Mano Menezes, dívida e reforços: Augusto Melo projetou seu novo Corinthians caso seja eleito presidente
Reportagem da Trivela entrevistou Augusto Melo, candidato à presidência, que tenta quebrar hegemonia política no Corinthians
No dia 25 de novembro o Corinthians conhecerá seu novo presidente dos próximos três anos (2024, 2025 e 2026). A eleição conta somente dois candidatos na disputa pelo cargo: Augusto Melo, do grupo Frente Ampla de Oposição, e André Negão, da Renovação e Transparência, chapa essa que está atualmente no comando do time com o presidente Duílio Monteiro Alves.
Essa não é a primeira vez que Augusto Melo disputa a presidência Alvinegra. Em 2020 ele ficou com o segundo lugar no pleito eleitoral perdendo por poucos votos a disputa para Duílio Monteiro Alves. Nas últimas semanas, a disputa pela presidência do Corinthians ficou mais acirrada. De acordo com alguns sócios votantes, pessoas mudaram de “lado” depois da sequência de erros da atual diretoria.
A reportagem da Trivela conversou com Augusto Melo sobre toda a trajetória dele dentro do Parque São Jorge, desde quando foi assessor do sub-17 do Timãozinho, até sobre os planos e projetos dele, caso seja eleito presidente do clube. Você confere agora os principais pontos respondidos pelo candidato:
Busca de reforços no mercado e reformulação de elenco
Apesar da necessidade de renovação nas últimas temporadas, o Corinthians priorizou repatriar jogadores vencedores com a camisa do time, como Romero, Paulinho, e William, que saiu do time antes mesmo do término do contrato, por problemas com a torcida. Hoje a principal cobrança do torcedor corinthiano — que também é uma carência detectada pelos últimos treinadores — é a necessidade de reformulação do elenco, tarefa essa que Mano Menezes deve começar a fazer quando a temporada de 2023 acabar.
Na opinião de Augusto Melo, para se ter uma equipe competitiva é necessário ter um elenco variado, contando com jogadores mais experientes e também mais jovens:
— O futebol tem que sempre ter uma mescla, dois, três medalhões que chamem a responsabilidade, um cara que segura, principalmente por conta da garotada da base, que precisa de um respaldo de um experiente. Mas esse medalhão precisa estar dentro das condições físicas dele, e você nunca pode pagar o mesmo salário que pagou ao atleta há 10 anos atrás, sendo que ele não rende mais da mesma forma, já não tem mais a mesma minutagem, tem partidas especificas. Nossa visão é contratar dois, três atletas em atividade com condições boas e formar atletas para fazer essa mescla.
O Corinthians tem onze jogadores com contratado somente até dezembro de 2023: Fábio Santos, Gil, Bruno Méndez, Renato Augusto, Paulinho, Giuliano, Cantillo, Maycon, Ruan Oliveira e Gustavo Silva. Até agora apenas o uruguaio foi procurado para negociar uma possível renovação, mas a conversa segue travada nos bastidores.
Sobre a continuidades desses jogadores e a extensão de seus contratos, Augusto pretende analisar caso a caso, já pensando nas contratações futuras:
— Já estamos pensando na situação desses jogadores que estão para encerrar o contrato. Estamos atentos porque temos só um mês de transição para montar outro time e temos que estar com time pronto para 2024, e com certeza aqueles que têm condições de dar sequência, vamos dar sequência, e aqueles que estiverem em fim de carreira vão ter nossa gratidão e nosso agradecimento.
Melo falou ainda em resgatar ‘paixão' e a ‘garra' que, segundo ele, houve em um passado recente no clube:
— Nós queremos trazer nossa identidade de volta: paixão e garra. Não precisa de fortunas e investimentos pesados, a não ser que você compre atletas prontos já de alto nível. Queremos rejuvenescer, fazer uma reformulação no nosso elenco profissional para que a gente possa ter essa visibilidade.
O candidato reforça a importância do Cifut (Centro de Inteligência do Futebol) para futuras contratações. O departamento auxilia o clube e o treinador com análise de desempenho de atletas que estejam no radar de reforços. Os profissionais do Cifut também analisam previamente os adversários enfrentados pelo Corinthians. Segundo Augusto Melo, o departamento ficou escanteado sob a gestão Duílio:
— Nós tínhamos um dos melhores departamentos que era o Cifut, um dos melhores departamentos do país, que essa gestão jogou as traças, ela hoje compra atletas por indicação, por DVD, ela não tem aquele scalte.
Planejamento para e continuidade de Mano Menezes no elenco
A gestão atual de Duílio Monteiro Alves não conquistou títulos pela equipe principal masculina. Além disso, os erros de planejamento viraram uma bola neve durante 2023. O próprio Duílio assumiu (alguns) erros durante a reta final de sua gestão.
