Brasileirão Série A

SAF sem rumo, batalha campal e muitos erros: Cruzeiro vai assinando cartilha do rebaixamento

De "cara nova", mas ainda sem rumo, após se tornar SAF, o Cruzeiro flerta com nova queda no Campeonato Brasileiro

Após passar boa parte do Campeonato Brasileiro com relativa tranquilidade, no meio da tabela, o Cruzeiro chega nas rodadas finais da competição em situação grave, com sérios riscos de nova queda para a segunda divisão nacional. Na zona de rebaixamento, com 37 pontos em 32 jogos — uma partida a menos que parte dos seus concorrentes — o time celeste vê uma série de fatores indicarem o pior dos destinos.

É popular, no Brasil, a expressão “cartilha do rebaixamento”, uma série de práticas adotadas por times em crise e incidentes decorrentes dos maus momentos, que terminam culminando na queda de divisão. Com a compra da SAF do clube pelo ex-jogador e hoje empresário Ronaldo Nazário, o Fenômeno, seguida do acesso à primeira divisão do Brasileirão, em 2022, após três anos na Série B, o torcedor do Cruzeiro dificilmente imaginaria reviver o pesadelo tão rapidamente.

Decisões da SAF ajudaram a piorar situação do Cruzeiro

Mas o que muitos dos cruzeirenses não imaginavam é que as decisões tomadas pela SAF fariam inveja em grande parte das mais antiquadas associações, tão criticadas por possuírem um modelo de gestão pouco profissional e transparente. Críticas esses, muitas vezes corretas, mas que se tornaram vazias com a repetição e práticas semelhantes e, em certos casos, até piores.

Hoje, é possível dizer que o Cruzeiro segue de forma fiel a cartilha do rebaixamento no Brasileirão. Bem, com 18 pontos em disputa e alguns confrontos diretos pela frente, ainda há tempo hábil para que a Raposa recalcule a rota para a permanência. Mas a forma como a temporada celeste se desenhou deixa o torcedor aterrorizado com a constatação de que o time parece muito próximo da Série B.

Erros de planejamento da diretoria do Cruzeiro

No texto “Independente do final, 2023 é um ano que precisa ser lembrado (negativamente) no Cruzeiro” escrevi sobre a sucessão de erros que levou o time celeste ao momento atual, por isso, não acho necessário repeti-los. Ainda que sempre é preciso lembrar que o time celeste teve três técnicos no ano, sendo o atual, Zé Ricardo, um nome questionado e que vinha de temporadas horríveis no futebol japonês. Bem, talvez esse seja o primeiro e mais comum tópico da cartilha do rebaixamento.

Também entram na cartilha as entrevistas polêmicas, como as de Ronaldo culpando a presente torcida do Cruzeiro pelo momento ruim do clube, e as confusas e raras aparições do diretor de futebol Pedro Martins, que durante as coletivas dadas, aboliu as frases folclóricas de dirigentes que querem enrolar seu torcedor, dando uma nova roupagem a elas, cheias de jargões corporativos, mas que no fim diziam o mesmo: nada. Sem esquecer de Gabriel Lima, CEO do clube, que comprou briga com os torcedores ao considerar jogar na Arena MRV, estádio do rival Atlético-MG.

Mais recentemente, com a situação do clube se deteriorando, podemos apontar os seguidos protestos da torcida celeste na porta da Toca da Raposa 2, que evoluíram para ameaças conforme os resultados não vinham, como alguns dos capítulos tristes, mas recorrentes, no dia a dia de clubes rebaixados.

Torcedores do Cruzeiro invadem campo atrás de jogadores

Agora, na última partida do Cruzeiro, a derrota desse sábado (11), para o virtual rebaixado Coritiba, por 1 a 0, ocorreu o mais recente e grave episódio do calvário celeste. O jogo foi interrompido por uma batalha campal, iniciada por torcedores da Raposa, que contou com participação de parte da torcida Coxa Branca.

A confusão começou após o gol da equipe paranaense, por volta dos 47 minutos do segundo tempo, logo após o gol do Coritiba, marcado pelo atacante Robson. Torcedores do Cruzeiro, indignados com a situação do clube, invadiram o gramado e correram na direção dos jogadores da Raposa, que se dirigiram para o vestiário.

Com a invasão dos cruzeirenses, torcedores do Coritiba, que no mundo das organizadas, possuem grande rivalidade com os do Cruzeiro, também invadiram o campo e iniciaram uma batalha campal com os mineiros.

Após alguns momentos de pancadaria generalizada, o batalhão de Choque da Polícia Militar entrou em cena e apartou a confusão, devolvendo as torcidas para os seus lugares.

Depois do diálogo entre delegados da partida, autoridades de segurança e representantes dos clubes, foi definido que os seis minutos restantes do jogo iriam ser disputados. A maior parte dos torcedores presentes deixou a Vila Capanema após a confusão.

A partida foi reiniciada após constatação de que o estádio possuía condições de segurança necessárias. Com a bola rolando, pouca coisa aconteceu, e o placar ficou em 1 a 0 para o Coritiba, deixando o clube paranaense vivo no Campeonato Brasileiro. O Cruzeiro, por sua vez, viu sua situação se complicar muito na briga contra o rebaixamento.

Cruzeiro deve ser punido

O ato de violência é mais um agravante de um clube afundado em suas próprias falhas e deve render uma severa punição. Especula-se que o Cruzeiro termine seus jogos no Brasileirão de 2023 sem o apoio de sua torcida, já que a tendência é que a Raposa seja punida com a obrigação de realizar seus jogos com os portões fechados.

Perder os torcedores, não os que invadiram o campo contra o Coritiba, mas todos, que não poderão empurrar o time rumo a permanência, talvez seja o golpe de misericórdia no desastroso 2023 celeste.

Além de tudo, a atitude impensada e criminosa dos invasores empurrou o Cruzeiro para ainda mais próximo do abismo e deu aos dirigentes da SAF celeste, responsáveis diretos pelo momento do clube, algo que eles já buscam faz um tempo: alguém para culpar por um eventual rebaixamento.

Por outro lado, mesmo em grave crise, matematicamente, o Cruzeiro ainda depende só de si para escapar do rebaixamento. Os últimos seis jogos definirão o futuro do clube. Mas, caindo ou não caindo, sendo SAF, podemos afirmar que o clube celeste seguiu com maestria a pior cartilha do futebol brasileiro.

Foto de Maic Costa

Maic Costa

Maic Costa nasceu em Ipatinga, mas se radicou na Região dos Inconfidentes mineiros. Formado em Jornalismo na UFOP, em 2019, passou por Estado de Minas, Superesportes, Esporte News Mundo e Mais Minas. Atualmente, escreve para a Trivela e para o Futebol na Veia.
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