo fator anímico, de conhecimento de casa e experiência. “Cobra da bola”, Autuori tem a bagagem necessária para blindar o elenco celeste da enorme pressão sofrida, buscando assim alcançar um sprint final para o momento mais importante da temporada.

O próprio Cruzeiro, no anúncio de Paulo Autuori como treinador interino, afirmou que “o objetivo é que o clube mantenha seu alinhamento operacional interno e concentre todas as forças e energias para os próximos seis jogos da competição”.

Movimento de contexto

É impossível analisar a escolha por Paulo Autuori sem colocar o contexto vivido pelo clube na frente. Em outros momentos, seria muito improvável que o Cruzeiro se movimentasse dessa forma e que o próprio Autuori aceitasse, já que ele possui, hoje, um novo norte em sua carreira, que não passa pela beira do gramado.

Levando em conta o que Paulo Autuori foi como treinador nos últimos anos, o sinal de alerta precisa seguir ligado no Cruzeiro. Sem nomes, tempo e convicção, a diretoria celeste dá a cartada final pela permanência, chegando a um ponto que tenho certeza que nenhum deles imaginou ao fazer o trabalhado e otimista projeto do clube. O que mandou nessa chegada foi o contexto. E o contexto é de desespero.

Paulo Autuori e sua comissão comandarão a semana de treinamentos do Cruzeiro. Buscando se afastar da pressão sofrida em Belo Horizonte, onde torcedores organizados ameaçaram os atletas, o time celeste viajou para Itu, interior de São Paulo, onde fica até a véspera a partida de sábado (18), contra o Fortaleza. O elenco, que foi quase completo para a cidade paulista — somente os lesionados Rafael Bilu e Lucas Silva ficaram em BH fazendo tratamento —, se reapresenta na capital mineira no domingo (19).

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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