Após demitir Luxemburgo, que já vinha questionado há tempos no comando do time, a diretoria fechou a contratação de Mano Menezes. Na ocasião, o tempo do vínculo chamou a atenção: três anos (2023,2024 e 205). Assim que foi anunciado o novo treinador, Augusto Melo, através da sua assessoria, divulgou uma nota na qual afirmava que, caso fosse eleito, Mano Menezes não era seu nome para comandar o Corinthians.
Melo, no entanto, ressaltou a história de Mano Menezes no clube e garantiu não possuir nenhum problema com o treinador.
— Fizeram alguns cortes para tentar nos prejudicar com o treinador e com a opinião pública. Eu nunca falei mal do Mano, nunca disse que o Mano não trabalharia comigo. Ao contrário, o Mano tem uma história no Corinthians, é um excelente treinador e sabe montar time. Só que, diferente dessa gestão, nós temos um planejamento para três anos, e dentro desse planejamento, o Mano não estava nos nossos planos porque ele estava empregado no Internacional, por isso não pensávamos nele. (…) Quem disse que não trabalharia com o Mano Menezes foi essa gestão, foi o Roberto de Andrade, foi o Duílio que falou, eu nunca falei isso. Isso é falta de planejamento. Em todos esses anos eles nunca fizeram um contrato como fizeram agora com o Mano.
Com o Corinthians ainda não garantido na Série A do Campeonato Brasileiro de 2024, Augusto Melo diz pensar primeiramente na instituição.
— Agora vamos torcer, estou torcendo muito porque temos que pontuar, ter receita para o ano que vem. O Mano é o nosso treinador, existe um contrato. Hoje eu penso na instituição, não penso em vaidade. Se eu chegar lá eu vou trabalhar com o Mano. Hoje ele não tem as peças que necessita, estão tirando peças e não estão repondo, vamos montar um planejamento e trazer o Corinthians de volta para o corinthiano.
Diretoria de futebol profissionalizada
Nos últimos anos, o Corinthians apostou em nomes com passado já consolidado no clube para ocupar seus cargos de gestão. Roberto Andrade (ex-presidente) e Alessandro (ex-jogador) são exemplos de nomes que comandaram o futebol no clube nos últimos anos.
Diante desse cenário, Augusto Melo diz ter uma intenção de focar na profissionalização de pessoas que ocupem cargos diretivos no Corinthians:
— Temos que trabalhar com pessoas profissionais, com pessoas técnicas, conhecedoras, para que nos ajude a tirar o Corinthians dessa situação. Então não podemos brincar com isso. E eu costumo dizer o seguinte: meus amigos serão do portão do Parque São Jorge para fora. Por que isso? Hoje no Parque São Jorge se cai uma folha a culpa é do presidente. Então não vou colocar amigos, principalmente amigos que não conheçam de departamentos. Jamais vou fazer isso porque eu sei que vou tomar pancada. E eu sei que também as dificuldades que nós estamos enfrentando hoje, se eu não colocar pessoas realmente conhecedoras, não vamos sair disso.
Augusto Melo reforça que caso seja eleito pretende analisar o trabalho de todos os profissionais antes de tomar qualquer decisão sobre mudanças:
— Seria um desrespeito da minha parte conversar com qualquer outra pessoa sem primeiro analisar o que está lá dentro, mas primeiro tenho que ganhar a eleição, e aí sim, a partir do dia 26, analisar os profissionais que lá estão. O que for bom vamos estruturar e o que não tiver condições vamos trocar por pessoas técnicas.
Dívidas acumuladas pelo Corinthians e novas receitas
O Corinthians sofre com uma gigantesca dívida que hoje tem o valor estipulado em R$1,7 bilhão, montante que já incluiu o valor a ser quitado pela construção da Neo Química Arena (R$700 milhões, aproximidamente). A ideia de Augusto Melo é tratar de negociar a dívida do estádio com a Caixa Econômica Federal e reduzir ao máximo os valores dos juros:
— Nós queremos entender, porque nesses anos todos com esse grupo, que está aí há 16 anos [na presidência], ganhou-se tanto, arrecadou-se tanto e não se pagou nada de dívida. Ao contrário, nossas dívidas vem sempre aumentando, chegando a um patamar quase impagável. Nossos juros a cada ano só aumentam. Hoje estamos pagando quase R$ 100 milhões de juros ao ano, isso é uma verba que a gente poderia ter como receita dentro do futebol profissional. Toda grande empresa quer investir no Corinthians, mas não investe porque esse grupo que está aí há 16 anos não passa mais credibilidade.
Segundo Augusto Melo, seu projeto de gestão inclui ainda uma maior valorização do Corinthians como marca e busca pensar em outras alternativas para aumentar a receita do clube, priorizando patrocínios com empresas e investidores. A venda de atletas seria a última fonte de renda. Neste ano, a gestão Duílio arrecadou R$ 177 milhões com negociações de jogadores, mas foi muita criticada pela torcida pelos danos que as saídas causaram na qualidade técnica do elenco ao longo do ano.